Morim em Terra Pátria (2005) nos faz saber que a terra tem aproximadamente 4 bilhões de anos. Arqueobactérias evoluíram para bactérias, proliferando na água, na terra, na atmosfera, formando em, aproximadamente, 2 bilhões de anos, a biosfera. Um salto no tempo, leva-nos para cerca de 500 milhões de anos, lá encontramos a terra com toda a sua biodiversidade formada: plantas, invertebrados, e vertebrados, entre esses, nosso ancestral distante, macaco que há cerca de 7 milhões de anos, havia se tornado bípede.
O antropólogo Richard Leakey (1997), explica-nos que o processo evolutivo humano prosseguiu de maneira que a pré-história já estava em marcha acelerada quando há cerca de 2 milhões de anos, surgiu o Homo erectus, primeira espécie da família Homo. Este utilizava o fogo, fabricava instrumentos de pedra e, adotou a caça como forma significativa de subsistência. Eles viviam em uma organização social onde já havia a divisão do trabalho, os machos eram responsáveis pela caça, e a fêmea pela coleta de alimentos de origem vegetal.
Alguns críticos acham ingênuo o argumento de que a divisão sexual do trabalho, onde as tarefas e atuações eram definidas para homens e mulheres, foi a base da subordinação do sexo feminino, bem como contestam a tese dos historiadores dos séculos XVII e XIX, que defendem que a ideologia moderna de esferas separadas, a saber, pública e privada, tenha encarnado completamente na vida social, o que não nega a vinculação da mulher, a vida doméstica.
Leakey (1997) ressaltou que o crescimento do nível de complexidade social e o estabelecimento do homo erectus, antes nômade, marcou, há 35 mil anos, a passagem para o homo sapiens. Este salto evolutivo, não foi ocasionado por fator biológico, e sim produto da evolução cultural.
A escrita foi inventada há 6.000 anos e muito embora o homem andasse ereto a milhões de anos, foi a aproximadamente 25 mil anos que começou a produzir imagens. A análise da arte rupestre, sinais e estatuetas de osso e de pedra encontrados em cavernas, demonstram que a mulher possuía status igual ou superior ao homem nas sociedades primitivas. Mesmo sendo muito contestada, e não podendo ser provada, a teoria do matriarcado foi uma realidade simbólica, a mulher era a única fonte de vida pois, o homem desconhecia sua participação na fecundação, estes são indícios do prestígio mágico do feminino, as Deusas- mães. Vale destacar ainda que, no paleolítico a sociedade era nômade, não havia propriedade privada, cumulação, e embora esses povos já utilizassem armas para caçar, não foram encontrados indícios de guerra (MICHEL, 1982).
A opressão perpetrada à mulher no decorrer da evolução da sociedade, encontra respaldo no pressuposto foucaultiano de que os participantes das relações antagonizam-se, portanto, a violência apresenta-se como um importante dispositivo de poder masculino, do qual a mulher tornou-se alvo em potencial. A cotidianização da violência tem como resultados o terror e o medo. Qualquer que seja a intenção identificada como subjacente à violência, os seus efeitos são os mesmos: mulheres aprendem que devem ficar no lugar que lhes é designado cultural e socialmente. A violência pode engendrar o imobilismo, pelo fato de a experiência traumática passar a guiar ou influenciar as suas decisões. A insegurança, o medo e o imobilismo, técnicas de apropriação [do discurso] da mulher, permeiam a história desta.
Michel (1982), nos faz saber que foi entre 6.000 e 3.000 a.C., período que compreende o neolítico médio, que o status da mulher passou a sofrer profundas mudanças. Os seres humanos saíram das cavernas e se tornaram criadores de gado e fazendeiros, já eram capazes de construir dolmens e complexas cidades, como a Babilônia. Esse avanço tecnológico deve muito á participação feminina pois, atribui à mulher, além da invenção da enxada, a da fiação, da tecelagem, das primeiras cerâmicas, da criação de mós de pedra para triturar os grãos. Estes inventos fizeram com que a agricultura fosse possível e fixaram os nômades a terra, a agricultura gerou um excedente de alimentos e conseqüentemente, uma explosão demográfica. Desde então, a mulher deixou de ser vista como agente de produção agrícola, o fim da vida nômade, que a livrara do confinamento, lhe reservará a exclusão e o confinamento no seio da família patriarcal nascente.
