04/10/2014

Ministério poético

Sob a abóbada chumbo 
evoco o teu nome,
impronunciável.

Deixei de ser eu, 
dissolvida
pela própria vontade.

Os pés tocam o chão, 
as mãos recolhem
os frutos da terra.

Um fogo diferente e edificante
incendeia coração, pulmões, 
baço, braços, pernas, cabelos,
mas não os consome.

Ao redor, estranhas luzes
brilhantes,
fenômenos aéreos/aquáticos:
flocos de esperança.

O corpo é visitado
pelo oxigênio mais puro: 
possessão.

A poesia evangeliza
para além, além, além...
A conversão é estranha,
silenciosa, reconhecida 
pelas entranhas.

Cantam os órgãos do corpo,
o que era estilhaço
se recompõe,
assim como cantaram os ossos
do vale dos mortos. 

A abóboda muda de cor,
o mundo continua girando e, 
nesse espaço de amor estendido:
sussurro inimagináveis,
revelo a minha devoção:

Poesia desse ministério.



RB, Vitória/ES, 04-10-2014


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