Queridas, neste 08 de março fui convidada para dar uma palestra na Associação de Aposentados da Vale do Rio Doce. Lá fui eu, escovada, maquiada, perfumada, vestida da persona "a palestrante"...
Levei um trabalho intitulado" Mulheres que Tecem seus destinos", brincando com a metafora da tessitura e fazendo alguns links entre o ato de "tecer a vida" a partir dos desejos e escolhas de cada um, entre as atividades que elas(as aposentadas) desenvolvem na instituição como bordados, tapeçaris, etc, e sem esquecer de co-relacionar o evento que deu origem a comemoração do dia internacional da mulher, quando um grupo de tecelãs foi queimado nos EUA por reinvindicar melhorias nas condições de trabalho.
A temática foi regada a contos de Marina Colassanti (que recito na íntegra e de cor) e de um conto Sufi, da tradição árabe.
Nesta palestra deixei em suspenso para a platéia (+ ou -150 mulheres) algumas perguntas, entre elas quantas mulheres ainda morrerão queimadas? queimadas em todos os sentidos, inclusive o literal. Como melheres contemporâneas, qual a nossa responsabilidade para com as mulheres que virão? entre outras questões...
A noite, em casa,assisti no noticiário, vários casos de violencia contra a mulher, entre eles uma moça , mãe de três filhos, assassinada pelo namorado a sangue frio na porta do trabalho, a cena foi exibida umas três vezes, o assassino depois de ter disparado quatro tiros à queima- roupa contra a moça, de apenas 23 anos, saiu andando como se nada tivesse acontecido. Outro caso onde a mulher havia sido queimada pelo marido,naquele mesmo dia 08/03, possivelmente na hora em que eu palestrava, uma senhora linda, cheia de vida, a TV depois mostrou o depoimento do filho dela aconselhando às mulheres não se calarem frente a agreções e ameaças de qualquer natureza...
Olha gente, foi dificil dormir... um sentimento de revolta, de impotência... que me suscitaram outras perguntas... até quando, nós mulher ocuparemos este famigerado lugar de "vitimas"? que ganhos primários ou secundários estamos tendo, que não nos deixa sair deste lugar? será que o "tear" está realmente na nossa mão?
__Cacete!... ou melhor, buceta,fico indignada... o que eu posso fazer para não continuar sendo queimada e me queimando por dentro, queimação que consome, e me leva a refletir minha prática como terapeuta,minha existência como mulher,e minha postura frente a muitas outras questões... qual o unguento para essa ferida podre e mal cheirosa?
Renata Bomfim
Seguem poemas da amada Florbela Espanca:
(Trocando Olhares/ 1915- 1917)
A MULHER I
Um ente de paixão e sacrifício,
De sofrimentos cheios, eis a mulher!
Esmaga o coração dentro do peito,
E nem te doas coração, sequer!
Sê forte, corajoso, não fraquejes
Na luta; sê em Vênus sempre Marte;
Sempre o mundo é vil e infame e os homens
Se te sentem gemer hão de pisar-te!
Se as vezes tu fraquejas, pobrezinho,
Essa brancura ideal de puro arninho
Eles deixam pra sempre maculada;
E gritam então os vís: "Olhem, vejam
É aquela a infame!" e apedrejam
A probrezita, a triste, a desgraçada!
A MULHER II
Ó Mulher! Como és fraca e como és forte!
Como sabes ser doce e desgraçada!
Como sabes fingir quando em teu peito
A tua alma se estorce amargurada!
Quantas morrem saudosa duma imagem.
Adorada que amaram doidamente!
Quantas e quantas almas endoidecem
Enquanto a boca rir alegremente!
Quanta paixão e amor às vezes têm
Sem nunca o confessarem a ninguém
Doce alma de dor e sofrimento!
Paixão que faria a felicidade.
Dum rei; amor de sonho e de saudade,
Que se esvai e que foge num lamento!
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