14/06/2008

Literatura produzida no Espírito Santo: Achilles Vivacqua (por Andressa Nathanailidis)


Resumo de artigo apresentado por Andressa Nathanailidis no III Seminário sobre o autor capixaba- Bravos Companheiros e Fantasmas (dia 13/ 06/ 2008, mesa 16- 16:00h- Sala Guimarães Rosa)


Achilles Vivacqua nasceu no dia 02 de janeiro de 1900, na cidade de Rio Pardo (ES), atual Muniz Freire. Filho de Etelvina e Antônio Vivacqua, era descendente de italianos e fazia parte da primeira geração de um grandioso grupo de 15 filhos: composto por nove mulheres e seis homens.
Aos 20 anos de idade, foi acometido pela tuberculose e então mudou-se para Belo Horizonte, onde pretendia encontrar a cura para o seu mal.
Felizmente, a doença não o impediu do exercício literário. Na capital mineira, logo o escritor juntou-se a outros intelectuais da cidade. Sua residência, inclusive, tornou-se conhecida por atuar enquanto palco de reuniões sociais que reuniam a intelectualidade mineira. O ambiente de cultura e saber ficou conhecido como Salão Vivacqua e contava com a presença de assíduos freqüentadores, como: Carlos Drummond de Andrade, Pedro Nava, Abgar Renault,dentre outros.
Em 1927, Achilles Vivacqua colaborou com a Revista Verde, de Cataguases (publicação de caráter interiorano, porém que conservava certa agressividade. Muitas vezes, ao publicar nesta revista, Achilles fazia uso do pseudônimo Roberto Theodoro).
Neste mesmo ano, também atuou como redator chefe da revista Cidade Vergel e foi redator-secretário da Semana Ilustrada, periódico que divulgava ‘matéria urbana belorizontina’ e promovia projetos culturais, como o da criação do Centro de Cultura Teatral Mineira, em 1927.
A Semana Ilustrada representou um importante espaço no desenvolvimento da carreira de Achilles Vivacqua. Porém, foi no ano de 1928 que o escritor consagrou-se enquanto tal. Isso porque, neste ano, foi lançado seu primeiro e único livro: Serenidade. Dedicado à memória da avó paterna, dona Margarida, a obra reúne seis textos poéticos, de tamanho mediano. São eles Arrebalde, Noturno de Belo Horizonte, Frade de Saburgo ; Serenidade, Sentimental e Peregrino do Sonho.
De uma maneira geral, o livro reflete o olhar bucólico de Achilles, sobre a cidade de Belo Horizonte; seu encanto pela paisagem (geralmente florida) e saudosismo face às recordações da infância. Em Noturno de Belo Horizonte, o escritor declama seu olhar admirado, sobre o anoitecer capital mineira: “Bello Horizonte adormece, numa atitude comovida, aureolada nas longas tranças da Serra-do-Curral, onde a lua vae Subindo, como um Trepa Moleque de Marfim” (VIVACQUA, 1997, p.30).
No ano seguinte à publicação de Serenidade, o jornal Estado de Minas lança o suplemento Leite Criôlo, sob a direção de Achilles Vivacqua, João Dornas Filho, e Guilhermino César.
De linguajar fácil, Leite Criôlo reunia intelectuais filiados ao movimento antropofágico de Oswald de Andrade. O suplemento era irreverente e defendia o ultranacionalismo, através da exaltação à existência do negro. Em seu lançamento, no dia 13 de maio de 1929, o suplemento trazia um pitoresco editorial, assinado por Aquiles Vivacqua. O texto destacava o caráter extorsivo da colonização lusa, enquanto exploradora de negros e índios e propunha a mudança desse quadro, marcado pela cultura da escravidão.
