Renata Bomfim - UFES
Murilo Mendes (1901- 1975) apresenta uma obra de grande riqueza temática, fortemente influenciada pelas vanguardas européias. O poeta integra a segunda geração do modernismo, que buscava, essencialmente, uma poesia de questionamento de temas acerca da existência humana.
Murilo Mendes vivenciou um momento sócio-político conturbado. Crise econômica, o desabrochar dos ideais e partidos comunistas e socialistas, em oposição a estes, o surgimento do fascismo, do nazismo, do salazarismo, do franquismo, e no Brasil a ditadura Vargas. Foi testemunha das transformações produzidas na sociedade pela segunda guerra mundial. Em Poesia Liberdade, no poema A Tentação, o poeta depara-se perplexo frente a sua fé e a realidade brutal:
Diante do crucifixo
Eu paro pálido tremendo:
“Já que és o verdadeiro filho de Deus,
Desprega a humanidade dessa cruz”.
(MENDES, 1994, p. 424).
Na década de 30, Murilo Mendes integrou um grupo carioca de intelectuais cristãos que defendiam o cristianismo como uma ideologia capaz de restaurar a justiça, a igualdade social e promover a paz entre os homens.
A religiosidade Muriliana tem cunho filosófico, o que a aproxima dos dilemas concretos de seu tempo e, muitas vezes se apresenta impregnada de rebeldia. Assim como a religiosidade, a influência das artes Plásticas é uma marca forte de sua poética. Este aspecto da obra muriliana, é ratificada por Raimundo Carvalho no livro Murilo Mendes: o olhar vertical, onde ele destaca que: “É preciso atentar que em todas as frases da poesia muriliana há um elemento comum, a relação entre signo verbal e signo plástico” (2001, p.82).
Barbosa e Rodrigues nos empresta uma definição para a poesia de Murilo Mendes, para estes autores:
A poesia muriliana questiona o poetar, o mundo, o amor, a fé, a natureza e a própria linguagem pelas imagens associativas que dão um novo aspecto ao texto, com quebra de regras da sintaxe, da lógica formal do discurso, da ordem da gramática, das imposições dos léxicos, do dicionário ( 2000, p.125).
Poesia liberdade foi escrito entre 1944 e 1945, e reflete o olhar do poeta frente à violência e massacre coletivo promovido pela guerra. No poema Ceia Sinistra mostra há uma crítica aos regimes nazismo e fascismo que se opõem ao comunismo russo. No poema serão convidados para a ceia os “fantasmas”, pois as pessoas estão mortas:
Sentamo-nos a mesa servida por um braço de mar.
Eis a hora propiciatória, augusta,
A hora de alimentar os fantasmas.
Quem vem lá sentado num trator de cadáveres
Com uma grande espada para plantar no peito da Rússia.
[...]
A alma oprimida soluça
Num ângulo do terror. (MENDES, p. 403)
Sua postura política é firme, sua arma de resistência e denúncia é a poesia. Barbosa e Rodrigues,destacam que um outro aspecto da poesia muriliana é “a metáfora visionária que traz para sua obra uma perspectiva surreal” (2000, p. 136). Em Overmundo, podemos perceber o tom surrealista de sua poesia, Murilo propõe relações surpreendentes entre imagens e metáforas: “[...] Amarro o navio no canto de jardim, e bato à porta do castelo da Espanha. Soam os tambores do vento” (MENDES, 1975, p. 413).
Acerca do surrealismo muriliano, Merquior afirma ser “no máximo parte de um todo, uma dimensão expressional embutida na poética moderna e não um fator de filiação estilística” (1976, apud CARVALHO, p. 42). Murilo recebe influencia de mestres da pintura, música, arquitetura. O poema A Jaula descreve os “tesouros” do quarto “verde veronese” [verde veronese é o nome de uma tinta óleo específica para a pintura de tela], o poeta se apropria de signos das artes plásticas e cria uma metáfora onde ele “pinta” uma imagem por meio da poesia:
[...]
O retrato do meu amor
E o de Wolfgang Amadeu.
Poucos livros, todo um mundo,
A bíblia, Platão, Racini, Pascal, Cervantes, Camões.
