27/04/2023

Um Poema de Marijo Kalixien / Asunción-Paraguay (traduzido por Francis Kurkievicz)

 

Marijo Kalíxien

Esbofeteado pela loucura...

Convulsões agitadas

batem à minha porta

com um medo maior da morte

 

Estou viva com o fardo

faminto pelo incorpóreo,

e um pânico sutil que respeito antes de dormir,

temendo o terror pelos meus mortos,

transformado em espanto eu me tornei

no meu próprio medo de entregar

minha chama de cristal

 

Se o cadáver se tornar um ventríloquo

manifestando através de mim,

ele vai usar minha boca para falar

e eu seus olhos para ver

 

Não tenho medo de me extinguir

nem estou sobrecarregada por suas palhaçadas

 

Sua noite insondável é

proporcional a minha força

 

Pego suas mãos, dou a ela um

Batizado beijo e nascemos juntas

 

Não me ensinem a temer o inferno!

Quando há um novo espaço

meu coração se ilumina,

meu dom é deixar de ser uma barreira,

Sou uma ponte para o paraíso que escolhi ser.

Purifico o olhar interno e tudo tem vida

 

Os mortos são esvaziados

aprendo com suas cinzas;

Ninguém quer saber

Que se pode morrer em vida!

 

Se a dor nutri, meu processo ao andar

É uma ferida nobre, é útil porque me nutre,

a dor tem uma certa nobreza

 

Curar o sepultado

é cair em buracos fundos

que vão trazer luz, luz forjada vulcão com carícias

derreto-me ao dar à luz ao meu peito em espelhos

Detonando meu coração, com os pedaços quebrados

reinvento um mosaico de asas

no meu corpo isso é tão transitório

como um infinito amor por você

 

A morte está sempre

mais próxima da vida

 

Eu sou a lucidez de uma alquebrada memória

pratico alquimia com seu veneno

meu antídoto é morrer todos os dias

procuro nascer mil vezes como solução

 

logro a força da gravidade para cima,

emano o parto de sonhos abortados

arrastados da linhagem, não mutilado, integro

 

revivo a tragédia de todos

os sábios para restaurar meu passado

 

Porque da alma, só pode

sangrar a luz mesmo que doa,

liberdade mesmo que me doa

embora me doa,

mesmo que me doa

 

Eu reajo a cada chamada

que excita as chamas das minhas asas

 

De uma fenda eu brilho

e digo: nasce-me novamente,

Aceito sem censura a morte das máscaras,

me levanto levemente,

Aprendo o dom de nascer depois de morrer

 

Somos todos sobreviventes

da morte de um de nossos personagens

e concebendo o parto em outra mais corajosa

até que finalmente cessem

todas as máscaras

ou que elas nos obedeçam.

 

Esta transição será um

grande alívio para minha alma

As sombras me ensinaram

a luz que possuo.

 

***

Abofeteada por la locura…

convulsos latidos trepidantes

tocan a mi puerta

con un miedo mayor a la muerte

 

Estoy viva con la carga

hambrienta de lo incorpóreo,

sutil pánico que respeto antes de dormir,

temiendo del terror por mis muertos,

mutando en espanto me convertí

en mi propio miedo para entregar

mi llama de cristal.

 

Si el cadáver se convierte en ventrílocuo

profesando a través de mí,

él usará mi boca para hablar

y yo sus ojos para ver

 

No me amedrento por extinguirme

ni de sus bufonadas me sobrecojo

 

Su insondable noche es

proporcional a mi fuerza

 

Le tomo las manos, le doy un

bautizado beso y nacemos juntas

 

¡No me enseñen a temer un infierno!

 

Cuando hay espacio nuevo

el corazón se me aligera,

mi don es dejar de ser barrera,

soy puente al paraíso que elija ser.

Purifico la mirada interna y todo tiene vida .

 

Los muertos se vacían,

aprendo de sus cenizas;

¡Nadie quiere saber

que puede morir en vida!

 

Si el dolor alimenta, mi proceso al andar

es una herida noble, es útil porque me nutre

el dolor tiene cierta nobleza

 

Sanar lo sepultado

es caer en los huecos profundos

que van a traer luz, luz hecha volcán con caricias

se me derrita por dar parto el pecho en espejos

 

Detonando mi corazón, con los pedazos rotos

reinvento un mosaico de alas

en mi cuerpo que es tan transitorio

con un amor infinito por ti

 

La muerte siempre está

más cerca de la vida

 

Soy la lucidez de una partida memoria

practico la alquimia con su veneno

mi antídoto es morir cada día

yo busco nacer mil veces como salida

 

Obtengo la fuerza de gravedad para arriba,

emano el parto desde abortados sueños

arrastrados de la estirpe, no mutilo, integro

 

Revivo la tragedia de todos

los sabios para restaurar mi pasado

 

Porque del alma solo puede

sangrarme luz aunque me duela,

libertad aunque me duela

aunque me duelas,

aunque me duelan.

