La Cueva

Sou o teu túmulo,

Última guarida,

Teu descanso.

Espaço profundo,

Incógnito oceano,

A cova que valida

Tudo o que foi

A tua vida.

(RB, Santiago de Compostela, out.2013)

Serpentina

Astuta e sinuosa

Como a serpente interrogativa.

Estranhamente flexível

Como a árvore que resiste

Às correntes.

Pacífica como o rio

Que beija a margem.

Margem que faz fronteira

Com o infinito.

Amar, amar, amar...

Ensinou o meu poeta.

Amar, amar, amar...

Esta é, também, a senda

Indicada pelos mestres

Da compaixão e da sabedoria.

Mas, da serpente

Tenho apenas a vivência

Do chão, e a amizade,

Frágil da formiga.

Da árvore tenho a raiz

Rude e grosseira e, amar,

Sempre foi e será

A minha grande meta!

(RB)

A Queimada em Compostela

Reunimos-nos para honrar

As mulheres da ordem de Santiago.

Benditas sejam!

Celebramos suas mãos que

Trouxeram à luz meninos e meninas,

Que preparam unguentos e filtros e

Fizeram a terra tremer

Pelo poder de suas palavras.

Chamavam-nas bruxas,

Eram temidas por todos,

Mas, eram apenas mulheres!

Semeadoras de sonhos e

Ceifadoras de estrelas.

Reunimos-nos para honrar

As mulheres da ordem de Santiago.

Benditas sejam!

Celebra as suas vidas e pedimos perdão

Pelas fogueiras e pela ignorância.

Nesta queimada testemunhamos

A emergência de um novo tempo

De amor e compreensão.

A partir de hoje mulheres e homens

Arderão, apenas, de amor!

(RB, Santiago de Compostela, 12-10-2013)

A invenção de Picasso

Conheci as suas mulheres,

Pablo,

Coitadas, como choravam...

Quanta agonia em seus corações

Quanta fragmentação,

Quanta dor...

Reflexos de tua cisão incorrigível.

Agradeça a cada uma delas

Seres quem és!

(RB)

Salomé

Salomé foi pouco criativa

Ao pedir a cabeça

De João Batista.

Eu quereria todas

As suas partes.

(RB)

A Bruxa de santiago de Compostela

Para Karina de Resende Tavares Fleury

Ela é parte do caminho

Aquela força primeira

Que faz o homem se lembrar

Que é rebento de uma fêmea.

(RB)

Guernica II

Não matem os touros,

São meus filhos,

Todos eles, todos, todos...

Não matem os meus filhos que

Também morro!

Chorei ao ver Guernica,

Lágrimas que não eram

Apenas minhas.

Senti a dor e o desespero

Condensados, feitos um.

Forma terrível,

Monstro tão humano,

Assassino sanguinário,

Ser que não morre,

Apenas dormita de

Vez em quando.

Guernica se atualiza:

Espanha, Portugal, Brasil,

Egito, Palestina, Síria,

Marrocos, França, Itália,

Argentina...

Vi jovens desejando ressuscitar

O fascismo, sob os aplausos

Dos herdeiros de Hitler.

Oh! Deus, o que é isso?

Onde vamos parar?

Vamos parar?

Seremos capazes de recontar

(Os dias)

Com compaixão e esperança?

A grande nave parece desgovernada,

Quebrou-se o timão,

Até aonde posso ir com as palavras?

Até onde meus pés cansados

podem me levar?

Eu quis aninhar Madri

Nos meus braços,

Alimentá-la no meu seio e

Ornar a minha cabeça

Com as vieiras de Santiago

De Compostela.

Sonho tocar o coração

Desta terra e extirpar

A violência.

Não matem os touros,

São meus filhos,

Todos eles, todos, todos...

Não matem os meus filhos que

Também morro!

Os sinos das igrejas anunciam

A emergência de um novo canto.

*RB, Madrid, 11-10-2013

Árvore

Frida sem os pés

E com asas.

Florbela em dores e êxtases,

Com colar de pérola e

Saudades camonianas.

Freda Jardim, musa, colorida

Como a primavera.

Hilda, rutilante, criando

Escorpiões e me inquirindo

Com o seu gênio de cão.

Sofia, sereia do Tejo e, Cecília,

Senhora do romanceiro de Minas.

Clarice, mulher da sombra e da maçã,

Dal Farra, joalheira da palavra e gata

Com olhos de fera.

Ester Abreu, amor e sabedoria.

Rosalía de Castro e Inês de Castro,

Rainhas e irmãs na morte.

Maria Teresa Horta, 
Resistência e epifania.

Eu sou o que elas

Fizeram de mim.

Estranhamento

O meu espírito estranha este momento,

Não reconhece esta pele,

Esses olhos que me fitam, profundos,

No espelho.

Quem é esta que vê o mundo

Pelo caleidoscópio e se enxerga

Ao avesso?

Quem é essa que vai, pelo caminho,

Colhendo flores e se ferindo

Com os espinhos?

As rosas são mulheres

Transformadas em santas!

(RB, Galícia, 14-10-2013)

Show de Chico Cesar na Galícia (11-10-2013)

Amigos, 
entre os muitos momentos agradáveis passados na Galícia, destaco o show do cantor Chico Cesar e convidados no dia 11-10-2013. Foi uma delícia ouvir e cantar "Mama Àfrica" e relembrar o tempo em que eu e Luiz viajamos pelo nordeste (em lua de mel) curtindo a nossa união, que completará em fevereiro agora 20 anos. De quebra assisti as apresentações do poeta Pedro Pastor, que abriu a noite, e de Dani Black, filho de Tetê Espíndola, ambos deram um show! Obrigada a amiga Karina por ter me convidado para assistir o show, e ao Chico Cesar por ter nos recebido no seu camarim, foi um momento especial! Não esperava diferente do cantor-poeta, e se já era fã, agora muito mais!

Beijos desde Santiago de Compostela

Renata Bomfim