Bravos companheiros e fantasmas VII, que aconteceu entre os dias 22 e 26 de agosto de 2016, na UFES.
A Academia
Espírito-Santense de Letras (AEL), em 2011, publicou a obra
fac-similada de Guilly Furtado Bandeira, Esmaltes e Camafeus.
Originalmente lançada em 1914, esse foi o primeiro livro de autoria feminina
escrito por uma mulher capixaba. Natural de Vitória (ES), Guilhermina Tesch
Furtado era filha e neta de militares, e foi acompanhando o pai que a escritora
se mudou para a Província do Pará. Na capital, Belém, Guilly participou
ativamente da vida intelectual paraense, sendo convidada para integrar a
Academia de Letras do Pará. Francisco Aurélio Ribeiro no texto Mulher na
academia: histórico e desafios, nos saber que o significado de Academia
remonta o tempo de Platão, se chamava “jardim de Academus”, o lugar onde o
filósofo grego dava aula a seus discípulos, “todos homens”. O fato de Guilly
ser uma das primeiras mulheres admitidas em uma Academia de letras no Brasil
abre a possibilidade para que reflitamos sobre questões como a (des)valorização
da escrita de autoria feminina e, especialmente, sobre a inserção das mulheres
na ordem do discurso. Podemos compreender melhor, hoje, o significado real e
simbólico dessa participação de Guilly como acadêmica, se observarmos que,
desde os misóginos gregos[1], as academias foram templos do saber
destinados apenas aos homens. Uma breve visada histórica permite
constatar que foi a partir do Barroco que as academias deixaram de ter a
acepção de escolas e passaram a ser consideradas locais de culto as letras, as
artes e a ciência, onde homens destacados se reuniam, sendo esses espaços
vetados às mulheres. Houve a rainha Cristina, da Suécia, mulher culta que
“protegeu as letras e as artes, atraindo para sua corte numerosos eruditos,
dentre os quais Descartes”. Entretanto, vale destacar que falamos de uma
rainha, condição excepcional em relação as outras mulheres. A pesquisadora
André Michel, na obra O feminismo (1979) chama a atenção para a
ausência de personagens femininas na história, ela afirma que a história delas
se esqueceu e que apenas algumas são lembradas, mas isso graças ao fato dessas
desempenharem funções aceita pelos homens como “feminina”, e a literatura não é
uma delas. Convém lembrar que “entrar para a história” tem sido um valor
disputado. Pertencer a esta “grande narrativa”, que Elizabeth Fox Genovese
chamou “história de governantes e de batalhas”, significava, e ainda significa,
prestigio. A autora declara que “neste tipo de história não havia lugar
para as mulheres. “Pensemos que, o nome de algumas escritoras chegaram até nós,
geralmente, temos acesso a vestígios de suas obras, um exemplo é “Safo, poetisa
nascida na ilha de Lesbos, em torno de 625 a. C. A partir do século XVIII
Teresa Margarida da Silva e Orta (1711-1793), considerada a primeira romancista
em língua portuguesa, é um nome destacado, a escritora nasceu em São Paulo, mas
mudou-se para Portugal com a família ainda menina. Teresa Margarida da
Silva e Orta (1711-1793) que é tataravó da escritora portuguesa Maria Tereza
Horta, foi presa e encarcerada por sete anos no Mosteiro de Ferreira Alves,
onde escreveu um poema épico-trágico e centenas de máximas, cujos
manuscritos só foram publicados em 1993, em Obra Reunida. A obra
mais conhecida dessa escritora é Aventura de Diófanes (1752),
que teve a primeira edição brasileira publicada em 1945 (RIBEIRO, 2015). Muitos
são os casos de escritoras cujos ecos das vozes chegam até nós, mas, em se
tratando de Academia de Letras, a aceitação de uma mulher pressupõe a aceitação
do lugar de escritora como igual. Na Academia Brasileira de Letras (ABL),
após muitas discussões, Rachel de Queiroz foi recebida como imortal, em
14-10-1976, no discurso de posse a escritora declarou: "Não entrei para a
ABL por ser mulher. Entrei porque, independentemente disso, tenho uma obra”. No
Espírito Santo, a recusa da Academia Espírito-Santense de Letras (AEL) em
receber mulheres no seu quadro de membros, fez com que as escritoras criassem a
sua própria academia, a Academia Feminina Espírito-Santense de Letras (AFESL),
em 1949. Foi Judith Leão Castello Ribeiro (1898-1982), professora, primeira
deputada Estadual (1947) e primeira Presidente da AFESL, a primeira membro
mulher da AEL, e em seu discurso intitulado “Recompensa” a escritora falou da
honra em abrir as portas daquela septuagenária instituição para suas
companheiras (RIBEIRO, 2010). O pioneirismo de Guilly Furtado Bandeira,
como destacou Josina Drummond (2011, p. 226) está, principalmente, no fato
desta “ter enveredado pelo universo das letras numa época em que a educação das
moças era voltada exclusivamente para as prendas do lar”. O nome de Guilly
encontra-se citado na Antologia da Cultura Amazônica, organizada
pelo escritor paraense Antônio José de Lemos (BANDEIRA, 2011, p. 210).