 

Reacciono a todo llamado

que excite las llamas de mis alas.

 

Desde una grieta resplandezco,

y digo: Nace – me de nuevo otra vez,

acepto sin reproche el fallecimiento de máscaras,

me elevo ligera,

aprendo el don de nacer después de morir.

 

Somos todos sobrevivientes

en la muerte de un personaje nuestro

concibiendo el parto en otro más valiente

hasta que terminen por fin

todas las máscaras

o nos obedezcan.

 

Esta transición será un

gran alivio para mi alma

Las sombras me enseñaron

la luz que poseo.

 

*

Marijo Kalixien ... (Maria José Cañete Muñoz) Asunción, Paraguay – 1988. Designer e artista multidisciplinar. Premiada em 1º lugar Onu Tatakua Women nos círculoscriativos 2018, ilustradora no projeto Violentadas em Quarentena, pesquisa vencedora na categoria Digital Media Award do One World Media da Onewm e Google NewsInt para o jornal La Nación e o meio de comunicação Distintas Latitudes (México 2021), ilustradora no projeto: "você sabe como é representada se um dia aparecer morta" selecionada pelo 1º congresso

internacional sobre comunicação de gênero e violência (Espanha 2021). Ilustradora da visibilidade de poetisas paraguaias com o projeto: Escritoras Paraguayas, para o jornal La Nación (2021). Ilustradora para campanhas de visibilidade feminina no projeto "Mulheres Inspiradoras" para Nivea, agência Lupe (2020). Ilustrador e book designer com o projeto " Ymaguaré" para a fundação Moises Bertoni promovendo a importância da água (2021). Colaborou em diferentes iniciativas de promoção das artes e da cultura em Assunção, como cantora performática, também realizou exposição de fotografias performáticas com o tema “a auto exploração do corpo feminino” no centro cultural La Serafina (2019). Atualmente é diretora da MarijoKalxienart onde sua sensibilidade às mudanças é gerada pela realização de projetos para diferentes entidades sem fins lucrativos.

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Francis Kurkievicz é poeta, escritor e professor, natural de Paranaguá/PR. Residiu por 20 anos em Curitiba/PR onde estudou FILOSOFIA – UFPR/2002, com especialização em Yoga – UNIBEM/2010 e MBA em Produção de RTVC, UTP/2011. Foi um dos 36 pré-selecionados ao Prêmio SESC de Literatura de 2015 na categoria Conto. Publicou, em dezembro de 2020, pela Editora Patuá, o livro de poemas B869.1 k96. Têm poemas publicados nas Revistas Acrobata, Hiedra, Mallarmatgens, Arara, Estrofe e no site escritas.org – traduções na Revista Zunái, Escamandro, Letra & Fel – artigos no Jornal Memai. Em 2022 teve seus poemas publicados nas duas maiores antologias mundiais de poesia: World Poetry Tree, organizado por Adel Khosan – Dubai/EA, e Living Anthology of Writers of the World, organizado por Margarita Al – Russia; também teve seu poema CHILDHOOD IN BHARAT publicado em MA: Antologia de Poemas em Memória da Poeta bengali Kazi Masuda Saleh, feito realizado pelo poeta de Bangladesh Abu Zubier Mohammed Mirtillah, Editor e organizado. Em Vitória desde fevereiro de 2012, ministrando oficinas de Dramaturgia, Haikai e Meditação.

Língua portuguesa: SISTEMA, NORMA, ESTILO (Prof. Dr. José Augusto Carvalho)


Há gramáticos, entre os quais Napoleão Mendes de Almeida, que repudiam como erradas as expressões tevê a cores e tevê de cores, e recomendam apenas tevê em cores sob a alegação de que, no Brasil, não se diz tevê a preto e branco, mas apenas tevê em preto e branco. Na verdade, a expressão tevê em cores é menos vernácula do que tevê a cores, já que tevê em cores me parece um galicismo (Cf. télé en couleurs). Em Portugal, diz-se televisão a cores/a preto e branco. Ora, as preposições a, de e em, com frequência se podem intercambiar em várias expressões, sem que se possa afirmar que apenas uma seja a correta. Senão vejamos: fogão à lenha / de lenha; panela de pressão / à pressão; vestido de muitas cores / em muitas cores; barco de vela / à vela; navio de vapor / a vapor. O fato de não se ouvir, no Brasil, televisão a preto e branco não significa que se trate de expressão condenável, mas apenas de um padrão não preferencial. A norma restringe o sistema. 

