16/10/2022

O ESPLENDOR DE SIMULTÂNEOS INCÊNDIOS Poemas do livro: Transfigurar es un país que amas - de Mariela Cordero – Venezuela. Tradução - Francis Kurkievicz*

Mariela Cordero

Mariela Cordero (1985) é advogada, poeta, escritora, tradutora e artista visual. Sua poesia foi publicada em várias antologias internacionais. Recebeu algumas distinções, entre elas: terceiro Prêmio de Poesia ALEJANDRA PIZARNIK, Argentina (2014). Primeiro prêmio no II Concurso Ibero-Americano de poesia EULER GRANDA, Equador (2015). Segundo prémio de poesia Concorso Letterario Internazionale bilingue Tracceperlameta Edizioni, Itália (2015) Prémio Micropoemas em castelhano do III concurso TRANSPalabr@rt/2015. Primeiro Lugar no Concurso Internacional de poesia #AniversarioPoetasHispanos - Menção qualidade literária, Espanha (2016). Publicou os poemas: “El Cuerpo De La Duda”, Editorial Publicarte, Caracas, Venezuela (2013) e “Transfigurar Es Un País Que Amas”, Editora duas Ilhas, Miami, Estados Unidos (2020). Seus poemas já foram traduzidos para hindi, tcheco, sérvio, shona, uzbeque, romeno, macedônio, coreano, hebraico, bengali, inglês, árabe, chinês, russo e polonês. Atualmente coordena as seções #PoesíaVenezolana e #PoetasdelMundo na Revista aberta de poesia Poémame (https://revista.poemame.com/ - Espanha). Seus poemas estão sendo traduzidos e publicados pela primeira vez ao português por Francis Kurkievicz.


A MÃO NA SOMBRA


Há uma mão na sombra

desprovida de clemência

excluída do império das carícias

ignora o ofício

de construir vizinhanças ou orações.

 

Esta mão

irrompe

com tremor de matança,

seus movimentos maculam

as ondas

do corpo assaltado.

 

Dilacera com precisão

a pele submissa,

 

sacramenta a ferida

e risca uma linha

com seu dedo de aço.

 

Deseja

Apenas, entregar-te

a cicatriz.

 

OS TRAÇOS PRESSENTIDOS


Todos os rostos se perdem

na viagem,

a memória faminta

aspira mantê-los

mas os traços e os sinais

se diluem na maré da perplexidade.

 

Em meio à multidão floresce

imediato

como um golpe

um rosto único

desconhecido

que se impõe

 

e o desestabiliza

até ser trespassado

pela felicidade fulminante

da busca finda.

 

O rosto amado

reúne

todos os traços pressentidos.

 


OS OLHOS INESCRUTÁVEIS


Os olhos inescrutáveis

que se ocultam

dentro das galopantes cidades de aço,

estão atrás

de milhares de outros olhos sonâmbulos.

 

São narcóticos indomáveis

que mutilam o desamparo

apaziguam alaridos

e vertem carícias.

Quando afloram

te tomam de assalto.

 

Sabes

Que morrerás

invocando-os.

 

DOIS INCÊNDIOS


O esplendor de simultâneos incêndios,

avista-se em duas noites

que de tanto respirar sincrônico

bailam juntas

embriagadas,

se entrelaçam, tornando-se único.

 

Dois corpos se desprendem

daquela noite em chamas,

emergem

como tochas urgentes

lambendo a escuridão.

 

Precipitam-se

um

sobre

o outro,

multiplicando seu calor

até se assemelharem ao raio,

embelezadas

 

ardem até que o sol

lhes devorem.



ILHA

 

Distante,

forjada de esquecimentos

sitiada

por águas famintas

solitária

 

areia cálida.

 

Uma ilha

que calcina se parece com a tua

boca.




*Francis Kurkievicz é poeta, reside em Vitória/ES. Publicou pela editora Patuá o livro de poemas B869.1 k96, em 2021. Colabora com poemas, entrevistas e traduções em diversas revistas digitais.

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