“Não tenho queixas da vida, porque ela ainda me dá razões
para olhar as estrelas e repetir em silêncio o nome de Deus”
(Carmélia Maria de Souza).
A CRONISTA DO POVO
Carmélia Maria de Souza (1936- 1974) nasceu na Fazenda Rodeio, Município de Rio Novo do Sul, ES. Em seus escritos a cronista definia-se como sendo uma pessoa “trágica, dominadora e hostil” e advertia: "Não vem que não tem. [...] Olha, somos grossíssima, péssima companhia noturna, diurna ou vespertina; devemos a Deus e ao mundo, mau-caráter, desgraçada, temperamental, neurótica, falsa, inconstante, cínica e debochada. Favor não ficar sentado em nossa mesa quando não for convidado, não. Nós somos o fim da picada, se você quer saber".
No texto de abertura do livro póstumo Vento Sul, intitulado "Esta ilha é uma delícia", um auto- perfil, Carmélia definiu a sua profissão: “cronista do povo”.
VENTO SUL
Carmélia não publicou. A sua única obra, Vento Sul, foi publicada em 1976, dois anos após a sua morte, pela Fundação Cultural do Espírito Santo, com notas e introdução escritas pelo jornalista e amigo pessoal Amylton de Almeida. Em 1994 o Vento Sul foi reeditado, fruto de uma parceria entre a Rede gazeta de Comunicações e a Universidade Federal do Espírito Santo, integrando o segundo volume do projeto "Nossolivro", distribuido sob a forma de encarte no jornal A Gazeta. Nessa versão encartada, Amylton de Almeida reduziu substancialmente a introdução que havia feito para a primeira edição, e alguns textos foram suprimidos. A terceira edição de Vento Sul, apresenta-se como “um meio termo” entre as edições anteriores, mantendo a introdução feita por Amylton na sua totalidade, mas também suprimindo alguns textos. Esta edição traz como novidade “toda a matéria em homenagem à Carmélia publicada na revista Você, n. 24, de junho de 1994.
O LUGAR DA MARGINALIDADE
Foi da margem que Carmélia escreveu e esse lugar confere a sua produção uma grande potência. Ela foi muito querida seus amigos que, carinhosamente, a chamavam de Félia e Magnólia, entre outros nomes bastante referenciados nos seus textos. Ela é descrita como uma pessoa afetuosa, como nos mostra o relato de Reinaldo Santos Neves: "[Carmélia] não fixava fronteiras para a troca de calor humano. Se dava bem com a esposa do magnata e com o pescador fodido que afogava as mágoas na pinga, não tinha preconceitos: não fazia distinção de sexo, credo, cor, nem pedigree social ou econômico - nem muito menos de idade". Essa abertura para o outro, marca registrada da personalidade de Carmélia, possivelmente tenha influenciado no sucesso que alcançou no campo da crônica.
OS ANOS DOURADOS X A CONTRACULTURA
A excitada década de 40 foi marcada pela efervescência cultural e literária no Espírito Santo. A escrita feminina capixaba se solidificou, culminando na criação, em 1949, da Academia Feminina Espírito-Santense de Letras, que Carmélia externou o desejo de entrar mas, não lhe foi permitido. A vidinha provinciana, embalada “ao som das orquestras dançantes” do Clube de Vitória, Praia Tênis Clube e do Saldanha da Gama" contrastou muito com os 1950, geração da qual Carmélia foi representante.
A cronista aflorou no cenário literário capixaba em 1958 e foi considerada pelo pesquisador Agostinho Lázaro, uma das melhores cronistas do Espírito Santo. Francisco Aurélio Ribeiro afirma que Carmélia foi à responsável por popularizar a crônica escrita por mulheres no Espírito Santo, "ao retratar com fidelidade, o espírito de contestação [que seria a marca] dos anos 60 e a desilusão dos anos 70”.
Carmélia personificou, através de seus escritos, o espírito das décadas de 50 e 60. Para Reinaldo Santos Neves, difícil, talvez impossível de definir, mas, Carmélia foi, certamente, “alguém que abriu caminhos – principalmente para as mulheres de Vitória”, e isso, “sem lágrimas nem dor. A não ser para ela mesma”.