A atuação em Leite Criôlo proporcionou a Achilles Vivacqua a oportunidade de publicar seus escritos na revista Antropofagia. Em carta remetida por Antônio Alcântara Machado, Achilles Vivacqua recebeu o honroso convite de colaboração, que resultou nas seguintes publicações: Indiferença, no nº 3 e Dança do caboclo, no nº 10. Posteriormente publicou, também, o artigo A propósito do homem antropofágico, que saiu no Diário de São Paulo, em 1º de maio de 1929.
Enquanto viveu, Achilles Vivacqua agarrou com unhas e dentes os propósitos da antropofagia; difundindo os ideais oswaldianos em revistas e jornais de todo território nacional. Além das já citadas, participou, também das revistas Phenix, Para Todos, Careta, Fon-Fon, além dos jornais Diário de Minas, Folha de Minas, Correio Mineiro, etc.
No Espírito Santo, inclusive, após a inauguração da sessão De Arte e De Literatura, do jornal Diário da Manhã, Achilles publicou o texto Convite, através do qual incitava todos os leitores a promoverem uma mudança social, de forma que pessoas da raça negras não estivessem mais fadadas à condição marginal.
Assim como o alagoano Jorge Lima (1893- 1953), autor da obra Poema Negro, e a capixaba Haydée Nicolussi (1905-1970), autora do poema Zabumba; Vivacqua registrou na imprensa, e também fora dela, sua admiração pelo povo afro-descendente; descrevendo seus hábitos, sua sina e história. Prova disto é um dos originais que encontrei, intitulado Bailarina de Macumba. Trata-se de um poema inédito, acerca do ritual religioso negro. Em cada estrofe, o poema expõe toda a musicalidade, crença, e, sobretudo, beleza negra, muitas vezes escondida nas fronteiras de um povo; fadado à marginalidade social.
Ao longo do poema, Achilles menciona como se dá o “soluçar conquiquo dos negros” classificando-o como um “brando coro que dentro da noite vai caindo no soturno bojo do urucungo”. E, neste contexto sombrio, eis que surge a figura da mestiça que, “pelo chão batido do mocombô” e “rodando pelas pontas dos pés”, dança em “rápidos movimentos”, “como um piorrão”; destacando-se, também, a presença do “pai-de-santo”, que caminha de “braços erguidos para o céu”, e lida com elementos típicos do candomblé, como a “galinha preta” e os “macabros orixás”.
Infelizmente, a doença não permitiu que sua carreira de escritor se estendesse em maior grau. Achilles Vivacqua acabou por falecer em dezembro de 1942; vítima da tuberculose.
O corpo do escritor está enterrado no cemitério do Bonfim, em Belo Horizonte. No túmulo, está a última homenagem do autor à própria mãe: o poema Minha última oferenda a ti. Esculpido conforme vontade pré-designada, por Achilles.

“Colhe, na palma branca,
Da tua mão, enquanto é tempo, estas lágrimas que
Brotam no canto dos meus
Olhos. Receio que elas se derramem pela minha face
E se percam, para sempre, na poeira, antes que tu consigas
Ver a tua imagem debruçada
Sobre o brilho polido delas...
A tua imagem que é a forma
Da minha vida...Colhe-as
Na palma quente da tua
Mão, sem demora ó Mãe.
Como minha última
Oferenda a ti...”
Andressa Nathanailidis é Músicista e Jornalista. Especialista em Estudos Literários pela UFES. Mestranda em Estudos Literários (UFES).

4 comentários:

Luis Eustáquio Soares disse...

e aí, renata, a que abraça os acontecimentos, dilatando-os, gratuitamente, com paixão, participação e delicadeza. muito bem, moça.
b
luis

meus instantes e momentos disse...

foi muito bom conhecer seu blog, voltarei.
Maurizio

Anônimo disse...

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§campos disse...

Adorei a historia de Achilles Vivacqua , mas fiquei comuma pequena duvida.Achilles Vivacqua utilizou da macumba como meio de cura para sua doença "TUBERCULOSE".rituais orixas? Obgd!!!