(MENDES, 1975, p. 413)
A modernidade em que o poeta se inscreve, é descrita por David Harvey, como sendo:
Não apenas um “rompimento impiedoso com toda e qualquer condição precedente”, mas como “caracterizada por um processo sem- fim de rupturas e fragmentações internas no seu próprio interior” (1989, p. 12 apud HALL, 2004, p.16).
O sujeito da modernidade é cindido, Poesia Liberdade evoca para este sujeito fragmentado um sentido de unidade, o poeta percebe-se como alguém capaz de estabelecer relações entre as coisas mais díspares. No Poema Dialético “nada poderá se interromper sem quebrar a unidade do mundo”( MENDES, 1994, p. 410).
Murilo propõe que a unidade se restabeleça a partir da união dos opostos. Em Ofício humano, o poeta assume a missão de fazer com que esta ordem seja reajustada conciliando os contrários:
[...]
O poeta abre seu arquivo- O mundo,
E vai retirando dele alegria e sofrimento.
Para que todas as coisas passando pelo seu coração
Sejam reajustadas na unidade
É preciso reunir o dia e a noite,
Sentar-se à mesa com o homem
Divino e criminoso
É preciso desdobrar a poesia em planos múltiplos
E casar a branca flauta da ternura aos vermelhos clarins do sangue (MENDES, p, 408)
Por meio da linguagem surrealista o poeta elabora uma imagem apocalíptica e, Ofício humano, nos diz que o “Cristo Jesus” aparecerá “arrastando por um cordel a antiga serpente vencida”. A serpente é, na tradição cristã, a responsável pela queda cósmica do homem e por sua expulsão do paraíso.
O mal na poesia muriliana também é representado na forma de um “lobo”, no poema Fábula. O poeta estabelece um diálogo com a natureza, ao modelo das canções galego-portuguesas, e assume uma postura de conselheiro, ele é uma voz que conclama à autonomia de pensamento, à recuperação da singularidade perdida frente a Massificação:
Eu falei à fonte e ao pinheiro
E ao mesmo tempo à pastora dançarina:
“Acautelai- vos contra o lobo,
Tão sombrio quanto cruel” (MENDES, P. 409).
Murilo apropria-se da forma de escrita bíblica, certa vez Jesus advertiu a seus discípulos: “Acautelai-vos do mal”, este poema encerra também uma forte metáfora política, onde os lobos representam os ditadores, que com seus discursos falsos arrastam multidões, ao final do poema mais um conselho para que se “ouça a própria música”, ou seja, a consciência.
Em Poesia Liberdade Murilo Mendes aponta, entre outros temas, para a perda da identidade por parte do sujeito, “o homem morre sem saber quem é”, e aponta para o resgate de valores como a amizade, a compaixão, como possíveis caminhos de saída do caos para um estágio de alteridade.
[...]
Entretanto, cada um deve beber no coração do outro
Todos somos amassados e triturados
O outro deve ajudar a reconstruir nossa forma.
O homem que não viu seu amigo chorar,
Ainda não chegou ao centro da experiência do amor.
(MENDES, p. 407).
Segundo Haroldo de Campos, Poesia Liberdade “abrirá uma janela para o caos”, e o poeta “sentirá” necessidade de ordenar esse caos. Mas, para além do “clarão da catástrofe que contagia os passantes”, o poeta tem esperança e sonha (CAMPOS, 1992, p.69) O poema Murilo Menino, resgata lembranças de infância e recorre à fantasia [única forma de suplantar o real], para a criação de um universo lúdico:
Quero ouvir a flauta sem fim
Do Isidoro da flauta
Quero que o preto velho Isidoro
Dê um concerto com minhas primas ao piano
Lá no salão azul da baroneza.
[...]
Quero conhecer a mãe d’água.
(MENDES, p.409)
A imagem feminina também apresenta - se como um importante elemento da escrita muriliana, Barbosa e Rodrigues destacam-na como sendo:” Iniciadora, promotora do despertar da sexualidade e sensualidade masculina. Porém, mais ainda iniciadora de uma nova visão de mundo” (2000, p. 40).
Em O rato e a comunidade, a mulher aparece como representante dos valores femininos capazes de resgatar o homem, rompendo- lhe “ as grades do coração”:
A mulher que escolhemos,
A única e não outra,
Esta mesma, frágil e indefesa, bela ou feia,
eis o mundo que nos é de novo apresentado
Poe intermédio de uma só pessoa
(MENDES,1994, p.407- 408).
José Guilherme Merquior em A Lira Dissonante em Murilo Mendes, afirma que “Murilo é o músico por excelência, outro Orfeu, canta a vida, o homem e o mundo. Recriando-os no sonho da palavra poética, mágica, harmônica, mesmo que obscura e caótica, Sua poesia repensa o homem, em seu mundo apocalíptico, pelas palavras bacantesque o seu “eu” lírico objetiva e ordena em versos artesanais, assimilando, na transgressão, o novo e a tradição ( MERQUIOR, p. 515).
Metáfora e política estão de certa forma interligados na poética muriliana, em especial no livro Poesia Liberdade. Em uma época em que a literatura expressava pessimismo, Murilo, o “poeta visionário”, consegue projetar seu olhar e ver esperança, para a re-união do que se fragmentou, no Poema Dialético ele nos diz: “tudo marcha para a arquitetura perfeita: a aurora é coletiva”.
Referências:
BARBOSA, M. F.; RODRIGUES, M. T. P. A trama poética de Murilo Mendes. Rio de Janeiro: Lacerda Editores, 2000.
CAMPOS, H. de. Metalinguagem & Outras Metas: Ensaio de teoria e crítica literária. 4. ed. São Paulo: Perspectiva, 1992.
HALL, S. A identidade cultural na Pós-modernidade. 9. ed. Rio de Janeiro: DP & A, 2004.
MENDES, M. Poesia completa e prosa. Rio de janeiro: Nova Aguilar, 1994.
MERQUIOR, J. G. A Lira dissonante em Murilo Mendes. In: Congresso ABRALIC, 3, 1992, Niterói. Anais... Rio de Janeiro: Editora da Universidade de São Paulo. p. 507- 515.
Prefácio. In: Murilo Mendes: Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
Murilo Mendes (1901- 1975) apresenta uma obra de grande riqueza temática, fortemente influenciada pelas vanguardas européias. O poeta integra a segunda geração do modernismo, que buscava, essencialmente, uma poesia de questionamento de temas acerca da existência humana.
Murilo Mendes vivenciou um momento sócio-político conturbado. Crise econômica, o desabrochar dos ideais e partidos comunistas e socialistas, em oposição a estes, o surgimento do fascismo, do nazismo, do salazarismo, do franquismo, e no Brasil a ditadura Vargas. Foi testemunha das transformações produzidas na sociedade pela segunda guerra mundial. Em Poesia Liberdade, no poema A Tentação, o poeta depara-se perplexo frente a sua fé e a realidade brutal:
Diante do crucifixo
Eu paro pálido tremendo:
“Já que és o verdadeiro filho de Deus,
Desprega a humanidade dessa cruz”.
(MENDES, 1994, p. 424).
Na década de 30, Murilo Mendes integrou um grupo carioca de intelectuais cristãos que defendiam o cristianismo como uma ideologia capaz de restaurar a justiça, a igualdade social e promover a paz entre os homens.
A religiosidade Muriliana tem cunho filosófico, o que a aproxima dos dilemas concretos de seu tempo e, muitas vezes se apresenta impregnada de rebeldia. Assim como a religiosidade, a influência das artes Plásticas é uma marca forte de sua poética. Este aspecto da obra muriliana, é ratificada por Raimundo Carvalho no livro Murilo Mendes: o olhar vertical, onde ele destaca que: “É preciso atentar que em todas as frases da poesia muriliana há um elemento comum, a relação entre signo verbal e signo plástico” (2001, p.82).
Barbosa e Rodrigues nos empresta uma definição para a poesia de Murilo Mendes, para estes autores:
A poesia muriliana questiona o poetar, o mundo, o amor, a fé, a natureza e a própria linguagem pelas imagens associativas que dão um novo aspecto ao texto, com quebra de regras da sintaxe, da lógica formal do discurso, da ordem da gramática, das imposições dos léxicos, do dicionário ( 2000, p.125).
