06/09/2009

A psicologia dos complexos, de Carl Gustav Jung









C. G. Jung observou uma multidimensionalidade na psique que, esta “está longe de ser uma unidade; pois é uma mistura borbulhante de impulsos, bloqueios e afetos contraditórios e o seu estado conflitivo” . Sob a ótica junguiana, o acesso à psique restringe-se até onde a consciência pode chegar, pois a experiência humana é limitada e, “nas margens, onde psique e soma se unem, e psique e mundo se encontram, existem nuanças de ‘dentro/ fora’, a estas áreas Jung chamou psicóides”. Esse mundo se expande com “colisões”, ou seja, conflitos, dificuldades, angústia, sofrimento, algumas dessas colisões são “catastróficas” para a psique, pois geram “tumulto emocional” e, na ausência de uma “estrutura coesa”, há a tendência para a dissociação. As colisões com a realidade desafiam o ego a relacionar-se com mundo. O mundo da consciência é marcado pela estreiteza e é, em si, fruto da percepção e orientação no mundo exterior, que tem seus conteúdos orientados a partir de um ponto de referência designado “ego”.
Derivada do latim, a palavra ego significa eu, e é em primeira instância, o portal de entrada da alma humana pois, a consciência do ego é per se, condição imprescindível para uma investigação psicológica. O ego é um agente individualizante, ele separa os seres humanos de outras criaturas e, estabelece uma intrincada rede de associações com a consciência, território de onde emerge como centro crítico (2006, p. 27- 28). Acerca dessa área da consciência Jung diz:
O que conhecemos é o nosso complexo de ego, que supomos ter o domínio pleno do corpo. [...] O ego é um aglomerado de conteúdos altamente dotados de energia, assim quase não há diferença em falarmos de complexo e complexo do ego. Pois os complexos tem um certo poder. Tudo isso se explica pela chamada unidade da consciência ser pura ilusão. É realmente um sonho de desejo. Gostamos de pensar que somos unificados; mas isso não acontece e nem nunca aconteceu. Realmente não somos senhores dentro de nossa própria casa. É agradável pensar no poder de nossa vontade, em nossa energia e no podemos fazer. Mas na hora H descobrimos que não podemos fazê-lo até certo ponto, porque somos atrapalhados por esses pequenos demônios, os complexos. Eles são grupos autônomos de associações, com tendência de movimento próprio, de viverem sua vida independente de nossa intenção. (JUNG, 1983, p. 67).
O ego é tratado por Jung como uma instância essencialmente psíquica, embora esteja em parte, assentado sobre uma base somática e sua liberdade seja limitada. O ego, especialmente na juventude, experimenta a ilusão de possuir grande autonomia e “livre-arbítrio”, mas o indivíduo está à mercê de sua estrutura de caráter e dos “demônios interiores”, tanto quanto da autoridade externa. “Os demônios da contradição conflitam com o ego” (JUNG, 2006). O “homem racional” base da sociedade ocidental, é impelido por forças psíquicas e motivado por pensamentos que não se baseiam processos racionais. Enfim, os indivíduos são impulsionados por emoções e imagens. Segundo Stein (2006, p. 41), sendo o mundo interior “terra incógnita” no seu tempo, Jung lança mão de ferramentas e métodos científicos para explorá-la, e “ele descobriu que ela está povoada”.
Muitos aspectos do pensamento de Jung estão em consonância com os de pensadores como Terry Eagleton e Stuart Hall no que tange a fragmentação do indivíduo. Pondo em prática a máxima dos estudos da pós-modernidade que, contraria as normas do iluminismo questionando as noções clássicas de verdade,“nós não podemos mais conceber o indivíduo como um ego íntegro, centrado, estável, acabado” (HALL, 1998).
Os complexos
Os demônios interiores a que Jung se refere são denominados por ele “complexos”. Os complexos são “imagens ou idéias carregadas emocionalmente” e, “via régia” de acesso para o inconsciente” (SHARP, 1997). Possuidores de uma força de atração poderosa, os complexos funcionam como imãs, atraindo os conteúdos do inconsciente para a consciência. Mas eles chamam também para si, impressões do exterior que podem se tornar conscientes ao seu contato, caso não haja esse contato, tais impressões permanecerão inconscientes. “Os complexos são , então, personalidades parciais ou fragmentárias” (JUNG, 1983).
O termo “complexo” foi criado pelo psicólogo alemão Zieher, ampliado e enriquecido por Jung. Mais tarde este termo foi adotado e utilizado largamente no meio psicanalítico. A teoria dos complexos foi uma importante contribuição da psicologia analítica para a compreensão do inconsciente e de sua estrutura. Jung definiu os complexos estão localizados no inconsciente e são conteúdos que geram perturbações à consciência, por possuírem muita energia psíquica, eles constelam, ou seja emergem do inconsciente para a consciência, e a pessoa é ameaçada de perder o controle sobre suas emoções, e de certa forma sobre o seu comportamento, assim este mecanismo configura uma espécie de “possessão”. Segundo Sten (2006), “a energia do complexo [...] penetra na concha da consciência do ego e inunda-a” sob essa influencia a consciência perde, por completo, o controle da consciência.
