Gruta escura e misteriosa,
onde vivem seres inumanos.
Ouvi palavras inescrutáveis,
línguas cortavam o vento
como se lambessem
como se lambessem
espumas marítimas.
Elas envolveram o meu corpo
sugando-o com as suas ventosas.
O som podia ser apalpado
de tão real:
agudo,
estridente
Dissonância enroscada
estridente
Dissonância enroscada
formava novelos
cujos fios estavam a meio caminho
da lã e do arame farpado.
Dentro da gruta, eu.
Solidão, detalhe singelo.
Solidão, detalhe singelo.
Estar só sempre foi rotina na minha
vida.
Mas, acabar nesse buraco estranho?
Isso, eu não compreendia.
Porque me foi dado escutar as palavras
que ouvi?
Por que me foi permitido sentir mais que
os outros e sofrer mais.
Ter a dor por companheira?
Pior é a dor de quem se reconhece só.
Estou dentro do começo do que posso
chamar existência,
Dentro do que não tem começo.
TU és o início no fim de mim mesma,
talvez o caminho para fora,
ou um contorno na face esquecida pela luz.
Apalpo letras difusas e as línguas me
rodeiam ainda.
Ululantes labaredas de fogo frio e azulado me circundam.
- Deus! é lindo!
Graças! graças! graças por todos esses infortúnios!
Agora posso sentir os ossos rangendo
dentro do meu corpo,
Agora sinto o que a vida significa na
matriz.
A minha insignificância brilha como o
ouro, cintila, e as trevas
cedem esbranquiçadas como se trombetas da alvorava anunciassem:
cedem esbranquiçadas como se trombetas da alvorava anunciassem:
O dia vai raiar!
Aleluia! bendita exaustão!
Estou em contato com o pó,
Sou amiga da poeira
Tão nada, nada, nada...
Levei uma vida inteira para compreender
Que o cricrilar do grilo mais miúdo tem
a potência
Da nona sinfonia.
RB, Vitória, nov. 2016
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