23/01/2007

Nise da Silveira : Uma mulher extraordinária, uma inspiração


Em 1999 ingressei no universo da saúde mental por meio do programa CDSM/ UFES. Fui trabalhar como aluna extensionista na Oficina Terapêutica de Pintura do CAPS- Ilha de Santa Maria, oficina que em 2003 eu seria convidada para coordenar.
Muitos eram os desafios propostos por este novo trabalho, e logo ficou evidente a necessidade de estudar e de conhecer um pouco mais sobre os processos da psique, sobre psicopatologia e de que forma uma artista poderia atuar neste campo.
Sem maiores pretenções eu buscava uma forma de tornar minhas intervenções cada vez mais eficazes junto aos pacientes, ou pelo menos não lhes trazer nenhum prejuizo ao tratamento, ou seja, não fazer bobagem. Eu havia iniciado em 1998 um curso de formação em psicologia analítica Junguiana, o que ajudou bastante na compreensão da obra da Dra Nise, visto que ela é de orientação junguiana.
O trabalho da Dra Nise da Silveira me deu suporte teórico para entender um pouco mais sobre a psicose e as possibilidades de intervenção por meio das artes nesta clínica.
Em 2000 fui para o Rio de Janeiro fazer pós-graduação em Arteterapia e, num destes nestes maravilhosos giros que a terra dá, fui parar como estagiária dentro do Museu de Imagens do Inconsciente. Lá tive a possibilidade de assistir aos filmes do acervo do museu, participar de oficinas junto aos pacientes, ver o acervo com as pinturas de Fernando Diniz, as esculturas de Adelina, que emoção...
Não posso deixar de relatar o prazer de estar entre aproximadamente 200 gatos e alguns cachorros. Dra Nise além de inserir as técnicas artisticas na terapêutica, iniciou um trabalho que hoje é difundido em larga escala em paises onde a saúde é melhor desenvolvida, ela inseriu os animais como co-terapêutas. No seu livro O Mundo das Imagens ela conta como tudo começou quando encontrou uma cadelinha faminta no pátio do hospital. Dra Nise pegou a cadelinha e um interno se aproximou, ela perguntou-lhe se gostaria de tomar conta do animal e cuidar dela, ele respondeu que sim. Ela perguntou-lhe também como poderiam chamá-la e sugeriu o nome Caralâmpia, que aparece como seu apelido em Memórias do Cárcere, de Graciliano júnior. Dra Nise relata que os resultados terapêuticos da relação entre a cadelinha e o paciente foram surpreendentes, o que levou a ampliação da idéia.
Desde o primeiro contato que tive com os pacientes na oficina de pintura do CAPS percebi que meu caminho seria este, o campo da saúde mental e da arteterapia. Gostava tanto de estar entre os pacientes que num dado momento não tinha muita paciência com gente "normal", achava-os chatos, óbvios, mas isso ficou para traz, hoje consigo perceber que alguns se salvam.
Em 2003, fruto de um sonho, nasceu o Rosa Rubra Espaço Terapêutico, uma proposta de trabalho interdisciplinar que a cada dia cresce e revela o quanto é importante uma clínica mais integrada onde os saberes se complementem. www.rosarubra.com.br
Infelizmente o Museu de Imagens do Inconsciente é muito conhecido e conceituado no exterior, ou melhor é referencia,, e aqui no Brasil muitos alunos de psicologia, de artes, medicina, etc, nunca ouviram falar. Esperamos que este quadro extremamente patológico melhore.

Biografiada Dra Nise

Nise da Silveira nasceu em 1906 em Maceió, Alagoas. Formada pela faculdade de medicina da Bahia em 1926, dedicou-se à psiquiatria sem nunca aceitar as formas agressivas de tratamento da época, tais como a internação, os eletrochoques, a insulinoterapia e a lobotomia.
Presa como comunista, é afastada do Serviço Público de 1936 a 1944. Anistiada, cria em 1946 a Seção de Terapêutica Ocupacional no Centro Psiquiátrico Nacional de Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro, posteriormente conhecido como Centro Psiquiátrico Pedro II (CPPII).
Em 1952, funda o Museu de Imagens do Inconsciente, um centro de estudo e de pesquisa que reúne obras produzidas nos ateliês de pintura e modelagem. Por meio deste trabalho, introduz a psicologia junguiana no Brasil.
Alguns anos mais tarde, em 1956, mobilizando um grupo de pessoas motivadas pelas mesmas idéias, Nise realiza mais um projeto revolucionário para a época: a criação da Casa das Palmeiras, uma clínica destinada ao tratamento de egressos de instituições psiquiátricas, onde atividades expressivas são realizadas livremente, em regime de externato.
É reponsável pela formação do Grupo de Estudos C.G. Jung, do qual foi presidente desde 1968. Suas pesquisas deram origem, ao longo dos anos, a exposições, filmes, documentários, audiovisuais, simpósios, publicações, conferências e cursos sobre terapêutica ocupacional, com destaque para a importância das imagens do esquizofrênico. Foi também pioneira na pesquisa das relações afetivas entre pacientes e animais, aos quais chamava de co-terapeutas.
Como reconhecimento da importância de sua obra, Nise da Silveira recebeu condecorações, títulos e prêmios em diferentes áreas do conhecimento: saúde, educação, arte e literatura. Foi membro fundador da Sociedade Internacional de Psicopatologia da Expressão, com sede em Paris, França. Seu trabalho e seus princípios inspiraram a criação de Museus, Centros Culturais e Instituições Psiquiátricas no Brasil e no exterior.
Nise faleceu em 30 de outubro de 1999, na cidade do Rio de Janeiro.
No ano de 2000, o Centro Psiquiátrico Pedro II é municipalizado e em homenagem à fundadora do Museu passa a chamar-se Instituto Municipal de Assistência à Saúde Nise da Siveira.

Site do Museu de Imagens do Inconsciente- passa lá, faz uma visita

Um comentário:

Anônimo disse...

QUERIDA RENATA.. MUITO PRAZER EM ESTAR TE CONHECENDO..E, JÁ COM ALGUN TEMPO DE CONVIVÊNCIA. NOS GESTOS E NA FALA, ATITUDE E CORAGEM. DESCUBRO UMA PESSOA CADA DIA NOVA! COM TANTAS COISAS E PESSOAS ARRAIGADAS EM SEU TEMPO, COM MEDOS E COVARDIA..., SEU BLOGGER ESTÁ VOCÊ, CHEIO DE IDÉIAS E SENTIMENTOS. AMEI POR TUDO. JOVE