Elmo Elton |
Toda cidade possui um ou mais poetas que a imortalizam. O poeta da
cidade de Vitória é Elmo Elton (1925-1988), escritor escolhido para ser
homenageado na I Feira Literária Capixaba, a ocorrer de 15 a 18 de maio, na
Praça do Papa. Vitória já tivera outros poetas que a cantaram em prosa e verso,
como Areobaldo Léllis, que lhe deu o epíteto de “cidade presépio” e Haydée
Nicolussi que a chamou de “cidade teteia e cidade liliputiana”, na década de
1920. No entanto, foi Elmo Elton que, desde a juventude, mais versos fez sobre
a sua cidade natal e seus personagens populares que conhecia como ninguém.
Desde a sua primeira publicação, “Cantares de um terno filho do mar”, em 1944,
às que se seguiram, “Uma história praieira”, 1945, “Marulhos”, 1946, e “Poemas
que a onda levou”, 1947, pode-se observar a fixação dele pelos temas marinhos.
Nascido em Vitória, cidade portuária, e com o mar como cenário principal de
seus moradores e visitantes, Elmo Elton captou, com sensibilidade poética, a
alma dessa cidade ligada ao mar por destino atávico.
Como era comum aos artistas e escritores capixabas até há pouco tempo, não havia maiores perspectivas de realização profissional em nosso estado, marcado pela indigência cultural. A única saída era pegar um barco a vapor, no porto, ou embarcar num trem da Leopoldina, para desembarcar vinte e quatro horas depois, ou mais, na capital do Brasil, a cidade maravilhosa do Rio de Janeiro daqueles tempos, sem esquadrão do BOPE, linhas vermelhas ou amarelas para atravessar com suas balas perdidas em troca de tiros entre traficantes e policiais. Foi o que fez Elmo Elton, em 1949, seguindo o mesmo caminho de Afonso Claudio, de Madeira de Freitas, o primeiro escritor capixaba a ser consagrado nacionalmente com o pseudônimo de Mendes Fradique, Haydée Nicolussi e Lydia Besouchet, os irmãos Newton e Rubem Braga, Geir Campos e tantos outros.
No Rio, Elmo Elton obteve emprego na LBA- Legião Brasileira de
Assistência- criada no período Vargas e pôde realizar seus sonhos de
pesquisador, de colecionador de obras de arte, tendo cursado Jornalismo, curso
inexistente no Espírito Santo, em sua época. Tornou-se poeta parnasiano, talvez
influenciado pelas pesquisas sobre os amigos Olavo Bilac e Alberto de Oliveira,
uma de suas obsessões. Publicou “O noivado de Bilac”, em 1954 e “Heráldicos”,
sonetos, em 1952 e 1968, obras que o imortalizaram na comunidade acadêmica. Na
década de 1970, já fragilizado pela artrite, aposenta-se e volta para sua terra
natal. Aqui publicou dois livros de versos, em 1976, “Poemas” e “Cantigas”,
recuperando o papel de trovador da cidade de Vitória, lugar que ninguém tinha
ocupado. E, como presente a todos os capixabas, trabalhou intensamente na sua
última década de vida, deixando publicada a antologia sobre “Poetas do Espírito
Santo”, e os livros “Velhos templos de Vitória”, “Logradouros antigos de
Vitória” e “Tipos populares de Vitória”, obras indispensáveis a todos que amam
a nossa capital e seu passado, e precisam ser reeditadas. Como último presente
aos capixabas, em 1984, publicou “Anchieta”, 25 sonetos sobre o beato, agora,
santo Anchieta, e suas vivências no Espírito Santo, além dos cordéis “ABC de
Vitória” e “O Convento da Penha”. Além dessas obras preciosas, Elmo Elton legou
à sua cidade natal um precioso acervo museológico, até hoje não disponível à
visitação pela PMV, uma preciosa coleção de originais autografados doados ao
IHGES e à AEL e alguns livros inéditos. Está passando a hora de a cidade
homenagear seu poeta-maior, não?
Francisco Aurelio Ribeiro
Crítico literário e Presidente da Academia Espírito-Santense de Letras e do IHGES
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