Autora de crônicas,
contos, ensaios e poemas, Guilly escreveu por mais de trinta anos. Os textos da
escritora transitaram entre o Parnasianismo e o Simbolismo, demonstrando
preocupação com a linguagem, vocabulário esmerado e erudição. Ribeiro
(BANDEIRA, 2011) destaca que as imagens presentes na obra de Guilly
“distanciam-se de qualquer temática feminista”, pouco sabemos sobre a vida da
escritora, mas no dia 31-07-1925, em uma entrevista concedida a Revista Vida
Capichaba, ela falou um pouco sobre si (1,44m, 35 anos, amante do marido e dos
filhos, nascida no Espírito Santo, mas, residente no Rio de janeiro). Nessa
ocasião, Guilly, nos faz saber sobre o seu posicionamento quanto ao feminismo:
“...é um movimento necessário para transmutar a mulher coisa, objeto de uso, no
indivíduo livre, consciente e responsável, capaz de ser a companhia do homem
moderno e a fatora da geração de amanhã.”(Vida Capichaba. Vitória: Ano
II, no. 50, 31/7/l925).
Embora não se defina
feminista, a escritora imprime na sua obra um caráter de resistência que
coaduna com os valores do movimento, especialmente através da denúncia da
condição da mulher e da explicitação do desejo de reconhecimento e igualdade em
relação aos homens. Esmaltes e Camafeus foi publicada no Rio de
Janeiro, pela prestigiada Editora Garnier, a mesma que publicou obras de
Machado de Assis e de Júlia Lopes de Almeida, esse livro formado por trinta
contos de temática variada apresenta ao leitor um espaço narrativo diverso onde
esse poderá transitar, pelas terras do oriente, Madri, Egito, Índia, Amazonas e
por um lugar “de toda felicidade”, espaço ideal, cujo acesso é possível,
apenas, por meio do sonho e do devaneio.
É sabido que as mulheres estão representadas nos discursos e no repertório de
imagens de variados tempos, entretanto, essas representações imagéticas e
discursivas foram feitas, na sua grande maioria, por homens, e são marcadas por
estereótipos e reducionismos. Como bem destacou a escritora Lúcia Castelo
Branco (1989, p. 17), “essa imagem construída pelo homem não coincide com a
mulher, não é sua réplica fiel, como crê o leitor ingênuo”. É fato que até bem
pouco tempo “as mulheres não representavam a si mesmas”, e essa ausência de
registro se acentua ainda mais quando, na mistura de gêneros, usa-se o
masculino plural (eles), fazendo com que a participação d(elas), em diversas
ocasiões e movimentos, seja obliterada (PERROT, 2007, p. 21). Assim com
Castello Branco, Michelle Perrot (2007, p. 25) acredita que “É, sem dúvida,
necessário abandonar a ideia de que a imagem nos traz um painel da vida da mulher”,
entretanto, Margareth Rago (1992, p. 71) salienta que há “a necessidade de não
menosprezarmos as fontes e projeções que embalaram os sonhos de uma época”,
antes, devemos nos empenhar na busca do conhecimento de uma determinada
sociedade visando compreender “a dimensão do [seu] imaginário nos múltiplos
sentidos possíveis e enquanto constituinte do real”.
Esmaltes e
Camafeus (2011) faz um inventário de representações da feminilidade que
merece apreciação. As múltiplas representações albergadas nessa obra
perfilam tanto imagens de mulheres luxuriosas e pecadoras, quanto de outras
essencialmente castas e virtuosas, trazendo à tona questões emblemáticas do
universo feminino e denunciando variadas formas de violência a que as mulheres
estiveram e ainda estão sujeitas. Nesse corolário, alguns modelos femininos são
antípodas e se embatem. No conto primeiro da obra, intitulado “Dolores”, nos
deparamos com a personagem homônima, uma jovem que fugiu de casa “numa noite de
desvario, arrastada pela impetuosidade de um afeto insano, [...] para
entregar-se unicamente a paixão que a alucinou”, mas, após um ano, a jovem
encontrava-se “emagrecida e andrajosa, [...] envelhecida pelas amarguras e
desditas”, a vagar com um filho recém-nascido nos braços pelas ruas de Madri (“Dolores”,
2011, p. 1). Observamos que Guilly atenta para a questão onomástica, o nome
Dolores, é, assim como a personagem, de origem de origem espanhola e significa
dores, surgindo vinculado a imagem da Virgem Maria, ¾ “Maria de los Dolores” ¾, também conhecida como Virgem da Amargura,
Virgem das Angústias ou simplesmente La Dolorosa. Dolores era nome dado as
meninas que nasciam no dia das sete dores de Maria. Em se tratando dessa
importante representação feminina, vale destacar que pouco se sabe a seu
respeito, chegam-nos sobre a sua vida as informações que estão contidas no Novo
Testamento da Bíblia Sagrada, onde esta é descrita como mãe de Jesus
Cristo, o filho de Deus, cuja concepção realizou-se por obra do Espírito Santo
e de forma “imaculada”, ou seja, sem a existência de relação sexual (dogma da
imaculada conceição). Maria é venerada desde o século XII, considerada Rainha e
Mãe da igreja medieval, essa imagem é a afirmação da vitória do espírito contra
o corpo. Perrot (2007, p. 64) destacará que “para os pais da igreja, a carne é
fraca. O pecado da carne é o protegido e mais terrível dos pecados”. Assim, o
sexo das mulheres deveria ser vigiado e a virgindade tornou-se um “valor
supremo”.
