14/03/2021

Pedro Sevylla de Juana, escritor e artista multifacetado.

Pedro Sevylla de Juana em visita a Marechal Floriano, ES, Brasil.

Pedro Sevylla de Juana é um amigo do Brasil e, especialmente, do Espírito Santo. E foi aqui, em terras capixabas, que ele construiu fortes laços de amizade e parcerias literária de forma que tornou-se Acadêmico Correspondente na Academia  Espírito-Santense de Letras (AEL) e possui várias publicações e traduções de obras de escritores capixabas, com destaque para a obra que traduziu para o castelhano, O Coração da Medusa, que está em fase de editoração. 


Encontro entre Pedro Sevylla de Juana, tradutor da obra O Coração da Medusa e da autora brasileira Renata Bomfim, na Praia de Camburi, Vitória, ES, Brasil. 

Durante a sua estada no Espírito Santo, Pedro Sevylla proferiu uma palestra na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e participou de tertúlias no Instituto Histórico e Geográfico do ES. Tive a alegria de levá-lo ao Morro da Fonte Grande, uma região Periférica da capital, Vitória, onde tenho muitos amigos e amigas. Lá pudemos tomar um café com a atleta Xuxa Capixaba e visitar pessoas da comunidade. Seu ultimo trabalho dedicado ao Brasil foi o livro bilíngue e ilustrado de poesias Brasil Sístoles e diástoles.

Encontro na UFES com o pesquisador Eduardo baunilha, a professora e escritora Ester Abreu Vieira de Oliveira, o gestor da Reserva natural Reluz Luiz Bittencourt e a escritora Renata Bomfim. 

Pedro Sevylla de Juana nasceu no dia 16 de março de 1946 em Valdepero, província de Palencia, na Espanha. Descendente de agricultores e artesãos, possui formação em publicidade, direção e marketing, desenvolvendo trabalhos no campo da arte como o desenho e a fotografia. Pedro trabalhou em variadas multinacionais e, atualmente, dedica-se por completo ao campo da escrita, sendo o autor de várias obras premiadas e do blog literário que leva o seu nome. (http://pedrosevylla.com/)

Desde muito jovem Pedro Sevylla demonstrou interesse pelo campo literário, dedicando especial atenção à poesia e a prosa poética. Possui uma extensa produção narrativa que abarca contos, romances e novelas e uma fortuna crítica que dá uma visão da abrangência de sua escrita. A tradução é outra faceta desse artista multifacetado que dedica ao Brasil variados estudos, traduzindo textos de escritores brasileiros de diferentes épocas. 

Pedro Sevylla é um ser humano inquieto. Ele gosta de conhecer pessoas,  lugares, Nov as culturas e essas experiências convergem para os seus textos de forma poética e lúdica. Já viveu parte de sua vida em Barcelona, Madri, Genebra, Paris, entre outros e, segundo ele, possui três paixões: "Vivir, leer y escribir". Suas obras estão publicadas em várias antologias internacionais. A profícua produção literária de Pedro Sevylla de Juana nos legou  personagens complexos como Estela e Lázaro, da obra Estela e Lázaro vertiginosamente, romance publicado em 2014, mas, entre essas múltiplas figuras destaca-se a de Cesáreo Gutiérrez Cortés, personagem nascido nas tramas da novela Ad Memoriam (2007), fruto da necessidade de sua filha, Alba Gutiérrez Peña, de realizar um trabalho sobre algum escritor para a aula de literatura. Alba, então, recordando-se do pai falecido, sobre o qual pouco sabia, decide empreender uma viagem em busca do Cesáreo pai e escritor. Pedro construiu, em um ensaio recente intitulado Cesáreo Gutiérrez Cortésartista y pensadorum diálogo com Cesáreo. 

Nesse estudo, deparamo-nos com a voz de Cesáreo Gutiérrez Cortés, realizando um largo esclarecimento sobre sua vida interior e motivações. A partir dos pressupostos bakhtinianos, podemos dizer que  Pedro Sevylla de Juana, enquanto consciência autoral, ideólogo da arquitetônica do texto, permite o escoamento de excedentes do texto e Cesáreo pode, então, se manifestar de forma mais livre expondo mais sobre a sua vida literária, aspectos e fatos que fugiram das publicações anteriores e revisando alguns fatos de sua existência, como a inconformidade com a sua morte prematura.A filha de Cesáreo, Alba Gutiérrez Peña, recorreu a um acervo de memórias para reconstituir o perfil inacabado de seu pai, as imagens das fotografias passaram a ganhar vida e a memória passou a ser completada com as tramas da imaginação. Um caderno deixado por Úrsula, sua mãe, seria a fonte de dados inéditos para a jovem, e esse achado lhe possibilita montar o quebra-cabeça, ou seja, o perfil desse personagem singular. A relação entre Pedro Sevylla e Cesáreo Gutiérrez é caleidoscópica e  reflete fragmentos das vidas de um e de outro em uma permuta possível apenas por meio do fenômeno literário, ou seja, da fabulação. 

O olhar de Úrsula para Cesário, somado ao de Alba, acrescido, ainda, do olhar de Pedro Sevylla, observador privilegiado, visto que é autor, descortina a existência de um personagem que nasce nas páginas do papel enquanto memória vida e o leitor, mesmo com essas informações, ainda se pergunta: mas, quem será, na realidade, Cesário Gutiérrez Cortés?

O linguista russo Mikhail Bakhtin fala sobre a importância de não se confundir a vida do escritor com  a do personagem, ou seja, o autor deve ser observado como uma instância que se imbrica numa vivência estética, ele luta por configurar o personagem como um OUTRO de si mesmo. Esse exercício de objetivar-se, como acontece nas autobiografias, por exemplo, exige um exercício de deslocamento no qual o autor olha de fora do mundo íntimo do personagem, de maneira que esse adquire um quantum significativo de autonomia, eis o que então que, no plano da existência,  possibilita o nascimento de um novo ser. Não poderia deixar de citar personagens que gozam de vida própria como os universais Hamlet, Dom Quixote, Madame Bovari, Drácula, Macunaíma, Dom Casmurro, Macabéa, Capitu, entre outros. Essa autonomia do personagem emana do campo estético que gera uma força a partir da qual autor e personagem dialogam intersubjetivamente, destacando aqui o diálogo como um campo de embate, nem sempre harmônico. 

Nesse diálogo franco com Pedro Sevylla, autor, Cesáreo Gutiéres, personagem, expressa algumas singularidades da sua existência literária, especialmente, como citado anteriormente, o descontentamento com a própria morte. Certa vez, a escritora nascida no Espírito Santo, Neida Lúcia Moraes, revelou que um personagem seu trazido à luz diretamente das páginas amareladas de documentos antigos, para as páginas de um romance histórico contemporâneo, recusava-se a morrer, inclusive visitando a autora em sonho, descontente com o fim trágico que lhe relegaria uma segunda morte. Enfim, é interessante observar que muitos desses seres de papel, animados pelo espírito do escritor, são insuflados a desejarem a eternidade, quem sabe pelo próprio escritor, de forma inconsciente, ou pelos leitores. Como não desejar que Diadorim e Riobaldo não fossem separados pela morte e ficassem juntos, mas como não reconhecer a perfeição dessa obra que nos brinda com uma dor essencial, visceral e necessária, permitindo que por meio da catarse, morramos junto com o jagunço que renasce um Riobaldo transformado, um homem pacífico que narra a sua história ao médico viajante, alter ego de Guimarães Rosa. É a partir desse esquema estético e ficcional que compreendo Cesário Gutiérres, um personagem inquieto, assim como o seu autor, mas livre para fazer as suas escolhas dentro desse universo de alteridade que é o da Literatura. 

Aproveito o momento no qual teço essas breves considerações sobre a escritura do amigo e tradutor Pedro Sevylla de Juana para lhe desejar um feliz aniversário e muitos anos de vida e de produção literária, celebrando os vínculos de amizade que a literatura e a pesquisa literária nos favorece. 

Santo Agostinho, entre as suas proposições filosóficas, nos fala sobre os "bons encontros", ou seja, aqueles encontros que aumentam a potência de (cri)ação dos sujeitos, que permitem a formação de singularidades sem medos e nem despotismos, enfim, é assim que agradeço ao Pedro ser esse amigo presente na minha vida há muitos anos e desejo a ele, a sua amada esposa Elvira e aos seus filhos e netos  muitas alegrias.

