08/03/2010

metapoesia

Serão meus os versos que escrevo,
ou apenas palavras- frags que conjugo e organizo?
Serão, estas palavras-setas, partes de mim que desconheço?
A poesia que gesto é embate entre desejos, é utopia,
é também, filosofia básica: de onde vim, para onde vou?
Era eu ou a era a letra a esgaçar-se noutros tempos?
Será que a poesia do século XVI também era minha?
Sonhos e contos da carochinha soam para mim tão verdadeiros
vejo os rostos, sinto os cheiros, dialogo com reis, rainhas,
observo os elementais dando o tom da natureza.
São os amigos secretos dessa contadora de histórias
que recria o próprio mundo, esse cinema mudo em preto e branco.
Eu amazona, lanço imagens-palavras- setas
para quem quiser adivinhar, buscando atingir sem pedir licença.
Será antipoesia desejar gestar sentidos desconexos?
Quem se habilita a desvendar o mistério de ser outro?
Quem se habilita a ser eu noutro corpo?
A ser paralelo, a unir versos e criar super novas?
A arriscar a vida rabiscando folhas em branco,
garatujando e re-criando o verbo?
metapoesia.

Um comentário:

Carla disse...

"Serão meus os versos que escrevo...? Será que a poesia do século XVI também era minha?..."

As palavras são como filhos adultos, vivem independentes do criador e passam a ser também um pouco daqueles que se 'enamoram' delas.

Belíssimo texto!