11/01/2021

Salve! Senhor do Bonfim (Poema- Renata Bomfim)

 

Senhor do Bonfim, 

Meu pai, 
Salve!
No terreiro-mundo
Negro ilumina:
      acorda dormentes, 
      alegra,
      cura doentes
com o som do tambor.

Os ventos da África
são perfumados, meu pai, 
melodia inaudita ressoa
fazendo brotar as sementes.
Um contador de histórias
encanta a palavra, recordo
que a África é aqui, 
ela está dentro de mim, inteira:
                         sou mãe e filha.

No terreiro acontecem
milagres:
          ferida é sarada,
          feitiço é desfeito,
          memória ancestral 
                      restaurada.
Tambor-vida, vibração:
(pajelança popular e erudita)
É fogo!
Tambor de Mina!
Glória a ti, meu pai!

Rolam os búzios,  
Saias criam cirandas vivas
brancas e coloridas, são flores
no jardim de Oxum.
Silêncio respeitoso:
Nanã descansa!

No terreiro-mundo 
negro é senhor, é Rei!
No terreiro-mundo 
Sou filha de Xangô.

É chegado o tempo 
de compartilhar o canto
da diversidade. Faz justiça 
com amor, Senhor dos raios,
desperta o bicho aprisionado
(no homem)
paralisado pelo horror.

Salve!
Senhor do Bonfim, 
Meu pai!

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