O patriarcado é inegavelmente opressivo, tendo a explorar, roubando do homem a masculinidade madura e da mulher muitos dos seus atributos. O patriarcado, que teve suas bases firmadas no comércio e nas conquistas e na expansão comercial foi deixando para trás a agricultura e a religião matriarcal. A mulher passou a ser valor de troca, facilitando as alianças políticas. Ela perdeu o direito à propriedade e ao seu corpo, passando a ser designada a pertencer a alguém.
O primitivo não tinha conhecimento de sua participação na procriação, esta ciência, fez com que o homem reivindicasse para si o posto de criador da vida, restando à mulher, o papel secundário de receptáculo de sua semente. Foi o fim do monopólio das divindades femininas. A Deusa-mãe que por milênios reinou imperiosa, recebe um parceiro masculino, este deus, inicialmente lhe era subordinado, depois igual e, finalmente, soberano, o “pai do céu”. O fortalecimento do culto ao deus-pai, resultou no Deus onipotente das grandes religiões ocidentais, que trazia no seu bojo o germe da repressão e o entendimento da mulher como ser de segunda classe.
Os valores masculinos já podem ser vistos arraigados na polis grega, berço referencial da cultura ocidental. No Olimpo, Hera e Zeus, , orquestram um jogo de poder que se reproduzirá em todo panteão. Nessa sociedade, a mulher ocupa um papel ambíguo, os gregos julgavam as mulheres “incapazes de philia”, a amizade que nasce do amor, isso era só para os homens, e a passividade na cópula era o grande “pecado feminino”. Com o casamento a mulher preenchia duas funções sociais: servia como bem de troca e de comércio entre famílias, bem como para assegurava ao homem a progenitura. O lugar social da grega era no mais recôndito da casa, longe do público. Platão afirmou que “se a natureza não tivesse criado as mulheres e os escravos, teria dado ao tear a capacidade e fiar sozinho”. Percebe-se que a mulher não foi excluída do trabalho, mas sua participação foi regulada. Xenofontes, historiador e educador grego, discípulo de Sócrates, cujos preceitos influenciam até hoje a cultura ocidental escreveu: “Que [a mulher] viva sob uma estreita vigilância, veja o menor número de coisas possível, faça o menor número de perguntas possível”. O único registro histórico da resistência feminina na Grécia, remonta ao ano 625 a. C., quando a poetisa Safo, um centro para formação intelectual da mulher na ilha de Lesbos.
Em Roma o código penal legitimou a inferioridade feminina. Em 195 a. C. tem-se registro de mulheres recorrendo ao senado protestando a respeito de sua exclusão do transporte público, a defesa do senado Marco Pórcio Catão à recusa do clamor feminino adverte para o perigo de que as leis lhes alcancem com algum direito: “Lembrem-se do grande trabalho que temos tido para manter as nossas mulheres tranqüilas e para refrear-lhes a licenciosidade, o que foi possível enquanto as leis nos ajudaram, Imagine o que sucederá daqui por diante, se tais leis forem revogadas, e as mulheres se puserem, legalmente considerando, em pé de igualdade com os homens!Os senhores sabem como são as mulheres: façam-nas suas iguais, e imediatamente elas quererão subir às suas costas para governá-lo.
A ideologia patriarcal, tem ciência de que seu poder não está garantido ad infinitum, portanto, empenha-se em mantê-lo. Problemas vividos por mulheres de nacionalidade, cultura, religião, classe, raça e etnia, as mais diversas, mesmo vividos como individuais e privados, tem raízes comuns, portanto, vê-se a opressão infligida pelo sistema patriarcal às mulheres e a limitação seus horizontes, extensivo ao mundo hebraico. Moisés, ao receber de Deus- pai as leis, aboliu definitivamente o culto ao feminino e à natureza. Com a derrocada dos valores femininos, através da erradicação do culto das deusas pagãs, a inferioridade da mulher se fortificou no imaginário social desta cultura e religião, que foram as bases da religião cristã ocidental.