Renata Bomfim. Vitória, ES, Brasil, 14 de março de 2021

 

12/03/2021

Eles querem a glória (Renata Bomfim)

"Viva àqueles que perderam!
E para aqueles cujas naus de guerra naufragaram no oceano!
E para aqueles que se afogaram no oceano!
E para todos os generais derrotados em suas empresas, e todos os heróis abatidos!" (Walt Whitman)

Eles querem a glória, fortuna,
reconhecimento.
Anseiam o triunfo.
Derramam sangue nas guerras,
carregam, sem culpa, os despojos.

Eles querem a glória, fortuna,
reconhecimento .
Querem sempre mais.
Querem a posse da terra e da água,
Mas rejeitam as agruras e intempéries
do tempo que passa.
Desafiam Deus
julgando serem eternos.

Benditos àqueles que caem
os que cedem,
também aqueles que deixam para lá
as mesquinharias da vida.
Benditos os que reconhecem as perdas
e não lamentam 
e agradecem 
a posse daquilo ninguém pode usurpar.
Benditos os simples e os sem patentes,
pois, ninguém jamais lhes roubará a alma.

Bendito aquele que ama,
Bendito os que alimentam os pássaros e 
regam as plantas.
Benditos os que plantam árvores.
Bendito os que conhecem a gradeza 
da contemplação da vida
que não passa para aquele que enxerga
inomináveis. 


O Estrangeiro de Albert Camus: Filosofia e linguagem (Renata Bomfim)


