08/11/2021

Poética e política: diálogos intercontinentais entre as poéticas de Florbela Espanca e Rubén Darío (Profa. Dra. Renata Bomfim)

 

Rubén Darío e Florbela Espanca

A poeta portuguesa Florbela Espanca (1894-1930) e o poeta nicaraguense Rubén Darío (1867-1915) são personalidades literárias cuja relevância das obras e legado de resistência aos discursos autoritários, via poesia, têm despertado na contemporaneidade o interesse, tanto do público leitor, quanto de pesquisadores. Embora tenham nascido em continentes diferentes e cumprido percursos literários singulares, Florbela e Darío compartilharam da mesma modernidade, descrita por Octávio Paz (1990) como sendo tempos de autodestruição criativa. Essa autodestruição criativa descrita por Paz pode ser observada por meio do desejo de ruptura com a tradição e com o status quo propostos por Florbela e Darío.

As variadas mudanças sócio-políticas e literárias propostas pela modernidade não se ancoraram na negação do passado e nem da tradição, mas, na desconstrução e incorporação dos códigos do passado, daí os questionamentos e contribuições que Florbela e Darío propiciaram à tradição literária. A barreira que separava o antigo e o tradicional do novo enfraqueceu fazendo desvanecer antagonismos, e o artista moderno foi convocado a desempenhar as funções heróicas e de conseqüências trágicas, desvelar o universal e sobreviver em um mundo onde a arte torna-se, cada vez mais, mercadoria.  Paz (1990, p. 37) salientou que a época moderna, que teve início no século XVIII, engendrou aspectos como a diferença, a heterogeneidade e a revolução, nomes que podem ser condensados em apenas um: “futuro”.

Florbela Espanca nasceu em Vila Viçosa, Portugal. A poeta foi uma mulher extemporânea e a sua obra é prenhe de encantamento. O eu florbeliano se metamorfoseia e joga com as formas do mundo. Ele busca conhecer a si mesmo e desafia os lugares instituídos e a distribuição desses lugares. Florbela trabalhou, poeticamente, variados aspectos do universo feminino e a sua poesia possui uma sedução própria da alteridade. A poeta ousou adentrar em um campo tradicionalmente masculino, a literatura, e foi além, ela escreveu poemas que abarcam variadas vozes, e que encontram ressonância no coletivo de deferentes épocas. Florbela cantou o amor, o erotismo, a angústia, o desejo, o sonho, entre outros temas que revelam o seu desejo de fazer dialogar dicotomias. Sua obra é marcada por uma inquietação reveladora que desnuda, tanto a incapacidade de expressão plena do feminino, quanto às dificuldades de realização profissional e pessoal comuns às mulheres de sua época.  A vida pessoal de Florbela Espanca imantada pelo espírito da insurreição formou, juntamente como a sua poesia, uma espécie de tragédia da vida privada.

Rubén Darío nasceu em um pequeno povoado Nicaragüense chamado Metapa. O poeta é considerado o príncipe das letras castelhanas, e foi um escritor que afirmou o papel do artista nas discussões a respeito da sociedade e da cultura moderna denunciando de forma irreverente os valores laicizados da sociedade burguesa emergente. Ele registrou poeticamente a desarmonia relacionada à perda dos valores e dos ritos. Darío lançou mãos de suportes como a pintura, a música, a ciência e o pensamento filosófico na tessitura de seus poemas, lançou mão, também, dos mitos. Estes aspectos contribuíram para com a renovação estética que culminaria com o movimento modernista hispano-americano e a renovação das letras castelhanas.

Florbela Espanca incomodou a estamental sociedade católica portuguesa, não é circunstancial que ela tenha se tornado uma importante referência para o movimento feminista. Rubén Darío também sofreu muitas criticas à sua obra, especialmente por parte dos nacionalistas que diziam que ele escondia um penacho de índio centro-americano embaixo do chapéu francês. Política e Poética são temáticas que se imbricam de forma especial nas obras desses dois poetas. Paz (1990, p. 13) foi categórico ao afirmar que “a atividade poética é revolucionária por natureza[1]”, e a poesia, uma “uma operação capaz de mudar o mundo”. Em consonâncias com este pensamento está o do filósofo Jacques Rancière, para quem a criação poética só se torna possível quando o homem se libera do peso da história, o que só acontece a partir de uma insurgência violenta sobre a linguagem. Essa violência consistiria em separar as palavras umas das outras, arrancando-as de suas conexões e aproximações costumeiras, para que, num segundo ato, estas voltassem a se reunir convertidas em “objeto de participação” (Paz 1990, p. 38).

Jacques Rancière na obra Políticas da escrita afirmou que “a escrita é coisa política”. O filósofo não fundamentou essa afirmação apenas no fato da escrito ser um “instrumento de poder ou a via real do saber”, mas, no fato dela, além de alegorizar a constituição estética de uma comunidade, ser a forma como esta comunidade partilha o sensível e delimita os seus espaços reais e simbólicos. Assim, política e escrita se inscrevem, de forma radical, no campo da comunidade, permitindo aos grupos sociais designarem o que lhes é comum, e diferenciando o que lhes é particular (RANCIÉRE, 1995, p. 7). A escrita, especialmente a poética, além de coisa política, traça e significa uma redivisão entre as posições dos corpos, sejam eles quais forem, operando uma re-divisão na ordem do discurso e das condições:

Escrever é o ato que, aparentemente, não pode ser realizado sem significar, ao mesmo tempo, aquilo que realiza: uma relação da mão que traça linhas ou signos com o corpo que ela prolonga; desse corpo com alma que a anima e com os outros corpos com os quais ele forma uma comunidade; dessa comunidade com a sua própria alma (RANCIÈRE, 1995, p. 7). 

Os pensamentos de Rancière e de Paz acerca da escrita confluem para a ideia de que no principio da democracia, existe o poder da literalidade. Dessa forma, a poética, “coisa política” e, “revolucionária por natureza”, para a pensadora Hannah Arendt realciona-se com o campo do comum. Arendt (1999, p. 21) declarou que “a política baseia-se na pluralidade dos homens”, em função dela tratar “da convivência entre diferentes” para a realização de projetos comuns. Como podemos observar, a partir dessa ótica, a operação poética torna-se um ato compartilhado, pois o poeta cria e o povo recria o poema ao recitá-lo e, poeta e leitor compartilham momentos de uma mesma realidade, de forma alternada, cíclica. Paz (1990) identificou nesse processo cíclico a existência de uma centelha, a poesia. As palavras que, durante a criação poética, foram separadas da fala coloquial ou popular, se reagrupam tornado-se a fala de uma comunidade e, a linguagem comum se transforma em imagens míticas e datadas de valor arquetípico. O poema é o mediador entre a sociedade e aquilo que a funda, ele revela aquilo que somos e nos convida a sermos aquilo que somos (PAZ, 1990, p. 39).

Florbela Espanca e Rubén Darío foram, durante muito acusados pela critica de não terem envolvimento político. Mas se a “uma sociedade dividida corresponde uma poesia em rebelião”, como destacou Paz (1990, p. 41), é possível observarmos nas poéticas de ambos um engajamento que põe em xeque essa ideia de alienação.

Uma visada histórica revela que na virada do século XIX para o século XX, Portugal passou por uma grande crise política e por importantes transformações sociais, Florbela Espanca nasceu nesse tempo, e não foi alheia a ele. Em 1894 Portugal já vivenciava há 43 anos uma monarquia parlamentar, instituída aos moldes do parlamento inglês. Esse regime foi o resultado de um golpe militar dado pelo Marechal Saldanha e esse tempo ficou conhecido como Regeneração, este regime se estendeu até 1910[2], época de instauração da República.

No Portugal finissecular o pessimismo, sentimento que encontrava ressonância no hedonismo decadentista, e que se alastrava por toda Europa, tomou conta da intelectualidade portuguesa. Esse sentimento, aliado a um fato político conhecido como ultimatum inglês, que em 1890 forçou os portugueses a se retirassem das colônias africanas, marcou a safra de poetas com os quais Florbela dialogaria em suas obras. A concessão feita aos ingleses se deu em função da franqueza de Portugal no cenário político-econômico internacional. Este episódio foi o golpe fatal na monarquia, pois afastou os partidários da burguesia e a intelectualidade ligada ao povo, aproximando-os dos ideais republicanos.

Florbela Espanca viveu tempos de governos provisórios. A Revolução Nacional de 1926 dissolveu os grupos feministas portugueses que lutavam pelo sufrágio e pelo direito de instrução das mulheres, estes movimentos políticos já marcavam uma concepção antiparlamentar de Estado que culminaria com o Estado Novo, regime político autoritário, que duraria de 1933 a 1974.

Octávio Paz na obra El arco e La lira (1990, p. 187) afirmou que o poema, além de ser algo que “transcende a história, e se situa num tempo anterior a toda a história, no princípio do princípio, mas não fora dela”, é também, como toda produção humana, “um produto histórico, filho de um tempo e de um lugar”. Florbela fez parte de um grupo seleto de mulheres portuguesas, ela teve acesso à educação, mas acabou abandonando o Liceu para se casar. Seu pai, João Maria Espanca, era militante engajado do movimento Republicano e recebia na sua casa, importantes personalidades políticas que compartilhavam dos mesmos ideais. Foi em 1916, ano que Portugal ingressou na Primeira Guerra Mundial, que, por meio de um amigo de seu pai, Florbela conheceu Raul Proença, intelectual que, junto a outros poetas, integrou o movimento cultural Renascença Portuguesa, que buscava recuperar certos valores da tradição lusa para inseri-los na modernidade. Esses poetas foram liderados pelo poeta Teixeira de Pascoaes e as idéias do grupo foram divulgadas na revista A Águia (GOMES, 1994, p, 117). Posteriormente, Proença, já dissidente das revistas A Águia e Renascença Portuguesa, foi co-fundador da revista Seara Nova, que entre os anos de 1919 e 1927, foi símbolo de resistência ao salazarismo.

