Seja bem-vindo(a). Este é um espaço pessoal onde, desde 2007, reúno poemas, ensaios e artigos de minha autoria, compartilhando também um pouco da minha trajetória como terapeuta junguiana e ativista ambiental. É um espaço aberto, para escritores(as) de várias partes do mundo.

23/01/2007

Quem gosta de bicho sofre...


É isso aí meu povo, a gente que gosta de bicho sofre muito nesta vida...
Estava colocando ração pra pretinha que fica lá no centro de Letras da UFES e um cabra passou e gritou:" eta esse gato no espeto", não pensei, pois se pensasse não responderia, lhe disse que bela iguaria não seria a mãe no mesmo espeto. Se me orgulho disso? claro que não, mas estou com o pavio curtinho, curtinho... Não sou boazinha, mas tenho uma certa humanidade...
na época do vest UFES deram uma paulada na cara de um gatinho branco da UFES que o bichinho não morreu na hora, mas vagou ferido e sofrendo, sem tirar outras barbaridades que com cada vez mais frequencia tomamos conhecimento.
Tem um cabra por aí, não sei o nome dele, que construiu uma palestra onde ele faz uma comparação entre o homem tipo cachorro e o homem tipo gato, nessa palestra ele baixa a lenha nos felinos, diz um monte de besteiras, coisas de quem não conhece os animais, e se conhece de quem não se responsabiliza pelo efeito de suas palavras.
Ele diz que o gato gosta da casa e não do dono, isso é uma maluquice, na natureza o gato é um animal territorialista, para ele é dificil mudar de lugar pois outros lugares são territorios de outros bichos, mas se adaptam bem a mudanças assim como nós, quando nos mudamos.
Diz também que o gato não ta nem ai para o dono, que não vem receber o dono na porta... isso mostra que ele ou nunca teve gato, ou se teve não foi capaz de cativar o bichano...
Vou contar pra vocês, eu morava numa casa e lá comecei a cuidar de uns gatinhos, logo, as pessoas descobriram que tinha uma "louca" que gostava de gato, e começaram a jogar ninhadas no meu quintal...
Cuidei de todos, dei muitos para doação, entre outras ações como levar ao veterinário, castrar para que não nascessem mais outros... mesmo assim eu tina por volta dos 40 gatos.
Quando eu chegava do trabalho, eles ficavam me esperando na entrada da rua e vinham atras de mim... era a coisa mais linda linda do mundo.... Diz que gato não é bicho amoroso?
Bem...
Ninguém precisa beijar o gato e nem alimentar , é so não fazer-lhe mal...
Voltando lá ao cara da palestra, o estigma que os animais sofrem, não só o gato, de que não pensam, de que não tem sentimentos, de que foram feitos apenas para serem alimentos para os humanos, são reforçados com as nossas ações, com as nossas palavras, com o nosso silêncio.
se queremos uma sociedade mais justa, mais humana, mais equilibrada, precisamos começar por algum lugar, quem não tem a capacidade de respeita e quem dirá amar um animal, jamais será capaz de respeitar e nem de amar um outro ser humano.
Portanto, não se calem, existe lei de defesa dos direitos dos animais, só não funciona pois não cobramos as autoridades.Depois conto pra vocês o episódio da corrocinha que entitularei "O dia que toquei pedra na carrocinha e xinguei até a quarta geração de seus ocupantes" , mas lógico que isso é uma metáfora. Agora que sou mestranda de Letras estou abusando da tal da "licença poética" ehehehehe
Essa gatinha da foto eu cliquei na biblioteca da UFES.
Aos que amam os animais como eu, um presente,
Ode ao gato,
e todo o meu respeito e consideração.