Poesia liberdade foi escrito entre 1944 e 1945, e reflete o olhar do poeta frente à violência e massacre coletivo promovido pela guerra. No poema Ceia Sinistra mostra há uma crítica aos regimes nazismo e fascismo que se opõem ao comunismo russo. No poema serão convidados para a ceia os “fantasmas”, pois as pessoas estão mortas:
Sentamo-nos a mesa servida por um braço de mar.
Eis a hora propiciatória, augusta,
A hora de alimentar os fantasmas.
Quem vem lá sentado num trator de cadáveres
Com uma grande espada para plantar no peito da Rússia.
[...]
A alma oprimida soluça
Num ângulo do terror. (MENDES, p. 403)
Sua postura política é firme, sua arma de resistência e denúncia é a poesia. Barbosa e Rodrigues,destacam que um outro aspecto da poesia muriliana é “a metáfora visionária que traz para sua obra uma perspectiva surreal” (2000, p. 136). Em Overmundo, podemos perceber o tom surrealista de sua poesia, Murilo propõe relações surpreendentes entre imagens e metáforas: “[...] Amarro o navio no canto de jardim, e bato à porta do castelo da Espanha. Soam os tambores do vento” (MENDES, 1975, p. 413).
Acerca do surrealismo muriliano, Merquior afirma ser “no máximo parte de um todo, uma dimensão expressional embutida na poética moderna e não um fator de filiação estilística” (1976, apud CARVALHO, p. 42). Murilo recebe influencia de mestres da pintura, música, arquitetura. O poema A Jaula descreve os “tesouros” do quarto “verde veronese” [verde veronese é o nome de uma tinta óleo específica para a pintura de tela], o poeta se apropria de signos das artes plásticas e cria uma metáfora onde ele “pinta” uma imagem por meio da poesia:
[...]
O retrato do meu amor
E o de Wolfgang Amadeu.
Poucos livros, todo um mundo,
A bíblia, Platão, Racini, Pascal, Cervantes, Camões.
(MENDES, 1975, p. 413)
A modernidade em que o poeta se inscreve, é descrita por David Harvey, como sendo:
Não apenas um “rompimento impiedoso com toda e qualquer condição precedente”, mas como “caracterizada por um processo sem- fim de rupturas e fragmentações internas no seu próprio interior” (1989, p. 12 apud HALL, 2004, p.16).
O sujeito da modernidade é cindido, Poesia Liberdade evoca para este sujeito fragmentado um sentido de unidade, o poeta percebe-se como alguém capaz de estabelecer relações entre as coisas mais díspares. No Poema Dialético “nada poderá se interromper sem quebrar a unidade do mundo”( MENDES, 1994, p. 410).
Murilo propõe que a unidade se restabeleça a partir da união dos opostos. Em Ofício humano, o poeta assume a missão de fazer com que esta ordem seja reajustada conciliando os contrários:
[...]
O poeta abre seu arquivo- O mundo,
E vai retirando dele alegria e sofrimento.
Para que todas as coisas passando pelo seu coração
Sejam reajustadas na unidade
É preciso reunir o dia e a noite,
Sentar-se à mesa com o homem
Divino e criminoso
É preciso desdobrar a poesia em planos múltiplos
E casar a branca flauta da ternura aos vermelhos clarins do sangue (MENDES, p, 408)
Por meio da linguagem surrealista o poeta elabora uma imagem apocalíptica e, Ofício humano, nos diz que o “Cristo Jesus” aparecerá “arrastando por um cordel a antiga serpente vencida”. A serpente é, na tradição cristã, a responsável pela queda cósmica do homem e por sua expulsão do paraíso.
O mal na poesia muriliana também é representado na forma de um “lobo”, no poema Fábula. O poeta estabelece um diálogo com a natureza, ao modelo das canções galego-portuguesas, e assume uma postura de conselheiro, ele é uma voz que conclama à autonomia de pensamento, à recuperação da singularidade perdida frente a Massificação:
Eu falei à fonte e ao pinheiro
E ao mesmo tempo à pastora dançarina:
“Acautelai- vos contra o lobo,
Tão sombrio quanto cruel” (MENDES, P. 409).