Foi em 1916, também, que Florbela Espanca reuniu cerca de trinta poemas escritos desde o ano anterior, em um caderno manuscrito que ela denominou Trocando Olhares. Nessa época a poeta se declarou “anarquista” e, entre os poemas recolhidos no manuscrito Trocando Olhares, constava um projeto poético chamado Alma de Portugal. Carlos Sombrio publicou uma carta escrita de próprio punho por Florbela à Madame Carvalho, na qual ela detalhava os seus planos:

[...] Submeto a apreciação de V. EXª o esboço geral que eu já tinha formado acerca do livrito. Chamar-se-á Alma de Portugal e será dividido em duas partes, intitulada a primeira: “Na Paz” e a segunda, “Na Guerra”. Madame acha bem? Desta forma o livro terá um pensamento único a ligar todos os versos, e não posso achar melhor pensamento do que esse em homenagem humilíssima à pátria que estremeço (ESPANCA, 1994, p. 48).

Como afirmamos anteriormente, durante muito tempo a critica míope acusou Florbela Espanca de ter sido uma poeta sem nenhum envolvimento político, bem como, de ser superficial e refugiar-se no mundo dos sonhos. José Gomes Ferreira (1965), amigo de Florbela dos tempos de faculdade, no artigo intitulado Encontro com Florbela Espanca, descreveu que, por acaso, ao desfolhar numa livraria um manual escolar, encontrou “pela primeira vez”, o nome de Florbela Espanca: “lá jazia, [...] a poetisa mais portuguesa de todos os tempos...”, e disse mais:

Florbela nunca desconfiou da época em que viveu [...]. Presa por um último fio ao século XIX, nunca tentou sequer suprimi-lo. O Orpheu (primeiro rebate coletivo do século XX na literatura portuguesa) mal a atingiu por pontes indiretas. Fernando Pessoa? Nem reparou. Nas noites de febre branca apenas lhe martelava a obsessão de manter esperto o fogo do rastilho tradicional Antero- Junqueiro- Nobre- Eugênio de Castro, quase a estinguir-se. Associem a esta lista mais dois ou três poetas franceses (Baudelaire, Verlaine, Samain...) e pronto, completa-se o quadro (FERREIRA,1965, p. 237).

O artigo de Ferreira corrobora a imagem de uma poeta alheia aos acontecimentos sócio-culturais e políticos de sua época. Outra imagem comum entre os críticos e que teve muito destaque foi a de uma de escritora sem rumo, sem espiritualidade e desiludida, que teve na poesia o meio de evasão que não possuiu no amor”, como observamos no trecho do artigo Florbela e o Fantasma da morte, escrito por Duarte de Montalegre, em 1947:

O suicídio esperava por Florbela, e a poetisa abraçando-se a Morte, saboreou o beijo realizador que não saboreou em vida [...]. Se a poetisa pudesse encontrar dentro de si força de sublimação cristã, então sim, completar-se-ia no encontro redentor. Isso era impossível, contudo, a sua mentalidade, porque não tinha fé [...].  É muito difícil, porém, notar resignação cristã nos lamentos dolorosos de seus versos (MONTALEGRE, 1947, p. 32- 33, grifo nosso).

A marginalidade vivenciada por Florbela Espanca dá visibilidade a uma questão crucial para o entendimento do lugar de exclusão ocupado pela poeta enquanto literata, pois, a poesia era um lugar tradicionalmente masculino e Florbela era uma mulher.  Ana de Castro Osório relatou que a poeta não abriu para si “nenhum horizonte profissional” a não ser o de “literata”, atributo considerado “o mais desagradável que podia ser dito de uma senhora, que era vista com um livro na mão” (ESPANCA, 1995, p. 16).

O manuscrito Trocando olhares foi, alem de nascedouro de variados projetos poéticos de Florbela, a fonte onde ela buscou poemas que integrariam as suas obras publicadas. Em vida, a poeta publicou o Livro de Mágoas (1919) e o Livro de Sóror Saudade (1923), porém, o seu terceiro livro, Charneca em Flor (1930), foi publicado postumamente, pouco tempo após o seu suicídio, no dia em que completaria 36 anos de idade, em 1930.

A agitação causada pelo suicídio e o silêncio da mídia quanto à morte de Florbela, incomodou a classe intelectual, especialmente a feminina/feminista, que se reunia em torno da Revista Portugal Feminino, grupo que fora freqüentado por Florbela no seu ultimo ano de vida. Esse movimento em torno da memória de Florbela Espanca foi denominado por Maria Lúcia Dal Farra como “affaire Florbela Espanca”. A partir de então Florbela Espanca se tornou bandeira do movimento feminista português que ressurgia apresentando-se como uma ameaça à ideologia dominante. O regime ditatorial de Salazar considerou Florbela Espanca um “anti-modelo do feminino”, em função de “sua vida privada”, marcada pela “ruína” e “pela miséria” (ESPANCA, 2002, p. 17).

Florbela foi uma mulher cujos interesses caminharam na contramão do que se esperava de uma mulher no primeiro quartel do século XX e a poeta tinha plena consciência de seu desenquadramento:

 

Eu não sou em muitas coisas nada mulher; pouco de feminino tenho em quase todas as distrações de minha vida. Todas as ninharias pueris em que as mulheres se comprazem, toda a fina gentileza duns trabalhos em seda e oiro, as rendas, os bordados, a pintura, tudo isso que eu admiro e adoro em todas as mãos de mulher, não se dão bem nas minhas apenas talhadas para folhear livros que são, verdadeiramente, os meus mais queridos amigos e os meus inseparáveis companheiros (ESPANCA, 2002, p. 223).

É consenso entre variados pensadores que Florbela não pode ser considerada uma modernista aos moldes do Orpheu, porém, a poeta não pode ser arrancada do cenário da modernidade e nem do século XX, época em que construiu sua obra e que viveu. José Carlos Seabra Pereira, classificou Florbela Espanca como “neo-romântica”, ao passo que mostrou o desvio que ela representou em relação aos movimentos literários da altura: “o luzitanismo, o vitalismo e o saudosismo” (DAL FARRA, 1995, p. 30).  A pesquisadora Renata Junqueira (2003, p. 32) chamou atenção para o fato de que, se as ligações dos escritores modernos com os valores de fin de siècle fossem mais claras, poderiam ser associados outros nomes que não somente os de Fernando Pessoa, Mário Sá- Carneiro, Almada-Negreiro, a este movimento, e “o nome de Florbela Espanca estaria na lista dos convidados, sem dúvida”.

Toda a obra de Florbela Espanca nasceu do diálogo que a poeta estabeleceu com o seu tempo, com a tradição literária, com os críticos, com a família e os amigos. O seu percurso literário revela interlocuções fundamentais, e mostra que a poeta produziu em consonância com o seu tempo, embora tenha sido alijada dele pela critica. Chamamos a atenção para o livro póstumo de Florbela Espanca, Charneca em Flor, que escandalizou a sociedade católica portuguesa pelo seu erotismo, como pode ser observado no soneto de abertura do mesmo, que possui o mesmo nome da obra:

Enche o meu peito num encanto mago.

O frêmito das coisas dolorosas.

Sob as urzes queimadas nascem rosas...

Nos meus olhos as lágrimas apago...

 

Anseio! Asas abertas! O que trago

Em mim? Eu oiço bocas silenciosas

Murmura-me as palavras misteriosas

Que perturbam meu ser como um afago!

 

E nessa febre ansiosa que me invade.

Dispo a minha, o meu burel,

E, já não sou, amor, Sóror Saudade...

 

Olhos a arder em êxtase de amor,

Boca a saber a sol, a fruto, a mel:

Sou a charneca rude a abrir em flor.

(ESPANCA, 1996) 

 O amor, o erotismo, a entrega, o corpo da mulher transmutado em terra fértil que se abre em flor, são temáticas que revelam a ruptura de Florbela com o ideário feminino de sua época. Acreditamos que o engajamento político da poeta aconteceu, predominantemente, via poesia. Ao poetizar o universo feminino, Florbela também contribuiu para com a denúncia do silenciamento milenar que marcou o discurso feminino na história.

Nas obras anteriores ao livro Charneca em Flor, Florbela Espanca dialogou com a tradição dos trovadores medievais, por meio das quadras populares, e com temas como a dor, a saudade e a melancolia, por meio da interlocução com poetas portugueses como Antônio Nobre, Raul Brandão, Américo Durão. Por meio desses poetas, incorporou-se à poética florbeliana, a tradição Garrettiana e a Junqueirista, bem como as vozes de Simbolistas como Baudelaire, Verlaine, Samain, com lampejos de um Musset. Importa-nos destacar uma interlocução ainda pouco pesquisada, esta realizada com o poeta nicaragüense Rubén Darío.

Se a poética de Florbela Espanca rompeu com o ideário feminino de sua época, encontraremos na poética de Rubén Darío uma ruptura com o cânone literário que será responsável pela renovação das letras hispano-americanas e marcará o surgimento do primeiro movimento genuinamente hispano-americano, o Modernismo. As poéticas de Florbela Espanca e de Rubén Darío comungam, tanto a tendência de romper com o status quo, quanto questões relacionadas ao erotismo.

