Seja bem-vindo(a). Este é um espaço pessoal onde, desde 2007, reúno poemas, ensaios e artigos de minha autoria, compartilhando também um pouco da minha trajetória como terapeuta junguiana e ativista ambiental. É um espaço aberto, para escritores(as) de várias partes do mundo.

13/09/2010

O pisca-pisca e o ensino da Literatura Portuguesa na Universidade de Varsóvia

«O drama a é a espressão literária mais verdadeira do estado da sociedade.» Almeida Garrett, Memória ao Conservatório Real (1843)

A prática (no sentido primordial do termo) da Literatura Portuguesa no Instituto de Estudos Ibéricos e Iberoamericanos da Universidade de Varsóvia e no seu Departamento Luso-Brasileiro criado em 1977 solidifica-se na actividade do pisca-pisca, i. e., do Grupo de Teatro Português da Universidade de Varsóvia (GTP UV; http://iberystyka-uw.home.pl/content/view/160/93/lang,pt/) e na modernização de textos literários. Este grupo de teatro universitário foi fundado no ano lectivo de 1997/98 e tem servido, até hoje, no apoio à aprendizagem de Português Língua Estrangeira. A Literatura Portuguesa continua a ter, também, a sua presença muito bem marcada no pisca-pisca. Por exemplo, no ano lectivo 2001-2002 encenou-se uma comédia romântica A Farsa de Sónia Pereira, baseada na Farsa de Inês Pereira de Gil Vicente. No cartaz do GTP UV, apareceram, entre outros: O Auto da Barca do Inferno e o Auto da Índia do Mestre Gil, Uma História Sem Camisa de A. Pires Cabral, Antes de Começar de Almada-Negreiros, uma adaptação do folhetim Maria! Não me mates que sou tua mãe! de Camilo Castelo Branco, e, na época de Junho – Dezembro de 2007 um Sorteio da Literatura Portuguesa, uma graciosa revista dos maiores mestres da mesma, desde D. Dinis até Fernando Pessoa cujos heterónimos passaram a jogar a bola no desfecho da última cena. Sem postergar Os Filhos do Facebook, uma última produção teatral nossa de livre invenção, realizada em Junho de 2010. Optou-se, destarte, pela continuação da encenação de comédias sendo assegurada, a excelente reacção do público. E pela mais engenhosa combinação do ensino e da prática da Literatura Portuguesa. Deixámos de reflectir sombras do talento literário lusitano numa caverna universitária, mas sim – esperemos que sim – contribuimos para a posterioridade engenhosa pela e com a Língua e Literatura Portuguesas na Polónia. O resultado esperado deste processo será, no nosso entender, um estudante adulto polaco, falante de Português (na versão continental ou brasileira) e leitor activo da Literatura Portuguesa, capaz de analisar obras de autores lusófonos (também no palco), traduzi-las para polaco e enquadrá-las no horizonte dos seus conhecimentos de cultura.


Acreditamos, pois, que «o drama é a expressão literária mais verdadeira do estado da sociedade; a sociedade de hoje ainda se não sabe o que é, o drama ainda se não sabe o que é: a literatura actual é a palavra, é o verbo, ainda balbuciante, de uma sociedade indefinida, e contudo já influi sobre ela; é, como disse, a sua espressão, mas reflecte a modificar os pensamentos que a produziram», citando as imortais palavras de Almeida Garrett da Memória ao Conservatório Real (lida em 6 de Maio de 1843), a despeito de uma opinião alheia que possa afirmar injustamente que «na Polónia nunca chegou a haver teatro português» (para parafrasear as palavras iniciais da Introdução a Um Auto de Gil Vicente do mesmo autor). Chegou, sim, e o pisca-pisca, o grupo de teatro português na universidade de Varsóvia continua a retratar os interesses, as veleidades e as obsessões da comunidade estudantil lusofalante, cada vez mais numerosa na Polónia. Sem exageros, podemos concluir que o drama português é a expressão mais verdadeira do estado da sociedade estudantil na Polónia; a sociedade que hoje sabe cada vez melhor o que é! E assim tem que ser, e assim será. Levante-se o pano.

Grupo de teatro Pisca-pisca

Anna KALEWSKA é Professora Associada do Instituto de Estudos Ibéricos e Ibero-Americanos da Universidade de Varsóvia, Polónia, “doutora de segundo grau (dr. hab.)”, segundo o estatuto da carreira docente polaco. É investigadora quer no âmbito da cultura lusófona, da literatura e do teatro de expressão portuguesas, quer no âmbito da literatura comparada. Publicou dois livros, Camões, czyli tryumf epiki (Camões, ou o triunfo da épica), 1999, e Baltasar Dias e as metamorfoses do discurso dramatúrgico em Portugal e nas Ilhas de S. Tomé e Príncipe. Ensaio histórico-literário e antropológico, 2005, ambos na Editora da Universidade de Varsóvia. Traduziu, entre outros, As Naus de António Lobo Antunes, Editora WAB, Varsóvia 2002. Estudou em Portugal com bolsas do Instituto Camões e da Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa. Participou em colóquios e congressos nacionais e internacionais. É vogal da Associação Internacional de Lusitanistas (A.I.L) e membro da CompaRes – Associação Internacional de Estudos Ibero-Eslavos em Lisboa. Publicou mais do que uma centena de artigos e trabalhos de investigação e de inspiração literárias, em polaco e em português, em revistas polacas, portuguesas (Diacrítica, Braga; Revista de Letras, UTAD), brasileiras (Projeções, Curitiba) e na Revista da A. I. L. VEREDAS. Vive em Varsóvia.
Quero agradecer A professora Anna por compartilhar conosco esta experiência e ao amigo Fábio Mário,  correspondente especial do Letra e Fel em Portugal.

Nenhum comentário: