Seja bem-vindo(a). Este é um espaço pessoal onde, desde 2007, reúno poemas, ensaios e artigos de minha autoria, compartilhando também um pouco da minha trajetória como terapeuta junguiana e ativista ambiental. É um espaço aberto, para escritores(as) de várias partes do mundo.

14/03/2021

Pedro Sevylla de Juana, escritor e artista multifacetado.

Pedro Sevylla de Juana em visita a Marechal Floriano, ES, Brasil.

Pedro Sevylla de Juana é um amigo do Brasil e, especialmente, do Espírito Santo. E foi aqui, em terras capixabas, que ele construiu fortes laços de amizade e parcerias literária de forma que tornou-se Acadêmico Correspondente na Academia  Espírito-Santense de Letras (AEL) e possui várias publicações e traduções de obras de escritores capixabas, com destaque para a obra que traduziu para o castelhano, O Coração da Medusa, que está em fase de editoração. 


Encontro entre Pedro Sevylla de Juana, tradutor da obra O Coração da Medusa e da autora brasileira Renata Bomfim, na Praia de Camburi, Vitória, ES, Brasil. 

Durante a sua estada no Espírito Santo, Pedro Sevylla proferiu uma palestra na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e participou de tertúlias no Instituto Histórico e Geográfico do ES. Tive a alegria de levá-lo ao Morro da Fonte Grande, uma região Periférica da capital, Vitória, onde tenho muitos amigos e amigas. Lá pudemos tomar um café com a atleta Xuxa Capixaba e visitar pessoas da comunidade. Seu ultimo trabalho dedicado ao Brasil foi o livro bilíngue e ilustrado de poesias Brasil Sístoles e diástoles.

Encontro na UFES com o pesquisador Eduardo baunilha, a professora e escritora Ester Abreu Vieira de Oliveira, o gestor da Reserva natural Reluz Luiz Bittencourt e a escritora Renata Bomfim. 

Pedro Sevylla de Juana nasceu no dia 16 de março de 1946 em Valdepero, província de Palencia, na Espanha. Descendente de agricultores e artesãos, possui formação em publicidade, direção e marketing, desenvolvendo trabalhos no campo da arte como o desenho e a fotografia. Pedro trabalhou em variadas multinacionais e, atualmente, dedica-se por completo ao campo da escrita, sendo o autor de várias obras premiadas e do blog literário que leva o seu nome. (http://pedrosevylla.com/)

Desde muito jovem Pedro Sevylla demonstrou interesse pelo campo literário, dedicando especial atenção à poesia e a prosa poética. Possui uma extensa produção narrativa que abarca contos, romances e novelas e uma fortuna crítica que dá uma visão da abrangência de sua escrita. A tradução é outra faceta desse artista multifacetado que dedica ao Brasil variados estudos, traduzindo textos de escritores brasileiros de diferentes épocas. 

Pedro Sevylla é um ser humano inquieto. Ele gosta de conhecer pessoas,  lugares, Nov as culturas e essas experiências convergem para os seus textos de forma poética e lúdica. Já viveu parte de sua vida em Barcelona, Madri, Genebra, Paris, entre outros e, segundo ele, possui três paixões: "Vivir, leer y escribir". Suas obras estão publicadas em várias antologias internacionais. A profícua produção literária de Pedro Sevylla de Juana nos legou  personagens complexos como Estela e Lázaro, da obra Estela e Lázaro vertiginosamente, romance publicado em 2014, mas, entre essas múltiplas figuras destaca-se a de Cesáreo Gutiérrez Cortés, personagem nascido nas tramas da novela Ad Memoriam (2007), fruto da necessidade de sua filha, Alba Gutiérrez Peña, de realizar um trabalho sobre algum escritor para a aula de literatura. Alba, então, recordando-se do pai falecido, sobre o qual pouco sabia, decide empreender uma viagem em busca do Cesáreo pai e escritor. Pedro construiu, em um ensaio recente intitulado Cesáreo Gutiérrez Cortésartista y pensadorum diálogo com Cesáreo. 

Nesse estudo, deparamo-nos com a voz de Cesáreo Gutiérrez Cortés, realizando um largo esclarecimento sobre sua vida interior e motivações. A partir dos pressupostos bakhtinianos, podemos dizer que  Pedro Sevylla de Juana, enquanto consciência autoral, ideólogo da arquitetônica do texto, permite o escoamento de excedentes do texto e Cesáreo pode, então, se manifestar de forma mais livre expondo mais sobre a sua vida literária, aspectos e fatos que fugiram das publicações anteriores e revisando alguns fatos de sua existência, como a inconformidade com a sua morte prematura.A filha de Cesáreo, Alba Gutiérrez Peña, recorreu a um acervo de memórias para reconstituir o perfil inacabado de seu pai, as imagens das fotografias passaram a ganhar vida e a memória passou a ser completada com as tramas da imaginação. Um caderno deixado por Úrsula, sua mãe, seria a fonte de dados inéditos para a jovem, e esse achado lhe possibilita montar o quebra-cabeça, ou seja, o perfil desse personagem singular. A relação entre Pedro Sevylla e Cesáreo Gutiérrez é caleidoscópica e  reflete fragmentos das vidas de um e de outro em uma permuta possível apenas por meio do fenômeno literário, ou seja, da fabulação. 

O olhar de Úrsula para Cesário, somado ao de Alba, acrescido, ainda, do olhar de Pedro Sevylla, observador privilegiado, visto que é autor, descortina a existência de um personagem que nasce nas páginas do papel enquanto memória vida e o leitor, mesmo com essas informações, ainda se pergunta: mas, quem será, na realidade, Cesário Gutiérrez Cortés?

O linguista russo Mikhail Bakhtin fala sobre a importância de não se confundir a vida do escritor com  a do personagem, ou seja, o autor deve ser observado como uma instância que se imbrica numa vivência estética, ele luta por configurar o personagem como um OUTRO de si mesmo. Esse exercício de objetivar-se, como acontece nas autobiografias, por exemplo, exige um exercício de deslocamento no qual o autor olha de fora do mundo íntimo do personagem, de maneira que esse adquire um quantum significativo de autonomia, eis o que então que, no plano da existência,  possibilita o nascimento de um novo ser. Não poderia deixar de citar personagens que gozam de vida própria como os universais Hamlet, Dom Quixote, Madame Bovari, Drácula, Macunaíma, Dom Casmurro, Macabéa, Capitu, entre outros. Essa autonomia do personagem emana do campo estético que gera uma força a partir da qual autor e personagem dialogam intersubjetivamente, destacando aqui o diálogo como um campo de embate, nem sempre harmônico. 

Nesse diálogo franco com Pedro Sevylla, autor, Cesáreo Gutiéres, personagem, expressa algumas singularidades da sua existência literária, especialmente, como citado anteriormente, o descontentamento com a própria morte. Certa vez, a escritora nascida no Espírito Santo, Neida Lúcia Moraes, revelou que um personagem seu trazido à luz diretamente das páginas amareladas de documentos antigos, para as páginas de um romance histórico contemporâneo, recusava-se a morrer, inclusive visitando a autora em sonho, descontente com o fim trágico que lhe relegaria uma segunda morte. Enfim, é interessante observar que muitos desses seres de papel, animados pelo espírito do escritor, são insuflados a desejarem a eternidade, quem sabe pelo próprio escritor, de forma inconsciente, ou pelos leitores. Como não desejar que Diadorim e Riobaldo não fossem separados pela morte e ficassem juntos, mas como não reconhecer a perfeição dessa obra que nos brinda com uma dor essencial, visceral e necessária, permitindo que por meio da catarse, morramos junto com o jagunço que renasce um Riobaldo transformado, um homem pacífico que narra a sua história ao médico viajante, alter ego de Guimarães Rosa. É a partir desse esquema estético e ficcional que compreendo Cesário Gutiérres, um personagem inquieto, assim como o seu autor, mas livre para fazer as suas escolhas dentro desse universo de alteridade que é o da Literatura. 

Aproveito o momento no qual teço essas breves considerações sobre a escritura do amigo e tradutor Pedro Sevylla de Juana para lhe desejar um feliz aniversário e muitos anos de vida e de produção literária, celebrando os vínculos de amizade que a literatura e a pesquisa literária nos favorece. 

Santo Agostinho, entre as suas proposições filosóficas, nos fala sobre os "bons encontros", ou seja, aqueles encontros que aumentam a potência de (cri)ação dos sujeitos, que permitem a formação de singularidades sem medos e nem despotismos, enfim, é assim que agradeço ao Pedro ser esse amigo presente na minha vida há muitos anos e desejo a ele, a sua amada esposa Elvira e aos seus filhos e netos  muitas alegrias.

Renata Bomfim. Vitória, ES, Brasil, 14 de março de 2021

 

Um comentário:

Cesáreo Gutiérrez Cortés disse...

Gracias muchas,Renata Bomfim por ocuparte de mí y de mi obra. Has leído la magnífica novela Ad Memoriam, de Pedro Sevylla de Juana y sabes de mi querida hija Alba y de mi amada esposa Úrsula. Has leído mi muerte prematura, herido en defensa de una mujer atacada por un energúmeno cualquiera. Pedí a Pedro un lapso más largo y estuvo de acuerdo. Dibujante, pintor, cuentista y escritor de las novelas largas que conocéis como romances, he viajado por el extraordinario Brasil con ocasión de documentar mis artículos de viajes.
Conocí, la parte brasileña de Iguazú, El Pantanal y la Amazônia. Pulmón del mundo, la Amazônia sufre daños irreparables para la vida humana. Sé que sufres conmigo por ello. Cumplo mañana 75 años. Pedro y yo nacimos el mismo día y en el mismo pueblo, pero nuestras vidas han sido muy distintas. Él me inculcó de amor a Brasil. Un abrazo para ti y para Luis, que cumple años el día 19. Felicidades y éxito para ambos. Cesáreo Gutiérrez Cortés