Roma triunfou ao derrotar a rainha egípcia Cleópatra. Na Grécia, emergiu helena, rainha de Tróia, sensual, adúltera e transgressora, representante do pecado e do mal, imagem da mulher que o cristianismo se incumbirá de sedimentar nos anos subseqüentes. A natureza instintiva, erótica e dinâmica do feminino, assim como sua natureza maternal representadas pelas poderosas deusas da antiguidade, não tem mais prestigio ou poder, e o deus masculino compartilha características semelhantes a dos homens. O devir histórico mostra como desde o mundo grego e hebraico até os tempos atuais, o sistema feminino vem sendo excluído da ordem do discurso e as mulheres oprimidas e desvalorizadas. Simone de Beauvoir (1961) descreveu como a imagem feminina construída pela cultura durante os séculos, reflete e perpetua a ideologia patriarcal, segundo ela: A literatura infantil, a mitologia, contos, narrativas, refletem os mitos criados pelo orgulho e os desejos do homem: é através de olhos masculinos que a menina explora o mundo e nele decifra seu destino. A superioridade masculina é esmagadora: Perseu, Hércules, Davi, Aquiles, Lançarote, [...] Napoleão, quantos homens para uma Joana d’Arc; e, por trás desta, a grande figura masculina de São Miguel Arcanjo! [...] Eva não foi criada para si mesma e sim como companheira de Adão [...]. As deusas da mitologia são frívolas ou caprichosas e todas tremem diante de Júpiter; enquanto Prometeu rouba soberbamente o fogo do céu, Pandora abre a caixa das desgraças. [...] A Virgem, acolhe de joelhos a palavra do anjo: “Sou a serva do Senhor”, [...] as santas declaram de joelhos o seu amor ao Cristo radioso. [A mulher] aprende que será feliz se for amada e para ser amada é preciso esperar o amor. A mulher é a Bela Adormecida no bosque, Cinderela, Branca de neve, a que recebe e suporta.
Houve momentos na histórica nos quais o feminino resgatou algum poder e autonomia no que se refere a atuação política. No século VIII, por exemplo, um decreto do imperador Carlos Mágno proibiu que meninos fossem instruídos em mosteiros, esse decreto possibilitou que meninas tivessem acesso à educação. A possibilidade de acesso das mulheres à educação culminou que estas tivessem um grau de instrução maior que o dos homens, foi um período em que o feminino voltou a ser valorizado e as mulheres resgataram uma liberdade até então esquecida. A participação dos homens nas guerras foi também um fator determinante para que estas pudessem se reinserir noutra forma de produção, que não apenas, a doméstica. Além das atividades determinadas socialmente como femininas, como tecer, bordar, costurar, as mulheres exerciam funções ditas masculinas como a serralheria e a carpintaria. Nas tribos que habitavam a Gália e a Germânia, sociedade tribais, viviam de forma comunitária, onde homens e mulheres compartilhavam o mesmo status. Este fato revela que a assimetria entre as relações foi reforçada e, perpetuada, a partir da criação de um novo mecanismo de exclusão e controle, o Direito.
O poderio feminino, conquistado por meio da educação incomodou, de forma que a igreja católica promoveu reformas que proibiram o acesso da mulher à educação. Foram universidades exclusivas para a educação masculina, anexas às igrejas, e às mulheres, restavam os precários ensinamentos que eram dados nos conventos. Tendo como únicas opções socialmente aceitas o casamento ou o convento, muitas mulheres optaram por rebelar-se. Algumas mulheres passaram a se agrupar, a morar juntas e a trabalhar nas cidades. A burguesia e a igreja responderam a essa insubordinação, criando leis que as julgavam juridicamente incapazes e simultaneamente, instituindo julgamentos por heresia, onde eram julgadas sob o pretexto de feitiçaria. Mulheres que viviam sozinhas, ou em grupos, viúvas que recusavam um novo casamento, solteiras ou separadas, eram as primeiras a serem acusadas de bruxaria e responsabilizadas, pela inquisição, por “atacar a força sexual dos homens, o poder reprodutor das mulheres e de agir com o objetivo de exterminar a fé”.