Sistema é um conjunto de elementos coordenados entre si que se relacionam e funcionam numa determinada estrutura. Em outras palavras, todo sistema é uma rede de relações. Sistema, do ponto de vista linguístico, é o conjunto de relações numa determinada língua, assim como o conjunto de relações entre fios, lâmpadas, faróis, dínamo e bateria constitui o sistema elétrico de um carro. Norma é aquilo que é usual entre os falantes de uma determinada língua. Assim, temos uma norma no dialeto caipira como temos uma norma no dialeto do brasileiro culto. Norma culta, portanto, é o que é normal na linguagem de uma pessoa culta. A sibilante surda entre o silêncio e uma vogal tônica admite a formação de um ditongo decrescente: nós > nóis; rapaz > rapais. Essa é a norma no dialeto mineiro, mas a norma culta não admite esse ditongo.

A norma culta, de certa forma, é arbitrária por aceitar uma determinada forma em detrimento de outra; é artificial, por ser ideal e, ao mesmo tempo, difícil de atingir plenamente, porque uma pessoa não pode policiar a linguagem durante todo o tempo em que estiver falando e até mesmo escrevendo. Chama-se estilo ao maior ou menor grau de atenção que um falante dá à própria fala. A norma culta se caracteriza por ser um estilo refletido, de policiamento da própria fala, em oposição a um estilo descontraído, em que a pessoa dá mais importância ao que diz do que ao modo como diz. Há cinco tipos de estilo, do mais formal (como o de um discurso a um autoridade) ao menos formal (familiar), passando pelo semiformal (linguagem de um professor em aula), pelo coloquial tenso (um cronista ou jornalista escrevendo sua notícia) e pelo coloquial distenso (conversa entre amigos sobre, por exemplo, um jogo de futebol). 

Curiosamente, um aluno meu no curso superior escreveu: O rapase me procurou (cito de memória). Ele queria dizer rapaz. Demorei a descobri o porquê dessa grafia que não correspondia à norma do aluno que nunca usou rapase por rapaz nas conversas pessoais: ele dizia “Eu estava quais caindo” (quais = quase). Ele pensou, portanto, numa quarta proporcional: o nome rapaz ele pronunciava “rapais”. Portanto, como escrevia quase e pronunciava “quais”, achou que rapaz tinha grafia semelhante (um exemplo de hipercorreção).

Num jogo de xadrez, as peças constituem um sistema. Se uma das peças é movida ou removida, o sistema é outro, porque se modificou a rede de relações, mas o jogo (a língua) permanece o mesmo. Antigamente, o sistema de demonstrativos na nossa língua tinha vários elementos, entre os quais, por exemplo: este, esse, aquesse, aqueste, isto, isso, aquilo... O sistema de demonstrativos mudou, porque alguns de seus termos desapareceram, mas a língua permaneceu a mesma. O sistema permite que se diga à manhã, como se diz à tarde e à noite, mas a norma não permite (cf. de manhã, de tarde, de noite). O sistema aceita que o feminino de diretor seja tanto diretora quanto diretriz (cf. ator/atriz), mas a norma reservou diretriz para a metalinguagem da ciência, e reservou apenas diretora para o feminino de diretor. O sistema admite que se diga mulher superiora, mas a norma estabeleceu que o feminino de superior só deva ser usado para a freira diretora de um convento: madre superiora. Da mesma forma, é a norma que não permite que se diga, por exemplo, televisão de cores, embora o sistema permita essa construção. Se uma criança diz fazi em lugar de fiz, ela se guia pelo sistema (cf.: correr  corri), mas a norma leva-nos a dizer apenas fiz, e corrigimos a criança que diz fazi. O sistema permite que se diga presidenta, como se diz governanta (feminino de governante) e infanta (feminino de infante), mas a norma não permite que se diga estudanta para o feminino de estudante, nem gerenta para o feminino de gerente, embora o sistema permita esses femininos, mas tanto o sistema quanto a norma admitem o feminino presidenta. Repita-se o que acima se disse: a norma restringe o sistema. O feminino dos nomes em -ês, como português, por exemplo, se forma acrescentando-se um a ao nome: portuguesa. Mas a norma não permite que se diga burrinha pedresa, e só admite pedrês como nome invariável em gênero. A norma não se explica: ela estabelece. Por isso não podemos explicar por que se admite o feminino governanta (de governante) e não se admita o feminino estudanta (para estudante).

