“Elmo Elton é um joalheiro. Só apenas que
trabalha com o ouro das palavras, e em espírito percorre o mundo como um
cruzado das belas letras, um peregrino da prosa e do verso. (CÔRTES, José
Antônio Ruy).
O que se pode
observar nesses poemas de juventude de Elmo Elton é a repetição de temas,
motivos e de formas literários. Os vinte poemas publicados em suas três
primeiras obras constituem-se, quanto à forma, de doze canções, seis sonetos,
uma barcarola e um de versos livres (moderno). Com essa primeira constatação,
pode-se incluir Elmo Elton dentre os poetas vinculados a estéticas do passado,
sobretudo ao Romantismo, sem maiores ligações com os modernistas, já na
terceira geração, quando Elmo Elton se iniciava na poesia. Também quanto ao
conteúdo de seus versos, há uma recorrência, visto que, dos vinte poemas
publicados, dez abordam temas marinhos, cinco tematizam assuntos místicos ou
religiosos, três, patrióticos, um, social e um metalinguístico.Saudado pelos
críticos desde o seu surgimento, naqueles tempos em que o Espírito Santo era
uma província, e Vitória, sua capital, uma modesta cidade litorânea e
portuária, Elmo Elton foi logo consagrado como o poeta da cidade, com “rimas de
um lirismo encantador, dirigidas ao marulho das vagas ondeantes do mar
encapelado” (Henriqueta Galeno). Adelpho Poli Monjardim, eleito “Príncipe dos
romancistas espírito-santenses”, em texto publicado em A Tribuna de 01/09/1946, intitulado “Um Poeta Capichaba (sic)”,
assim se referiu ao poeta estreante: “Delicado como uma rima, elegante como um
soneto, Elmo Elton seria o tipo ideal do poeta, pudessem os poetas ter um tipo
padrão. Dandy de corpo e de espírito, é, indubitavelmente, uma inteligência de
escol. [...] Como predestinado das Musas, mantém a face impassível, os membros
lassos, quase inertes, enquanto o turbilhão do gênio lhe açoita a lama e fá-la
vibrar em toda sua plenitude, em toda sua sensibilidade de artista e de esteta
para arrancar-lhe do ouro vivo do pensamento essas canções puras e ternas com
que canta e interpreta a alma simples dos rudes homens do mar. Elmo Elton é um
poeta ímpar na poética espírito-santense, É, para nós, o que foi Casemiro de
Abreu para o Brasil”. A citação de
Adelpho Monjardim é importante para situar Elmo Elton no contexto em que surgiu
tanto local quanto nacional. Ele vem com um lirismo simples, numa época em que
os poetas modernistas faziam uma poesia cerebral, tendo João Cabral de Melo
Neto como um dos seus maiores representantes e Geir Campos como o poeta
capixaba mais representativo dessa tendência. Mesmo os sonetos de Elmo Elton
têm pouco da estética parnasiana, de seu ídolo Alberto de Oliveira de quem
viria a ser um dos maiores biógrafos. Seus sonetos de temática mística e
religiosa são de um lirismo subjetivista como o foram os dos poetas simbolistas
e neorromânticos. Uma segunda fase
de sua poesia começa com a publicação de “Heráldicos”, sonetos escritos de 1947
a 1952 e publicados em duas edições, 1952, em Vitória, e 1968, no Rio. A partir
de 1949, Elmo Elton se muda para o Rio de Janeiro, a capital do Brasil, onde
cursa Jornalismo, curso inexistente em Vitória, e se torna funcionário público
federal (LBA). “Heráldicos” é um livro de setenta e dois sonetos, com temas
diversos, sem a fixação pelo mar e pelos motivos marinhos característicos de
seus poemas de juventude. Possui epígrafe de Menotti Del Picchi, “Eu coloquei
muito alto o meu sonho de amor...” (Juca
Mulato) e de Cruz e Sousa: “Busca também palavras velhas, busca,/limpa-as,
dá-lhes o brilho necessário/e então verás que cada qual corusca,/ com dobrado
fulgor extraordinário: / Que as frases velhas são como as espadas/ cheias de
nódoas de ferrugem, velhas,/ mas que assim mesmo estando enferrujadas,/tu,
grande artista, as brunes e as espelhas” (Arte). De neorromântico, neossimbolista a
neoparnasiano é o percurso poético de Elmo Elton com esse livro de sonetos
primorosos, refazendo formas e temas clássicos, buscando inspiração no
medievalismo (“Soneto antigo”, “Soneto medieval”, “O ex libris da
