29/03/2019

A Academia Feminina Espírito-santense de Letras e a atividade das feministas da primeira hora no ES


Maria Stela de Novaes

A Academia Feminina Espírito-santense de Letras  completa setenta anos de existência e de resistência, e hoje, honramos a memória das mulheres que nos antecederam e o oito de março celebrando a luta das mulheres que nos antecederam e afirmamos o compromisso de trabalhar em prol da igualdade de gênero e por uma sociedade sustentável e justa.

Enquanto membros de uma instituição de mulheres, a nossa produção deve estar alinhada com os ideais de emancipação e com valores como a liberdade e a coragem.  Fazem parte da nossa Academia Feminina expoentes de uma geração de intelectuais capixabas que sentiram na pele o preconceito, mas que não se mantiveram alheias aos desafios do seu tempo.

Em 1934 a Carta Constitucional da República deu à mulher tanto o direito ao voto, quanto o direito à elegibilidade. A conquista do sufrágio feminino foi uma das reivindicações das feministas capixabas, que também exigiam para o sexo feminino o direito à educação e ao trabalho. Os registros mostram que em 1926, sob a organização de Silvia Meireles da Silva Santos (Patrona da cadeira nº 16), foi feito um banquete em Vitória para se celebrar a graduação da primeira mulher em medicina, a Dr.ª Adalgisa Fonseca. Esse encontro foi importante na articulação das mulheres.

Em 1928, Guilly Furtado Bandeira escreveu o artigo “A mulher o e voto”, que prontamente gerou estranheza e a resposta dos intelectuais capixabas, um deles escreveu: “Deus, certamente, em suas cogitações, nunca pensou em fazer da mulher eleitora”.

Passados três anos, em 1931, Judith Leão Castello Ribeiro escreveu um artigo com o mesmo título, levantando importantes questionamentos sobre os direitos civis e políticos das mulheres. Em março de 1932, Lídia Besouchet escreveu o artigo “feminismo”. No ano de 1933, as feministas capixabas fundaram a sua primeira organização, a FEDERAÇÃO ESPÍRITO-SASNTENSE PELO PROGRESSO FEMININO (FESPF). Vale destacar que, em 1922, Bertha Lutz e suas companheiras haviam criado a FEDERAÇÃO BRASILEIRA PELO PROGRESSO FEMININO (FBPF), reivindicando sociais e políticos, o que mostra que as capixabas estavam atentas ao fluxo do movimento feminista em outras federações. Ainda em 1933 foi criado no Espírito Santo, também, a CCA, CRUZADA CÍVICA DO ALISTAMENTO, da qual Silvia Meireles da Silva Santos (Patrona da cadeira nº 16) foi a presidente, Judith Castello Leão (Patrona da Cadeira 1) foi vice-presidente e Maria Stella de Novaes foi tesoureira.

Em 1937, o golpe do Estado Novo fez retroceder muitos dos direitos conquistados em 1934. Judith Leão Castello Ribeiro foi eleita deputada, a primeira mulher a ocupar esse cargo político no ES.

A trajetória dessas e de outras grandes mulheres, muitas delas ainda desconhecidas, nos mostra a importância de que tenhamos consciência do nosso papel no âmbito da cultura, assim como no da política, da pesquisa, etc. A realidade atual exige, de nós, posicionamento e ações concretas!

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