Na crônica intitulada Minha Félia ela lança um olhar sobre si e sobre o seu tempo:
Quando nada, vou cumprindo a tarefa de aperfeiçoar a ferramenta para os outros, que certamente virão. Quando nada, é possível que eu me saiba um pedaço desta ponte que deverá conduzir a humanidade até um mundo melhor. Tenho pena de não haver esperado para nascer no ano de 2050. Porque até lá, a imortalidade seja possível e a vida seja feita de colaboração e não de competição. Todavia isso não passa de uma conjetura, apenas desejável. No momento, a disputa por um pedaço de pão atirado no lixo, a dura luta contra a escravidão [...] é o que constitui a presente e amarga realidade que me foi dada para contemplar. [...] Mas ela passou a ser minha preocupação maior, a minha verdade, a minha poesia. Ela é hoje a minha consciência – a minha clara e nítida consciência, minha promessa única de realização nessa vida"
TRABALHOS
A visibilidade pública chegou por meio do semanário Sete Dias. A incursão no gênero “nacionalmente dominado por nomes como Antônio Maria [...] e Rubem Braga”, segundo Amylton de Almeida, aconteceu num tempo quando “a juventude capixaba imitava a do resto do país, em conduta e espírito”. Carmélia foi Funcionária Pública Federal, trabalhou no Museu de Arte Histórica de Vitória, situado no Solar Monjardim, na Biblioteca da FAVI, e durante dezessete anos de vida jornalística, colaborou com jornais e revistas estudantis, trabalhando nos principais jornais da capital: Sete Dias, O Diário, Vida Capixaba, A Tribuna, A Gazeta, O Debate e Jornal da Cidade (acesso em 23 de fev. 2008). Parte do acervo que continha seus escritos foi destruído em um incêndio na década de oitenta, eram crônicas publicadas em A Tribuna e O Diário.
IRONIA
A ironia e a irreverência marcaram a escrita cronística de Carmélia e essa postura refletiu a sua vida. Por meio das crônicas de Carmélia é possível vislumbramos o quotidiano vitoriense da época, ela explorava as experiências que vivenciava na “ilha” de uma forma livre e muitas vezes irônica.
A crônica intitulada "O deletério do povo capixaba" diz: “Apesar de eu não topar muito esta palavra - deletério – confesso que não encontrei outra mais expressiva para dizer o que penso do honrado povo capixaba que empesta a minha terra. É, decididamente, um povo deletério, este. O povo mais deletério do mundo, talvez. E, embora a gente até goste mesmo deste povo (porque a gente nem sempre tem vergonha na cara...), Sou obrigada a espinafrar com ele de vez em quando, porque assim também não há quem aguente: a barra anda pesando demais. [...] é bastante alguém pensar em fazer alguma coisa que preste nessa Ilha (ô Ilha!), para que os chamados “pés-frio” comecem logo a engrossar. Ao invés de darem o necessário incentivo [...]. E vão em frente os deletérios do inferno, apostando a própria mãe como ninguém será capaz de fazer coisa nenhuma. É uma desgraça, enfim". A cronista utiliza o procedimento irônico para denunciar a valorização que muitos capixabas faziam do Rio de Janeiro em detrimento de Vitória: “a Ilha, também é uma cidade maravilhosa, à sua maneira”, e que quem não presta é o indivíduo que não lhe dá o devido valor. Ela segue explicando os motivos do seu dissabor: "O diabo é que vocês não aprendem a enxergar a coisa como ela é. E estão sempre prontos a me chamar de doida todas as vezes em que eu escrevo que a rua Duque de Caxias é linda, bárbara, importantíssima, [...] é uma rua com alma é coração, capaz de comover a gente por causa de seu lirismo, de sua beleza antiga, de sua poesia. Vocês não alcançam a importância de uma cidadezinha como Santa Tereza [...] o turista é capaz de sair daqui completamente gamado, [...] é capaz até de sentir inveja da gente. Enquanto vocês seus bobocas, não sabem valorizar as coisas que têm. Só querem mesmo é bagunçar o coreto, ficam aí reclamando e se esquecem de que nosso estado- especialmente Vitória - possui coisas lindíssimas. [...] A ilha está pedindo para que você a deixe crescer. [...] Não seja tão espírito- de –porco: [...] mesmo que você não acredite, não compreenda, seja uma besta quadrada, tenha um pouco de humildade e reconheça que o que não presta mesmo aqui, é você meu chapa"
Carmélia criou para a cidade de Vitória o slogan
"Esta ilha é uma delícia", que foi utilizado,
durante muitos anos como título de sua coluna.
