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Amigos, foi com alegria que recebi mais essa obra do amigo poeta barcelonês Santiago Montobbio. Hasta el final camina el poema chegou pelo carreio carinhosamente autografado e revelando, além da alta qualidade dos versos, um cuidado de detalhes com todos os elementos que dão forma a esse fetiche chamado "livro". A capa vermelho cereja é sensual e convida ao toque, à descoberta, enfim, ao sabor da leitura.
Observei um fio condutor unindo essa obra às que lhe antecederam, especialmente aos livros "La poesia es un fondo de agua marina" e "Los soles por las noches esparcidos". Permanecem os temas recorrentes na poesia de Montobbio: o amor, as sombras os silêncios e a busca do eu por construir-se a partir do labor poético: "Los poemas son muy parecidos/ y terribles sus sonidos. En ellos/ me busco, me construyo" (p. 45). O eu poético busca retratar a amada através da pintura, ação movida pelo desejo de posse e união, entretanto frustrada. O frio que congela os dedos produz a neblina que cega e impede a despedida, a suspensão do adeus gera vazios: o frio é a ausência de quem se ama. A "Noche ciega' é rasgada pela luminiscência da manhã que desperta do sonho para realidade: "Café, amor, mañana", a brisa pousa sobre a alma e o a construção de si (via poesia) continua.
A poesia é matéria capaz de transfigurar qualquer elemento no poema, até mesmo a perplexidade frente a doença: 'Tiene el mejor de los prognósticos, pero es cáncer", a poesia se torna elemento curativo e terapêutico, é ela, juntamente com a fé, que possibilitará que o eu lírico continue vivendo para "ser poesía y amor" (p. 55). A solidão marca o percurso do eu lírico, o poeta segue perseguindo o amor, sente-se um pássaro ferido que voa pela última vez: "Fantasmas de siluetas/ o siluetas de fantasmas" (p. 58), ecoam adeuses.
A ferida mais profunda se revela de maneira metalinguística e o poema a pensar a si mesmo. Os versos se constroem com o passar dos dias, e o eu lírico declara: "ouvido y ceniza/ y herida o hueco que te busca y que me nombra" (p. 59). Perdido e puro, como uma pomba, o eu se reconstitui através da palavra, do adeus e do esquecimento. O fantasma da ausência acompanha o eu, o ser amado se torna inacessível, quase uma miragem fazendo-o sentir que desaparece como um desenho que se apaga. Mas a ninguém importa esse sofrimento, a morte torna-se alento. O sangue flui garantindo a vida, assim como tempo amigo, "tiempo río". O tempo e os versos garantem que o eu lírico não desapareça.
A doença do corpo é agravada pelos sofrimentos da alma. A noite densa impede que a carne enferma e sofrida estendida sobre a cama mire a paisagem: "Frio, río, lobo, destino ciego que se disuelve en nada" (p. 72). Entretanto, há amor e o eu o derrama a todo tempo pelo mundo. O frio e o rio se unem no tempo e na luta pela vida. O corpo é visitado pelo sonho, "un sueño que parecía un poema" (p. 74).
O eu poético se perde na sombra densa, está cheio de pó e sombra mas anseia pela vida, pela cura das feridas "que nos sangran y nos forman" (p. 96). "Soy siempre una herida./ En el dolor esta mi nombre". Assim, esculpindo o tempo com as palavras, o eu lírico segue em busca de redenção, esperando a luz da criação: "Me condeno,/ me salvo. Arte soy,/ arte cavalgo" (p. 104).
"DIGO TU NOMBRE Y GIRA LA TIERRA/ Mi amor no necesita más poemas" (p.328). A entrega ao amor e ao silêncio prenuncia um tempo de relaxamento e renovação. O amor torna-se a fonte de devires, a alma canta e voa: "Así la vida/ pasa, anda", e o eu se entre ao canto da solidão prenhe da musicalidade das palavras. Montobbio perfaz na sua poesia um caminho circular onde perdas e ganhos, encontros e adeuses se conjugam. O eu lírico é responde a grandes desafios, ele é frágil, cheio de contradições, é temerário, mas busca forças na palavra que, arredia, não se deixa aprisionar e nem apreender, dessa forma nem mesmo o dizer poético é capaz de garantir a sua plenitude.
