17/11/2016

A Academia Feminina Espírito-Santense de Letras perde uma de suas estrelas. Morreu, no dia 14/11/2016, a escritora capixaba MARGARIDA LENA PIMENTEL (Cadeira nº 15)


Amigos, a escrita de autoria feminina capixaba perde uma de suas estrelas, a escritora Margarida Lena Pimentel. A acadêmica da Academia Feminina Espírito-Santense de Letras (AFESL), cadeira nº15, cuja patrona é Ailsa Alves Santos faleceu no dia 14 de novembro de 2016, foi velada na sua residência na Praia do Canto e enterrada no Cemitério Santo Antônio, em Maruípe.

Margarida Lena Pimentel nasceu no dia 8 de fevereiro de 1938, em Vitória (ES). Filha de Pedro Benatti Lenna e Eliza Sodré Lenna,  nasceu em Vitória – Espírito Santo. A escritora se destacou na prosa com as obras Apenas um homempublicado em português, Edições do Val, 1965, Rio de Janeiro e mantido por 18 Bibliotecas mundiais; Adultério sem flagrante, com 2 (duas ) edições publicadas entre 1969 e 1970, em português e inglês, Livraria Eldorado, Rio de Janeiro, mantido por 28 (vinte e oito) bibliotecas em países diferentes; Vento macho, (duas) crônicas, cujas edições foram publicadas em 1967, em português, pela Livraria São José, Rio de Janeiro, e são mantidas por 31 (trinta e uma) bibliotecas mundiais) e crônicas publicadas em Revistas e Jornais: A Gazeta, A Tribuna e o Diário. Participou da antologia da AFESL, Múltiplas vozes (2010).A escritora foi "Destaque Especial" no Concurso Nacional de Contos, 1993 e 1994, recebeu  a Medalha Cultural na Revista Brasília. Participou do Anuário de Escritores 2005Casa do Novo Autor, Editora São Paulo. Além de ter produzido contos e crônicas que foram premiados em vários concursos literários e é Sócia do Clube Literário Brasília.

Compartilho com vocês alguns escritos da nossa saudosa confreira Margarida Lena Pimentel.

 O OUTRO LADO DA COLINA
O outro lado da colina é uma ótima expressão para definir a meia-idade. É uma fase que, sem dúvida, tem os seus contras. O vento não sopra tão forte, nem as pernas são tão ligeiras como na subida. O passo encurta e, na medida em que vamos descendo o outro lado da colina, temos de ter cuidado onde pomos os pés, porque a experiência já nos ensinou a não pisar nas armadilhas. Na subida a visão estava bloqueada pelas vertentes, e não havia panorama para ver, a não ser que olhássemos para trás. Agora a viagem, felizmente está adaptada às pernas menos ágeis, podemos, então, parar e refletir, uma vez que o cimo já foi ultrapassado, e há um vasto mundo à nossa frente. Apesar de haver sombras e nevoeiros no horizonte, o sol também nascerá todos os dias, por mais trinta, quarenta anos, quem sabe? Tudo é possível... é só saber viver.
O outro lado da colina é mais tranqüilo. A juventude é um turbilhão de emoções, arroubos, loucuras, sem tempo de reflexão. Depois dos cinqüenta anos tudo se adapta, se encaixa, se ajeita. O trabalho deixa de ser uma máquina, para ser um cérebro. O fogo da paixão se transforma em amor e se divide em mil centelhas quando a família cresce: — Filhos, netos, noras, genros... e a vida vira uma festa com tantos aniversários, casamentos, formaturas e há muito mais a comemorar do outro lado da colina. Algumas tristezas, é claro, mas na maturidade a gente aprende a lidar com elas.
Engano quem pensa que ao chegar ao cimo tudo acabou. Acabou sim, de plantar, construir, correr atrás dos valores materiais. Agora, chegou a hora de colher o que plantamos e aí, entra o velho e sábio provérbio: Quem semeia vento colhe tempestade... do outro lado da colina pode ter flores, frutos ou espinhos, depende de nós ... é só saber viver.
Precisamos, urgentemente, de mais esclarecimentos para vivermos a idade madura, para que possamos ser preparados para a segunda metade da vida. Assim as pessoas aprenderiam que as metas da mocidade como dinheiro, conquistas e posição já não são as que deveriam procurar e sim o alvo seria: adquirir sabedoria, no sentido da experiência vivida e da avaliação de valores apropriados e explorar os tesouros de beleza que nossa cultura nos legou.
Em vez de aceitarem com resignação as frustrações e decepções, numa monótona solidão, o homem ou a mulher devia procurar novos encontros do outro lado da colina até mesmo o romantismo de um amor de outono..