Prof. Dr. José Augusto Carvalho é Natural de Governador Valadares, MG. Crítico literário, é professor aposentado da UFES, Mestre em Linguística (Unicamp) com a dissertação Análise de alguns componentes da narrativa (1975) e Doutor em Letras (Língua Portuguesa e Filologia) pela USP com a tese A Articulação pronominal no discurso (1979). Autor de A ilha do vento sul (romance), Aprendendo a ler (didático), Do pensamento à palavra – lições de português para a prática da redação (didático - em colaboração), De língua e linguística (2022), O suicida e outras histórias curtas (2020), Pequenos estudos de lingua(gem) (2022) e Crônicas linguísticas (2018). Adquira os livros do Prof. José Augusto.

24/04/2023

Troca de sons (Prof. Dr. José Augusto Carvalho)

 A metátese é a troca de sons no interior de uma palavra na mesma sílaba, como pregunta (por pergunta) semper (por sempre), por exemplo. Quando a troca de sons ocorre distante, na mesma palavra, em sílabas diferentes, como estrupo (por estupro) ou cardineta (por caderneta) ou entre palavras, como em transmimento de pensassão (por transmissão de pensamento), por exemplo, ela tem o nome de hipértese. 

William A. Spooner (1844-1930) utilizou esse tipo de jogo de palavras em que a troca de sons resulta sempre em palavras existentes, como em “You have wasted two terms” (você desperdiçou dois trimestres) por “You have tasted two Worms” (você provou duas minhocas), ou como “Queer Dean” (Estranho deão) por “Deer Queen” (querida rainha). Por causa de Spooner, esse fenômeno tem em inglês o nome de spoonerism, em homenagem ao seu autor. Em francês, o spoonerism tem o nome de contrepèterie, como em “Trompez sonnettes” (Enganai campainhas) por “Sonnez, trompettes” (Soai, trombetas). Um maravilhoso exemplo de contrepèterie (que o autor chamou de antístrofe equivocadamente) nos veio do escritor Rabelais (1494-1553), autor de Gargantua: “Femme folle à la messe” (Mulher maluca na missa) e “Femme molle à la fesse” (Mulher de bumbum mole).

A antístrofe ou antimetábole (termo que o dicionário Aurélio não registra, embora mande o consulente consultá-lo no verbete antimetátese) é a mudança de sentido na repetição de palavras em ordem diversa, como em “trabalhar pra viver não é viver pra trabalhar”, “Usar as armas da inteligência é melhor que usar a inteligência das armas”, por exemplo. No Brasil, a hipértese intervocabular mais extraordinária é de autoria de Millôr Fernandes, que a empregou na fábula “A Raposa e o Bode” (Fábulas fabulosas. Rio de Janeiro: José Álvaro, 1964, p. 133-4), de que aqui transcrevemos o título, o início e a moral: “A Baposa e o Rode. Por um asino do destar, uma rapiu caosa num pundo profoço do quir não consegual saiu. Um rode, passi por alando, algois tum detempo, vosa a rapendo, foi mordado pela curiosidido.” Moral: “Jamie confais em qua estade em dificuldém.”

Também Paulo Leminski usou a hipértese intervocabular no poema “Diversonagens suspersas”, que forma duas palavras palavras-cabide. Palavra-cabide ou palavra-chave ou portmanteau é a redução de um sequência de palavras numa só ou a fusão de partes de palavras diferentes, como bit, nome oriundo da expressão inglesa “binary digit”, ou como, na brincadeira infantil, rinocerafa para filhote de rinoceronte com girafa. No poema concreto do livro Caprichos e relaxos, Leminski joga com os sons do vocábulo metamorfose, a partir de materesmofo, passando por mesamorfeto, termoseforma e motormefase, entre outos falsos lexemas, até chegar a metamorfose (Melhores poemas. São Paulo: Global, 1996, p. 100)

Outro fenômeno de troca de sons tem o nome de heterofemia ou heterofasia, que consiste no uso de uma palavra por outra parecida, como “mexa a porca” (por fecha a porta), “rega a mata” (por pega a pata), por exemplo. Ainda que seja sempre interessante o efeito desses processos lúdicos de troca de sons, é mais inteligente e surpreendente o seu uso, quando a versão hipertética mantém um sentido próprio, diferente do da frase original, como ocorria nas invenções do reverendo Spooner, merecidamente imortalizado em dicionários da língua inglesa.