Dario reuniu a tradição neolatina em sua obra, dialogando cristianismo e paganismo, e elegendo o personagem grego Orfeu e seus mistérios, música e magia primitiva, como potencializador de encantamento, revolucionando dessa forma a poética hispano-americana. Assim como Florbela Espanca em Portugal, Rubén Darío viu a sua terra natal, a Nicarágua, passar por muitas intervenções políticas. Desde a Doutrina Monroe, documento construído pelos Estados Unidos que considerava as repúblicas hispânicas recém libertas do jugo colonial imaturas para se auto-governarem e, portanto, dependendo da sua intervenção e proteção, a América Hispânica foi enredada em uma nova forma de colonização, o neo-colonialismo norte-americano.

Um dos poetas nicaragüenses mais importantes do século XX, José Coronel Urtecho (1906-1994), escreveu no prólogo para a obra Cantares de la liberdad: antologias para la nueva Nicarágua (1984) que:

Foram em realidade os poetas nicaragüenses, desde Rubén Darío em diante, os que de certa maneira predispuseram a sensibilidade nicaragüense e até certa medida a cultura nicaragüense para a revolução. Não é de se estranhar que quase todos os poetas nicaragüenses tenham se identificado com o povo, assim como quase todos os poetas latino-americanos, porém, ao contrário desses, quase todos os poetas nicaragüenses identificados religiosamente com o povo, não se identificaram com a burguesia que lhes era antagônica e, cuja religiosidade formal só poderia ser a expressão de seus interesses econômicos [...]. A realidade é que a revolução nicaragüense parece estar, assim como a Nicarágua, intimamente vinculada à poesia. [...] por revolução se entende agora a Nicarágua como sendo a conjunção de Darío e Sandino. [...] A partir desta perspectiva é que se pode assegurar que a revolução da Nicarágua, que a revolução que é a Nicarágua, é um poema coletivo (CASALDALIGA, 1984, p. X-XI).  

Frantz Fanon (1979), cuja obra, Os condenados da terra, é um marco na análise da relação dominador/dominados, a partir da ótica da minoria destaca a importância do poeta, assim como o fez Urtecho, afirmando que este, sendo colonizado, deve “determinar com clareza o tema povo de sua criação”, pois:

Só se pode avançar resolutamente quando, antes de tudo, se toma consciência de sua alienação. [...] O homem colonizado que escreve para o seu povo deve, quando utiliza o passado, fazê-lo com o propósito de abrir o futuro, convidar a ação, fundar a esperança. Mas para garantir a esperança, para lhe dar densidade, é preciso participar da ação, engajar-se de corpo e alma no combate nacional (FANON, 1979, p. 193).

A luta revolucionária pela libertação dos países da América Hispânica das garras da metrópole espanhola foi alimentada pela desigualdade social, exploração econômica e opressão política, nos faz saber González (1997, p. 17).  Desde os tempos da colonização a sociedade dividiu-se em classes muito desiguais: “peninsulares, criollos, indios, mestizos y negros”.  Rubén Darío era mestiço[3], ou seja, ele integrava um grupo social que, ao molde das castas, geralmente era formado por pessoas encarregadas de realizar trabalhos mecânicos, e era, também, a força motriz da milícia. Juan Antonio Cabezas (1954) na obra Rubén Darío: um poeta y uma vida, delineou a trajetória de vida de Darío destacando que o poeta veio à luz contra a vontade de seus progenitores, sendo criado, como filho, pelo coronel Ramirez, homem influente que era amigo e colaborador do general Máximo Jerez[4], que foi seu padrinho de batismo. Estes apadrinhamentos possibilitaram que Darío crescesse numa casa grande, estilo colonial, tivesse educação, dentre outras oportunidades. O pai biológico de Darío, Manuel Darío, não foi presente na sua criação, nem lhe ofertou afetividade paterna, relatou o próprio poeta em sua biografia, e a sua mãe, Rosa Sarmiento, não foi mais que uma sombra na sua história.

Darío, que era um menino mestiço, passou a estudar com os jesuítas da Companhia de Jesus e, com 14 anos de idade, teve acesso à redação do periódico político La Verdad, onde escreveu versos blasfemos e artigos contra o governo. O jovem poeta tomava como modelo os textos de um escritor equatoriano “famoso, violento, castiço e ilustre” chamado Juan Montalvo. Iniciava-se aí um enlace com a política e com a poesia, bem como com os periódicos, a imprensa e com o governo que duraria por toda a sua vida. Estas publicações tornaram Dario conhecido na Nicarágua e nas outras quatro repúblicas da América Central ele ficou conhecido como “o poeta menino” (DARÍO, 1990, p. 15).

Darío possui uma vasta obra que percorre a poesia clássica e metrificada, á prosa poética, novela, contos e crônicas. Ele foi embaixador da Nicarágua em variados países e correspondente em jornais como o La Nacion de Buenos Aires. Seus livros mais conhecidos são Azul, publicado em 1888, Prosas profanas e outros poemas, em 1896, e Cantos de Vida e Esperança. Os cisnes e outros poemas, publicados em 1905.

O poeta Cosmopolita abriu os versos castelhanos à poesia francesa que, processada pelo simbolismo, possibilitou uma renovação dos mesmos e, especialmente, vencendo a resistência da Espanha e enfraquecendo o casticismo[5]. A modernização “à francesa” apresentou-se como uma forma de “resistência” e uma “alternativa ao domínio cultural espanhol”, paralelo a este movimento, tomava força um discurso de independência em toda América Central (FIORUSSI, 2010, p. 43).

A publicação do primeiro livro de poemas de Darío, Azul, repercutiu no meio culto, especialmente entre jovens poetas e em torno de seu nome também se reuniram grandes poetas do modernismo. Prosas profanas, publicado em 1893, se tornaria um marco deste movimento literário e a escrita de Darío passaria a incorporar de forma mais aguerrida questões políticas e sociais. Em 1898 a obra Cantos de vida y esperanza, deu voz a sentimentos nacionais. Essa literatura de incorporação, ou, impura, delineada por Darío e seguida por outros poetas, deu forma ao Modernismo Hispano-Americano e foi a base da Vanguarda Latino-Americana, a partir da qual a América Latina passou a construir seus próprios modelos literários e culturais, e a criar referências para si mesma e para outrem.

Os deslocamentos nômades de Darío levaram-no a Nova York. No hotel onde se hospedou integrou-se a um grupo de imigrantes cubanos que conspirava contra a Espanha, dentre os quais, se encontrava José Martí, colaborador do jornal La Nacion, e Gonzalo de Quesada, e desde então Darío passou a participar dos encontros dos correligionários de Martí.  O líder revolucionário, que era também escritor, acolheu a Darío e aos seus versos e chamou-o de “filho” (CABEZAS, 1954, p. 92). Importa ressaltar que as revoluções pelas quais passaram os países hispânicos em busca de independência, imbricam-se com as revoluções estéticas, em especial como a revolução estética promovida por Rubén Darío, o Modernismo.

O modernismo latino-americano irrompeu com a ‘geração de 98’, sem abandonar as suas conquistas formais, dando forma à literatura latino-americana do século XX. Sob o signo do Modernismo, Darío escreveu, em 1901, em resposta a intervenção ianque, no panamá, em 1903 aquele que é considerado o primeiro grande poema político da literatura latino-americana, o poema A Roosevelt, onde ressoam muitos “nãos”, observemos o fragmento do poema:

[...] Eres los Estados Unidos,

Eres el futuro invasor

De la América ingenua que tiene sangre indígena,

Que aun reza a Jeuscrissto y aún habla en espanhol.

[…]

(DARIO, 2004, p. 71).

O Chileno Francisco Contreras descreveu a irrupção dos problemas nacionais na literatura latino-americana tomando como ponto de Partida Cantos de vida e esperança, de Darío, destacando o poeta como “o fundador da lírica hispano-americana” (RETAMAR, 1989, p. 124). Nas “Palavras preliminares” de Prosas profanas Rúben Darío escreveu: “Existe no meu sangue alguma gota de sangue africano, ou de índio chorotega ou nagrandano? Pode ser, a despeito de minhas mãos de marquês; entretanto, vereis em meus versos princesas, reis, coisas imperiais, visões de países longínquos ou impossíveis”, essa gota de sangue  afriacano ou índio, citada por Darío, ressoará em poetas como Vallejo, Arguedas, Gullén, Carpentier, Rulfo, em Cesaire, em Neruda e Jorge Amado, enquanto a visão de países longínquos ou impossíveis ressoará em escritores como José Maria Egurem, Vicente Huidobro, Jorge Luiz Borges ou Haroldo de Campos. Jorge Luiz Borges afirmaria em 1955: “Nossa pátria é a humanidade” (RETAMAR, 1989, p. 127).

Rubén Darío lançou mão da riqueza e heterogenia de variados produtos culturais, como a mitologia, submetendo-os a recombinações que alteraram radicalmente seus valores originais, mesclando-os a outros materiais. Darío desafiou um código fechado, instituído, recodificando, dessa forma, a poesia produzida na América central, ou seja, inserindo novos códigos na poesia hispânica. Darío afirmou que a obra Prosas profanas causou um grande escândalo entre os seguidores da tradição e do dogma acadêmico, e que não faltaram censuras e ataques, mas que ele contou com a defesa de “destemidos soldados da reforma nascente” (DARÍO, 1990, p. 83).