Dolores,
extraordinariamente, vivencia um grande sofrimento,assim como as dores da
Virgem Imaculada, entretanto, ela não possui mais o atributo essencial, a
virgindade. Ao entregar-se a um homem antes do casamento e engravidando,
ela acompanhará o sofrimento do filho até que este morra. O conto narrado
na terceira pessoa e ambientado na Espanha, a protagonista é natural de Alcalá,
região madrilenha descrita como “a vila pitoresca onde nascera Cervantes”. A
jovem Dolores, depois de muito penar, já não possui “a beleza de outr’ora” e se
recorda da juventude, quando vivia sem preocupações junto aos pais e era
“idolatrada”. A beleza, atributo muito valorizado nas mulheres, é um elemento
destacado em vários contos de Esmaltes e Camafeus, bem como o seu oposto,
exemplo disso é a personagem Marcellita, do conto “Suprema
ambição” (2011, p. 95), que mostra a marginalidade e a vergonha de uma jovem
pária na sociedade porque é feia e de “espírito enfermiço”, por conta “das
constantes leituras de Goethe”. A aparência de Dolores denuncia a sua condição,
“o semblante macerado” traduz as “agonias de uma vida miserável de infortúnios
e martírios” (BANDEIRA, 2011, p. 5). Ao se entregar aos arroubos da paixão, a
personagem é considerada uma pecadora e a dor é a maldição bíblica por
excelência: “Tu darás a luz na dor”, diz Deus a Eva ao expulsá-la do paraíso.
Ao contrário da Mãe de Jesus, a maternidade para Dolores não será “aureolada” e
nem cercada de cuidados e amor. Embora a condição de “mãe” seja valorizada na
Sociedade Ocidental, e se apresente como uma identidade aceitável para a
mulher, no caso de Dolores representou o banimento de sua terra natal. Nesse
sentido, a nossa protagonista se aproxima da feiticeira, de Lilith,
mulher/demônio cuja sexualidade não possui freios, representação
considerada perigosa. Essa personagem põe em evidência o destino da mulher que
decide dispor livremente do seu corpo. Decaída, a “infeliz pária do destino”
vive uma tragédia pessoal e silenciosa.
Dolores rompe com o estabelecido ao adquirir consciência de sua condição[2]. O martírio e a culpa vivenciados, paulatinamente,
vão cedendo ao ódio pelo reconhecimento de que a situação na qual ela vive não
é culpa sua, mas de uma sociedade desigual. É durante uma noite de janeiro, na
invernosa cidade que parece “morta” com suas ruas desertas, que Dolores sente
na carne o frio e a fome. A personagem perambula sem destino sob uma chuva
forte que encharca tudo, a sua vulnerabilidade é plena, ela está só e não
possui nada, além da frágil criança “de corpito frio” envolta em trapos que ela
leva “apertada ao peito”. Nesse momento de desorientação ela ouve soar o sino
da Catedral, são sete horas da noite. Até então Dolores não perdera a fé e um
fio de esperança ainda resistia a se romper. Em alguns momentos, vinha a sua
mente a imagem de uma “casita muito branca alvejando ao luar...”, entretanto,
ela escuta o barulho de “risadas argentinas” e “gritos de satisfação”, e
percebe que existem pessoas que vivem uma realidade totalmente diversa da sua.
As festas nos salões iluminados com “crianças loiras e felizes”, “entezinhos
ditosos, que gargalhavam felizes cheios de calor” e “rodeados de calor e luxo,
sem fome e sem miséria”. Essa visão levou-a se perguntar por que existia tanta
injustiça na terra. A visão da catedral irá reacende no coração chagado da
personagem uma “esperança vivificante”, e ela se lembra do tempo em que rezava
e era devota. Em 1927 a escritora concedeu outra entrevista a Revista
Vida Capixaba, na qual afirmou que era Perfeitamente” possível se viver sem
religião, pois essa é “muita vez um estorvo na vida” e que “dela necessitam os
mutilados morais, que não podem caminhar sem muletas”, a escritora declarou,
ainda, que compreendia a religião como “um culto máximo da perfeição física,
ética e intelectual” que “tem o seu templo na natureza e na própria alma
humana”. A visão da escritora pode ser observada na ideologia de algumas
personagens. Ao depara-se com o passado de devota, Dolores entrou na
igreja vazia e ajoelhou-se, uma prece levou-a para o passado em Alcalá, “torrão
idolatrado”, mas, repentinamente tudo escureceu, pois, o vácuo “da ventura, no
coração vazio do afeto que a desvairou”, lembrou-a “das noites sem luz nas
trapadeiras infectas, o abandono, a fome...” (BANDEIRA, 2011, p. 8). Foi então
que ela sentiu o peso do filho nos braços e não conseguiu mais orar. Esse filho
era o “alento supremo” de sua vida, ela sofria ao ver o “pobrezito”
choramingando de fome e frio em seus braços, compartilhando com ela a “miséria”
das “noites de vigília e os dias de fome que secaram o seu leite” (BANDEIRA,
2011, p. 5). Invadida pelo desespero, Dolores “procurou, ainda, um sentimento
bom nos recônditos do peito e só encontrou ódio a tudo, uma raiva latente e
despedaçadora a todos, muito fel, muita amargura” (BANDEIRA, 2011, p. 8). Indignada,
ela fugiu da igreja, “templo enganador onde a levara uma crença fictícia”,
foi assim que “a blasfêmia fugiu-lhe dos lábios num rancor indizível, exalou-se
do coração e evolou-se de sua alma: ¾Deus não
existe!”
(BANDEIRA, 2011, p. 9). O conto termina de forma emocionante, com Dolores caída
desfalecida à porta da Catedral, sendo encontrada pela manhã, “estendida numa
súplica muda”, “apertando ao seio o cadáver do filho”, essa imagem remeteu-nos
imediatamente para a Pietá, uma das mais famosas esculturas feitas por
Michelangelo, que retrata a dor da Virgem Maria ao ter nos braços o corpo do
filho morto. Dolores entrevia, ainda, “enevoada, na penumbra do sonho, como a
miragem falaz, entre folhagens e flores, a casinha muito branca alvejando ao
luar” (BANDEIRA, 2011, p. 10).
Michele Perrot (2007, p.
84) ressalta a relação “ambivalente e paradoxal” existente entre as mulheres e
a religião, destacando que as religiões monoteístas fizeram da diferença dos
sexos e da desigualdade de valor entre eles o seu fundamento: “a hierarquia do
masculino e do feminino lhes parece da ordem de uma Natureza criada por Deus”.
A igreja oferecia abrigo às mulheres ás custas de sua submissão e os conventos
se tornaram lugares de confinamento.
O conto Sóror
Martha (“Sóror Martha”, 2011, p. 60), narra a história de uma freira
italiana,¾ possuidora de uma
“calma, plácida e morna”¾, que teve a sua vida
sacrificada no mosteiro, “túmulo” que sepultou para sempre a Giovannina que ela
fora um dia”. Nesse conto, deparamo-nos com outra personagem feminina
emblemática, que assim como Dolores, se tornou “sombra de si mesma. O conto,
agora divide a sua ambientação, a Giovannina vivia em Veneza, na Itália, depois
se exila num convento em local não descrito. Certo dia ela viu que “sobre as
águas suspirosas do golfo estendia-se o veleiro”, e foi de lá que ecoou a voz
“suava de um gondoleiro amoroso” que a prendeu “como a mariposa insensata”. Aos
quartoze anos de idade Giovannina se deixou dominar “pela irresistível tentação
dos loucos amores”. Abandonada e com o “coração dilacerado”, a jovem abraçou o
manto: “sob o hábito negro das freiras também palpitam corações despedaçados, a
viver das ruínas de sonhos para o eterno morto...”. A freira, sem saída, se ri,
ri, ri, sempre, e todos a julgam “a mais feliz da irmãs” e acreditam que a
“vocação fervorosa a fez freira”. Mas a personagem esclarece o horror da vida
monástica nessas condições: “achas que a vida monástica é uma delícia? Dizes
que há aqui a cobiçada paz, a tranquilidade eterna” que no convento “não viceja
o egoísmo da espécie, o desejo da glória, a ambição orgulhosa do poder. Como te
enganas!”. Esse conto remeteu-nos para o drama contemporâneo “o rato no muro”,
de Hilda Hilst, obra de 1967, na qual um grupo de freiras, entre as rezas,
compartilha misérias pessoais e limitações impostas por um muro do qual apenas
um rato, tornado personagem, terá a possibilidade de atravessar. A
impossibilidade de realização e liberdade é um analisador importante nesse
conto que dialoga com outras obras da literatura. Outro exemplo é dado pela
freira Sóror Violante do Céu, conhecida como Fênix dos Engenhos Lusitanos, no
texto poético intitulado “Vozes de uma dama desvanecida de dentro de uma
sepultura que fala a outra dama que presumida entrou em uma igreja com os
cuidados de ser vista e louvada de todos; e se assentou junto a um túmulo que
tinha este epitáfio que leu curiosamente”, nesse poema a morta dá conselhos a
outra jovem e diz: “Aprende aqui lições de escarmentada, Ostentarás acções de prevenida./
Considera que em terra convertida Jaz aqui a beleza mais louvada, /E que
tudo o da vida é pó, é nada, /E que menos que nada a tua vida.”A postura da
freira de Esmaltes e Camafeus é parecida, ela conta a sua experiência
de vida, a sua dor, para que a jovem narratária não cometa os mesmos erros,
garantindo, assim, um destino diferente do seu, pois Sóror Martha se considera
“um cadáver que se putrefaz, lento e lento, entre as paredes úmidas” de uma
cela escura. Entretanto, ela confessa: “ninguém, jamais, me viu uma lágrima,
rio, rio sempre...”.