O poeta utiliza a imaginação para manusear os elementos, desde a fantasmagórica sombra, passando pela água, sonho, vento, neve. Hasta el final camina el poema, dessa maneira, desafia o leitor ao risco, a tornar-se garatuja. O poema persiste até o fim, quem ousa acompanha-lo?
A poesia é matéria capaz de transfigurar qualquer elemento no poema, até mesmo a perplexidade frente a doença: 'Tiene el mejor de los prognósticos, pero es cáncer", a poesia se torna elemento curativo e terapêutico, é ela, juntamente com a fé, que possibilitará que o eu lírico continue vivendo para "ser poesía y amor" (p. 55). A solidão marca o percurso do eu lírico, o poeta segue perseguindo o amor, sente-se um pássaro ferido que voa pela última vez: "Fantasmas de siluetas/ o siluetas de fantasmas" (p. 58), ecoam adeuses.
A ferida mais profunda se revela de maneira metalinguística e o poema a pensar a si mesmo. Os versos se constroem com o passar dos dias, e o eu lírico declara: "ouvido y ceniza/ y herida o hueco que te busca y que me nombra" (p. 59). Perdido e puro, como uma pomba, o eu se reconstitui através da palavra, do adeus e do esquecimento. O fantasma da ausência acompanha o eu, o ser amado se torna inacessível, quase uma miragem fazendo-o sentir que desaparece como um desenho que se apaga. Mas a ninguém importa esse sofrimento, a morte torna-se alento. O sangue flui garantindo a vida, assim como tempo amigo, "tiempo río". O tempo e os versos garantem que o eu lírico não desapareça.
A doença do corpo é agravada pelos sofrimentos da alma. A noite densa impede que a carne enferma e sofrida estendida sobre a cama mire a paisagem: "Frio, río, lobo, destino ciego que se disuelve en nada" (p. 72). Entretanto, há amor e o eu o derrama a todo tempo pelo mundo. O frio e o rio se unem no tempo e na luta pela vida. O corpo é visitado pelo sonho, "un sueño que parecía un poema" (p. 74).
O eu poético se perde na sombra densa, está cheio de pó e sombra mas anseia pela vida, pela cura das feridas "que nos sangran y nos forman" (p. 96). "Soy siempre una herida./ En el dolor esta mi nombre". Assim, esculpindo o tempo com as palavras, o eu lírico segue em busca de redenção, esperando a luz da criação: "Me condeno,/ me salvo. Arte soy,/ arte cavalgo" (p. 104).
"DIGO TU NOMBRE Y GIRA LA TIERRA/ Mi amor no necesita más poemas" (p.328). A entrega ao amor e ao silêncio prenuncia um tempo de relaxamento e renovação. O amor torna-se a fonte de devires, a alma canta e voa: "Así la vida/ pasa, anda", e o eu se entre ao canto da solidão prenhe da musicalidade das palavras. Montobbio perfaz na sua poesia um caminho circular onde perdas e ganhos, encontros e adeuses se conjugam. O eu lírico é responde a grandes desafios, ele é frágil, cheio de contradições, é temerário, mas busca forças na palavra que, arredia, não se deixa aprisionar e nem apreender, dessa forma nem mesmo o dizer poético é capaz de garantir a sua plenitude.
O poeta utiliza a imaginação para manusear os elementos, desde a fantasmagórica sombra, passando pela água, sonho, vento, neve. Hasta el final camina el poema, dessa maneira, desafia o leitor ao risco, a tornar-se garatuja. O poema persiste até o fim, quem ousa acompanha-lo?
Renata Bomfim
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