Que lento corpo
de mulher sentada.
Que doce invento
o do ventre incerto.
Que areia cedo
ou que mar deserto
Que sol de perda ou de berço aberto.
(Poema a uma mulher chamada Mariana, morta por suicídio
em 11 de agosto de 1971. Novas cartas portuguesas)
de mulher sentada.
Que doce invento
o do ventre incerto.
Que areia cedo
ou que mar deserto
Que sol de perda ou de berço aberto.
(Poema a uma mulher chamada Mariana, morta por suicídio
em 11 de agosto de 1971. Novas cartas portuguesas)
Quis fazer um
poema obsceno.
Eu, cantora do frescor sensual das rosas,
E da esperteza
do pássaro citadino
Que mata o tempo na
árvore da calçada,
Quis fazer um
poema obsceno.
Ah, que paranoica a busca
Pela eloquência!
Quase
sempre dá em nada!
Minha nudez já
foi revelada!
Sou alma sem
grandes mistérios,
Alma de gato pardo...
Um torrão de açúcar
que se desfaz
Decepcionando aqueles
que esperam
Pelo prometido
fel.
É obsceno capturar
Pedaços da
vida de alguém e transformá-los
Em poesia...
Perdão!
O preço do pão
integral é obsceno,
O do leite,
também!
É obsceno inseminar a vaca e roubar
O leite do
filhote para vendê-lo
Por um preço
obsceno.
Obscenidade
sobre obscenidade...
Viver é
obsceno, eu sou obscena,
Você é obsceno, eles são obscenos,
É obsceno infringir dor,
É obsceno infringir dor,
A TV é
obscena, o plano de saúde é obsceno,
A falta do
plano de saúde é obscena,
A falta de
saúde é obscena, é obscena
A engrenagem enferrujada
que
Faz barulhos
infernais...
A mulher foi chamada para reconhecer
O corpo do filho morto.
−Não pode ser ele! Até se parecem,
mas,
Definitivamente não é! Não!
Os olhos... os olhos do meu filho,
Eu jamais os confundiria!
Meu filho tem um brilho no olhar,
Já este...
A mulher chorou!
Chorou porque seu filho já não era...
Chorou porque seu filho sempre seria...
Ela enterrou um estranho que
Lembrava muito o seu filho, mas,
Que tinha os olhos tristes, cinza.
Amou aquele rapaz, assim como amava ao
seu filho.
Seu coração estava abrasado, queimava:
Compaixão!
Tudo nela gritava:
Tudo nela gritava:
Ah, Dor que lancina o peito e põe à
prova a alma!
Ah, Solidão sorrateira que vem na
esteira da vida!
A mulher tinha, agora, dois filhos:
O de olhar ensolarado pela memória e
Outro com os olhos recobertos por nuvens sombrias
De nostalgia e de saudade.
Renata Bomfim
Lisboa, 23-08-2013
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