Entre as representações femininas em Esmaltes e Camafeus (2011) encontramos, a personagem Haïma (“Haïma”, 2011, p. 110), prostituta de luxo que culpa os homens por sua condição e pela condição das mulheres que se tornam “traídas” quando ela exerce a profissão. “Como tudo isso me pesa”, diz a protagonista do conto, “cada brilhante que fulga engastado no oiro d’essas pulseiras” que envolvem o meu braço evoca uma alma de mulher que sofre, “as safiras, os rubis, as esmeraldas e os topázios são talvez as lágrimas das esposas esquecidas e dos filhos abandonados. Dos braços do homem amado, Haïma afirma ter caído “nos braços de todos”, assim, tanto ela quanto as demais heroínas dos contos abordados, narram histórias de traição e abandono, entretanto, com a impossibilidade do casamento e a recusa da vida no convento, sobrou para Haïna o prostíbulo. Denis de Rougemont na obra O amor e o ocidente (1988) faz-nos saber que desde a Idade Média o casamento figura como um sacramento, e que aos olhos da igreja o adultério era um sacrilégio, ou seja, um crime contra a ordem natural e a ordem social, este sacramento santificava os interesses fundamentais da espécie (procriação) e os interesses da cidade. Nesse sentido, a prostituição, atividade ancestral, começou a ser registrada e regulada a partir do século XII, com o avanço das cidades, sendo organizada, delimitada a algumas áreas e controlada pelo governo. A imagem da prostituta é oposta a da redentora, que tem como seu modelo ideal a Virgem Maria. Há entre o modelo feminino ideal, Maria, e o da pecadora, Eva, e o da prostituta arrependida, Maria Madalena que, tocada pela palavra de Cristo arrependeu-se de todo coração. Haïna atribui à culpa que sente e, tanto o seu destino, quanto o destino das esposas e filhos abandonados, ao homem:
Ah! È o homem, é o homem com seus vícios que fingindo endeusar a mulher, chafurda-a na miséria, na lascívia e até no crime para satisfazer seus apetites, perverter-lhe o espírito, [...] é o pior inimigo. Explora-nos a juventude e a nossa fraqueza, [...] trazem nos lábios a peçonha da mentira que intoxica a alma, mata as aspirações e enfeitam-nos de joias... para que brilhemos. Pobres pirilampos! O que brilha é a virtude. [...] Que culpa tenho eu, esposa traída, se teu marido abandona o leito conjugal, teus beijos puros, tua boca imaculada, para desfalecer nos meus braços, embriagar-se nos meus lábios? (BANDEIRA, 2011, p. 113).
A personagem declara: “Eu ainda tenho alma” e, “a
vida da pecadora é uma encenação”, “Eu sou a mercadora de amor, o amor em mim é
um ofício”. A imagem da prostituta arrependida reforça a tragédia do feminino
enquadrado no modelo patriarcal, marcados pela divisão, pelo ilhamento e pela
incompreensão mútua, as mulheres que buscaram fugir de qualquer um desses
modelos patriarcais foram oprimidas, perseguidas e até mesmo mortas.
A tragédia da vida de
Dolores se aproximará da de Cléria, personagem do
conto “Uma vingança do destino” (2011, p. 168). Abandonada grávida por
Alcimar, um boêmio jogador, “frequentador de cassinos e clubes noturnos”,
Cléria se vê desassistida com um filho recém-nascido. Ela é descrita pelo
narrador como uma “flor de estufa delicada e frágil”, assim como Dolores, “flor
gentil”. Antes de “ser dominada pelas sedutoras promessas de Alcimar”,
entregando-se “vitima passiva” ao homem que “soube conquistar-lhe o coração”
sua vida era diferente. Emergem na personagem as lembranças e ela busca abrigo
no sonho, lugar diverso da realidade, local das utopias, somente nesse domínio
será possível um destino diferente. Frente à tamanha incerteza quanto ao futuro
e desestruturação, a recordação pode se apresentar como uma forma de
reestruturação psíquica. Frederick Mayörcker (apud CIPLIJAUSKAITÉ, 2007, p. 24)
defenderá que ao se apertar o “botão para o passado”, emerge no centro da
consciência “algo de grande intensidade e com dinamismo própria”, que
funcionará como ponto de irradiação para múltiplas possibilidades de
associação”. Dessa maneira, uma aparentemente simples recordação pode pressupor
um despertar da consciência da personagem rumo a alguma forma de afirmação.
