22/01/2007

Freda Cavalcanti Jardim: Mãe do Mosaico Brasileiro


"As omoplatas cresceram e se cobriram de penas transparentes como os cristais, transformando-se em asas e, quando ficaram fortes, eu voei. Atravessei o espaço e ia colhendo as tesselas que encontrava e as colocava presas com o meu sangue cheio de amor pela vida que Deus me deu.
Ao avizinhar-me do seu trono Ele estendeu-me as mãos, ergueu-me vi e senti o Universo todo colorido, pleno de histórias contadas pelas tesselas que formaram o grande mosaico do firmamento. Amei a visão musiva com toda a força do meu coração."

Freda Cavalcante Jardim
Tive a honra de ter convivido com Freda e principalmente de ter sido sua aluna. Nossa aproximação foi interessante, eu estava cursando mosaico I e tinha feito uma peça de granito, uma mandala que acabou se tornando um transtorno pois, como citei num artigo anterior, eu estava na fase "cata lixo", se chegasse com mais pedra em casa meu marido me poria pra correr e me jogaria algumas pedras...
Fiquei passenado na UFES com aquela pizza pesada na mão, era hora do almoço, Freda passada e me convidou para ir na sua casa almoçar com ela, aceitei o convite. Devo dizer que depois do mosaico para Freda vinha a culinária, a cada dia era um prato diferente e as inesquecíveis bananas cozidas com açucar e canela de sobremesa.
Ao chegar na casa de Freda, juro pra vocês, estava me esperando, simplesmente, um banquete "Carne seca na Moranga", que adorooo, pra quem não sabe, moramga é abóbora.
Comi como uma condenada e depois do almoço ela perguntou o que eu faria com a minha pizza? eu respondi que não sabia. Freda começo a pegar uns cacos de cerâmica esmaltados artesanalmente, que eram refugo de uma obra que ela havia feito para um prédio, começamos amontar juntas o meu primeiro mosaico, dei a ele o nome de O Sol de Gaudi, pois Gaudi gostava muito de trabalhar com cerâmica, e a minha mestra adorou, pois também apreciava muito Gaudi. Tenho este trabalho até hoje, em uma exposição recusei vendê-lo.
Desde então passei a frequentar a casa de Freda, seu ateliê, sua biblioteca, ela era muito ciumenta com seus livros, mas pra mim ela emprestava pois eu não ficava mais de uma semana com eles e sempre os devolvia envolto em um paninho ou dentro de um saco plástico, ela adorava.... Até me contratou para limpar arrumar e catalogar sua biblioteca, me pagava um salário mínimo, mais o almoço, é lógico, posso garantir que nem a UFES tem o acervo rico e diversificado no campo das artes que Freda tinha em sua biblioteca, após sua morte, a biblioteca, assim como seu acervo foi herdado e não tenho outras informações acerca do mesmo. Trago no coração todas as histórias que ouvi, a saudade de Dona Iris, mãe de Freda, devorando jornais e revistas sentadinha na cadeira da sala, dona Iris é a senhora mais bem informada que conheci.
Fui acolhida como uma filha naquela casa e, lamento muito que os alunos hoje, não contem mais com mestres como Freda, que incentiva, que valoriza e respeita o aluno, que não o vê apenas como um concorrente de mercado, lógico, salvo excessões.
Salve Freda! a mãe do mosaico brasileiro.

2 comentários:

Ismael Passos disse...

Olá Renata!!
Fiquei muito satisfeito em pesquizar sobre a Freda no Google e logo cair nessa pagina trazendo um resumo especial sobre a vida dessa Grande Mulher,pois tive o prazer de trabalhar com ela em sua casa na pedra da cebola.
É uma pena que eu era muito novo e não aproveitei muito o periodo de um ano que estive com ela e Dona Iris duas excelentes pessoas de quem tenho saudades.
Mas ficaram otimas lembranças.
Que possamos assim como Freda deixar saudades para aqueles que virem apos nós.
Um abraço!!
Ismael

Anônimo disse...

Freda, do you remember Ettore (1953) on the Italian ship from Buenos Aires to Genova? Se si, contestame!