Murilo apropria-se da forma de escrita bíblica, certa vez Jesus advertiu a seus discípulos: “Acautelai-vos do mal”, este poema encerra também uma forte metáfora política, onde os lobos representam os ditadores, que com seus discursos falsos arrastam multidões, ao final do poema mais um conselho para que se “ouça a própria música”, ou seja, a consciência.
Em Poesia Liberdade Murilo Mendes aponta, entre outros temas, para a perda da identidade por parte do sujeito, “o homem morre sem saber quem é”, e aponta para o resgate de valores como a amizade, a compaixão, como possíveis caminhos de saída do caos para um estágio de alteridade.
[...]
Entretanto, cada um deve beber no coração do outro
Todos somos amassados e triturados
O outro deve ajudar a reconstruir nossa forma.
O homem que não viu seu amigo chorar,
Ainda não chegou ao centro da experiência do amor.
(MENDES, p. 407).
Segundo Haroldo de Campos, Poesia Liberdade “abrirá uma janela para o caos”, e o poeta “sentirá” necessidade de ordenar esse caos. Mas, para além do “clarão da catástrofe que contagia os passantes”, o poeta tem esperança e sonha (CAMPOS, 1992, p.69) O poema Murilo Menino, resgata lembranças de infância e recorre à fantasia [única forma de suplantar o real], para a criação de um universo lúdico:
Quero ouvir a flauta sem fim
Do Isidoro da flauta
Quero que o preto velho Isidoro
Dê um concerto com minhas primas ao piano
Lá no salão azul da baroneza.
[...]
Quero conhecer a mãe d’água.
(MENDES, p.409)
A imagem feminina também apresenta - se como um importante elemento da escrita muriliana, Barbosa e Rodrigues destacam-na como sendo:” Iniciadora, promotora do despertar da sexualidade e sensualidade masculina. Porém, mais ainda iniciadora de uma nova visão de mundo” (2000, p. 40).
Em O rato e a comunidade, a mulher aparece como representante dos valores femininos capazes de resgatar o homem, rompendo- lhe “ as grades do coração”:
A mulher que escolhemos,
A única e não outra,
Esta mesma, frágil e indefesa, bela ou feia,
eis o mundo que nos é de novo apresentado
Poe intermédio de uma só pessoa
(MENDES,1994, p.407- 408).
José Guilherme Merquior em A Lira Dissonante em Murilo Mendes, afirma que “Murilo é o músico por excelência, outro Orfeu, canta a vida, o homem e o mundo. Recriando-os no sonho da palavra poética, mágica, harmônica, mesmo que obscura e caótica, Sua poesia repensa o homem, em seu mundo apocalíptico, pelas palavras bacantesque o seu “eu” lírico objetiva e ordena em versos artesanais, assimilando, na transgressão, o novo e a tradição ( MERQUIOR, p. 515).
Metáfora e política estão de certa forma interligados na poética muriliana, em especial no livro Poesia Liberdade. Em uma época em que a literatura expressava pessimismo, Murilo, o “poeta visionário”, consegue projetar seu olhar e ver esperança, para a re-união do que se fragmentou, no Poema Dialético ele nos diz: “tudo marcha para a arquitetura perfeita: a aurora é coletiva”.
Referências:
BARBOSA, M. F.; RODRIGUES, M. T. P. A trama poética de Murilo Mendes. Rio de Janeiro: Lacerda Editores, 2000.
CAMPOS, H. de. Metalinguagem & Outras Metas: Ensaio de teoria e crítica literária. 4. ed. São Paulo: Perspectiva, 1992.
HALL, S. A identidade cultural na Pós-modernidade. 9. ed. Rio de Janeiro: DP & A, 2004.
MENDES, M. Poesia completa e prosa. Rio de janeiro: Nova Aguilar, 1994.
MERQUIOR, J. G. A Lira dissonante em Murilo Mendes. In: Congresso ABRALIC, 3, 1992, Niterói. Anais... Rio de Janeiro: Editora da Universidade de São Paulo. p. 507- 515.
Prefácio. In: Murilo Mendes: Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
Um comentário:
Parabéns à autora pelo texto, que consegue lançar análises realmente pertinentes à obra de Murilo Mendes, tornando-o mais acessível à uma nova geração de leitores de poesia.
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