Foi a partir da obra Cantos de vida e de esperança, publicado em Madri, em 1905, que o poeta passou a utilizar com maior intensidade os mitos, e a destacar a coragem dos povos hispânicos; e passou também a denunciar a intervenção dos Estados Unidos na soberania dos países da América Hispânica. No poema Cyrano em España o poeta diz:

¡Oh poeta! Oh celeste poeta de la facha

Grotesca! Bravo y nobre y sin miedo y sin tacha,

Príncipe de loucuras, e suenos y de rimas.

(DARÍO, 2004, p. 64).

Este poema, escrito em versos alexandrinos, demonstra como Darío uniu à erudição poética, temáticas que trouxeram para primeiro plano personagens hispânicos. Darío diálogou com os escritores finiseculares como Charles Baudelaire, Victor Hugo, Verlain, com a tradição hispânica e Espanhola, com os mitos. A temática política ficará ainda mais forte nos livros subseqüentes de Darío. No poema Cyrano em España o poeta diz:

Y Cyrano há leído la maravilla  escrita

Y al pronunciar el nombre del Quijote, se quita

Bergerac el sombrero: Cyrano Balazote

Siente que es lengua suya la lengua del Quijote.

[...]

¡Oh poeta! Oh celeste poeta de la facha

Grotesca! Bravo y nobre y sin miedo y sin tacha,

Príncipe de loucuras, e sueños y de rimas.

(DARÍO, 2004, p. 64).

Destaco que Rubén Darío é poeta chave para o entendimento da história da poesia hispano-americana.

Rubén Darío e Florbela Espanca se tangenciam de forma especial no terceiro livro publicado de Florbela, Charneca em Flor (1919). Defendo a tese de que, ao escolher Dario como epígrafe da obra Charneca em Flor, Florbela Espanca ultrapassou o desejo de apenas homenagear o poeta, até porque nos seus livros anteriores é possível perceber que os autores escolhidos para as epígrafes, extrapolam este espaço especifico, atravessando toda a obra.  Charneca em Flor chocou a sociedade católica portuguesa por seu erotismo, como pode ser observado no soneto de abertura, de mesmo nome do livro:

Enche o meu peito num encanto mago.

O frêmito das coisas dolorosas.

Sob as urzes queimadas nascem rosas...

Nos meus olhos as lágrimas apago...

 

Anseio! Asas abertas! O que trago

Em mim? Eu oiço bocas silenciosas

Murmura-me as palavras misteriosas

Que perturbam meu ser como um afago!

 

E nessa febre ansiosa que me invade.

Dispo a minha, o meu burel,

E, já não sou, amor, Sóror Saudade...

 

Olhos a arder em êxtase de amor,

Boca a saber a sol, a fruto, a mel:

Sou a charneca rude a abrir em flor.

(ESPANCA, 1996)

 Temas relacionados ao erotismo como a entrega, o corpo transmutado em terra fértil se abrindo em flor, comungam com o universo dariano. É possível, também, perceber que Florbela Espanca e Rubén Darío possuem afinidades nas suas interlocuções. Ambos beberam da tradição simbolista francesa e do acervo poético medieval; ambos, também, tinham como referências os poetas Verlaine, Eugênio de Castro, Samain, entre outros, valendo ressaltar que, Darío era um profundo admirador da poesia de Walt Whitman. Florbela e Darío dialogam não apenas a partir de seus interlocutores, mas dos temas e da forma poética culta e popular, os quartetos e os sonetos.

A possessão erótica, em Dario, é o reencontro consigo mesmo, e em Florbela, como nos faz saber Maria Lúcia Dal Farra (2002, p. 20), o erotismo possui “sinal de menos”, por ser marcado mais pelo “comedimento”, “retiro” e “silêncio”, que pelo “excesso”. Esta crítica explica que:

Para proferir o erótico é preciso derrubar barreiras, estilhaçar a permissão, visto que é de tabu social que se trata – e era assim, pelo menos na época em que Florbela ensaiava fazê-lo. Transgredir é, portanto, a única lei viável para os arroubos sensuais. E depois, sendo a atividade erótica aquela que ocupa por inteiro o sujeito, ou ele deixa de fruir o seu momento prazeroso com o fito de poder comunicá-lo com precisão, ou a ele se entrega desmensuradamente sem direito de voz (DAL FARRA, 2002, p. 20, grifo nosso).

Onde Florbela poderia buscar afirmação para o seu discurso feminino e transgressor se não fora da própria casa? A poética de Darío, mesmo com o crescimento desordenado da metrópole, preservou a ordem natural, expresso pela sua “selva sagrada”, onde, a partir de uma articulação de símbolos, forma uma unidade em que os opostos podem coexistir. Na “selva sagrada” dariana os contrários aspiram à unidade, se necessitam e se juntam, para, reconstituir a sua forma primordial. Já Florbela, faz da Charneca rude e “sacrossanta”, o seu corpo a florir; este é o seu espaço sagrado, é onde poderá despir-se do hábito de monja, sair da clausura e liberar a força latente e pulsante que, em toda a sua poética anterior, é ensaiada. A propósito, Dal Farra destaca que:

A mediação da natureza para a inovação do corpo e do desejo, se por um lado, não deixa de ser sintoma do pudor traduzido da convivência com a Sóror, por outro se impõe como o mais eficaz meio de sedução, mercê do enviesamento e da insinuação próprios. Mas enfim, são estes os ganhos [...] ela ganhou o direito de abrir ou fechar, segundo seu próprio alvitre, a sua cela. Atingiu, finalmente, a tão ansiada maioridade poética! (ESPANCA, 1996, p. XLIV).

A relação entre as poéticas de Florbela Espanca e de Rubén Darío são, ainda, pouco estudadas, o que nos causa estranheza, pois o conhecimento da obra deste poeta é relevante para uma compreensão da lírica hispano-americana e, no caso em questão, para o entendimento do Livro Charneca em Flor, de Florbela. Esta importância pode ser observada, por exemplo, em um dos sonetos mais conhecidos, traduzidos e musicados de Florbela Espanca, intitulado Amar, que mostra grande afinidade com o poema Amo, Amas..., de Rubén Darío. Este poema foi o escolhido como epígrafe do livro Charneca em Flor. Estes dois poemas dialogam entre si e com outros poemas da literatura mundial.

A análise que se segue foi feita por nós e consta na dissertação de mestrado intitulada; Vozes femininas: a polifonia arquetípica em Florbela Espanca. Observemos os poemas:

Amar

Eu quero amar, amar, perdidamente!

Amar só por amar; Aqui... além...

Mais este e Aquele, o Outro e a toda gente...

Amar! Amar! E não amar ninguém!

 

Recordar? Esquecer? Indiferente!...

Prender ou desprender? É mal? É bem?

Quem disser que se pode amar alguém

Durante a vida inteira é porque mente!

 

Há uma primavera em cada vida;

É preciso cantá-la assim florida,

Pois se Deus nos deu voz foi pra cantar!

 

E se um dia hei de ser pó, cinza e nada

Que seja a minha noite uma alvorada,

Que me saiba perder... pra me encontrar...

(ESPANCA, 1996, p. 232).


Amo, Amas

Amar, amar, amar, amar siempre y com todo

El ser com La tierra y com El cielo,

Com lo claro Del sol y lo obscuro Del lodo.

Amar por ciência y amar por todo anelo.

 

Y cuando La montaña de La vida

Nos sea dura y larga, y alta, y llena de abismos,

Amar La inmensidad, que ES de amor encendida,

Y arder em La fusión de nuestros pechos mismos....

(ESPANCA, 1996, p. 207).

Arturo Massaro ressaltou que, para Darío, a doutrina do amor é: “exaltação universal, é romântica: aspiração de amor indefinido, filantrópico” é “amor universal, sem ser graça ou caridade, abarca as antinomias do que se pode ou não amar, e do que se deve ou não se deve amar.” Dario compôs o poema Amo, Amas, após ler Plotino e em dialogo estreito com Victor Hugo e Charles Guérin. Estes escritores persistem na repetição de caráter afetivo. Em Hipólito de Eurípedes, por sua vez, é a voz do coro que clama: “amor, amor”... “Eros, Eros”. O coro também se faz ouvir em Garliaso (soneto XXVII): Amor, Amor... e Gerin repete três vezes, amar: “Une voix murmurait dans l’ombre:/ Amour! Amour! Amour! Amour!” (MASSARO, 1954, p. 273).

Eis aí a emergência da voz lírica de Florbela Espanca, sempre coral, de ecos de ecos. Florbela Espanca segue um fluxo vocal que abarca, a partir da voz de Darío, também as vozes de Plotino, Hugo, Guérin, etc., o que reafirma a polifonia da sua poética, bem como sua relação de abertura radical para a alteridade e a linguagem

Florbela e Darío cantam o desencontro, o eu poético florbeliano, no soneto Versos de orgulho é uma “Princesa” entre “plebeus”, presa, “numa torre de orgulho e de desdém”, princesa com asas, com possibilidade de voar e ascender aos céus, asas que os outros lhe invejam porque não as possuem (ESPANCA, 1996, p. 210). Darío, por sua vez, em Canción de Otonõ busca sua princesa, mas não há princesa para cantar: “Mi sed de amor no tiene fin” e busca entre “Herodias y Salomé”, a princesa. “Em vano busque a La princesa/ que estaba triste de esperar/ La vida es dura. Amarga y pesa./ Y no hay princesa que cantar” (MASSARO, 1954, p. 227-228).

Florbela Espanca travou, através de sua poesia, um embate com outros discursos, no caso, vozes que ultrapassaram as fronteiras e continentes, e a sua poética é uma resposta a estes outros enunciados. Dario diz em A Uma estrella, do livro Azul: “Princesa del divino imperio azul, quem besara tus lábios luminosos!, ele se define como “el enamorado estático” que sonha e canta em seus sonetos “tu místico florecimiento”, revela a o desejo de “contarte um poema sideral, [...] ser tu amante ruiseñor, e darte mi apasionato ritornelo, mi etérea e mi rubia somadora” ele diz que a luz de sua musa “hace cantar a los poetas” (DARIO, 2009, p. 133-34). Dario clama por uma musa, uma princesa que possa cantar, aquela que será uma luz a guiá-lo, Florbela responde: “E fui aquela que habitou Paços Reais;/ No mármore de curvas ogivais/ [...] Tantos poetas em versos me cantou” (ESPANCA, 1996, 68).

A vida extemporânea da poeta Florbela Espanca deu forma ao fenômeno que denominei “amalgama vida e obra”, numa confusão que muitas vezes transformou a poeta em caso clínico. Com Darío não foi diferente, ele foi considerado um castizo, ou seja, portador de um discurso que, ao contrário do purismo que normatizava e buscava proteger a “pureza” do castelhano, acolhia o estrangeirismo. O discurso castizo possuía bastante força no fim do século XIX e pode ser confundido com o discurso xenófobo. O critico Juan Valera afirmou que não existia catelhano mais francês que Darío e classificou a inclinação parisiense do poeta como patológica. O discurso de Valera embora pareça ferrenho, estava balizado pelo casticismo da época (FIORUSSI, 2010, p. 41). 

Acreditamos na existência de uma responsividade entre as poéticas de Florbela Espanca e de Rubén Darío no livro Charneca em flor, e que a poesia atuou como estratégia de resistência para estes autores que conquistaram um lugar de destaque no cânone literário, depois de muitos conflitos com a ordem política e ideológica dominante

Referências:

§  CABEZAS, Juan Antônio. Rubén Darío: um poeta y uma vida. Buenos Aires: Espalsa-Calpe, 1954.

§  DARÍO, Rúben. Autobiografia: oro de Mallorca. Introduccíon de Antonio Piedra. España: Mondadori, 1990.

§  DARÍO, RUBÉN. Cantos de vida y esperanza. Madrid: Alianza Editorial, 2004.

§  DARIO, Ruben, Quarenta e cinco poemas. Disponível em <http://www.scribd.com/doc/10551970/Ruben-Dario-Cuarenta-y-cinco-poemas>. Acesso em 21 de dez de 2009.

§  ESPANCA, Florbela. Poemas Florbela Espanca. Estudo introdutório, edição e notas de Maria Lúcia Dal Farra. Martins Fontes. 1996.

§  ESPANCA, Florbela. Afinado Desconcerto: (contos, cartas e diário). Estudo introdutório, apresentações, organização e notas de Maria Lúcia Dal Farra. São Paulo: Iluminuras, 2002.

§  ESPANCA, Florbela. Florbela Espanca. Organizado por Maria Lúcia Dal Farra. Rio de Janeiro: Agir, 1995. (Nossos Clássicos; 121).

§  FANON, Frantz. Os condenados da terra. 2. Ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979.

§  FERREIRA, José Gomes. Encontro com Florbela. A memória das palavras ou o gosto de falar de mim. Lisboa: Portugália, 1965, pp. 233-240. Compulsação, recolha e digitalização do texto por Maria Lúcia Dal Farra.

§  FIORUCCI, André. Jóias novas de prata antiga: Artifício e versatilidade na poesia de Rubén Darío, São Paulo: FFCH/USP, 2010. (Coleção Produção acadêmica premiada)

§  GOMES, Álvaro Cardoso, et al. A Literatura Portuguesa em perspectiva: Simbolismo e Modernismo. Vol. 4. Direção de Massaud Moisés. São Paulo: Atlas, 1994.

§  GONZÁLEZ, Mirza L. Literatura revolucionária hispano-americana. Madrid: Editorial Betânia, 1994.

§  HANNAH, Arendt. O que é política. 2. Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.

§  JUNQUEIRA, Renata Soares. Florbela Espanca uma estética da teatralidade. São Paulo: UNESP, 2003.

§  MASSARO, Anturo. Ruben Dario y su creación poética. Bueno Aires: Kapelusz, 1954.

§  MONTALEGRE, Duarte de. Florbela e o fantasma da Morte. [s.l.], 1947.

§  PAZ, Octávio. El arco y la lira. 7. Ed. México: Fondo de Cultura Econômica, 1990.

§  PAZ, Octávio. Los hijos del limo: Del Romantismo a La vanguardia. Barcelona: Seix Barral, 1993.

§  RANCIÈRE, Jacques. Políticas da escrita. Rio de janeiro: Editora 34, 1995. (Coleção Trans)

§  RETAMAR. Roberto Fernández. Caliban e outros ensaios. Prefácio de Darcy Ribeiro. São Paulo: Busca Vida, 1988.

[2] Em 1910 houve o assassinato do Rei Dom Carlos de do Príncipe, Luiz Felipe, herdeiro da coroa. Esse fato aconteceu quando a família real retornava do Paço real de Vila Viçosa. 

[3] Segundo Cabezas (1954, p. 22) Corre no sangue de Rubén Darío, como no de todo mestiço, sangue asteca, e sangue árabe-andaluz dos conquistadores. E sobre a sua alma, o mental recebe impulsos contrários, recebe a pesada carga cultural, teológica e mística do latinismo cristão.

[4] Político, militar e advogado nicaragüense. Um dos principais pensadores liberais da República da Nicarágua (Disponível em:<http://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&rlz=1T4GFRE_pt-BRBR391BR391&q=+M%C3%A1ximo+Jerez&btnG=Pesquisar&aq=f&aqi=&aql=&oq=. Acesso em 13 de fev. de 2011).

[5] Casticismo es una postura literaria, cultural e ideológica, manifestada en España desde el siglo XVIII en oposición a la afrancesada o ilustrada, y que desde entonces se relaciona con el pensamiento reaccionario.

03/11/2021

Arcano dezenove: Uma leitura poética do Tarô por Renata Bomfim (ensaio critico de Maria Lúcia Dal Farra)


O tratamento literário do Tarot, pelo menos a partir do século XIX, passa pelo seu próprio renovador: Eliphas Lévi. Contemporâneo de Baudelaire, o ex-Abade Constant é o autor de “Les correspondances”. Publicado em Les trois harmonies (1845), o poema entremostra similaridades de composição com o “Correspondances” de Baudelaire. O tipo de analogias praticadas em ambos é uma manifestação da tradição hermética e esotérica que, na altura, comparece, para os horizontes da literatura, como uma via alternativa de afronta e resistência aos discursos dominantes e às leis de consumo decorrentes do nascente capitalismo.

Composto mais ou menos na época que o de Constant, entre 1845 e 1846 (embora só publicado em 1857, no Les fleurs du mal), o poema de Baudelaire expõe, como o do Abade, a crença num simbolismo universal, em que tudo participa de tudo. Em ambos, a busca da unidade primordial é, portanto, notável¹ . Mas é em Dogme et Rituel de la Haute Magie (1855) que, pelas mãos de Lévi, o Tarot se atualiza inaugurando-se na chamada escola moderna. O (agora) Mago acrescenta, pois, à interpretação dos Arcanos (dos segredos e dos mistérios), a Cabala Hermética e certa contribuição da Alquimia: a simbologia dos quatro elementos.

No mesmo ano de publicação dessa obra, Gérard de Nerval, extraordinário e contumaz leitor do Ocultismo, e, por isso mesmo, decisivo escritor francês (divisor de águas entre o Romantismo e a Modernidade) se suicida. No ano anterior ele havia publicado o volume de sonetos Les chimères, que estampava “El desdichado”, poema nascido da leitura de uma carta do Tarot, a do Arcano 16, carta determinantemente premonitória do seu fim² . O Tarot mostrava, assim, a sua face divinatória à literatura. Mas o compêndio simbólico-oracular, em que o Tarot também fora se transformado ao longo do tempo, exporá, depois, o seu sortilégio, na promessa que Nerval firmara ainda naquela obra: malgrado a morte, ele retornaria.

Se a “torre derrubada” e a “destruição”, contidas no dito Arcano, esculpiram, para o escritor francês, o seu destino pessoal, André Breton tomará para si, quase cem anos mais tarde (entre 1944 e 1947), a missão de rediviver o estimado escritor e comparsa esotérico. Em Arcano 17, Breton elege tal carta como objeto da última de suas obras em prosa - justo o Arcano que promete o prodígio do renascimento. A tetralogia em prosa de Breton tivera início em 1928, com Nadja, seguida de Les vases communicants (em 1932), de L´amour fou (em 1937), culminando, dez anos depois, com o Arcane 17. Desde Nadja, entretanto, Nerval pulsa na obra de Breton, e agora, em 1947, ele toma definitivamente lugar nela.

Lançando como seu guia a “Estrela da Manhã”, Breton conserva a perspectiva hermética da tradição literária incrementada pelo compatriota, simbolicamente explicitada na tomada do Arcano seguinte ao manipulado por Nerval; Breton trata, pois, da carta redentora. É dessa maneira que o surrealista ritualiza o regresso de Nerval – o seu retorno prometido. A “Estrela” é indício de nascimento, de esperança no futuro, de conhecimento e gnose, de luz; luz que se exerce por meio de três vias: a poesia, a liberdade e o amor, apanágios dessa marcante obra de 1947³ .