Renata Bomfim 

XXXXXA escrita de Albert Camus (1913- 1960) se inscreve numa época de grande conflito e sofrimento mundial, especialmente para a Europa que estava devastada pela guerra. O romance O Estrangeiro foi publicado em 1942 e tem como cenário a cidade de Argel, terra natal do escritor, lugar onde viveu durante alguns anos e onde começou a carreira como jornalista.
XXXXX Camus participou diretamente dos acontecimentos de seu tempo e, por meio da escrita, teceu uma ácida critica social ao século XX. Filosofia e linguagem se interpenetram e complementam em O estrangeiro, cunhando uma visão de mundo fundada no absurdo e no sentimento trágico da vida, visão geradora de desconfiança intensa para com aqueles que constroem e lutam para perpetuar os sistemas de valores. O temperamento de Camus e suas leituras de Nietzsche nutriram as suas suspeitas com relação a toda moral tradicional. De forma inquietante o escritor se entregada ao questionamento: como o homem deveria se conduzir em geral e, durante os anos obscuros, quando não acredita nem em Deus e nem na razão?(TODD, acesso em 23 nov. 2006).
XXXXX A obra camusiana apresenta e descreve o absurdo como algo da condição humana. Em Explicações de O Estrangeiro”, Sartre já afirmava que: “Se somos capazes de recusar a ajuda enganosa das religiões ou das filosofias existenciais, restam-nos algumas evidências essenciais, o mundo é um caos, [...] não há dia seguinte, visto que se morre”. Para Sartre, Camus tinha um certo gênero de sinistro solar, ordenado, cerimonioso e deslocado”, que anunciava “um clássico, um mediterrânico”, que diferiria desse “outro mediterrânico” em muitos aspectos, não lembrando tanto um “fenomenólogo ou um existencialista dinamarquês” (SARTRE, 1968, p.89-90).
XXXXX Já Boudon (1996, p. 1), ressaltava que O estrangeiro fitava a narrativa, “a partir do olhar do artista sobre o existir velado na sua estrangeidade, estado difuso, compacto, encoberto”, absurdo que pode ser percebido e descrito sob vários aspectos da obra, especialmente, no silêncio. Uma ausência propositada da fala, magistralmente trabalhada por Camus, põe Meursault, protagonista principal do romance, contra a convenção. Holanda (1992, p. 42) em Criação e Crítica afirma que “a linguagem contém seu poder de liberdade, de subversão do real, quando uma palavra imprescindível, um acordo inesperado, nos acorda a consciência". Para essa critica, “o primeiro passo de Meursault é o de tirar da palavra o ‘phathos’, termo grego que designa sentimentos, estados da alma, cujo peso impede uma relação mais livre com o mundo”.
XXXX O personagem Meursault surge como representante do absurdo camusiano que, para Sartre (1968, p. 90), “nascerá da impotência que temos de pensar com os nossos conceitos e com as nossas palavras os acontecimentos do mundo". O homem absurdo camusiano não vive sob os paradigmas da razão e nem da moral estabelecidas, o que pode ser percebido na abertura do livro, quando nos deparamos com o episódio da morte da mãe de Meursault: “Hoje mamãe morreu. Ou talvez ontem, não sei bem” (CAMUS, 1957, p. 9). Percebe-se que a linguagem é seca, fria, concisa, e há a ausência de emoção, como se a história fosse a de outro, e não a dele. Noutra passagem, desta vez no ônibus, a caminho do asilo, Meursault pensa que “poderia vê-la rápido” [refere-se à mãe morta], para poder “aproveitar os dois dias de folga que havia conseguido”. Ele dorme durante todo o trajeto e, ao chegar no asilo, quando perguntado se gostaria de ver a mãe, responde que não, a resposta do personagem suscita a réplica por parte de seu interlocutor, “por que não?”, e ele responde, “não sei”.
XXXXX Assim, palavras como não sei, tanto faz, nada comentei, disse que sim, mas tanto fazia, fazem parte do vocabulário de Meursault. Sartre (1968, p. 98) diz que “um mal comum a muitos escritores contemporâneos é a obsessão do silêncio”. O silêncio na obra de Camus reflete “a demasiada desconfiança diante do signo lingüístico”, Para Holanda (1992, 68), não podendo calar a sociedade, Meursault cala a si mesmo, e seu comportamento é o de quem “tendo perdido a adesão ao que as palavras vinculam, perdeu aí, a significação do mundo até então seu. Seu silêncio assinala desapropriação do mundo, desinteresse.
