Eu sou toda misturada
feita de sol e de chuva
sou doce, salgada,
santa e puta.
Sou carne e vento
anjo sem aura e sem asas.
Senhora da minha casa:
convento, pocilga, taverna,
a minha cama arde em brasas.
Imploro redenção aos quatro ventos,
um unguento, um elixir, um remédio
ou simplesmente agulha e linha
para fazer remendos.
Preciso me costurar toda,
emendar as partes puídas,
juntar num mosaico as mulheres partidas
pelo tempo, pelos homens, pela solidão,
pela morte, pela doença, e por felicidades fortuitas.
Sobre a minha cabeça repousa
a coroa de Montezuma exalando perfumes tropicais,
Meu olhos são ônis refletidas em águas claras
misturada sou força pura que chega aos confins da Terra
nascida de uma sensibilidade bruta.
Eu sou toda misturada.
Nem sei mais as proporções de cada coisa,
de tanto ser isso e aquilo e nada,
não sei mais quem sou.
Tanto mais diluída, eis o que me conforta,
realizada.
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