"máquina de guerra" é uma proposta filosófica formulada por Gilles Deleuze e Félix Guattari, que não diz respeito ao poder bélico e estatal, mas a uma potência inventiva e nômade, capaz de escapar e causar fissuras no poder dominante, inventando para si "linhas de fuga" e novas formas de ver e habitar o mundo.

19/11/2011

Steve Jobs e a filosofia Zen...


Amigos, acabei de comprar a biografia de Steve Jobs que foi escrita por Walter Isaacson e publicada, no Brasil,  pela Companhia das letras. O livro possui cerca de 600 páginas e é de fácil leitura, embora a letra seja muito miudinha. Bem, fiquei curiosa quando soube que Jobs era zen budista, e de como ele atribuiu a esta doutrina o desenvolvimento das capacidades criativas e gerenciais que lhe renderam, quem sabe, realização pessoal, mas com toda certeza, fama e dinheiro. Isaacson diz que o criador do iPhone trouxe da doutrina Zen a estética apurada que aplicou nas suas criações. O Zen estava no centro de cada criação de Jobs, cada produto aliava, a um só tempo, simplicidade e elegância. Jobs buscava a síntese, e defendeu que precisava existir uma conecção entre o produto tecnológico e as pessoas, pois a maioria das criações vinham desconectadas de qualquer humanidade, eram apenas máquinas. É aí que vemos atuando um outro aspecto importantissimo da doutrina Zen, que foi muito bem traduzido por Jobs, a intuição.
Jobs foi uma pessoa que, desde muito cedo, buscou o autoconhecimento, eu acredito que, o fato de ser filho adotivo e de não saber quem foram os seus pais biológicos, despertou nele uma carência ontológica, uma sede de conhecimento de si e da sua história, e foi buscando conhecer a si mesmo que Jobs encontrou a filosofia oriental. A busca compulsiva de Jobs pelo autoconhecimento levou-a a experimentar váriadas práticas terapêuticas, entre elas a do Grito primal, sobre essa ele experiência ele disse: "aquilo não era uma coisa para pensar, era algo para fazer: fechar os olhos prender a respiração , saltar dentro e sair do outro lado com novos insights".
Jobs era um buscador e um cara muito inquieto, durante toda a sua vida buscou os preceitos básicos  da espiritualidade oriental, como a ênfase na prajña, "sabedoria e entendimento cognitivo que é intuitivamente experimentado por meio da concentração mental". Ele diria, ao voltar da Índia, que "as pessoas no interior da India não usam o intelecto como nós, elas usam a intuição, e a sua intuição é muito mais desenvolvida do que no resto do mundo. A intuição é uma coisa poderosa, mais potente do que o intelecto, e isso teve um grande impacto sobre o meu trabalho. [...] Ao voltar, depois de sete meses em aldeias indianas, vi a loucura do mundo ocidental, bem como a sua capacidade para o pensamento racional. Se você simplismente sentar e observar, verá como a sua mente é inquieta, se você tentar acalmá-la, isso tornará as coisas ainda piores, mas com o tempo ela se acalma, e quando isso acontece há espaço para você ouvir coisas mais sutís, é quando a sua intuição começa a florescer e você começa a ver as coisas com mais clareza, a estar mais no presente, sua mente, simplesmente, fica mais lenta e você vê uma expressão tremenda no momento. Você vê tanta coisa que poderia ter visto antes. É uma disciplina, você tem que praticá-la. O Zen tem sido uma profunda influencia na minha vida desde então".
Jobs frequentou o Zen Center,  onde ia constantemente meditar. Ele conviveu com o  mestre e amigo Shun Ryu Suzuki, autor da obra "Mente Zen, mente de principiante", essa amizade exerceu um grande impacto sobre a sua vida. Nolan, da empresa Atari, que fora um mentor para Jobs, disse que havia nele algo indefinivel, mas, comum aos empreendedores. O legado de Jobs é indiscutivel, não apenas porque ele criou a Apple, todos os dias muitas empresas são criadas, mas porque, da sua empresa, sairam criações que influenciaram a vida das pessoas, mudaram hábitos sociais e culturais. Um dos norteadores de Jobs na vida e no trabalho foi "fazer aquilo que gostava", ele  foi movidos não por respostas, mas por perguntas que o impulsionavam, uma dela foi: "você quer passar o resto da vida vendendo água com açúcar ou quer ter a chance de mudar o mundo?".
Desde 2008 eu trabalho no Programa de treinamento para empresários e proficionais liberais do Mosteiro Zen Morro da Vargem, o Zen management. Por este Programa passaram muitos empresários buscando, por meio da  filosofia Zen budista, o equilíbrio necessário e um aprendizado que extrapolasse o ambito empresarial projetando-se para a Vida. Isso me lembra um artigo do linguista Mikhail Bakhitin onde ele fala que Arte e Vida precisam ester juntas, se não tanto uma quanto a outra se tornam mecânicas. Os treinamentos, geralmente, possuem um tempo de validade, isso já foi comprovado por vários estudos. Os treinamentos que dizem respeito a algum  conhecimento específico precisam ser atualizados, pois as tecnologias evoluem  a cada dia, os cenários sócio-politicos e o Mercado também estão sempre mudando, mas, há um treinamento que já vem sendo aplicado ha mais de 2500 anos e continua novo, impactante e eficaz, è o treianamento Zen, que era realizado há séculos pelos nobres samurais. Parece brincadeira que, enquanto seres humanos, precisemos treinar a nossa humanidade, mas é verdade, precisamos sim, pois basta olharmos para os lados, ou para nós mesmo, que veremos muitas ações irracionais, muito individualismo, especialmente, no que diz repeito ao trato para com o outro. O Zen entende como sendo "o outro",  "tudo o que não sou eu", como propôs, também, Ghandi.  Bem, dentro dessa proposta humanistica encontramos a filosofia Zen. O empresariado capixaba e do Brasil tem despertada a cada dia para a preciosidade que é esse treinamento, e do impacto positivo que ele é capaz de gerar, tanto dentro da empresa, quanto fora dela. O desenvolvimento do pensamento sistêmico, que é hoje o grande desafio das instituições, é um dos preceitos básicos do Zen, chegando a ser  uma lei:  tudo está conectado e é interdepende. A autonomia que a modernidade nos vendeu é uma ilusão, por exemplo, a sacola plástica que se joga  no lixo da cidade, se não for encaminhada de forma correta, vai parar na barriga do peixe que depois irá parar na sua mesa do sujão. Enfim, amigos, a biografia de Jobs traçou, pelo menos para mim, o perfil de um cara determinado, mas com muitos defeitos, como ser grosseiro com as pessoas, por exemplo, isso mostra que a evolução humana precisa ser continua, e que, até mesmo Jobs, ainda tinha muito o que aprender, afinal,  somos humanos. Mas é maravilhosos  podermos ter valores elevados como nosso horizonte,  assim, nosso barquinho não se perde no mar contemporâneo da confusão e da insustentabilidade. Viva a Jobs, Viva o Zen!

O meu abraço a todos
RB
ps: visite o site do Mosteiro Zen Budista

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