21/09/2018

OS GUARDAS DO PARAÍSO (Renata Bomfim)


No centro da minha cidade
Existe uma Árvore.
Guardada por homens 
armados. Não são anjos,
São  os guardas do paraíso.

Um dia atrevi-me.

Tomei conselho com as sombras,
Planejei sob o manto escuro da noite
um jeito, uma forma de provar do fruto.
Há palmeiras rebuscadas
e sabiás nesse paraíso seguro.
Há também macacos prego
Espreitando bananeiras
do lado de fora dos muros.
O abacateiro do paraíso, protegido
Por homens de dentes de ferro, de pesado  
arriou os galhos.

Embora haja muitas frutas é proibido
sucumbir ao pecado da gula.
Por isso regulam a distribuição 
de alimentos: "um cuidado adicional",
é o que dizem os guardas do paraíso.
Mas, da Árvore que fica no centro
da cidade, não se pode nunca provar o fruto.

Desejo sentir o sabor desconhecido,
Sussurro palavras de amor baixinho e,
Ao longe, observo o vento balançar 
os longos galhos Verde-amarelados. 
Algo em mim tremula.

Os frutos da Árvore não são vermelhos
e nem arredondados.
Parecem espirais resplandecentes e criam
Um halo de luz no centro da minha cidade.
O povo vive sob o fascínio da luz, embora
quase sempre faminto.
Tudo parece lindo!

Os homens serram a Árvore, afinal,
é a guarda especializada do paraíso.

Resisto e tramo, na noite, apoiada
Pelo demônio da revolta.
Busco um jeito, uma forma
De alimentar essa fome específica.

Serei eu a primeira a única rebelar?

Lá estão eles, os malditos 
homens com dentes de ferro. Agora,
seguram punhais e escopetas
no centro da minha cidade.



RB, Vitória, dia 21/09/2018 (dia da árvore) 

Um comentário:

Elias Borges disse...

Forte, transcende a homenagem à data. Parece que estamos impedidos do prazer desde sempre.