Prof. Dr. José Augusto Carvalho é Natural de Governador Valadares, MG. Crítico literário, é professor aposentado da UFES, Mestre em Linguística (Unicamp) com a dissertação Análise de alguns componentes da narrativa (1975) e Doutor em Letras (Língua Portuguesa e Filologia) pela USP com a tese A Articulação pronominal no discurso (1979). Autor de A ilha do vento sul (romance), Aprendendo a ler (didático), Do pensamento à palavra – lições de português para a prática da redação (didático - em colaboração), De língua e linguística (2022), O suicida e outras histórias curtas (2020), Pequenos estudos de lingua(gem) (2022) e Crônicas linguísticas (2018). 

Adquira os livros do Prof. José Augusto.

19/04/2023

Carmélia Maria de Souza: nas esquinas dos astros (Profa. Dra. Renata Bomfim)


“Não tenho queixas da vida, porque ela ainda me dá razões
para olhar as estrelas e repetir em silêncio o nome de Deus”
(Carmélia Maria de Souza).

A CRONISTA DO POVO
Carmélia Maria de Souza (1936- 1974) nasceu na Fazenda Rodeio, Município de Rio Novo do Sul, ES. Em seus escritos a cronista definia-se como sendo uma pessoa “trágica, dominadora e hostil” e advertia: "Não vem que não tem. [...] Olha, somos grossíssima, péssima companhia noturna, diurna ou vespertina; devemos a Deus e ao mundo, mau-caráter, desgraçada, temperamental, neurótica, falsa, inconstante, cínica e debochada. Favor não ficar sentado em nossa mesa quando não for convidado, não. Nós somos o fim da picada, se você quer saber".
No texto de abertura do livro póstumo Vento Sul, intitulado "Esta ilha é uma delícia", um auto- perfil, Carmélia definiu a sua profissão: “cronista do povo”. 

VENTO SUL
Carmélia não publicou. A sua única obra, Vento Sul, foi publicada em 1976, dois anos após a sua morte, pela Fundação Cultural do Espírito Santo, com notas e introdução escritas pelo jornalista e amigo pessoal Amylton de Almeida. Em 1994 o Vento Sul foi reeditado, fruto de uma parceria entre a Rede gazeta de Comunicações e a Universidade Federal do Espírito Santo, integrando o segundo volume do projeto "Nossolivro", distribuido sob a forma de encarte no jornal A Gazeta. Nessa versão encartada, Amylton de Almeida reduziu substancialmente a introdução que havia feito para a primeira edição, e alguns textos foram suprimidos. A terceira edição de Vento Sul, apresenta-se como “um meio termo” entre as edições anteriores, mantendo a introdução feita por Amylton na sua totalidade, mas também suprimindo alguns textos. Esta edição traz como novidade “toda a matéria em homenagem à Carmélia publicada na revista Você, n. 24, de junho de 1994.

O LUGAR DA MARGINALIDADE
Foi da margem que Carmélia escreveu e esse lugar confere a sua produção uma grande potência. Ela foi muito querida seus amigos que, carinhosamente,  a chamavam de Félia e Magnólia, entre outros nomes bastante referenciados nos seus textos. Ela é descrita como uma pessoa afetuosa, como nos mostra o relato de Reinaldo Santos Neves: "[Carmélia] não fixava fronteiras para a troca de calor humano. Se dava bem com a esposa do magnata e com o pescador fodido que afogava as mágoas na pinga, não tinha preconceitos: não fazia distinção de sexo, credo, cor, nem pedigree social ou econômico - nem muito menos de idade". Essa abertura para o outro, marca registrada da personalidade de Carmélia, possivelmente tenha influenciado no sucesso que alcançou no campo da crônica. 