No Renascimento o poder era monopólio do clero e da nobreza, e se baseava na posse da terra. O genocídio feminino iniciado na idade média e geralmente descrito como “caça as bruxas”, teve seu apogeu nessa época, século XVI. Milhares de mulheres foram torturadas e assassinadas, o próprio discurso científico nascido nesse período está impregnado por este estigma. Alves e Pitanguy (2007) declaram que é difícil recuperar os traços da resistência feminina, dado o silêncio que encobre o fenômeno. O discurso masculino, buscou respaldo no pressuposto de que a mulher se faz bruxa pela natureza, ou seja, pelo seu sexo, considerado impuro e maléfico. Exemplificamos este dado com o relato de um inquisidor que escreveu em 1583, acerca da menstruação: “mensalmente elas se enchem de elementos supérfluos e o sangue faz exalar vapores que se elevam e passam pela boca, pelas narinas e outros condutos do corpo, lançando feitiços sobre tudo que elas encontram”. O Malleus Maleficarum, documento compilado por frades dominicanos, foi o documento padrão que serviu para julgar e condenar mulheres acusadas de heresia, um fragmento de texto desse documento dizia: As mulheres são basicamente movidas pela intensidade do afeto e da emoção. Seus extremos de amor e ódio são gerados pelo clamor da carne, pela possessividade e pelo ciúme. Mai carnais que os homens, elas são, na verdade, sexualmente insaciáveis, vãs, mentirosas e sedutoras; só buscam o prazer, inclinam-se ao logro premeditado para atingir seus objetivos. Mental e intelectualmente inferiores, deficientes e débeis de corpo e mente, têm memória fraca, intelectualmente são como as crianças, supercrédulas, supersticiosas, exageradamente impressionáveis e sugestionáveis, língua solta, indisciplinadas, na verdade animais imperfeitos.
Cientistas ilustres e médicos renomados passam a descrever a mulher como um ser mutilado, inferior, este discurso encontra ressonância no discurso religioso. Intelectuais e humanistas também a estigmatizaram como inferior e impura. As parcerias dos poderosos foram se ampliando e transformando em rede, a igreja, fortalecida com a exclusão legal das mulheres dos cargos de poder, uniu- se a uma nova classe que surgiu do engendramento das cidades pelo comércio, os burocratas. Foi o golpe final em alguns direitos legais que as mulheres ainda detinham, novas leis foram criadas, foi proibida a sucessão real pela linhagem materna, e a mulher não tinha mais direito algum de gerir seus bens e nem à independência econômica.
O genocídio perpetrado às mulheres pela inquisição, só chegaria ao fim no século XVIII, mesmo século em que, amparados por uma antiga idéia romana de fragilitas sexus, foi decretada a morte civil das mulheres na família e na sociedade. A ética burguesa apoiava-se na idéia de que lugar de mulher era em casa, dedicando-se as funções domésticas, essa mentalidade gerou a filosofia de que as mulheres não são nem indivíduos e nem cidadãs do estado nacional. As produções científicas e artísticas realizadas por mulheres nesse período eram assinadas por pais, maridos, irmãos, que passavam a ter direito sobre toda e qualquer a produção feminina.
O início da era colonial que se ancorava na guerra e na escravidão e baseava sua economia na indústria, foi um processo que se estendeu e solidificou até o século XIX. Nesse período, a condição das mulheres degradou-se ainda mais, principalmente das mulheres dos países pobres e colonizados. A divisão do trabalho acentuou aumentou a distancia entre homens e mulheres, reduzidas ao lar, excluídas da produção mercantil, fossem julgadas “ociosas”, o que gerou um desprezo por parte dos homens. As mulheres que trabalhavam restavam empregos cada vez mais mal pagos, panorama que fez surgir, no século XVII, vários movimentos de resistência feminina no mundo.