Cléria lembra-se de ter experienciando ser “o astro fulgente dos salões de
Escól”, agora, ela recorda-se dos pais “a envelhecerem de desgosto” e pensa nas
amigas casadas, “mais ou menos felizes”, que encontraram no casamento, se não a
felicidade, um porto seguro. Findo o “conto de fadas da mocinha tola”, a
personagem constata que esta “só e mãe” (2011, p. 171).
Em discurso direto,
Cléria faz um apelo comovido ao pai da criança: “¾ Nem
ao menos te compadeces de teu filho, Alcimar. Que será de mim no mundo, só, sem
arrimo e sem alento, sem um braço amado para guiar-me, com uma criança no
regaço, repudiada, escarnecida, porque quis viver para o teu amor?” (BANDEIRA,
2011, p. 170). Alcimar visitou o menino apenas uma vez, entretanto, voltaria a
vê-lo anos mais tarde, quando velho e falido invade uma casa para roubar e
acaba assassinando um jovem médico, o próprio filho, em uma reviravolta trágica
do destino. Há nesse conto, marcado por mágoas, silêncios e vazios, uma mãe
abandonada, com medo, que suplica ajuda ao pai da criança apoio na criação do
menino, o final do conto, embora trágico, indica que Cléria, de certa forma,
foi exitosa, pois a profissão de médico é valorizada, e demonstra um percurso
de trabalho e empenho para ser conseguida.
Aosanita (BENDEIRA, 2011,
p. 11), do conto homônimo é uma pianista que “se impusera como artista e
dominara como mulher”. Essa personagem não é mãe como as que vimos
anteriormente, ela é artista. Essa mulher refinada e culta desdobrava-se
para alcançar a perfeição: “era em vão que ela se enlevava em interpretar
páginas e mais páginas dos grandes mestres, com a inspiração e o sentimento dos
que sabem sentir, em vão o piano gemia dulçuro, em suspiros dolentes [...].
Entretanto, havia alguém ao seu lado, ouvindo-a impassível e com bocejos de
tédio, incapaz de acompanhá-la nos seus transportes” (BENDEIRA, 2011, p. 12). A
pianista conseguira agradar a todos com a sua arte, menos Elsenor,
que assistia ao concerto que lhe consagrara com indiferença e enfado.
Aosanita apresenta uma
situação sócio-cultural diferente das outras personagens abordadas, ela é uma
artista que alcançou reconhecimento: “trazia ainda a ressoar-lhe nos tímpanos o
som uníssono dos aplausos delirantes; [...] era a glória a acenar-lhe dos
pórticos da Arte” (BANDEIRA, 2011, p. 11). Entretanto, uma lembrança amarga lhe
assombra, embora tenha tocado muitas almas com “a harmonia mágica do som”,
Elsenor se mostrava indiferente. A personagem é destacada como
“irrepreensivelmente elegante, trajando o leve vestido cor de rosas murchas e
tendo entre os seios uma papoula ensanguentada, destacando-lhe a palidez da
emoção do instante, da sensação de tocar em público” (BANDEIRA, 2011, p.
14).Entretanto, ela não compreendia porque lsenor, que “suplicara o seu
concurso para essa festa caridosa, para pequeninos órfãos e infelizes
viúvas” mostrava-se indiferente. Ela acabara o conserto como quem “acorda
de um sonho longo, sem a sensação do tempo e do lugar” (BANDEIRA, 2011, p.
15). Com um sorriso triste nos lábios a personagem pergunta: “onde
achar a alma desse homem extraordinário?”, O sol nasceu e a manhã
encontra Aosanita ainda “no enlevo doloroso de quem vê fanar-se a mais
cara ilusão de um grande sonho” (BANDEIRA, 2011, p. 16).