OS ANOS DOURADOS X A CONTRACULTURA
A excitada década de 40 foi marcada pela efervescência cultural e literária no Espírito Santo. A escrita feminina capixaba se solidificou, culminando na criação, em 1949, da Academia Feminina Espírito-Santense de Letras, que Carmélia externou o desejo de entrar mas, não lhe foi permitido. A vidinha provinciana,  embalada “ao som das orquestras dançantes” do Clube de Vitória, Praia Tênis Clube e do Saldanha da Gama" contrastou muito com os 1950, geração da qual Carmélia foi representante. 
A cronista aflorou no cenário literário capixaba em 1958 e foi considerada pelo pesquisador Agostinho Lázaro, uma das melhores cronistas do Espírito Santo. Francisco Aurélio Ribeiro afirma que Carmélia  foi à responsável por popularizar a crônica escrita por mulheres no Espírito Santo, "ao retratar com fidelidade, o espírito de contestação [que seria a marca] dos anos 60 e a desilusão dos anos 70”.
Carmélia personificou, através de seus escritos, o espírito das décadas de 50 e 60. Para Reinaldo Santos Neves, difícil, talvez impossível de definir, mas, Carmélia foi, certamente, “alguém que abriu caminhos – principalmente para as mulheres de Vitória”, e isso, “sem lágrimas nem dor. A não ser para ela mesma”.
Na crônica intitulada Minha Félia ela lança um olhar sobre si e sobre o seu tempo:
Quando nada, vou cumprindo a tarefa de aperfeiçoar a ferramenta para os outros, que certamente virão. Quando nada, é possível que eu me saiba um pedaço desta ponte que deverá conduzir a humanidade até um mundo melhor. Tenho pena de não haver esperado para nascer no ano de 2050. Porque até lá, a imortalidade seja possível e a vida seja feita de colaboração e não de competição. Todavia isso não passa de uma conjetura, apenas desejável. No momento, a disputa por um pedaço de pão atirado no lixo, a dura luta contra a escravidão [...] é o que constitui a presente e amarga realidade que me foi dada para contemplar. [...] Mas ela passou a ser minha preocupação maior, a minha verdade, a minha poesia. Ela é hoje a minha consciência – a minha clara e nítida consciência, minha promessa única de realização nessa vida"

TRABALHOS
A visibilidade pública chegou por meio do semanário Sete Dias. A incursão no  gênero “nacionalmente dominado por nomes como Antônio Maria [...] e Rubem Braga”, segundo Amylton de Almeida, aconteceu num tempo quando “a juventude capixaba imitava a do resto do país, em conduta e espírito”. Carmélia foi Funcionária Pública Federal, trabalhou no Museu de Arte Histórica de Vitória, situado no Solar Monjardim, na Biblioteca da FAVI, e durante dezessete anos de vida jornalística, colaborou com jornais e revistas estudantis, trabalhando nos principais jornais da capital: Sete Dias, O Diário, Vida Capixaba, A Tribuna, A Gazeta, O Debate e Jornal da Cidade (acesso em 23 de fev. 2008). Parte do acervo que continha seus escritos foi destruído em um incêndio na década de oitenta, eram crônicas publicadas em A Tribuna e O Diário.

IRONIA
A ironia e a irreverência marcaram a escrita cronística de Carmélia e essa postura  refletiu a sua vida. Por meio das crônicas de Carmélia é possível vislumbramos o quotidiano vitoriense da época, ela explorava as experiências que vivenciava na “ilha” de uma forma livre e muitas vezes irônica.
 A crônica intitulada "O deletério do povo capixaba" diz: “Apesar de eu não topar muito esta palavra - deletério – confesso que não encontrei outra mais expressiva para dizer o que penso do honrado povo capixaba que empesta a minha terra. É, decididamente, um povo deletério, este. O povo mais deletério do mundo, talvez. E, embora a gente até goste mesmo deste povo (porque a gente nem sempre tem vergonha na cara...), Sou obrigada a espinafrar com ele de vez em quando, porque assim também não há quem aguente: a barra anda pesando demais. [...] é bastante alguém pensar em fazer alguma coisa que preste nessa Ilha (ô Ilha!), para que os chamados “pés-frio” comecem logo a engrossar. Ao invés de darem o necessário incentivo [...]. E vão em frente os deletérios do inferno, apostando a própria mãe como ninguém será capaz de fazer coisa nenhuma. É uma desgraça, enfim". A cronista utiliza o procedimento irônico para denunciar a valorização que muitos capixabas faziam do Rio de Janeiro em detrimento de Vitória: “a Ilha, também é uma cidade maravilhosa, à sua maneira”, e que quem não presta é o indivíduo que não lhe dá o devido valor. Ela segue explicando os motivos do seu  dissabor: "O diabo é que vocês não aprendem a enxergar a coisa como ela é. E estão sempre prontos a me chamar de doida todas as vezes em que eu escrevo que a rua Duque de Caxias é linda, bárbara, importantíssima, [...] é uma rua com alma é coração, capaz de comover a gente por causa de seu lirismo, de sua beleza antiga, de sua poesia. Vocês não alcançam a importância de uma cidadezinha como Santa Tereza [...] o turista é capaz de sair daqui completamente gamado, [...] é capaz até de sentir inveja da gente. Enquanto vocês seus bobocas, não sabem valorizar as coisas que têm. Só querem mesmo é bagunçar o coreto, ficam aí reclamando e se esquecem de que nosso estado- especialmente Vitória - possui coisas lindíssimas. [...] A ilha está pedindo para que você a deixe crescer. [...] Não seja tão espírito- de –porco: [...] mesmo que você não acredite, não compreenda, seja uma besta quadrada, tenha um pouco de humildade e reconheça que o que não presta mesmo aqui, é você meu chapa"


Carmélia criou para a cidade de Vitória o slogan 
"Esta ilha é uma delícia", que foi utilizado, 
durante muitos anos como título de sua coluna.