XXXXX Meursault reproduz em outros espaços e em diferentes situações a indiferença com que tratou a morte da mãe, por exemplo, quando é convidado por seu chefe para trabalhar em Paris, responde “que sim, mas que, no fundo tanto fazia”. Pois afinal, não tinha razões para mudar a sua vida (CAMUS, 1957 p. 46). Faltava a Meursault, uma razão, um sentido na vida. Corrobora essa afirmação a passagem em que a sua namorada, Maria, lhe perguntou se queria se casar com ela, e novamente a indiferença de Meursault se pronunciou, para ele “tanto fazia” casar ou não, “isso nada queria dizer”.Há também por parte desse personagem a banalização das instituições, das leis, a postura de Meursault aponta para um desmoronamento de valores que norteiam a vida social dos indivíduos. Maria lhe disse que “casamento é ciosa séria”, mas ele nada respondeu preferindo calar-se. Para Holanda (1992, p42) “O homem é prisioneiro de sua ordem social, [...] e também de sua linguagem. O silêncio em Meursault vai contra a convenção que pouco permite ao indivíduo que a sociedade paralisa a partir da linguagem que põe a sua disposição.
XXXXX Quanto ao crime cometido por Meursault, reproduz-se a indiferença, o personagem tira a vida de um árabe em circunstâncias repletas de subjetividade. Assassino circunstancial, Meursault atribui a culpa por seu ato criminoso ao sol e em várias passagens que cercam o acontecido ele atribui vinculação ao sol: “O sol estava agora esmagador”, “Era o mesmo brilho vermelho”, “sentia a testa inchar sob o sol”, “eu estava só [...] todo corpo ao sol”, “era o mesmo sol do dia em que enterrara mamãe”, “o gatilho cedeu”, “sacudi o suor e o sol”. Acerca da presença do sol na escrita camusiana, Sartre (1968, p. 99) escreve que “O estrangeiro oferece uma série de opiniões luminosas, [e que o] verão perpétuo de Argel é a sua estação preferida, a noite quase não entra no seu universo”.
XXXXX A narrativa nos mostra que as noções de bem e de mal parecem indiferentes para Meursault que, após cometer o assassinato, demonstra não tem noção da gravidade de seu ato, e que cometera um crime que, mais tarde, o condenará a pena de morte. Meursault não tem o hábito de refletir e nem de questionar, ele está entregue a própria sorte, ao acaso. O texto nos mostra que na prisão, quando este foi interrogado, por variadas vezes acreditou que seu caso “era muito simples”, mas seu advogado lhe advertia apontando o contrário, que o seu caso “era delicado”. O descaso para com a morte da mãe lhe pesou no julgamento, até com mais força do que a acusação de assassinato:
XXXXX O promotor voltou-se, então, para o júri e declarou:
__ O mesmo homem que, no dia seguinte à morte de sua mãe, se entrega a mais vergonhosa devassidão, matou por motivos fúteis e para liquidar um inqualificável caso de costumes.
[o advogado rebate]
__ Afinal, ele é acusado de ter enterrado a mãe ou de matar um homem? (CAMUS, 1957, p. 98).
XXXXX Meses de cárcere promoveram algumas mudanças em Meursalt, privado de sua liberdade ele passou a fazer algumas reflexões, o texto nos mostra que, no banco dos réus as vezes o personagem “ficava tentado a intervir”, mas o seu advogado lhe dizia: “cale-se, é melhor para o seu caso”. O personagem ressalta que acertaram seu destino “sem pedir opinião”, e que às vezes “tinha vontade de interromper todo mundo e dizer: mas afinal, quem é o acusado? É importante ser o acusado. E tenho algo a dizer” (CAMUS, 1957, p. 100). Mas logo o desejo esvaziava-se e ele percebia que “nada tinha a dizer”.
XXXXX Camus tece uma crítica sobre o arbitrário sistema da justiça quando, na fala do promotor, apesar do silêncio, Meursault tornou-se réu das próprias palavras:
__E aqui está meus senhores- disse o promotor. [...] não se trata de um crime comum, de um ato impensado que os senhores poderiam achar atenuados pelas circunstâncias, Este homem, senhores, [...] é inteligente. Ouviram-no falar, não é verdade? Sabe responder. Conhece o valor das palavras. (CAMUS, p. 101-102).
XXXXX Ao final da narrativa, Meursault “esvaziado de esperança”, entrega-se à morte. Para não se sentir só o personagem deseja que no dia de sua execução, “muitos expectadores” o recebam com “gritos de ódio” e o assistam morrer (CAMUS, p, 122). Segundo Holanda (1992, p. 80), “o que Camus intenta certamente, é fazer com que o leitor partilhe sua visão de sociedade, ele busca traduzir o absurdo da realidade social. Stuar Hall (2004, p.9), no livro A identidade cultural na pós- modernidade, aponta para as transformações que marcaram a modernidade, transformações estas que estão mudando também as nossas identidades pessoais e abalando “a idéias que temos de nós próprios como sujeitos integrados”. Esta perda de um “sentido de si” estável é chamada algumas vezes, de deslocamento ou descentração do sujeito.[...] e constitui uma “crise de identidade” para o indivíduo.
XXXXX Em 1940, com o Estrangeiro já escrito, Camus escreveu: “Não sou daqui, mas também não sou do outro lado. E o mundo não é senão uma paisagem desconhecida, onde o coração já não tem apoio” e o escritor pergunta: “Estrangeiro, quem pode saber o que esse nome significa?” e desabafa: “Estrangeiro - confessar a mim mesmo que tudo me é estrangeiro” (HOLANDA, 1992, p. 78).

