09/12/2020

O escritor Francis Kurkievicz lança o livro de poesias B869.1 k96 (Editora Patuá)


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Os poemas de B869.1 k96 são frutos da safra de 2018 e foram colhidos ao longo de um ano difícil, cheio de perplexidades e reflexões. O que o leitor encontrará é uma pequena parte de uma produção ainda inédita oculta nos porões ordinários e binários do HD. Pondero e acrescento, inútil qualquer tentativa de explicar o poema ou mesmo de justificar a sua necessidade e urgência, seu lugar no mundo ou no vácuo (tudo o que existe está para ser, não há como fugir dessa premissa). O importante em nossa jornada de criaturas é experimentar, criar e estender os horizontes de qualquer cosmovisão, seja ela inspirada no que for. Estar na pele sensível e demasiadamente humana não é tarefa pouca, exige alguma fibra, ou poesia, do contrário o cenário desaba sobre os atores. Esse teatro, para alguns, possui a mesma substância espinhal, para outros, é aquela substância alquímica, extraída ao fogo pelo pranayama. 

Seja como for, confio que é a poesia que nos dá sentido e força, direção e luz na longa jornada desta espessa noite que cremos obscura, mas que, na verdade, é de luz tão intensa que confunde nossos sentidos ainda lunares. (texto fornecido pela Editora Patuá)


                                                               

Francis Kurkievicz é poeta libriano com ascendente em gêmeos, budista de esquerda, autoexilado em Vitória/ES, tem quase nada publicado em livro, apesar da vasta produção inédita e inaudita; mantém distância civilizada de blogs, publicações em portais e revistas eletrônicas, obviamente não por escolha. Romântico e desiludido, ainda acredita no livro de papel.


Conheça 5 poemas do livro B869.1 k96, de Francis Kurkievicz

VII

Nem toda motivação, motiva

Nem toda justificativa, justifica

Nem todo sentido, significa:

somos uma civilização

que necessita demais da razão

que explica tudo e compreende nada:

uma dose de mistério e perplexidade

impulsiona a existência para frente

sempre.

 

***

 

XXVII

 

Fantasmas incertos

levantam-se do solo amuralhando sob o horizonte

onde o sol pondo-se

esparge luz e sombras

naquele oeste inalcançável

ocultando o infinito que nos cabe.

 

***

 

XLVII

 

Distraído,

dei de cara com a esfinge

à entrada da ponte,

me rosnou ela seu enigma,

mas como não sei grego e nem latim,

mantive o passo sobre a ponte

ignorando o símbolo do destino

e a fome da criatura.

 

***

 

LII

 

Adoro-te, Parker,

pela tua literatura escrita com a mão esquerda.

Adoro-te, Stang,

pela coragem em dar as costas à morte,

mas nunca à derrota.

Adoro-te, Wang,

pelas curvas sino-sibilinas em sua beleza performática.

Adoro-te, Vaughan,

pela matemática de tua raça já em rota de voo.

Adoro-te, Gale,

pela guirlanda que penduraste em nossa imaginação.

 

***

 

LXVI

 

Fumar preocupações

beber ressentimentos

inalar ilusões

roer medos

regurgitar raivas

digerir preconceitos

defecar sofrimentos.

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