A PEQUENA BURGUESIA CAPIXABA
"Os dez mais idiotas", publicada no Jornal A Tribuna de 04 de fevereiro de 1968, é uma crônica que revela o olhar crítico de Carmélia sobre a high society capixaba, ela satirizava a tendência dos suplementos de domingo, de louvarem os gostos da “pequena burguesia”: "O tempo presente não é apenas de margaridas, nem tão pouco de LSD, muito menos é tempo somente de alegria, alegria. Ou de reações psicodélicas, provocando convulsões da mesma cor. O tempo, este tempo que passa na janela e só Carolina não vê, é um tempo também de lista de dez mais. [...] No presente momento, ando com vontade de fazer a lista dos dez mais idiotas. E se ainda não fiz é porque estou com medo de que a coisa acabe em pancadaria- o que está na mais completa escala das possibilidades, ainda que eu botasse, só para despistar, o meu nome no topo da lista. O melhor mesmo é tirar o quadrúpede de baixo da atmosfera. [...] Lá vai pois. Coisas que eu detesto; caviar, champanha, festa estilo soçaite, soçaite, Jorge amado, programa “um instante maestro”, praia, telenovela, reunião com muita mulher, mulher (em geral), livro best-saller, dona bibi ferreira, muqueca de peixe, o samba “apelo”, homem bonito (só abro exceção para o Alain Delon- ele é demais) e almoço em família. Coisas que eu adoro: inverno, vento sul, café sem açúcar, frescura, desgraça alheia, jiló, música clássica, noite, irmãos metralha Ltda., trocadilho infame, homem feio, simplicidade, pinga, gripe e sogra". na introdução de Vento SulAmylton de Almeida fala sobre a geração “fim de álcool”, formada pela “legião dos bem intencionados, [...] limpos de dinheiro como de coração”. Para este crítico, Carmélia apresentava um “agudo senso de humor, ironia e sarcasmo e um estilo de vida, seguido pela ‘corja’, que escandalizava a Tradicional Família Capixaba”.

Maria Nilce, Milson Heriques e Carmélia Maria de Souza.

DINDI E A BOSSA NOVA
Dindi, imagem feminina homônima da personagem da música criada por Tom Jobim interpretada por Silvinha Teles, emerge como um personagem objeto do afeto da escritora. Este nome foi adotado pela cronista como um símbolo romântico. À Dindi a escritora recorre nos momentos de angústia e solidão. A "Crônica com endereço errado", de fevereiro de 1968, diz: "Além do mais Dindi, este é um momento dos mais importantes e de coisas graves. [...] Eu nunca soube falar as coisas que deveria falar, você me conhece bem, você sabe como sou imbecil, tímida, completamente desajeitada [...]. Sou, enfim, sou uma pessoa distraída e tresloucada, um caso perdido, uma pobre diaba. Viver, para a pessoa que sou hoje em dia, é esta aflição imutável, é este desespero de perder tudo, de repente descobrir que tudo voltou aos devidos lugares. Este viver de abrir os braços e dar a impressão muito falsa de que estou sempre preparada para o que der e vier. No fundo, você sabe, sou medrosa e covarde como o diabo. E, embora não pareça, tenho a alma atormentada e não me conformo com nada. [...] Todavia não irei embora. Vou aguentar firme aqui mesmo, enquanto puder e você me quiser perto, assim como estamos agora".
Carmélia Maria de Sousa com Cariê Lindemberg

A personagem Dindi é depositária de grande confiança por parte da escritora, como podemos comprovar na crônica "Testamento", quando confia à Dindí o seu espólio, assim que for “embora para alguma estrela”, quando a personagem herdará os livros e as crônicas “publicadas ou inéditas”, e um tal livro que, segundo ela, jamais terminaria de escrever, e que deveria se chamar Vento Sul.

CRONICAR
Carmélia tinha um amor declarado pelo seu ofício. Francisco Aurélio Ribeiro a descreve como uma pessoa “apaixonada pela palavra”, que “escrevia com paixão, com o coração, mais do que com a razão [...]”. "Algumas considerações outonais chatas" é uma crônica que mostra essa ligação com escrita, embora o campo de trabalho também se mostrasse um espaço de embates internos: 
além de ter que escrever para "defender o pão de cada dia”, e em momentos se perguntar “onde foi que eu amarrei a minha égua”, Carmélia afirmava  que escrever ainda era a única coisa que conseguia “fazer muito bem nesse mundo de Deus”.