O antropólogo Richard Leakey (1997), explica-nos que o processo evolutivo humano prosseguiu de maneira que a pré-história já estava em marcha acelerada quando há cerca de 2 milhões de anos, surgiu o Homo erectus, primeira espécie da família Homo. Este utilizava o fogo, fabricava instrumentos de pedra e, adotou a caça como forma significativa de subsistência. Eles viviam em uma organização social onde já havia a divisão do trabalho, os machos eram responsáveis pela caça, e a fêmea pela coleta de alimentos de origem vegetal.
Alguns críticos acham ingênuo o argumento de que a divisão sexual do trabalho, onde as tarefas e atuações eram definidas para homens e mulheres, foi a base da subordinação do sexo feminino, bem como contestam a tese dos historiadores dos séculos XVII e XIX, que defendem que a ideologia moderna de esferas separadas, a saber, pública e privada, tenha encarnado completamente na vida social, o que não nega a vinculação da mulher, a vida doméstica.
Leakey (1997) ressaltou que o crescimento do nível de complexidade social e o estabelecimento do homo erectus, antes nômade, marcou, há 35 mil anos, a passagem para o homo sapiens. Este salto evolutivo, não foi ocasionado por fator biológico, e sim produto da evolução cultural.
A escrita foi inventada há 6.000 anos e muito embora o homem andasse ereto a milhões de anos, foi a aproximadamente 25 mil anos que começou a produzir imagens. A análise da arte rupestre, sinais e estatuetas de osso e de pedra encontrados em cavernas, demonstram que a mulher possuía status igual ou superior ao homem nas sociedades primitivas. Mesmo sendo muito contestada, e não podendo ser provada, a teoria do matriarcado foi uma realidade simbólica, a mulher era a única fonte de vida pois, o homem desconhecia sua participação na fecundação, estes são indícios do prestígio mágico do feminino, as Deusas- mães. Vale destacar ainda que, no paleolítico a sociedade era nômade, não havia propriedade privada, cumulação, e embora esses povos já utilizassem armas para caçar, não foram encontrados indícios de guerra (MICHEL, 1982).
A opressão perpetrada à mulher no decorrer da evolução da sociedade, encontra respaldo no pressuposto foucaultiano de que os participantes das relações antagonizam-se, portanto, a violência apresenta-se como um importante dispositivo de poder masculino, do qual a mulher tornou-se alvo em potencial. A cotidianização da violência tem como resultados o terror e o medo. Qualquer que seja a intenção identificada como subjacente à violência, os seus efeitos são os mesmos: mulheres aprendem que devem ficar no lugar que lhes é designado cultural e socialmente. A violência pode engendrar o imobilismo, pelo fato de a experiência traumática passar a guiar ou influenciar as suas decisões. A insegurança, o medo e o imobilismo, técnicas de apropriação [do discurso] da mulher, permeiam a história desta.
Michel (1982), nos faz saber que foi entre 6.000 e 3.000 a.C., período que compreende o neolítico médio, que o status da mulher passou a sofrer profundas mudanças. Os seres humanos saíram das cavernas e se tornaram criadores de gado e fazendeiros, já eram capazes de construir dolmens e complexas cidades, como a Babilônia. Esse avanço tecnológico deve muito á participação feminina pois, atribui à mulher, além da invenção da enxada, a da fiação, da tecelagem, das primeiras cerâmicas, da criação de mós de pedra para triturar os grãos. Estes inventos fizeram com que a agricultura fosse possível e fixaram os nômades a terra, a agricultura gerou um excedente de alimentos e conseqüentemente, uma explosão demográfica. Desde então, a mulher deixou de ser vista como agente de produção agrícola, o fim da vida nômade, que a livrara do confinamento, lhe reservará a exclusão e o confinamento no seio da família patriarcal nascente.
O patriarcado é inegavelmente opressivo, tendo a explorar, roubando do homem a masculinidade madura e da mulher muitos dos seus atributos. O patriarcado, que teve suas bases firmadas no comércio e nas conquistas e na expansão comercial foi deixando para trás a agricultura e a religião matriarcal. A mulher passou a ser valor de troca, facilitando as alianças políticas. Ela perdeu o direito à propriedade e ao seu corpo, passando a ser designada a pertencer a alguém.