ESTADO MAIOR
Vivemos em confusão constante em presença da Justiça do mundo moral. Por quê? É a pergunta, eterna, universal, tão velha quanto a primeira lágrima, tão recente quanto o último noticiário da televisão. Pode-se encontrar uma razão pra o rápido sucesso de certas pessoas nos negócios, na vida social e outras áreas mais? Capacidade, inteligência, talento? Não sei! Tem tanta gente com tantos predicados e competência, e nada consegue.
Incrível é o prestígio dessas pessoas. Em solenidades, até mesmo oficiais, esses ilustres desconhecidos ocupam os melhores lugares, estão sempre nas primeiras filas, reservadas para eles. Os mais dignos não encontram lugar no recinto. Já imaginou ouvir um longo discurso em pé? Se não havia lugares para todos, por que convidam tantos? É pura deselegância dar distinção a poucos e até mesmo fazendo as pessoas que já  estavam sentadas cederem seus lugares a outras para as quais os lugares estavam reservados.
Aliás, essa história de lugar reservado é antiga. Quando nos transportamos em imaginação à estalagem de Belém na noite de Natal, verificamos que não havia lugar para Ele, logo Ele? E constatamos que todos os lugares na estalagem estavam ocupados pelos homens do Governo e ricos mercadores. E assim, o menino chamado Jesus nasceu numa manjedoura, mas os seus sábios ensinamentos acharam lugar no coração da humanidade.
Isso me faz lembrar de uma festa numa cidade do interior, quando meu marido era juiz da comarca. Festa popular, alegre e bonita, mas destaque mesmo só para as autoridades, políticos e “aqueles” que os organizadores da festa achavam importantes. Entre risos e palmas, beijos e abraços, os figurões circulavam no meio do povo. Entretanto, as barracas com toldos coloridos e as mesas com toalhas brancas estavam reservadas aos ilustres convidados que, aos poucos, ocupavam seus lugares.
Depois de uma estafante caminhada pelos caminhos da roça, bem longe da cidade, onde foi levar a comunhão a um doente, o padre da paróquia chegou à festa. Suado, cansado, empoeirado. Observou tristemente que todos os lugares estavam tomados, exceto ao redor de uma esplêndida mesa isolada numa pequena elevação ao lado da praça. Foi ali que o padre se instalou.
Imediatamente, correu agitado ao seu encontro o secretário do prefeito da cidade.
—Desculpe, senhor padre, mas estes lugares estão reservados para o Estado-maior.
—Quem é o Estado-maior? — perguntou o padre.
— Ora, senhor padre, são os homens do Governo, a Justiça, Exército, política...
— Meu filho — respondeu o padre — eu pertenço ao Estado –maior do Senhor Jesus Cristo, e até que apareça alguém que seja mais graduado do que Ele, vou ficando por aqui mesmo!


CHÁ DE CATUABA
Na encosta dos Andes, no Peru, existe um verdadeiro vale, envolvido numa amena temperatura — 18 graus no inverno e 22 no verão. Nesse vale a velhice demora a chegar. Ninguém adoece. Seus habitantes vivem em média de oitenta a cem anos. A maioria em perfeita condição física e psicológica. As doenças, quando raramente aparecem, são tratadas com ervas e raízes. E usam e abusam de uma infinita variedade de chás.
O festival de fantasia que o vale oferece na milagrosa cura dos seus chás, encanta o visitante, mas na cidade moderna parece um pouco fora de moda. Entretanto, essa milenar sabedoria é uma espécie de elo entre um tempo passado e a geração presente, porque todos nós sabemos que as plantas medicinais curam muitas doenças. Muitas dessas ervas vieram para o Brasil, trazidas pelos imigrantes. Aqui se adaptaram ao clima, solo e juntaram-se a centenas de outras que nossos indígenas já conheciam. Hoje o Brasil dispõe de amplo conhecimento sobre sua flora medicinal e nossa geração adora chá. Os irmãos orlando e Cláudio Vilas Boas, passaram quarenta anos entre os índios brasileiros aprenderam a conhecer matas, o segredo da nossa flora e valor medicinal de cada folha.
No Japão, o cerimonial do chá é uma arte. Tem características da mais profunda religiosidade. Cada gesto deve ser aprendido nos seus menores detalhes. Na Inglaterra é pura tradição. Chineses e indianos conferem ao chá os mais altos significados e o seu cultivo vem desde as eras mais remotas. O gaúcho dorme e acorda tomando chimarrão, seu ritual só perde para os japoneses.
O chá é a segunda bebida que mais se consome em todo  mundo. Só perde para a água. Digestivo, refrescante, estimulante, os chás não são todos milagrosos, mas muito são de inegável utilidade para todo o corpo e para todas as idades. Afinal, quem não se interessa em manter por perto a plantinha que ajuda aliviar cólicas, ores, infecções e até impotência? Aliás, a impotência masculina é tratada na flora medicinal com chá de catuaba que contém um grande poder afrodisíaco, infalível no combate a doença que minha avó chamava de “vergonha do homem”. Não há, porém, comprovação científica dessa imposta propriedade ao chá de catuaba. Mas muita gente acredita... Não custa nada tentar ...
E muitos homens quando ouvem o “canto do cisne”, recorrem ao milagroso chá de catuaba, numa esperança de cura. Talvez, influenciados com o apelo bem-humorado de propagandas como a do “Poema do Homem Quando Envelhece”.
Esse porém, muito divulgado, diz mais ou menos o seguinte:— “quando o homem envelhece/ o cabelo embranquece/ a musculatura desce/ o vigor desaparece/ a mulher oferece/ e ele diz: — Ah! Se eu pudesse!/ Mas tomando chá de catuaba isso não acontece!”
Será?...

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