02/05/2011

A cura

A Terra sangra
o meu sangue

A árvore sangra
o sangue do teu filho

A tua filha sangra
o sangue do bizão e do cavalo

O peixe sangra
o teu sangue e
o sangue dos nossos antepassados

Os nossos netos sangram
O Tempo e o espaço se dobram
A vida se esvai.

Seca o meu sangue 
enxugo a tua lágrima

A árvore entoou um canto para o peixe que sangrava
o sanguamento dos antepassados, então, estancou

A terra sorriu e se abriu na alvorada!

O bizão e o cavalo correm livres

O teu filho tocou o tempo e o espaço e
dele saiu virtude!

— Pai não sabemos quase nada!
O aqui e o agora nos cega infinitamente

Precisamos descrer, deixar de ser
para sermos muitos e muitas

—Mãe Terra, recolheste os nossos fluidos
Não há mais dor e nem lágrimas

Não haverão sussurros
as palavras serão audíveis e
o corpo íntegro revelará, cicatrizada,
a ferida do ódio e do absurdo.

renatabomfim

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