O primitivo não tinha conhecimento de sua participação na procriação, esta ciência, fez com que o homem reivindicasse para si o posto de criador da vida, restando à mulher, o papel secundário de receptáculo de sua semente. Foi o fim do monopólio das divindades femininas. A Deusa-mãe que por milênios reinou imperiosa, recebe um parceiro masculino, este deus, inicialmente lhe era subordinado, depois igual e, finalmente, soberano, o “pai do céu”. O fortalecimento do culto ao deus-pai, resultou no Deus onipotente das grandes religiões ocidentais, que trazia no seu bojo o germe da repressão e o entendimento da mulher como ser de segunda classe.
Os valores masculinos já podem ser vistos arraigados na polis grega, berço referencial da cultura ocidental. No Olimpo, Hera e Zeus, , orquestram um jogo de poder que se reproduzirá em todo panteão. Nessa sociedade, a mulher ocupa um papel ambíguo, os gregos julgavam as mulheres “incapazes de philia”, a amizade que nasce do amor, isso era só para os homens, e a passividade na cópula era o grande “pecado feminino”. Com o casamento a mulher preenchia duas funções sociais: servia como bem de troca e de comércio entre famílias, bem como para assegurava ao homem a progenitura. O lugar social da grega era no mais recôndito da casa, longe do público. Platão afirmou que “se a natureza não tivesse criado as mulheres e os escravos, teria dado ao tear a capacidade e fiar sozinho”. Percebe-se que a mulher não foi excluída do trabalho, mas sua participação foi regulada. Xenofontes, historiador e educador grego, discípulo de Sócrates, cujos preceitos influenciam até hoje a cultura ocidental escreveu: “Que [a mulher] viva sob uma estreita vigilância, veja o menor número de coisas possível, faça o menor número de perguntas possível”. O único registro histórico da resistência feminina na Grécia, remonta ao ano 625 a. C., quando a poetisa Safo, um centro para formação intelectual da mulher na ilha de Lesbos.
Em Roma o código penal legitimou a inferioridade feminina. Em 195 a. C. tem-se registro de mulheres recorrendo ao senado protestando a respeito de sua exclusão do transporte público, a defesa do senado Marco Pórcio Catão à recusa do clamor feminino adverte para o perigo de que as leis lhes alcancem com algum direito: “Lembrem-se do grande trabalho que temos tido para manter as nossas mulheres tranqüilas e para refrear-lhes a licenciosidade, o que foi possível enquanto as leis nos ajudaram, Imagine o que sucederá daqui por diante, se tais leis forem revogadas, e as mulheres se puserem, legalmente considerando, em pé de igualdade com os homens!Os senhores sabem como são as mulheres: façam-nas suas iguais, e imediatamente elas quererão subir às suas costas para governá-lo.
A ideologia patriarcal, tem ciência de que seu poder não está garantido ad infinitum, portanto, empenha-se em mantê-lo. Problemas vividos por mulheres de nacionalidade, cultura, religião, classe, raça e etnia, as mais diversas, mesmo vividos como individuais e privados, tem raízes comuns, portanto, vê-se a opressão infligida pelo sistema patriarcal às mulheres e a limitação seus horizontes, extensivo ao mundo hebraico. Moisés, ao receber de Deus- pai as leis, aboliu definitivamente o culto ao feminino e à natureza. Com a derrocada dos valores femininos, através da erradicação do culto das deusas pagãs, a inferioridade da mulher se fortificou no imaginário social desta cultura e religião, que foram as bases da religião cristã ocidental.
Roma triunfou ao derrotar a rainha egípcia Cleópatra. Na Grécia, emergiu helena, rainha de Tróia, sensual, adúltera e transgressora, representante do pecado e do mal, imagem da mulher que o cristianismo se incumbirá de sedimentar nos anos subseqüentes. A natureza instintiva, erótica e dinâmica do feminino, assim como sua natureza maternal representadas pelas poderosas deusas da antiguidade, não tem mais prestigio ou poder, e o deus masculino compartilha características semelhantes a dos homens. O devir histórico mostra como desde o mundo grego e hebraico até os tempos atuais, o sistema feminino vem sendo excluído da ordem do discurso e as mulheres oprimidas e desvalorizadas. Simone de Beauvoir (1961) descreveu como a imagem feminina construída pela cultura durante os séculos, reflete e perpetua a ideologia patriarcal, segundo ela: A literatura infantil, a mitologia, contos, narrativas, refletem os mitos criados pelo orgulho e os desejos do homem: é através de olhos masculinos que a menina explora o mundo e nele decifra seu destino. A superioridade masculina é esmagadora: Perseu, Hércules, Davi, Aquiles, Lançarote, [...] Napoleão, quantos homens para uma Joana d’Arc; e, por trás desta, a grande figura masculina de São Miguel Arcanjo! [...] Eva não foi criada para si mesma e sim como companheira de Adão [...]. As deusas da mitologia são frívolas ou caprichosas e todas tremem diante de Júpiter; enquanto Prometeu rouba soberbamente o fogo do céu, Pandora abre a caixa das desgraças. [...] A Virgem, acolhe de joelhos a palavra do anjo: “Sou a serva do Senhor”, [...] as santas declaram de joelhos o seu amor ao Cristo radioso. [A mulher] aprende que será feliz se for amada e para ser amada é preciso esperar o amor. A mulher é a Bela Adormecida no bosque, Cinderela, Branca de neve, a que recebe e suporta.
Houve momentos na histórica nos quais o feminino resgatou algum poder e autonomia no que se refere a atuação política. No século VIII, por exemplo, um decreto do imperador Carlos Mágno proibiu que meninos fossem instruídos em mosteiros, esse decreto possibilitou que meninas tivessem acesso à educação. A possibilidade de acesso das mulheres à educação culminou que estas tivessem um grau de instrução maior que o dos homens, foi um período em que o feminino voltou a ser valorizado e as mulheres resgataram uma liberdade até então esquecida. A participação dos homens nas guerras foi também um fator determinante para que estas pudessem se reinserir noutra forma de produção, que não apenas, a doméstica. Além das atividades determinadas socialmente como femininas, como tecer, bordar, costurar, as mulheres exerciam funções ditas masculinas como a serralheria e a carpintaria. Nas tribos que habitavam a Gália e a Germânia, sociedade tribais, viviam de forma comunitária, onde homens e mulheres compartilhavam o mesmo status. Este fato revela que a assimetria entre as relações foi reforçada e, perpetuada, a partir da criação de um novo mecanismo de exclusão e controle, o Direito.
O poderio feminino, conquistado por meio da educação incomodou, de forma que a igreja católica promoveu reformas que proibiram o acesso da mulher à educação. Foram universidades exclusivas para a educação masculina, anexas às igrejas, e às mulheres, restavam os precários ensinamentos que eram dados nos conventos. Tendo como únicas opções socialmente aceitas o casamento ou o convento, muitas mulheres optaram por rebelar-se. Algumas mulheres passaram a se agrupar, a morar juntas e a trabalhar nas cidades. A burguesia e a igreja responderam a essa insubordinação, criando leis que as julgavam juridicamente incapazes e simultaneamente, instituindo julgamentos por heresia, onde eram julgadas sob o pretexto de feitiçaria. Mulheres que viviam sozinhas, ou em grupos, viúvas que recusavam um novo casamento, solteiras ou separadas, eram as primeiras a serem acusadas de bruxaria e responsabilizadas, pela inquisição, por “atacar a força sexual dos homens, o poder reprodutor das mulheres e de agir com o objetivo de exterminar a fé”.
No Renascimento o poder era monopólio do clero e da nobreza, e se baseava na posse da terra. O genocídio feminino iniciado na idade média e geralmente descrito como “caça as bruxas”, teve seu apogeu nessa época, século XVI. Milhares de mulheres foram torturadas e assassinadas, o próprio discurso científico nascido nesse período está impregnado por este estigma. Alves e Pitanguy (2007) declaram que é difícil recuperar os traços da resistência feminina, dado o silêncio que encobre o fenômeno. O discurso masculino, buscou respaldo no pressuposto de que a mulher se faz bruxa pela natureza, ou seja, pelo seu sexo, considerado impuro e maléfico. Exemplificamos este dado com o relato de um inquisidor que escreveu em 1583, acerca da menstruação: “mensalmente elas se enchem de elementos supérfluos e o sangue faz exalar vapores que se elevam e passam pela boca, pelas narinas e outros condutos do corpo, lançando feitiços sobre tudo que elas encontram”. O Malleus Maleficarum, documento compilado por frades dominicanos, foi o documento padrão que serviu para julgar e condenar mulheres acusadas de heresia, um fragmento de texto desse documento dizia: As mulheres são basicamente movidas pela intensidade do afeto e da emoção. Seus extremos de amor e ódio são gerados pelo clamor da carne, pela possessividade e pelo ciúme. Mai carnais que os homens, elas são, na verdade, sexualmente insaciáveis, vãs, mentirosas e sedutoras; só buscam o prazer, inclinam-se ao logro premeditado para atingir seus objetivos. Mental e intelectualmente inferiores, deficientes e débeis de corpo e mente, têm memória fraca, intelectualmente são como as crianças, supercrédulas, supersticiosas, exageradamente impressionáveis e sugestionáveis, língua solta, indisciplinadas, na verdade animais imperfeitos.
Cientistas ilustres e médicos renomados passam a descrever a mulher como um ser mutilado, inferior, este discurso encontra ressonância no discurso religioso. Intelectuais e humanistas também a estigmatizaram como inferior e impura. As parcerias dos poderosos foram se ampliando e transformando em rede, a igreja, fortalecida com a exclusão legal das mulheres dos cargos de poder, uniu- se a uma nova classe que surgiu do engendramento das cidades pelo comércio, os burocratas. Foi o golpe final em alguns direitos legais que as mulheres ainda detinham, novas leis foram criadas, foi proibida a sucessão real pela linhagem materna, e a mulher não tinha mais direito algum de gerir seus bens e nem à independência econômica.
O genocídio perpetrado às mulheres pela inquisição, só chegaria ao fim no século XVIII, mesmo século em que, amparados por uma antiga idéia romana de fragilitas sexus, foi decretada a morte civil das mulheres na família e na sociedade. A ética burguesa apoiava-se na idéia de que lugar de mulher era em casa, dedicando-se as funções domésticas, essa mentalidade gerou a filosofia de que as mulheres não são nem indivíduos e nem cidadãs do estado nacional. As produções científicas e artísticas realizadas por mulheres nesse período eram assinadas por pais, maridos, irmãos, que passavam a ter direito sobre toda e qualquer a produção feminina.
O início da era colonial que se ancorava na guerra e na escravidão e baseava sua economia na indústria, foi um processo que se estendeu e solidificou até o século XIX. Nesse período, a condição das mulheres degradou-se ainda mais, principalmente das mulheres dos países pobres e colonizados. A divisão do trabalho acentuou aumentou a distancia entre homens e mulheres, reduzidas ao lar, excluídas da produção mercantil, fossem julgadas “ociosas”, o que gerou um desprezo por parte dos homens. As mulheres que trabalhavam restavam empregos cada vez mais mal pagos, panorama que fez surgir, no século XVII, vários movimentos de resistência feminina no mundo.
pesquisa: renatabomfim
2 comentários:
Maravilhoso! A riqueza de informações desse texto é esmagadora, me faz sentir como se eu precisasse de algumas vidas mais para aprender sobr tudo o que eu gostaria de compreender.
Vou linkar o seu blog ao meu (Útero Vazio) e sugerir esse texto em um post.
Um grande abraço, Dona poeta.
Nicole
www.uterovazio.blogspot.com
www.hetercefalando.blogspot.com
Oi!
Eu adorei o texto.Muito obrigada...
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