Bichos polêmicos sem o querer, porque sábios, mas inquietantes, talvez por isso. Nada é mais incômodo que o silencioso bastar-se dos gatos. O só pedir a quem amam. O só amar a quem os merece.
O homem quer o bicho espojado, submisso, cheio de súplica, temor, reverência, obediência. O gato não satisfaz as necessidades doentias do amor. Só as saudáveis.
Lembrei, então, de dizer, dos gatos, o que a observação de alguns anos me deu. Quem sabe, talvez, ocorra o milagre de iluminar um coração a eles fechado? Quem sabe, entendendo-os melhor, estabelece-se um grau de compreensão, uma possibilidade de luz e vida onde há ódio e temor?
Quem sabe São Francisco de Assis não está por trás do Mago Merlin, soprando-me o artigo? Já viu gato amestrado, de chapeuzinho ridículo, obedecendo às ordens de um pilantra que vive às custas dele? Não! Até o bondoso elefante veste saiote e dança a valsa no circo.
O leal cachorro no fundo compreende as agruras do dono e faz a gentileza de ganhar a vida por ele. O leão e o tigre se amesquinham na jaula. Gato não. Ele só aceita uma relação de independência e afeto. E como não cede ao homem, mesmo quando dele dependente, é chamado de arrogante, egoísta, safado, espertalhão ou falso.
"Falso", porque não aceita a nossa falsidade com ele e só admite afeto com troca e respeito pela individualidade. O gato não gosta de alguém porque precisa gostar para se sentir melhor. Ele gosta pelo amor que lhe é próprio, que é dele e ele o dá se quiser.
O gato devolve ao homem a exata medida da relação que dele parte. Sábio, é espelho. O gato é zen. O gato é Tao. Ele conhece o segredo da não-ação que não é inação. Nada pede a quem não o quer. Exigente com quem ama, mas só depois de muito certificar-se. Não pede amor, mas se lhe dá, então ele exige.Sim, o gato não pede amor. Nem depende dele. Mas, quando o sente, é capaz de amar muito. Discretamente, porém sem derramar-se.
O gato é um italiano educado na Inglaterra. Sente como um italiano mas se comporta como um lorde inglês.Quem não se relaciona bem com o próprio inconsciente não transa o gato. Ele aparece, então, como ameaça, porque representa essa relação precária do homem com o (próprio) mistério.
O gato não se relaciona com a aparência do homem. Ele vê além, por dentro e pelo avesso. Relaciona-se com a essência. Se o gesto de carinho é medroso ou substitui inaceitáveis (mas existentes) impulsos secretos de agressão, o gato sabe. E se defende do afago. A relação dele é com o que está oculto, guardado e nem nós queremos, sabemos ou podemos ver. Por isso, quando surge nele um ato de entrega, de subida no colo ou manifestação de afeto, é algo muito verdadeiro, que não pode ser desdenhado. É um gesto de confiança que honra quem o recebe, pois significa um julgamento.
O homem não sabe ver o gato, mas o gato sabe ver o homem. Se há desarmonia real ou latente, o gato sente. Se há solidão, ele sabe e atenua como pode (ele que enfrenta a própria solidão de maneira muito mais valente que nós). Se há pessoas agressivas em torno ou carregadas de maus fluidos, ele se afasta. Nada diz, não reclama. Afasta-se. Quem não o sabe "ler" pensa que "ele não está ali". Presente ou ausente, ele ensina e manifesta algo. Perto ou longe, olhando ou fingindo não ver, ele está comunicando códigos que nem sempre (ou quase nunca) sabemos traduzir.
O gato vê mais e vê dentro e além de nós. Relaciona-se com fluidos, auras, fantasmas amigos e opressores.
O gato é médium, bruxo, alquimista e parapsicólogo. É uma chance de meditação permanente a nosso lado, a ensinar paciência, atenção, silêncio e mistério.
O gato é um monge portátil à disposição de quem o saiba perceber.Monge, sim, refinado, silencioso, meditativo e sábio monge, a nos devolver as perguntas medrosas esperando que encontremos o caminho na sua busca, em vez de o querer preparado, já conhecido e trilhado.
O gato sempre responde com uma nova questão, remetendo-nos à pesquisa permanente do real, à busca incessante, à certeza de que cada segundo contém a possibilidade de criatividade e de novas inter-relações, infinitas, entre as coisas.
O gato é uma lição diária de afeto verdadeiro e fiel. Suas manifestações são íntimas e profundas. Exigem recolhimento, entrega, atenção. Desatentos não agradam os gatos. Bulhosos os irritam. Tudo o que precise de promoção ou explicação, quer afirmação. Vive do verdadeiro e não se ilude com aparências. Ninguém em toda natureza aprendeu a bastar-se (até na higiene) a si mesmo como o gato!
Lição de sono e de musculação, o gato nos ensina todas as posições de respiração ioga. Ensina a dormir com entrega total e diluição recuperante no Cosmos. Ensina a espreguiçar-se com a massagem mais completa em todos em todos os músculos, preparando-os para a ação imediata.
Se os preparadores físicos aprendessem o aquecimento do gato, os jogadores reservas não levariam tanto tempo (quase 15 minutos) se aquecendo para entrar em campo.
O gato sai do sono para o máximo de ação, tensão e elasticidade num segundo. Conhece o desempenho preciso e milimétrico de cada parte do seu corpo, a qual ama e preserva como a um templo.Lição de saúde sexual e sensualidade. Lição de envolvimento amoroso com dedicação integral de vários dias.
Lição de organização familiar e de definição de espaço próprio e território pessoal. Lição de anatomia, equilíbrio, desempenho muscular. Lição de salto. Lição de silêncio. Lição de descanso. Lição de introversão. Lição de contato com o mistério, com o escuro, com a sombra. Lição de religiosidade sem ícones.Lição de alimentação e requinte. Lição de bom gosto e senso de oportunidade. Lição de vida, enfim, a mais completa, diária, silenciosa, educada, sem cobranças, sem veemências, sem exigências.
O gato é uma chance de interiorização e sabedoria posta pelo mistério à disposição do homem."

Nenhum comentário: