Há uma ferida que não sara
e sangra sempre que
o vento bate à lembrança,
sempre que vejo no espelho,
minha alma despida/refletida,
e revivo os pesadelos de criança.
Busco auto-liberação das desculpas e
dos ressentimentos, então percebo
uma fonte jorrar de dentro
do deserto de mim.
Só a palavra me conforta
e livra da morte em vida,
do estado de ser zumbi.
Re-nascida pelo batismo no Léthes,
vejo o sol brilhar mais uma vez.
Há sonhos que nos nutrem por uma vida,
não sabemos de onde eles vem, mas
são tão vívidos e nos dirigem resolutos para
lugares novos e inusitados.
Quem sabe eles nascem da ferida que sangra?
ou do grande espelho meu que, impiedoso,
reflete na cara verdades mascaradas?
É desse deserto extenso que
meu olhar vislumbra o mundo.
Incertezas, dúvidas e
dores se agregam a sonhos reluzentes
formando um rio profundo e caudaloso
que em curso sinuoso
corre para além de mim.