Creio que é nessa linhagem que cabe inserir o presente livro de poemas de Renata Bonfim, Arcano Dezenove 4 , visto que, além do mais, ele é todo armado sobre o tripé das mesmas palavras de ordem de Breton: poesia, liberdade, amor. Se, da sua parte, se trata ou não de determinação consciente, sequer importa; o célebre “acaso objetivo” surrealista é para mim suficiente para justificar tais curto-circuitos da analogia, essa rede de ecos que, sob a descontinuidade, é capaz de descortinar uma outra ordem que, ocultamente, lhe dá sentido e seguimento. E esse me parece ser deveras o caso.

Se o livro de Renata tem por título o Arcano 19, a primeira ansiedade (na sequência da minha cogitação) seria a de tentar entender o salto do dezessete bretoniano para o dezenove bomfiniano. Por que Renata, para chegar ao dezenove, não passa pelo Arcano intermediário?

Pra já, se nos ocupamos do Tarot, temos de tomar como ponto de partida a Lâmina do baralho, de suma importância para a decodificação simbólica - primeira riqueza especulativa para o ingresso no jogo que é, como se sabe, nem um pouco linear. Cada carta só adquire real valor na disposição em que se encontra no contexto de outras tantas: como as palavras, como a língua (também objeto do livro de Renata), seu significado é absolutamente relativo, ganhando força e convicção na medida em que entretém, com as outras cartas, laços de atração e repulsa que formulam a sua própria linguagem, o discurso da vez - o que enuncia a jogada atual, a tiragem do acaso.

Pois não é que o volume de Renata, que tem por título o arcano seguinte, ostenta, como sua apresentação e cobertura, o arcano anterior? Melhor dizendo: não é que o volume de Renata, que anuncia o Arcano 19, se expõe como uma decisão interpretativa do Arcano 18?

A capa de Arcano Dezenove estampa, como constato, a Lâmina que resulta da leitura que a consulente (diante de um cenário eventual de cartas ligadas por tais parentescos conflituosos e harmônicos) elaborou do Arcano anterior. É ao desvendamento pessoal do Arcano 18 que a capa do presente Arcano Dezenove faz alusão - ou melhor dizendo: é essa chave, essa decifração, que o invólucro do livro definitivamente espelha. O que faz com que, ali mesmo (e por antecipação, já que a posição da Lâmina nos é frontal), o 18 conviva com o 19 - como pressuposto para a leitura do volume que o receptor desvelará ao virar a primeira página: como condição mesma para a travessia dele.

É como se, para entrarmos no domínio do que a cobertura do livro anuncia ao cimo, ou seja, para conhecermos esse território do Arcano 19, tivéssemos necessariamente de entender as circunstâncias impostas, pela sua autora, à carta anterior. De maneira que a capa se exibe enquanto pórtico, enquanto senha - como um código para o compartilhamento daquilo que o livro de poemas enfeixa.

Tento ler, portanto, o recorte que essa ilustração de entrada faz sobre a Lâmina 18. A “Lua”, indecisa entre a face máscula e a fêmea, põe a tônica sobre a mulher, sem desvencilhá-la do seu lado noturno, presente nas suas vestes mas quebrado pelo aspecto positivo indicado no arminho que desliza da consulente (e da Figura) para o chão, para a terra - para o ouro alquímico 5 . Os dois cães, ou o cão e o lobo da lâmina original estão confluídos e catalisados no cachorro de duas cores que essa mulher dubiamente domina e acaricia, posse sua e agente ou guia seus. Na capa, a única torre erguida no cenário é a da vegetação, coluna de rosas, uma vertical corbeille vermelha (versão das várias plantas que compõem a carta referencial), que faz pendant com a cortina de veludo, de igual tonalidade e quentura erótica, e que salpica (ampliando os matizes) o cabelo da Figura. O escorpião não está à mostra, mas sabê-lo imerso no vaso hermético (no Vaso de Hermes) da poetisa: é o seu signo astrológico.

A Lâmina que a capa compõe é toda luz e sombra, magia branca e negra, incerteza melíflua: basta reparar no sorriso ambíguo da Figura (ou da consulente – a luz da “Lua” é reflexiva, e, portanto, as duas mulheres refletem a mesma: a poetisa) que, dessa forma, disfarça a luta que se trava entre as forças tenebrosas, entre a porta do Inferno e a do Céu (conforme o solstício seja do inverno ou do verão), entre a Lua e o Sol – “Sol” que anuncia o Arcano que nomeia o livro.

A Lâmina explicita, portanto, essa caçadora celeste, essa divindade lunar (Artemisa, Diana, Hécate) – imagem que se aglutinará durante a leitura do livro, graças mesmo a esse simbolismo de trânsito, de passagem, de viagem heróica que o Arcano 18 encerra. Do plano iniciático da via úmida lunar nascerá a Feiticeira, a Maga e a Poetisa que, viajando em corpo etéreo (o “corpo cósmico” tão referido no volume) da Noite para o Dia, da Luz Noturna para a Luz Solar que o Arcano 19 encerra, buscará despertar, com suas palavras, aquilo que dorme. Aliando-se ao Sol, ao Fogo Criador e à Pedra Filosofal próprias do Arcano 19, a Poetisa procurará representar o Centro da Consciência capaz de abranger e dar voz ao Universo.

É sob o sortilégio dessa Lâmina que passo a ler os poemas de Renata Bomfim, que se dividem em sessenta e um organizados em torno de cinco seções: “Arcano Dezenove”, “Memória”, “Quintessência”, “Onde os tempos se encontram” e “Rituais”.

No primeiro, a predominância da metalinguagem é palpável: interessa especular sobre o papel do poeta, da letra, da poesia, da escrita e da sua missão, enfim, sobre os milagres da palavra. O mundo é visto como manifestação lingüística e permanente festa (“Dionísio”) e a poesia, “palavra/dando cria” (“Poesia I”), compreende milhares de existências simultâneas, aquilo que é comum e é diverso, lugar onde triunfa a palavra insurrecta, espaço oculto, messiânico, árvore que deve brotar por todo o canto.

Acerca da poesia, portanto, o processo de mutação do estranho e distante em componente familiar e doméstico (a poesia se encontra, afinal, em sua Casa) é obtido por um regime de deglutição, exposto com muita graça e ironia neste pequeno poema intitulado “Poesia II”:

O grego e o latim

encharcam a minha língua

com veneno,

produzindo a poesia

que desce redondilha

garganta abaixo. (p.30)

Veja-se que o nobre e o alto (o “grego” e o “latim”), pressentidos enquanto “veneno” para a “língua” (esse órgão de degustação), uma vez assimilados pela “garganta” que os vai emitir a fim de transformá-los em “poesia” - resultam em “redondilha”, ou seja, na justa medida do... feminino. Assim, é de se convir, que a poética daí criada (e derivada das línguas primordiais do português) é popular, buscando apresentar uma outra versão das formas ilustres (certamente pertenças do mundo masculino). Estas, uma vez ingeridas forçadamente (visto que descem redondas garganta abaixo – e esse é o trocadilho com o qual o poema brinca), acabam alterando por inteiro a forma com que foram impostas à garganta. A “redondilha” torna-se, portanto, uma conquista particular da Poetisa.

Todavia, homem ou mulher (Ruben Dario e Florbela são o casal guardião dessa poesia), o poeta está sempre à mercê de tudo. É muitos e ninguém, é tudo e nada, é um paradoxo; alimenta-se de si e dos outros, é um ser que se perpetua através dos tempos, que se encarna em alheios, em busca do mistério da outridade. Assim, a letra é concebida como a Eva primordial, cuja pena é, na verdade, a palavra escrita, em seu trabalho de nomeação e perpetuação do mundo. Eis como o “Poeta Adâmico” cogita tal origem:

No paraíso da linguagem,

O poeta, com desvelo,

Inclina-se para amar a letra.

Nesse momento, ele é Adão,

Ansiando companhia, à espera

De que a fêmea se submeta.

Cometidos os pecados,

Do outro lado, a pena:

“Ganharás o pão com trabalho,

Com o suor de tuas mãos,

E também, com teus pulmões,

Rins, fígado e coração”.

O homem se pega em desatino,

A sua vida será labor e sacrifício,

Mas estava escrito:

Havia de ser assim

Para que pudesse seguir nomeando

As coisas e povoando a terra

Com Abéis e Cains. (p.20)

Na segunda parte de Arcano Dezenove, é a condição feminina e a biografia literária que assumem o primeiro plano. A tonalidade mística, que já se manifestara em “Nossa Senhora dos Raios Multicoloridos”, da primeira seção, reaparece aqui em “Saturnais: mito de origem”, e depois retornará abertamente em “Gente da Era da Luz”, poemas em que o Sol é reverenciado, como cabe ao Arcano que nomeia o livro e que, aliás, já havia transmutado a Poetisa no seu “cálice”, tornando-a depositária de todas as coisas diante de “um sol de sétima grandeza” (“Arcano Dezenove”). Tais poemas tendem a explicitar, assim, o ponto-de-vista do qual emana a crítica (a dita Consciência concernente ao referido Arcano) aos destemperos da atualidade, à destruição do planeta, que peças como “Guernica Hoje”, “Tara moderna”, “Humanóide”, “Eu Canto a Pátria-Planeta”, “Terra Santa”, etc, exercem.

É deste naipe a bandeira ecológica da Poetisa, batalha socioambiental que ganha fortes raízes do misticismo oriental, que transparecerão, em seguida, em poemas como “Cristo Cósmico”, “Terra Santa”, “Prece”, “Terra”, “Semear”, etc. Veremos, em seguida, de que maneira esta temática se entrelaça com o feminino para adensar a imagem de mulher, a que a Lâmina faz referência.

