"máquina de guerra" é uma proposta filosófica formulada por Gilles Deleuze e Félix Guattari, que não diz respeito ao poder bélico e estatal, mas a uma potência inventiva e nômade, capaz de escapar e causar fissuras no poder dominante, inventando para si "linhas de fuga" e novas formas de ver e habitar o mundo.

21/11/2011

A arte Zen da Cerimônia do chá

“Aquele que conhece ao seu próximo é um conhecedor;
aquele que conhece a si próprio é um sábio”.
(Tsung-Mi)
A Cerimônia do chá, ou Chakai, é uma tradição antiga japonesa que na contemporaneidade continua sendo realizada sem perder o brilho ou o significado. É sabido por todos que, no Japão, tomar chá é um hábito, porém, acredito que a operação que transforma esse  “hábito”, em “arte”, é algo digno de ser avaliado. O caminho do chá compreende mais que, simplesmente, beber chá. Tenhamos em mente que o conceito de caminho faz parte do sangue espiritual do japonês, a ideia de caminho é capaz de aglutinar as artes, para que elas estejam para além da fruição e do esteticismo, ou seja, estejam a serviço da vida, sejam práxis que contribuam para o desabrochar do caráter humano, aproximando o ser da sua essência, levando-o à plenitude e à maturidade.
A cerimônia do chá pode contribuir, e muito, para com o processo de busca e de autoconhecimento de quem se aventura a experimentá-lo. Um quesito importante é a tradição, o individuo que deseja adentrar o caminho, caso o da cerimônia do chá, deve buscar respeitar a tradição, ou seja, honrar o conhecimento que foi sendo construído com o passar do tempo. Parece ser algo simplório, mas, pensemos que a sociedade contemporânea vivencia uma amnésia histórica, e de um imediatismo que a desconecta do passado, inviabilizando prospecções e sonhos sobre o futuro. Essa premissa não implica um cerceamento da liberdade pessoal, e nem é a negação da criatividade individual, mas é um exercício de autodisciplina que leva o ser a verdadeira liberdade. Voltamos à questão do autoconhecimento, ou seja, a capacidade de subjugar os caprichos do ego para que seja possível, ao individuo, identificar coisas que para ele possuam valor eterno e que sejam favoráveis ao seu caminho. Grande parte dos ensinamentos Zen dizem respeito a tomada de consciência representada pelo "caminho". O caminho do chá e o Zen formam uma unidade que representa a busca da essência, do Uno, paradoxalmente, sem descaracterização do diverso. Essa prática pressupõe um reencontro com o “centro”, perdido em variadas esferas da vida, implica também "sentir saudade do silêncio", ou seja, o vislumbrar da possibilidade do vazio, que é prenhe do tudo.

O mestre Zen Rikyú declarou certa vez que “a Arte do Caminho do chá consiste apenas em ferver a água, preparar o chá, e então bebê-lo”, parece simples, não? Mas a simplicidade nos dias de hoje se tornou um desafio, com certeza essa é uma senda estreita. O “caminho” pode ser trilhado de diferentes formas, assim como há o caminho do chá, há o das flores, o da pintura, o da poesia, todos eles com suas especificidades e dificuldades e recompensas. O termo “caminho” pressupõe estar em trânsito, estar alerta, observando, vindo de algum lugar e indo para algum lugar, isso lembra a história de um discípulo que perguntou ao mestre que caminho deveria seguir, e o mestre simplesmente lhe respondeu; “caminhe”.

sugiro o livro: A arte da cerimônia do Chá

(Horst Hammitzsch)

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