Espaço literário e de defesa da arte, do meio ambiente e da democracia, compartilhado pela escritora e ativista ambiental Renata Bomfim.

17/05/2010

Crítica sobre o livro Mina, por Ester Abreu Vieira de Oliveira e Luis Eustáquio Soares

Li MINA com as suas divisões, nele você, poeta sensível e intelectual, apóia-se em vários mitos, em poetas como; Pessoa, Drummond, Cabral, Hilda , Décio Pignatari, Juan Ramón Jiménez , Adélia Prado, entre outros, lapida, tece, em sua solidão poética, fala de amor, paixão e abandono, vibra com as palavras e faz com que elas emanem erotismo e renasçam poeticamente, cheias de emoção e beleza. Filosofa no carpem dei “Não quero pensar no amanhã/ basta viver o agora/ e celebrar toda essa tirania, /com que o amor, perverso, nos açoita...”. O que senti?
Em LAVRA, a união cósmica, unida as sensações e o fazer poético, é construída com dificuldade. Contudo o poeta luta: “sacudindo a poeira”, mas com esperança. Finge, metamorfoseia-se, transforma-se para encontrar a si mesmo. Pelos percalços do caminho, o poeta constrói, com as vibrações do ser, a palavra verdadeira que encontra nos diversos mitos e a realiza no seu próprio mito para converter “em jardins as terras secas” e a linguagem se transforma em “poesia”. “Sigo amor, numa luta ferrenha/ para ser eu mesma./ Encaixando os meus fragmentos/ nas partes do mundo que cabem e/ calando a incerteza dos pensamentos/ sob a máscara de poeta”. Em
ARREBENTAÇÃO/ EXPLOSÃO, no “laboratório particular / de venezianas sempre abertas/ a contemplar o mundo [...]”, que o poeta forma o fazer poético (seus sonhos) com elementos da natureza: árvores, flores e seus produtos (mel); relembra e filosofa: “aprendemos tudo nessa vida,/ quando queremos,/ inclusive a sonhar.” Em DESLUMBRAMENTO, que o poeta se apropria aleatoriamente dos conhecimentos, intelectualiza-se, extravasa a dor de sua solidão e o desejo de saciar-se de amor “Cava o meu chão e/ planta a tua semente/ rega com amor essa terra,/ ressequida de solidão”.
Em LAPIDAÇÃO, que o poeta mulher amargura-se e chora as perdas: “Já nos basta o viver”, mas ‘depois de um tempo de tristeza/ Relaxa e canta ”e vê que há vida no presente ele “é dádiva,/ é abertura ao inesperado é expansão”
Ester Abreu Vieira de Oliveira
Presidente da Academia Feminina Espírito- Santense de Letras
Poeta e professora da UFES


Mina: uma poética colcha de retalhos
Luis Eustáquio Soares

Em Mina, primeiro livro de poemas de Renata Bomfim, como uma transfusão de sangue de letras garatujas, de rabiscos, é possível observar uma poética igualmente incompleta, inacabada, transicional, de passagem e, por isso mesmo, emendada, retalhada, de aprendiz. Mina é uma colcha de retalhos de poemas emendados e suas vozes poéticas constituem-se em fluxos de aprendizagem de poesia, com seus eus-líricos femininamente fragmentados, esboçando, seja em cada poema, seja no conjunto deles, um perfil poético indefinido, demarcado por cicatrizes de incontáveis traços femininos, no embate, na vida e na sobrevida de, numa e contra a nossa falocêntrica civilização. São, assim, vozes de incontáveis ventríloquos femininos as que se inscrevem, como mina, nos poemas deste livro, escavandose, escavadas e a escavar, embora sem pretensão de encontrar veios de ouro, de diamante, ou de qualquer metal precioso, uma vez que, sendo poemas assumidamente incompletos, como a vida, são, como devem ser, colagens de mulheres imperfeitas, irregulares, rebeldes, incompreendidas, viscerais, solitárias, fortes, frágeis, apaixonadas; ora confiantes, ora deprimidas, mas sempre marcadas pela vontade de se expressar, de, enfim, participar da trama tramada do mundo, como é possível inferir tendo em vista o poema “Experimental”: Rompeu-se o que era de ouro e fino e delicado./ Brocado de oníricas texturas,/ Agora, embrutecido, pedra dura,/ guarda tramas, fissuras de sonhos amordaçados./ Fóssil de um eu cintilante e genuíno/ que celebrava o dia e bebia o vinho do porvir/ ornamentado de linho fino e rendas./ Agora, sorve o amargor da lembrança/ Sem saber qual direção seguir./ Haverá cura para esse mal/ que embarga a voz?/Haverá saída desse escarpado íngreme?/Uma fenda, um vão?/ Preces e rogos e oferendas/ Para um deus pagão/Cultos para aplacar no corpo o desejo ardente, Para cessar o brilho intermitente,/ ofuscado apenas pela dúvida. Ao fim, encenar num gesto indecente- /libertino- libertário Voo inaugural para uma nova existência. Diante dessa agônica pergunta, relativa __ eis uma tentativa de Interpretação __ ao embargo que uma civilização como a nossa impõe sobre toda e qualquer alteridade, a feminina se expressa como? brocado de oníricas texturas?, através de uma escrita afetiva, para utilizar um argumento caro ao pensador indiano, Homi Bhabha, ao analisar a literatura produzida nas margens estilhaçadas das instituições verticaisfalocêntricas, no contexto de uma sociedade póscolonial.
A escrita poética de Renata Bomfim, em Mina, é também afetiva, seguindo a esteira de poetas como Ana Cristina César, Elza Beatriz, Florbela Espanca, Sylvia Plath, e uma profusão de outras, por serem vozes poéticas que, não obstante as diferenças expressivas entre elas, inscreveram uma disseminação fissurada de sentidos marginais, estilhaçados, em suas afetivas escritas poéticas, como forma, todas elas, de enfrentamento ao duplo mal que nos embarga a todos, e antes de tudo às alteridades, que são esses de sermos mortais e de estarmos construindo uma civilização baseada na submissão, humilhação, exploração e violação a tudo que é vital, cuja força propõe, em movimento, outra dinâmica social, de alteridades expressivas, com seus? indecentes ? libertino ? libertário/ voo inaugural para uma nova existência,? Como nos sugere o poema “Experimental”. Assim, embora Renata Bonfim, neste seu primeiro livro, esteja ainda em busca de sua melhor expressão poética, ainda que seja pela via da irregularidade e da precariedade, Mina nos mostra uma poeta em formação, é verdade, mas apta, não obstante, a nos brindar com poemas como“Experimental”, “Pororoca”, “Personae”, “A flor”,“Mulherárvore”, “Bluechip”, “Juramento de hipócritas”, e outros. Seja bem-vinda, Renata, ao clube das infinitas inclusões poéticas: água de todos e de ninguém.

Luis Eustáquio Soares
Poeta e Dr° em Literatura. Profº no Doutorado de Letras da Universidade Federal do ES

3 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns pelo lançamento e êxito em seus projetos sempre.
Um abraço.
Denise Moraes.

Anônimo disse...

Parabéns por este e por todos os seus projetos. Adoro os seus poemas e meus pais também.
Um abraco de Newton, Rose e Tinho.

Lia Noronha disse...

Maravilhosas análises sobre essa joia literária.
beijos carinhosos a ti.