A condição feminina, que se ampara em Florbela Espanca (em poemas diretamente afeitos à portuguesa ou que implicitamente passam por sua obra), é identificada como “Cicatriz” – nome da peça que inaugura essa “Memória“. Mas esse gênero também fica apontado na imagem daquela que se faz acompanhar do gato, animal que é perfeição, que é a letra chet (“Gato”), letra cujo desenho encerra a Casa cerrada (aberta somente por baixo), felino cuja falta, no momento da partida, torna os “poemas encharcados” (“Despedida”) e faz da Poetisa apenas a sua “humana de estimação” (“Gato Rei”).

Feiticeira, essa mulher é também telúrica, é vegetal (“Orgânica”), é natureza: pedra, água, planta, paz, solidariedade, novo tempo – lugar onde o saber, ao contrário do Éden, jamais será proibido (“Não Materialidade”). Por tudo isso, a poesia de Renata se apresenta como uma das maneiras de resgatar aquelas mulheres que foram silenciadas pelo tempo (é o que nos assegura o poema “Brutal Singeleza”, de “Quintessência”), procedendo, assim, a uma espécie de justiça poética. De maneira que também as prostitutas têm aqui voz (“Há Vagas”). Em “Humanidade Nata” (de “Onde os tempos se encontram”, a quarta parte do livro), o buraco aberto no tempo e no espaço, pela flauta que soa, permite que a Poetisa viaje nas asas do vento, numa espécie de transmigração, e se torne muitos, “Ulisses nos braços de Circe”,

Eva cantando triste

(desejosa) pela fruta de que tanto gosta.

Ah! Se eu pudesse beber do Letes

e ser inaugural como a alvorada,

ser Divina,

e não essa fêmea bruta,

mulher em construção,

alterada

e mesquinha

trazendo a humanidade nata. (p.77)

O desejo de conter em si essa “humanidade”, ato simbólico do Arcano 19, lhe dá a sensação e a certeza de que “somos flechas,/mirando o infinito.” (p.78). Mas, para tal, será preciso “libertar a borboleta aprisionada”, buscar a luz que ainda não se conheceu – muito embora tais anseios não sejam senão sonhos (“Efeito Borboleta”).

De resto, a mulher é ao mesmo tempo aquela que, morta, retorna ao lugar de onde veio (“Post Mortem I”), que prefere o inferno à sujeição, e que não abdica da irreverência: a Poetisa importa-se apenas com o risco de não arriscar (“Poema Inacabado”). Fala-se então daquela cujos pés e mãos constroem o seu próprio buraco (“Versos de Orgulho e Solidão”), irreverência e marotice ainda ilustradas pela imagem da não-convencional, daquela que confessa abertamente o quanto aprecia fazer “uma cena” (Post mortem II)...

A sublinhada erótica, já entrevista na Figura da Lâmina da capa deste livro de poemas, está em tudo e mais acintosamente em “A Fúria de Eros” e em “Antes do Éden”, respectivamente de “Quintessência” e de “Onde os tempos se encontram”, terceira e quarta partes da obra. Em “Carnaval” (de “Quintessência”), o corpo fica autorizado e a mulher se entrega à orgia, sendo quem não é; e a carne é santa e “vibra e goza até o pranto”. O Carnaval se revela, então, uma forma coletiva de existir. Por fim, é na derradeira secção, em “Rituais”, que a Maga, a Feiticeira e a Poetisa se mostram contraditoriamente una e plural. É ali também que a defensora do planeta, a erótica e a mística se consubstanciam num “Transluzir” – numa “aquarela”:

O que fui, sou e serei

Aquarela! (p. 61)

É nos rituais que as mensagens poéticas se tornam mais palpáveis – e mais úteis! – e é neles que, por meio do preceito, são transferidas aos leitores. As infusões, os encantamentos, os patuás, os filtros para o amor e para a liberdade universal, salvaguardando sempre o respeito à natureza (sequer a erva daninha pode ser arrancada; a poesia é vegetal), misturam curiosidades, em torno de plantas, com receitas certeiras para curar dores, acordar espíritos, lançar bênçãos e... “olhares de secar pimenteira” (“Desejos de Feiticeira”). Eis onde a vegetação do Arcano 18 encontra a sua síntese e desemboca na peleja ecológica. “É preciso coragem para abraçar/o inesperado”, para pluralizar - é o que nos ensina, por exemplo, a “Cerimônia do Chá”. Dúbia, hesitante entre a treva e a luz, entre o Arcano 18 e o 19, entre a “afasia” e o “estro”, entre espalhar imprecações ou bênçãos, a Poetisa descobre – e nos ensina! - que há “uma fissura” por onde o tempo espia. Afinal, a “alma”, essa dádiva de Luz do Arcano 19, só na arte se encontra (“Entre a Luz e a Escuridão”)!

Notas:

1 A propósito, remeto o leitor a dois textos meus que apreciam essa questão: “Anotações de uma bibliógrafa: Baudelaire e o esoterismo” (Remate de Males. Campinas: Unicamp/IEL, 1984), e “Surrealismo e esoterismo: a alquimia da poesia”. (O Surrealismo (org. Jacob Guinsburg e Sheila Leirner). São Paulo: Perspectiva, 2008).

2 Não esquecer que Julia Kristeva consagra um capítulo a Nerval em sua obra Sol negro – depressão e melancolia (Rio de Janeiro: Rocco, 1989, trad. Carlota Gomes), título que, aliás, toma emprestado ao poema em questão.

3 Claudio Willer refere esta retomada esotérico-literária da parte de Breton, num texto publicado no número 59 de Agulha. Revista de Cultura, de setembro/outubro de 2007, intitulado “André Breton, Nadja e Gérard de Nerval: estranhas relações”. A propósito, leia-se também sua elucidativa e extraordinária obra Um obscuro encanto. Gnose, gnosticismo e poesia moderna (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010)

4 BOMFIM, Renata - Arcano Dezenove .Vitória: Flor&Cultura Editora, 2011, 100 páginas.

5 Não esquecer que o modelo que compõe a referida Lâmina congrega, numa só, a consulente e a Figura do Arcano, ou seja: aquela que consulta e a que é consultada que, por fim, são a mesma, visto que é a imagem da poetisa a que a capa ostenta.

 


Maria Lúcia Dal Farra é poeta, critica literária e professora de Literatura da UFSE. Autora da obra o narrador ensimesmado e Ganhadora do Jabuti de Poesia 2013. 

“Como cartas escritas” un poemario que le canta al alma (Por Iván Escobar )

La escritora, poeta y pintora costarricense Ligia Calderón Valerín, presentó el pasado 18 de octubre su poemario: “Como cartas escritas”, un canto al alma. El libro cuenta con un diseño propio y tiene plasmada una de sus obras pictóricas, el mismo fue bien calificado por un selecto grupo de escritores, poetas y periodistas de 18 naciones del mundo que participaron en la presentación virtual.

Ligia Calderón nació en 1955 en Cartago, Costa Rica, sus estudios en arte los realizó en La Casa del Artista, en San José. Escritora, poeta y pintora de mucha trayectoria. Sus inicios en las artes plásticas están presentes desde muy pequeña, y la escritura la comenzó a cultivar desde los 17 años.

Entre sus publicaciones destacan: “Un Grito del Alma”, en 2014; libro de Motivación-Autoayuda; “La Percepción del Amor”, que es una obra inédita; y con Editorial Kuélap, de Lima, Perú, publicado en 2021, “Como cartas escritas”, un poemario cuya temática central “es la motivación…el conocerse uno mismo”, destacó la autora durante la presentación virtual. La publicación se dio gracias al apoyo del director general de Ediciones Kuélap, Elías Mondragón Herrera, quien destacó la importancia que en América Latina se publiquen nuevas letras. Comparto el víde de la presentación de este libro: 


Calderón dijo que cuando hay bloqueo en la escritura, la pintura le ayuda a encontrar inspiración, igualmente le sucede en la pintura. Ambas habilidades artísticas le han permitido desarrollar una sensibilidad por la vida, por los demás, y ser un ejemplo para sus hijas, su esposo, y sus amistades. Además una inspiración para otros artistas, a quienes motiva a conocerse, a explorarse como personas y desde ahí consolidar sus obras. Es así, que su trabajo plástico también está incluido en la sección de Costa Rica, de la Antología del Bicentenario de Centroamérica, (Ayame Editorial, México 2021).

“Representa el mayor regalo que el ser humano puede recibir, porque con cada verso, el escritor desnuda su alma y envuelve con sus brazos al lector para elevarlo y llevarlo lejos de la realidad. Para cuando el lector ha finalizado su viaje y cerrado la última página del poemario, siente que el mundo, a veces, regala esperanzas de la forma más inesperada”, destacó María Beatriz Muñoz Ruiz, desde España.

Por su parte, la poeta y locutora italiana, Elisa Mascia, afirmó que “cada uno de nosotros, que se ocupa de sus necesidades internas y del crecimiento personal que representa la verdadera esencia de la vida, ciertamente también tiene la necesidad de sentirse en sintonía con los demás, de relacionarse con el prójimo y es fundamental para quienes tienen una sensibilidad. Alma no para hablar con el ego sino para ampliar el diálogo con las almas. El arte, la poesía son los pilares para encontrarnos y compartir con las almas del universo. En este caso concreto, una colección de poemas tiene el efecto de un verdadero milagro para hacer nuevas experiencias, nuevos conocidos, confrontar y crecer juntos”.