Outras personagens de Esmaltes e Camafeus levantarão questões relevantes a serem observados pela crítica literária. Há Rosilda, do conto homônimo. Mulher de “espírito culto e investigante”, que “não era o tipo banal da nossa vulgaridade feminina”, era “uma dessas criaturas que deslizam pela vida, sonambulizando, com o epíteto de espíritos degenerados, a que o vulgacho denomina, geralmente, perdidos (BANDEIRA, 2011, p. 27). Rosilda, também, assim como as outras personagens, “se teve crenças e ilusões ¾ matou-as”, pois “sabia reconhecer o seu valor”, sua postura emancipada era vista como loucura por muitos, mas, isso não a abalava. A personagem exporá a sua visão sobre o homem:
É o homem o indivíduo que, por ser a perfeição do reino animal, é o mais imperfeito dos racionaes. Nelle enxergo apenas um elemento de procreação. E o amor, essa luz fulgurante que traz como ofuscada e te queima, é um goso que nos vem do sofrer. O soffrimento enerva; é o veneo das almas, o corruptor da humanidade que se depaupera. [...] Talvez não creias, mas não choro nunca. Aos teus olhos não parecerei mulher. Sei sentir e por isso mesmo não tenho lágrimas (BANDEIRA, 2011, p. 29).
Emancipada, Rosilda é
conhecedora do seu valor, mas é uma representação que mostra uma imagem fratura
do feminino, ela “nunca chora”. A galeria feminina se amplia e nos deparamos
com Sulmar (“Sulmar”, 2011, p. 33), A jovem de “olhos garços e
indolentes” tinha dentro de si uma “vida íntima, toda luz e claridade, [...]
possuía, como toda criatura, a loucura bendita de um ideal inacessível”.
Dividida entre dois amores, a protagonista do conto lida com o dilema de ter
que escolher entre dois homens: Rodolpho, poeta cuja alma é cheia de quimeras e
que lhe acalenta o espírito, e Amir, que ela amava com loucura e nos braços de
quem “fremia numa voluptuosidade lânguida”. O “amor espiritualizado” de
Rodolpho alimentava a “alma enferma de Sulmar com arroubos histéricos e
delírios de sonhos”, mas ela “vivia, porém, dos beijos de fogo de Amir e
amava-o com delírio” (2011, p. 35). O desejo de Sulmar é claro: “queria-os
ambos”. A pesonagem Zillah (“Zillah, 2011, p. 38), escrava
mestiça que, por amor e por ciúmes, comete dois assassinatos e se suicida; põe
em xeque a condição da mulher escravizada, ente privado de direitos básicos e
duplamente subalternizado.
Esse breve olhar sobre
alguns contos da obra revela a sua amplitude temática associada ao universo
feminino, mas, outros contos trazem como protagonistas personagens masculinos
como o timoneiro Naoh, um hindu exilado que sofre a pena de ser acusado de um
crime que não cometera e que aspira vingança; o conto “O velho piloto”
apresenta Franco, um marinheiro leitor de “o navio negreiro”, de Castro Alves e
em cujo “peito brazileiro” havia o “orgulho de ser brazileiro!”; no conto “A
felicidade”, Claudomir, “visionário da utopia”, que sonha encontrar uma mulher
a quem possa amar, mas esse era poeta, epíteto que lhe garantia, apenas, o
desprezo: “Que escarneo! E ousa levantar os olhos para uma mulher da
sociedade”, quando o “paladino do sonho” enfim se casa com Corina, essa não lhe
compreende e, escuta os seus versos com enfado. Carlos, protagonista no conto
“Os pórticos do mundo” é um ex-seminarista que se apaixona pela “diva cobiçada
das grandes rodas”, “rainha da beleza, deusa da formosura”, uma “Eva
terrível”. Considerado um “paspalhão” pelos amigos por ser tímido: “Grande
pedaço de asno!”.
Nos deparamos com outros
dois poetas, “o lendário Rabbi, o bardo divino da Galiléia longínqua, o poeta
das turbas”, Elle..., como era chamado, carregava um embrulho que, ai cair,
revelou ser o corpo de uma criança morta, possivelmente seu filho; e Altino,
“pobre poeta bohemio” que escreve seu primeiro livro aspirando vendê-lo, ficar
conhecido, rico e dar uma vida melhor a sua mãe pobre e doente: “O meu livro é
a minha esperança. Que importa que eu escreva com fome, tendo lágrimas nos
olhos e desesperos no coração? Ninguém o sabe”. Um “amigo”, um “bonifrate
endinheirado”, que se oferece para publicar a obra de Altino. O poeta só saberá
acerca da obra quando a vê elogiada no jornal e tendo como autoria o famigerado
“amigo” que era “herdeiro de um dos nomes mais ilustres”, assim ele
assiste o impostor ser aclamado como “mestre” e ser transformado em “redator”
pelos jornais. Outros contos com temáticas diversa integram Esmaltes e
camafeus, inclusive uma tradução do esperanto de H. Sienkiewicz, intitulada “Sê
Bemdita” (BANDEIRA, 2011, p. 75).