A PEQUENA BURGUESIA CAPIXABA
"Os dez mais idiotas", publicada no Jornal A Tribuna de 04 de fevereiro de 1968, é uma crônica que revela o olhar crítico de Carmélia sobre a high society capixaba, ela satirizava a tendência dos suplementos de domingo, de louvarem os gostos da “pequena burguesia”: "O tempo presente não é apenas de margaridas, nem tão pouco de LSD, muito menos é tempo somente de alegria, alegria. Ou de reações psicodélicas, provocando convulsões da mesma cor. O tempo, este tempo que passa na janela e só Carolina não vê, é um tempo também de lista de dez mais. [...] No presente momento, ando com vontade de fazer a lista dos dez mais idiotas. E se ainda não fiz é porque estou com medo de que a coisa acabe em pancadaria- o que está na mais completa escala das possibilidades, ainda que eu botasse, só para despistar, o meu nome no topo da lista. O melhor mesmo é tirar o quadrúpede de baixo da atmosfera. [...] Lá vai pois. Coisas que eu detesto; caviar, champanha, festa estilo soçaite, soçaite, Jorge amado, programa “um instante maestro”, praia, telenovela, reunião com muita mulher, mulher (em geral), livro best-saller, dona bibi ferreira, muqueca de peixe, o samba “apelo”, homem bonito (só abro exceção para o Alain Delon- ele é demais) e almoço em família. Coisas que eu adoro: inverno, vento sul, café sem açúcar, frescura, desgraça alheia, jiló, música clássica, noite, irmãos metralha Ltda., trocadilho infame, homem feio, simplicidade, pinga, gripe e sogra". na introdução de Vento Sul, Amylton de Almeida fala sobre a geração “fim de álcool”, formada pela “legião dos bem intencionados, [...] limpos de dinheiro como de coração”. Para este crítico, Carmélia apresentava um “agudo senso de humor, ironia e sarcasmo e um estilo de vida, seguido pela ‘corja’, que escandalizava a Tradicional Família Capixaba”.
DINDI E A BOSSA NOVA
Dindi, imagem feminina homônima da personagem da música criada por Tom Jobim interpretada por Silvinha Teles, emerge como um personagem objeto do afeto da escritora. Este nome foi adotado pela cronista como um símbolo romântico. À Dindi a escritora recorre nos momentos de angústia e solidão. A "Crônica com endereço errado", de fevereiro de 1968, diz: "Além do mais Dindi, este é um momento dos mais importantes e de coisas graves. [...] Eu nunca soube falar as coisas que deveria falar, você me conhece bem, você sabe como sou imbecil, tímida, completamente desajeitada [...]. Sou, enfim, sou uma pessoa distraída e tresloucada, um caso perdido, uma pobre diaba. Viver, para a pessoa que sou hoje em dia, é esta aflição imutável, é este desespero de perder tudo, de repente descobrir que tudo voltou aos devidos lugares. Este viver de abrir os braços e dar a impressão muito falsa de que estou sempre preparada para o que der e vier. No fundo, você sabe, sou medrosa e covarde como o diabo. E, embora não pareça, tenho a alma atormentada e não me conformo com nada. [...] Todavia não irei embora. Vou aguentar firme aqui mesmo, enquanto puder e você me quiser perto, assim como estamos agora".
Carmélia Maria de Sousa com Cariê Lindemberg
A personagem Dindi é depositária de grande confiança por parte da escritora, como podemos comprovar na crônica "Testamento", quando confia à Dindí o seu espólio, assim que for “embora para alguma estrela”, quando a personagem herdará os livros e as crônicas “publicadas ou inéditas”, e um tal livro que, segundo ela, jamais terminaria de escrever, e que deveria se chamar Vento Sul.
CRONICAR
Carmélia tinha um amor declarado pelo seu ofício. Francisco Aurélio Ribeiro a descreve como uma pessoa “apaixonada pela palavra”, que “escrevia com paixão, com o coração, mais do que com a razão [...]”. "Algumas considerações outonais chatas" é uma crônica que mostra essa ligação com escrita, embora o campo de trabalho também se mostrasse um espaço de embates internos: além de ter que escrever para "defender o pão de cada dia”, e em momentos se perguntar “onde foi que eu amarrei a minha égua”, Carmélia afirmava que escrever ainda era a única coisa que conseguia “fazer muito bem nesse mundo de Deus”.
