28/09/2014

O que quiseres: metafísica da entrega

Cai a noite
meu olhar busca se reconhecer
no olhar do velho que sonha no banco
da praça.

O grande relógio marca o centro da cidade,
mas não marca o tempo que, fugidio,
insiste em não passar e
mantém o meu coração menino.

O guardador de carros me vê, sorri,
Sorrio entre motos e múltiplas marcas.
Sorrio porque as lágrimas correm
como rios: sorrio porque as lágrimas existem.

O cais logo em frente traz
águas de outros países, e cargas,
muitas cargas.

Tudo isso está abrigado no meu coração,
─ esse porto aberto─, onde aportam
 desejos (de) estranhos:
         o que querem de mim?
         o que você quer de mim?
         o que posso te oferecer?

É momento de entrega!
Não aceito nenhum tipo
        de espoliação,
        de exploração,
        de injustiça.
Peça de mim o que quiser,
(lhe darei!)
não precisa voltar nada em troca.

Descobri que sempre haverá o céu
mudando de cor, 
que o mar beijará os meus pés
toda manhã,
e que sempre existirá um felino,
com olhos de ágata,
para me amar.

Apenas isso eu não posso te dar!



(Renata Bomfim, Vitória/ ES, 28-09-2014)

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