14/12/2020

Os guardas do Paraíso (Renata Bomfim)

 

No centro da minha cidade

Existe uma Árvore.

Guardada por homens 
armados. Não são anjos,
São  os guardas do paraíso.

Um dia atrevi-me.

Tomei conselho com as sombras,

Planejei sob o manto escuro da noite

um jeito, uma forma de provar do fruto.

Há palmeiras rebuscadas
e sabiás nesse paraíso seguro.
Há também macacos prego

Espreitando bananeiras
do lado de fora dos muros.

O abacateiro do paraíso, protegido

Por homens de dentes de ferro, de pesado  

arriou os galhos.        

Embora haja muitas frutas é proibido
sucumbir ao pecado da gula.
Por isso regulam a distribuição 
de alimentos: "um cuidado adicional",
é o que dizem os guardas do paraíso.
Mas, da Árvore que fica no centro

da cidade, não se pode nunca provar o fruto.

Desejo sentir o sabor desconhecido,

Sussurro palavras de amor baixinho e,

Ao longe, observo o vento balançar 
os longos galhos Verde-amarelados. 
Algo em mim tremula.

Os frutos da Árvore não são vermelhos
e nem arredondados.

Parecem espirais resplandecentes e criam

Um halo de luz no centro da minha cidade.
O povo vive sob o fascínio da luz, embora
quase sempre faminto.
Tudo parece lindo!

Os homens serram a Árvore, afinal,

é a guarda especializada do paraíso.

Resisto e tramo, na noite, apoiada

Pelo demônio da revolta.

Busco um jeito, uma forma

De alimentar essa fome específica.

Serei eu a primeira e a única rebelar?

Lá estão eles, os malditos 
homens com dentes de ferro. Agora,

seguram punhais e escopetas
no centro da minha cidade.

Vitória, dia 21/09/2018 (dia da árvore) 

 


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