Dedicado ao grande antipoeta chileno
Olha-me com ternura.
É tempo de estiagem,
De secura e de dor.
Já não posso sonhar,
Já não posso cantar,
As histórias perdem o sentido,
Meu coração está ressequido,
Olha-me com ternura.
Minhas mãos tocaram
(em sonho), as cordilheiras,
como se elas fossem um brinquedo divino,
e eu, uma menina de sorrisos e tranças...
− Nunca poderão reproduzir Tamanha beleza!
− Jamais alcançarão os mistérios das pedras.
Escutei as rochas solitárias,
Conheço a linhagem dessas pedras milenares.
Escalei as paredes mais elevadas, em busca
de mim mesma.
As mãos revelam essa intimidade granítica.
Olha-me com ternura.
Escuta a voz que vem das grutas,
Ecos de nossa humanidade perdida.
Lamento pela morte dos deuses,
Clamor que faz tremer a terra.
Rega com amor a matriz do poema,
Recria a mitologia (ao avesso),
Reproduz uma canção inédita,
Somente tu, poeta, pode fazê-lo.
Olha-me com ternura.
Eu, a mais infértil das mulheres,
Em busca de redenção, de afeto,
Ansiando renascimento.
Desposa essa criatura capaz de gerar,
apenas, utopias e alvoradas.
*
Renata Bomfim.
Vitória, ES/ Brasil.
Jan. 2015
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