Carmélia tinha um amor declarado pelo seu ofício. Francisco Aurélio Ribeiro a descreve como uma pessoa “apaixonada pela palavra”, que “escrevia com paixão, com o coração, mais do que com a razão [...]”. "Algumas considerações outonais chatas" é uma crônica que mostra essa ligação com escrita, embora o campo de trabalho também se mostrasse um espaço de embates internos: além de ter que escrever para "defender o pão de cada dia”, e em momentos se perguntar “onde foi que eu amarrei a minha égua”, Carmélia afirmava que escrever ainda era a única coisa que conseguia “fazer muito bem nesse mundo de Deus”.
O AMOR
O amor é um tema que perpassa toda a obra, quase sempre ladeado com a poesia. A crônica "Declaração de amor", de outubro de 1972, diz: "E depois de tudo isto, veio a chuva – Você se lembra? E então eu te pedi que não tivesse medo. Você riu. Riu de medo. Eu fiquei com pena de te querer tão sem medo e tanto que te cobri com minhas mãos, com meus braços, com minhas palavras com meu silêncio, enfim.
E depois , a gente passou a respirar juntos.
A dizer, calados, as mesmas palavras.
A ouvir as mesmas palavras.
Te lembras?
[...]
- Diz que me ama – eu te pedi.
- Não tenho certeza – você falou.
- Diz que me ama.
- ...
Olha, não tenho medo, não tenho nada. Eu tenho tudo e tudo isso é nosso, porque é meu e porque o que eu sou é você, e o que você é sou eu.
Então, tudo o que a gente tem, consequentemente, é de um e é do outro. É de nós. Por exemplo: esse amor. Esse medo. Esse desespero. Essa aflição. Esse mar. Essa Maria Betânia cantando. Essa casa cheia de amor, esse vento que vem do mar e do mundo. Essa desordem gramatical. Essa saudade.
[...] Eu não te vejo agora, meu amor. [...] Então – imagine- eu te vejo e te sinto do meu coração. Do meu sorriso. Do meu pranto. Do barulho do mar indo e vindo. Eu te vejo e te sinto em tudo o que está em volta e dentro de mim. De mim- eu que não sou gaveta, nem barco parado, sem rumo. Eu, que sou apenas Carmélia Maria de Souza. E te amo. Te amo baixinho à beça (SOUZA, 2002, p. 168, grifo nosso).
A dizer, calados, as mesmas palavras.
A ouvir as mesmas palavras.
Te lembras?
[...]
- Diz que me ama – eu te pedi.
- Não tenho certeza – você falou.
- Diz que me ama.
- ...
Olha, não tenho medo, não tenho nada. Eu tenho tudo e tudo isso é nosso, porque é meu e porque o que eu sou é você, e o que você é sou eu.
Então, tudo o que a gente tem, consequentemente, é de um e é do outro. É de nós. Por exemplo: esse amor. Esse medo. Esse desespero. Essa aflição. Esse mar. Essa Maria Betânia cantando. Essa casa cheia de amor, esse vento que vem do mar e do mundo. Essa desordem gramatical. Essa saudade.
[...] Eu não te vejo agora, meu amor. [...] Então – imagine- eu te vejo e te sinto do meu coração. Do meu sorriso. Do meu pranto. Do barulho do mar indo e vindo. Eu te vejo e te sinto em tudo o que está em volta e dentro de mim. De mim- eu que não sou gaveta, nem barco parado, sem rumo. Eu, que sou apenas Carmélia Maria de Souza. E te amo. Te amo baixinho à beça (SOUZA, 2002, p. 168, grifo nosso).