Observamos que as personagens femininas criados por Guilly Furatado são marcadas pela errância, pelo abandono, pela dor e por amarguras que encenam a via crucis da condição da maioria das mulheres na história. Esmaltes e Camafeus (2011) possui marcas relevantes da escrita de autoria feminina, entre elas a tentativa de recuperar, por meio da escritura, a consciência amputada da mulher, entretanto, nos deparamos com a impossibilidade da escritora do que Jürgen Serke chamou de “visão utópica”, ou seja, a impossibilidade de pensar as suas personagens para além do sofrimento e da dor, assim como, uma identidade não cerceada pelos costumes e nem definida pela relação com o homem. Essa é uma obra que, de certa forma, não rompe com o ideário feminino de sua época, ela cimenta esse rompimento para as escritoras contemporâneas, pois, de grande arrojo para a sua época, se3 volta para questões identitárias femininas, como a liberação/aprisionamento do corpo. Ribeiro nos faz saber que Guilly não fugiu a critica misógena do início do século XX. Michel Foucault, no texto O que o autor? Apontou para a importância da função deste para o controle dos textos. Foucault afirma que: “Os discursos “literários” não podem mais ser aceitos senão quando providos da função autor: a qualquer texto de poesia e de ficção se perguntará de onde ele vem, quem o escreveu, em que data, em que circunstância ou a partir de que projeto”, e isso se deve ao fato de que no primeiro quartel do século XX, o discurso feminino emergia apresentando-se como uma ameaça à ideologia dominante. José Veríssimo, um dos mais respeitados críticos do inicio do século XX, que definiu Esmaltes e Camafeus como “literatura de moça”, ele aponta “uma reminiscência perigosa” despertada pela obra, referindo-se ao Esmaltes e Camafeu, livro de poesia de Théophile Gautie, de 1852. Veríssimo reconhece o “cosmopolitismo” de Guilly, entretanto, adverte que “esse tipo de “imaginação cosmopolita”, em não se tratando de Shakespeare, “é arriscado”. Guilly se casou em 1914, com Raimundo Bandeira, e do Pará mudou-se para o Rio de janeiro, o casal teve dois filhos. A escritora formou-se em Direito em 1928, ¾ única formanda em uma turma de homens ¾, trabalhando no Ministério da Educação e Saúde, entre 1953 e1967, onde se aposentou. Viúva, Guilly voltou a residir no Espírito Santo, em Vila Velha, junto com o filho, quando falece em 1980, aos 90 anos. A edição fac-similada produzida pela Academia Espírito-Santense de Letras (AEL) foi uma importante homenagem à mulher conhecida como sendo a nossa primeira escritora publicada, e aponta mudanças significativas na recepção da escrita de autoria feminina na contemporaneidade.
Referências:
- BONNICI, Thomas. Teoria e crítica literária
feminista: conceitos e tendências. Maringá: Eduem, 2007.
- CIPLIJAUSKAITÉ,
Biruté. La novela femenina contemporánea: hacia uma tipologia de la
narración em primera persona. Barcelona: Santaré de Bogotá, 1994.
- MICHEL, Andrée.
O feminismo: uma abordagem histórica. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.
- PEDRO, Joana
Maria. Traduzindo o debate: o uso da categoria gênero na pesquisa
histórica. Disponível em < http://www.scielo.br/pdf/his/v24n1/a04v24n1.pdf>Acesso em 05 ago
2016.
- SHOWALTER,
Elaine. A crítica feminina no território selvagem. In: HOLLANDA, Heloísa
Buarque (org.). Tendências e impasses. O feminino como crítica da
cultura. Rio de Janeiro: Rocco, 1994. pp. 23-57.
- XAVIER, Elódia.
Narrativa de autoria feminina na literatura brasileira: as marcas da
trajetória. Revista mulheres. Rio de Janeiro, 1999. Disponível em: Acesso
em 20 fev. 2013.
- ZOLIN, Lucia Osana. Literatura de autoria feminina. In ZOLIN, Lúcia Osana & BONNICI, Thomas (orgs.). Teoria literária: abordagens e tendências contemporâneas. 3 ed. rev. e ampl. Maringá: Eduem, 2009.
[1] O preconceito dos gregos contras as mulheres pode ser revelado em citações literárias como estas, de Eurípides (c. 485-406 a. C), por exemplo, diz que “Que a mulher é um flagelo desmedido [...], perniciosa criatura”, e declara o seu ódio, especialmente, a (mulher) “inteligente”, pois é antes nas espertas que Afrodite inocula o pecado; para finalizar Eurípedes, na obra Medéia, põe na boca de Jasão a fala: “Se fosse possível ter filhos de outro modo, não mais seriam necessárias as mulheres e homens estariam livres dessa praga!” (RIBEIRO, Trad. Mário da Gama Kury).
[2] Béatrice Didier
(apud, CIPLIJAUSKAITÉ 1994, p. 39) estabelece uma diferença entre o
funcionamento da memória na mulher e no homem, ente ambos a diferença dependerá
da percepção do tempo, para a mulher a concepção de tempo atuará de forma
bergsoniana, num contínum e não deixará de existir, já no homem, é
sempre “um retorno ao Outro, enquanto a mulher volta ao mesmo.
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