El escritor nicaragüense radicado en Costa Rica, Carlos Javier Jarquín, coordinador de la presentación y prologuista de la obra, resaltó la importancia de presentar la obra, que reúne escritos que motivan a la vida, a la esperanza y sobre todo a que el mundo sea más sensible.

“En mi sentir, cualquier manifestación del arte, más, todavía, la literaria y en particular la plasmada en versos, es la sublime expresión del sentimiento humano: tristeza o alegría, que solo se mitiga o ahínca al compartirlo, al dejarlo salir y fluir. De lo contrario, tal pasión se represa y el deslave, inexorable, suele ser, casi siempre, una tragedia que pudo ser evitada. Ahí la importancia de publicaciones 'Como cartas escritas' que, en efecto, lo que busca es satisfacer y aclimatar las necesidades internas del que llegue a 'beber' de sus páginas, cual vaso de agua que se topa el sediento a mitad del desierto de la vida, sobre todo, cuando, como la mayoría, viaja solo y cargado de melancolía”, expresó el escritor colombiano Wilson Rogelio Enciso.

En la presentación virtual participaron invitados especiales de Costa Rica, Nicaragua, Honduras, El Salvador, Panamá, Colombia, República Dominicana, Puerto Rico, Perú, Ecuador, Venezuela, Paraguay, Uruguay, Argentina, México; así como de Italia, España, Rumania, quienes coincidieron en la importancia de contar con una nueva obra literaria, y sobre todo ser parte del lanzamiento de la misma.

La moderadora del evento fue la escritora, cantautora y poeta mexicana Yared Ayala. El toque artístico y musical lo pusieron, Madeline Ramírez Méndez, Bayardo Quinto Núñez y Zayda Quinto Calderón quienes interpretaron bellas melodías.

Jarquín destacó que esta presentación representa la calidad de las y los escritores centroamericanos, y resaltó el apoyo de la editorial peruana, que creen en las propuestas artísticas que están emergiendo y poniendo en alto la región centroamericana.  Vídeo en el cual la poeta Ligia, menciona el nombre de todos los que la acompañaron en la presentación de su poemario: 

La obra ya está disponible en Perú, Costa Rica, y en Amazon.

 Sobre el autor de este artículo:

·      Iván Escobar es periodista, escritor, poeta, fotógrafo, gestor y promotor cultural salvadoreño. Miembro fundador de la Asociación de Arte y Cultura para el Desarrollo Social El Salvador Internacional (As-ARTE), y fundador del colectivo literario Cuicatcalli «Casa de los Cantos». Ha trabajado en prensa escrita por más de 20 años, colaborador en distintos medios digitales. Especialista en temas culturales. Fundador del blog: Puntos de encuentro.

23/10/2021

Misíon cumplida (por Mario Hernãn Ramirez)


Misión cumplida: evidentemente nos encontramos frente a un compromiso sumamente delicado, por cuanto este Bicentenario de la Emancipación Política de Centroamérica, no es más que una nueva alborada en el alma y el pensamiento de más de cincuenta millones de personas que habitamos este hermoso girón de tierra, que alcanza una extensión de más de quinientos veintidós mil kilómetros cuadrados, desde el istmo de Tehuantepec hasta la joven república de Panamá, incluyendo Belice.

El trabajo que ofrecemos, a nuestro juicio y de acuerdo con el contenido del pensamiento alto, sentimiento profundo y claridad del lenguaje, de quienes han tenido la enorme responsabilidad, como coordinadores de cada uno de los países representados, es muy significativo, pero la responsabilidad es mucho más grande para el coordinador general, que como un iluminado del Altísimo, logró germinar en la lucidez de su joven pensamiento, la hermosa idea de crear este portentoso libro que, discúlpennos el atrevimiento, desde ya podemos advertir que su presencia en el parnaso de las letras, es una de las obras que andando el tiempo, su prestigio y consecuente divulgación va creciendo, digamos por ejemplo, la Santa BibliaEl CoránLa Ilíada y la Odisea de Homero; El Quijote de la Mancha, de Cervantes y el Libro Rojo de Mao Tse Tung, lo que según datos fidedignos son los que mayor circulación voluminosamente hablando han tenido a través de la historia. Éste, con el sonoro nombre de Antología del Bicentenario de Centroamérica, será sin duda alguna, durante los próximos quinientos años y mucho más, al igual que los anteriores libros, el que tendrá mayores lectores, universalmente hablando; por eso e infinidad de razones más es que nuestro compromiso resulta sumamente delicado y, en consecuencia, habrá que escribirlo con pasión, abnegación y entrega total.

Como el espacio es corto, es preciso de entrada mencionar el nombre de este joven intelectual, de origen nicaragüense, residente en Costa Rica, periodista, escritor, poeta y columnista internacional, Carlos Javier  Jarquín, padre legítimo de esta monumental obra que para su edición contó definitivamente, con el apoyo inconmensurable de su leal amiga la ilustre dama, poeta, escritora y editora mexicana Ana María Ayala, directora general de Ayame Editorial, a quien habrá que rendirle las más expresivas gracias a perpetuidad.

Independientemente de lo anterior, permítanme el atrevimiento de mencionar a dos hondureños ilustres que con su participación intelectual y política en mucho han contribuido al desarrollo de este hermoso cinturón que sirve como eslabón para la unidad de los dos subcontinentes, América del Norte y la del Sur, me refiero al ínclito y egregio doctor José Cecilio del Valle, redactor del Acta de Independencia, quien en uno de sus momentos más solemnes concibió el pensamiento “en la escala de los seres el hombre es el más grande y en la escala de los hombres, el sabio es el primero”, mientras, más acá en el tiempo aparece la figura de un Álvaro Contreras, dicho sea de paso, suegro del bardo inmortal Rubén Darío, quien aparece como el tribuno de más altos quilates en la región, ya que su talento demoledor recorrió los cinco países que originalmente formaron la federación ístmica.

Esta obra, definitivamente genial, es portadora de un mensaje a la humanidad, de parte de una Centroamérica que abre sus ojos al mundo para presentarse tal cual es en su dilatada presencia desde su descubrimiento hace más de quinientos años, hasta la fecha en la que con los altos y bajos propios del desarrollo y la civilización humana, ahora y para siempre pasa a ocupar un sitio de mucha mayor atracción para los ojos de Europa, África, Asia, Oceanía y demás rincones del planeta, porque, su configuración geográfica, relativamente pequeña, a partir de ahora se transforma paradójicamente en un pequeño gran gigante que abre sus alas para expandirse por todo el globo, merced a la presencia de este libro que sin duda alguna marca un hito en la bibliografía universal.

Desde esta óptica veo mi participación con la honrosa designación de ser yo, quien rubrique con mi nombre este epílogo al cual he bautizado como “Misión cumplida”, porque creo categóricamente, que sí, sin ningún apoyo gubernamental y haciendo uso únicamente del genial pensamiento de su director o coordinador general, el joven intelectual Carlos Jarquín y demás participantes, se culminó exitosamente esta jornada histórica que no solo honra y enorgullece a quienes han hecho posible su edición, sino que se convierte en el mejor legado que no puede negarse, queda para la posteridad durante esta efeméride tan especial, de dos siglos, dos centurias, doscientos años, un bicentenario, 15 de septiembre de 1821-15 de septiembre de 2021.

Tegucigalpa, M.D.C., Honduras, C.A. Agosto, 2021

Mario Hernán Ramírez (n. 1934) es escritor, poeta, periodista, locutor e historiador hondureño. Presidente vitalicio “Consejo Hondureño de la Cultura Juan Ramón Molina”. Es miembro fundador del Colegio de Periodistas de Honduras (CPH); Pertenece a la Asociación de Prensa Hondureña (APH) desde hace más de 60 años; Academia Hondureña de Geografía e Historia, Unión Hondureña de Locutores (UHL);  Instituto Morazánico, Instituto Hondureño de Cultura Hispánica,  Asociación Nacional de Escritores de Honduras; Sociedad Literaria de Honduras (Soliho). Premio Álvaro Contreras, 2021. Premio a la trayectoria periodística otorgado por el Congreso Nacional, 2019. Premio Nacional de Literatura Ramón Rosa, 2017.

 


Visita ao Ateneo de Madrid, em busca de Rúben Darío.

 

Renata Bomfim em visita ao Ateneo de Madrid

Um #TBT cheio de saudade. Em 2013 estive em Madrid, na Espanha, e visitei o Ateneo, local onde o poeta Rubén Darío leu, pela primeira vez, o poema Salutación del optimistaEsse poema é um marco na história da literatura hispano-americana e do movimento modernista hispano-americano. Nessa visita estiveram comigo a amiga escritora e pesquisadora Karina Foringher e o amigo escritor e tradutor Pedro Sevilla de Juana.

Em 2014 finalizei a tese de doutorado intitulada "A Flor e o Cisne: diálogos poéticos entre Florbela Espanca e Rubén Darío", na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), analisando o poema acima citado e outros escritos de Rubén Darío e de Florbela Espanca. 

Esse percurso de pesquisa foi marcado por descobertas e desafios, acredito que amadureci como pessoa,  poeta e pesquisadora. É uma satisfação colher os frutos de um trabalho plantado com amor e dedicação. 

Em agosto de 2021 lancei o livro de poemas O Coração da Medusa, dedicado à Nicarágua. Essa obra é uma forma de agradecer tudo o que Darío e o povo nica fez e faz por mim, agradecer pelo carinho, pela atenção e parceria que, cada vez mais, aproxima mais poetas de língua hispânica do Brasil e poetas brasileiros da poesia hispano-americana.