A FOSSA
"Fossa & amizade" é uma crônica que dá a dimensão do sentimento de mal-esta e solidão representado pela fossa e presente também nas músicas da época: "Já se tornou tradicional o me ouvirem dizer de vez em quando que estou numa fossa desgraçada. Isso dá para entender quando não me envergonho de confessar que a vida me tem maltratado, que vou aprendendo a sofrer quando é preciso”. A dor e o sofrimento foi uma alavanca criativa que levou a escritora a desenvolver as crônicas "Teoria geral da fossa" e "A Fossa (II.)": "A minha fossa é linda. Lírica. Poética. Profunda. Imutável. Colorida.Muito mais festiva que revolucionária. Uma fossa assim, destas de fazer inveja ao próprio Baudelaire, que em matéria de fossa ameaçava jamais encontrar rival. Ou ao finado Kafka, que entre um e outra crise carpitiva costumava suspirar dizendo: Comigo ninguém pode! Eis, pois, que resolvo entender e falar de fossa, começando por classificar, de acordo com a atualidade, os mais diversos tipos".
Dando seqüência à “teoria” da fossa,Carmélia classifica vários tipos de fossa: a “fossa pororoca”, a “fossa- de- não- ter- fossa”, a “fossa matrimonial”, seguindo-se algumas recomendações do tipo “como evitar” a fossa e como “dar cabo da bruta”. E para não se contradizer, adverte: “não pretendo mais ser confidente de fossinhas mixurucas: só aceito drama de alto gabarito, [...] e não tente, principalmente, curar as minhas [fossas], são heranças [...]".
PARA ALÉM DA FOSSA
Em "Fossa II", novos tipos emergem: a “fossa financeira”, a “fossa balneária”, a “fossa íntima”, a “fossa jornalística”, mas, para além das teorias da fossa, em novembro de 1967, a cronista escreve "É tempo de otimismo acho eu", que diz:
[...] Descobri que sou bárbara, dona de um estilo verdadeiramente universal, preciso urgentemente me mandar para Guanabara, pois Vitória não está a altura de receber minha genialidade, nem por aqui haveria horizontes dignos e devidamente alargados onde eu pudesse caber. A mim me cabe, portanto, dar uma banana para todos vocês e me mandar de mala e cuia para o Rio de Janeiro. Lá eu não terei a menor dificuldade em desbancar o Rubem Braga, nem em botar no maior chinelo o Carlinhos de Oliveira. [...] A quem confiar minhas ambições, e onde abrigar minha poesia provinciana, a saudade desgraçada que eu teria acumulada em mim a uma altura dessas? [...] Não, meu chapa. Nessa jogada eu não me meto".
MORTE
Carmélia declarou ter consciência de ser uma pessoa “perdidamente feliz”. Ela faleceu no dia 13 de fevereiro de 1974, de embolia pulmonar. Deixou um texto endereçado aos seus amigos, que diz: "[...] Eu parti feliz: me esperavam os braços do meu pai e a ternura de minha mãe que tão pouco tive... Diga aos que me amaram que eles me fizeram feliz. O seu amor justificou o meu amor e a ternura dos meus gestos, quando eu esperava por eles com as minhas mãos estendidas. É assim que eu os espero, nas esquinas dos astros, em alguma nuvenzinha azul...
Carmélia recebeu várias homenagens. Num gesto de reconhecimento, em 1986, ela foi eleita Patrona de uma cadeira na Academia Feminina Espírito-Santense de Letras. O Governo do Estado do Espírito Santo inaugurou o Centro Cultural Carmélia Maria de Souza, com o objetivo de se tornar um pólo de incentivo à atividade cultural. O bairro República, possui uma rua com o seu nome.
Principal referência:
(SOUZA, Carmélia Maria de. Vento Sul. Vitória: Conselho Editorial da Gráfica Espírito Santo, 2002).
Um comentário:
Lembro ter lido Carmélia de Souza, meu cunhado jornalista Gildo Loyola, a conheceu na Gazeta. Há uma foto em que parece ter seus 20 anos, pois está compenetrada e irradiando beleza. Carmélia que exaltou a Rua Duque de Caxias, onde havia um chafariz, a Livraria Âncora, O Hotel Imperador, o Cartório, a escadaria MARIA ORTIZ, subida para Catedral, lanchonetes, fundos do Banco Real, entrada para o famoso Caldo Lira, pensões familiares, Descida ou subida do Palácio, na qual minha tinha comércio, lembro bem com admiração dessa poetisa, cronista do olhar que transformava em delícia e esplendorosa, a nossa Ilha.
Preciosíssima visão sobre Santa Teresa. Como não admirar essa imortal da AFESL?
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