Referências:

- HOLANDA, Lourival. Sob o signo do silêncio. São Paulo: Editora da Universidade Federal de São Paulo, 1992.
- CAMUS, Albert. O Estrangeiro. Tradução de Valerie Rumjanek. 3. ed. Rio de Janeiro: Record, 1957.
- TOOD, Olivier. Que Absurdo? Texto disponibilizado em: <
%20.htm">http://www.rubedo.psc.br/Artlivro/absurdo>%20.htm. Acesso em 23 nov. 2006.
- BOUDOU, Telma Martins. A construção do olhar. Anais ABRALIC, 1996.
- HALL, Stuart. A identidade cultural na Pós-modernidade. 9. ed. Rio de Janeiro: DP & A, 2004.

08/03/2021

Homenagem as Bordadeiras Reluz no Dia Internacional da Mulher

 


Em 2020, um grupo de mulheres se reuniu para bordar, era janeiro e entramos o anos entre agulhas e linhas coloridas tecendo  devires, sonhos e esperanças. Não sabíamos que a Pandemia alcançaria níveis tão ameaçadores e, por força da situação, os nossos encontros presenciais passaram a acontecer pela internet. 

O aprendizado da técnica do bordado, aliado à histórias, contos e troca de experiências foram fundamentais para o enfrentamento de um ano de incertezas e solidão por conta do necessário afastamento social.

O que aprendi e aprendo com essas mulheres maravilhosas?

Há vinte anos atuando como arteterapeuta, sempre me surpreendeu o potencial dos grupos, a força coletiva que nos impulsiona e ajuda a superar dificuldades. Mas, esse grupo de bordadeiras aconteceu em um momento social tão tenebroso da pandemia do COVID-19, marcado por perdas, medo e insegurança, chegou como um sol, enchendo a minha vida de alegrias e de boas companhias.

Meninas, nesse Dia Internacional das Mulheres eu só queria dizer o quanto vocês são especiais!
Beijos
Renata

06/03/2021

Escritora Giovana Schneider lança o romance "Paralelos da vida".

 A vida é cheia de altos e baixos. São momentos que se tornam cruciais para o sujeito repensar quem é, de onde vem e para onde vai. Alguns episódios podem ser por demais marcantes. É o caso especialmente dos ritos de passagem, como casamento, nascimento de um filho, aposentadoria. Há, inclusive, quem pontue sua trajetória por estes ritos: me alfabetizei aos sete, aprendi a andar de bicicleta aos oito, meu primeiro amor foi aos 16, passei no vestibular aos 17, casei-me aos 36, tive filhos com 40, e assim sucessivamente. 

Giovana Schneider, no “Paralelo da vida”, escolheu uma experiência de quase morte para assinalar o antes e depois de sua protagonista. Uma escolha, eu diria, bastante ousada. Além de ser um tema tabu, não é algo com vasto material disponível para pesquisa. Acertadamente, Giovana trilhou a senda da intuição para ir desdobrando os acontecimentos na vida de Mayara. Por demasiada humana, trata-se de uma narrativa linear e deliciosamente cotidiana. Os diálogos são tão naturais que é possível se sentir junto dos personagens, no quarto de hospital, na cafeteria da esquina, ou no sofá da sala enquanto o “dogo” corre pelas pernas, para, depois, cansado, aninhar-se no nosso colo. É possível sentir toda dor de determinado personagem, bem como a alegria de outro; e também o torpor e sensação de confusão que outro personagem sente diante de uma vida que se apresenta às vezes tão sem nexo ou sentido. 

E nesse embalo despretensioso, enquanto vamos saboreando a história, também somos convidados a refletir sobre nossa própria vida. Como eu agiria nesta situação? Como eu me sentiria diante de tal acontecimento? O que eu faria caso tivesse que passar por tal experiência? Isso tudo faz de “No paralelo da vida” uma obra de leitura singular. A história pede a companhia um bom chá, café ou taça de vinho. É obra para degustar, muito embora ela nos tome, vira e mexe, de assalto, e exija uma leitura voraz, ansiosa. A mim, “No paralelo da vida” impactou. Mexeu comigo de diversas formas. Espero que faça o mesmo com você. Boa leitura!

Sandra Veroneze
Editora 

Adquira o  livro, "No paralelo da vida" no site da editora Pragmatha, pelo WhatsApp (27) 9 996-76975 ou pelo e-mail: vaninhaschneider.68@gmail.com
 

PDF da obra Frauta Agreste, de Maria Antonieta Tatagiba.

Olá estimados leitores(as) e estudiosos(as) da Literatura produzida por mulheres, o NEPLES/ UFES publicou a obra Frauta Agreste, de Maria Antonieta Tatagiba, primeira mulher a publicar um livro de poesias no Espírito Santo. Baixe aqui o PDF da obra.