castelã”),reconstruindo paisagens europeias e clássicas (“Soneto de Coimbra”,
“Fim de sarau”, “O missal”, “Depois do baile”, “Ao luar de Verona”), repletos
de personagens aristocráticos e anacrônicos (“Soneto pra o brasão de uma
princesa”, “Amantes”, “Finis”, “A uma viscondessa”). Nesse período, Elmo Elton
deixa de ser o poeta das coisas simples, do homem do mar e de sua cidade
litorânea, Vitória, para revolver o passado da nobreza, da aristocracia, com
seus brasões, rendas e amores não realizados. O homem do mar se transformou num
“Velho Marinheiro”, que, aposentado “Corta e pinta umas tiras de papel/ e faz
navios para o seu netinho...”(p.61). Em seu terceiro
momento poético, Elmo Elton volta a ser o poeta trovador, popular, o lírico dos
sentimentos cotidianos, da simplicidade e da terra capixaba. Os “Poemas”,
escritos de 1947 a 1953,mas só publicados em 1976, têm epígrafe de Alberto de
Oliveira, “Oh, a saudade, poeta, é uma ressurreição” (Versos de saudade) e de Ribeiro Couto :”... e as fatigadas noites
do cais quieto é que são “a aurora da minha vida”, porém não posso dizer que se
trata de uma infância “que os anos não trazem mais”. A impressão dessa “aurora”
vem comigo ao longo dos anos; está sempre presente em cada manhã. Posso dar a
impressão de que envelheço e me entrego à melancolia da experiência, mas na
verdade ainda vivo no primeiro espanto e nas primeiras descobertas” (Barro do município).
Assim, após o
interregno clássico-parnasiano de “Heráldicos”, voltam os poemas saudosistas da
infância (“O garoto era feliz”, “Velha Bá”, “Conselhos da mãe Zefa”, “Noites de
São João”, “A casa de Lucrécia Augusta”, “Essas minhas cantiguinhas”), os temas
capixabas (“No cais de Vitória”, “Os sinos de São Gonçalo”, “Lavadeiras da
Fonte Grande”, “Do mundo todo”, “Praia da Costa”, “Poema ao verde mar de
Vitória”, “Minha terra brasileira”, “Meu berço querido”, “No convento da
Penha”, “Terra azul”), os poemas marinhos (“Partida”, “Poema”, “Cantiga”, “A
canção da rendeira”, “Marinha”, “Historinha de cais”), os tipos populares
(“Pedro Só”, “Maria Suspiro”, “Nhô-Lau”, “Chuva miúda”), os religiosos (“Oração
a Santa Luzia”, “Santa Zita”, “Diálogo”), os regionalistas (“Campestre”, “Poema
da Bahia”, “Canção”, “Batuque”, “Madrinha da tropa”, “Rimance de Marília de
Dirceu”). A esses, o autor acrescentou alguns sonetos já publicados em
“Heráldicos”, sendo três inéditos, “Notívaga”, “A morta”, “Confissão” e algumas
trovas. No livro
“Cantigas”, de 1976, desabrocha o poeta-trovador Elmo Elton. Tendo como
epígrafe uma trova metalinguística de Adelmar Tavares, “Ó linda trova
perfeita,/que nos dá tanto prazer,/tão fácil- depois de feita,/ tão difícil de
fazer...”, o livro tem o prefácio de Aparício Fernandes, em que apresenta o já
consagrado sonetista como trovador de mérito. Destaca-lhe o lirismo aliado à
filosofia, o estilista, o Poeta que alia a arte à inspiração e cita-lhe como
exemplo as seguintes trovas: “Sou poeta, assim tristonho,/por simples
destinação:/ - A dor que dói em meu sonho/ acaba sempre em canção”. “Quem cedo
se desespera,/não sabe, na crença morta,/que, quando menos se espera,/a Sorte
nos bate à porta”. A dezenas de trovas, o autor acrescenta dois poemas: ”Menino
de engenho” e “Poema da saudade maior”, esse último um hino saudosista à cidade
natal, Vitória, escrito no Rio, em 1953, uma “canção do exílio capixaba”.
Da mesma época,
Elmo Elton publica os seguintes cordéis com temas capixabas: “ABC de Vitória” e
“O Convento da Penha”, ficando inéditos “O Padre José de Anchieta no Espírito
Santo”, “São Francisco de Assis”, “Terra Capixaba”, “Caboclo Bernardo”, “O
enfermeiro das contas brancas e a sineta de ouro”,”A lenda de Braz Gomes -O
Judeu Pescador”. Seu último livro publicado de poemas, logo após a publicação
dos cordéis, foi “Anchieta”, em 1984, com vinte e seis sonetos dedicados à vida
e às histórias do padre José Anchieta, em sua maioria vividas no Espírito
Santo, uma emotiva homenagem feita ao padre Anchieta, beatificado em 1980 e,
agora, canonizado, em abril de 2014.
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