Existem complexos familiares e sociais, que são coletivos, o que implica que, muitas pessoas estão psicologicamente ligadas de forma similar. Traumas são compartilhados e, muitas vezes, fazem parte de uma geração. Com a teoria dos complexos, Jung apresenta a existência de uma camada cultural do inconsciente, em parte individual, e em parte coletivo, por ser compartilhada com outros indivíduos. Mas este ainda não é o Inconsciente coletivo. Foi através da associação verbal que Jung descobriu fortes indícios de padrões semelhantes na formação de complexos entre membros de uma mesma família.
Outro conceito importante na psicologia analítica é o de persona. Este termo é propriedade intelectual especial do próprio Jung, trazido do teatro romano, persona se refere à máscara utilizada pelo ator por meio da qual ele pode assumir variados papéis e identidades dentro do enredo dramático, uma espécie de “pele psíquica” que se interpõe entre o ego e o ambiente. Os vários papéis que uma persona assume no decorrer da vida têm uma base coletiva e, em certa medida, arquetípica. A persona é um complexo que possui alguma autonomia e não está totalmente sob o controle do ego. A Sombra é outro complexo funcional da psique a quem a persona resistirá, é o lado inconsciente das operações intencionais realizadas pelo ego e um problema psicológico, que só poderá ser resolvido se esta for integrada à consciência. Sombra e persona é um par clássico de opostos que figuram na psique como polaridades do ego, a integração de ambos “depende da aceitação pela pessoa de si mesmo, da plena aceitação daquelas áreas ou partes que não pertencem à imagem da persona”. Stein destaca que na psicologia analítica os opostos poderão ser unidos na psique através da intervenção de uma “terceira coisa”. Se os pólos são mantidos em tensão, uma solução surgirá se o ego puder livra-se de ambos e criar um vazio interior no qual o inconsciente possa oferecer uma solução criativa na forma de um novo símbolo que incluirá algo de ambos (STEIN, 2006).
Os complexos são materiais puramente psíquicos, elementos arquetípicos representáveis imageticamente. Essas imagens, variadas vezes referenciadas na obra de Jung como imago, seu correspondente em latim, elas definem a essência da Psique e podem ter alguma correspondência com imagens objetivas, mas, não devem ser confundidas com elas. Os sonhos, por exemplo, são formados a partir dessas imagens inconscientes acionadas pelos complexos. O que une os elementos associados do complexo é a emoção.
Com capacidade para irromperem subitamente na consciência e apossar-se das funções do ego, os complexos são alimentados com energia psíquica ou libido que é distribuída entre vários componentes da psique. A irrupção de um complexo significa que ele ficou mais energizado que o ego, que muitas vezes não é capaz de conter o seu influxo de energia. Esse assunto é tratado com profundidade no livro A energia psíquica de Jung (1999), onde fala que, “hipoteticamente admitida”, a energia vital fosse chamada libido, tendo em vista o emprego que tenciona-se fazer dela em psicologia, e “diferenciando-a de um conceito de energia universal, e conservando-lhe por conseqüência, o direito especial de formar seus próprios conceitos”.
Existem alguns complexos coletivos, gravitando em torno de questões de sexo, religião, dinheiro, poder, e que afetam quase todas as pessoas em menor ou maior grau, e podem redundar em ferozes descargas de energia, até mesmo em guerra, se provocados com bastante severidade. O nível energético de um conteúdo psíquico pode ser indicado por emoções e reações positivas ou negativas. Equiparam-se aos complexos, em termos de atração de energia vital, os símbolos que, segundo a psicologia analítica, emergem da base arquetípica da personalidade, ou seja, inconsciente coletivo, e são grande organizadores da libido. Para Jung o símbolo é a melhor expressão possível para algo que é essencialmente incognoscível, ou ainda não cognoscível, dado o presente estado da consciência. Os símbolos combinam elementos de espírito, instintividade, de imagem e pulsão. Os místicos falam sobre o êxtase da união com Deus como uma experiência orgástica, [...] a experiência do símbolo une corpo e alma num poderoso e convincente sentimento de integralidade.
pesquisado por renata

3 comentários:

Grazi disse...

Gostei mto de ter estudado a psicologia analitica de Carl Gustav Jung, e nesse site eu encontrei mtas coisas interessantes e que ajudaram-me bastante, tenho um seminario para apresentar hoje referente as experiencia de associações e os complexos.

Agradeço de coração!!!

Renata Bomfim disse...

OLá Grazi, fico feliz que minhas pesquisas tenham te ajudado de alguma forma. Jung é complexo, precisa dedicação, vai fundo, que, assim como eu, você vai se apaixonar por este sedutor suiço
abraços
renata

Robin Van Persie disse...

Jung > Freud