O AMOR
O amor é um tema que perpassa toda a obra, quase sempre ladeado com a  poesia. A crônica "Declaração de amor", de outubro de 1972, diz: "E depois de tudo isto, veio a chuva – Você se lembra? E então eu te pedi que não tivesse medo. Você riu. Riu de medo. Eu fiquei com pena de te querer tão sem medo e tanto que te cobri com minhas mãos, com meus braços, com minhas palavras com meu silêncio, enfim.
E depois , a gente passou a respirar juntos.
A dizer, calados, as mesmas palavras.
A ouvir as mesmas palavras.
Te lembras?
[...]
- Diz que me ama – eu te pedi.
- Não tenho certeza – você falou.
- Diz que me ama.
- ...
Olha, não tenho medo, não tenho nada. Eu tenho tudo e tudo isso é nosso, porque é meu e porque o que eu sou é você, e o que você é sou eu.
Então, tudo o que a gente tem, consequentemente, é de um e é do outro. É de nós. Por exemplo: esse amor. Esse medo. Esse desespero. Essa aflição. Esse mar. Essa Maria Betânia cantando. Essa casa cheia de amor, esse vento que vem do mar e do mundo. Essa desordem gramatical. Essa saudade.
[...] Eu não te vejo agora, meu amor. [...] Então – imagine- eu te vejo e te sinto do meu coração. Do meu sorriso. Do meu pranto. Do barulho do mar indo e vindo. Eu te vejo e te sinto em tudo o que está em volta e dentro de mim. De mim- eu que não sou gaveta, nem barco parado, sem rumo. Eu, que sou apenas Carmélia Maria de Souza. E te amo. Te amo baixinho à beça (SOUZA, 2002, p. 168, grifo nosso).

A FOSSA
"Fossa & amizade" é uma crônica que dá a dimensão do sentimento de mal-esta e solidão representado pela fossa e presente também nas músicas da época: "Já se tornou tradicional o me ouvirem dizer de vez em quando que estou numa fossa desgraçada. Isso dá para entender quando não me envergonho de confessar que a vida me tem maltratado, que vou aprendendo a sofrer quando é preciso”. A dor e o sofrimento foi uma alavanca criativa que levou a escritora a desenvolver as crônicas "Teoria geral da fossa" e "A Fossa (II.)": "A minha fossa é linda. Lírica. Poética. Profunda. Imutável. Colorida.Muito mais festiva que revolucionária. Uma fossa assim, destas de fazer inveja ao próprio Baudelaire, que em matéria de fossa ameaçava jamais encontrar rival. Ou ao finado Kafka, que entre um e outra crise carpitiva costumava suspirar dizendo: Comigo ninguém pode! Eis, pois, que resolvo entender e falar de fossa, começando por classificar, de acordo com a atualidade, os mais diversos tipos".
Dando seqüência à “teoria” da fossa,Carmélia classifica vários tipos de fossa: a “fossa pororoca”, a “fossa- de- não- ter- fossa”, a “fossa matrimonial”, seguindo-se algumas recomendações do tipo “como evitar” a fossa e como “dar cabo da bruta”. E para não se contradizer, adverte: “não pretendo mais ser confidente de fossinhas mixurucas: só aceito drama de alto gabarito, [...] e não tente, principalmente, curar as minhas [fossas], são heranças [...]". 

PARA ALÉM DA FOSSA
Em "Fossa II", novos tipos emergem: a “fossa financeira”, a “fossa balneária”, a “fossa íntima”, a “fossa jornalística”, mas, para além das teorias da fossa, em novembro de 1967, a cronista escreve "É tempo de otimismo acho eu", que diz:
[...] Descobri que sou bárbara, dona de um estilo verdadeiramente universal, preciso urgentemente me mandar para Guanabara, pois Vitória não está a altura de receber minha genialidade, nem por aqui haveria horizontes dignos e devidamente alargados onde eu pudesse caber. A mim me cabe, portanto, dar uma banana para todos vocês e me mandar de mala e cuia para o Rio de Janeiro. Lá eu não terei a menor dificuldade em desbancar o Rubem Braga, nem em botar no maior chinelo o Carlinhos de Oliveira. [...] A quem confiar minhas ambições, e onde abrigar minha poesia provinciana, a saudade desgraçada que eu teria acumulada em mim a uma altura dessas? [...] Não, meu chapa. Nessa jogada eu não me meto".

MORTE
Carmélia declarou ter consciência de ser uma pessoa “perdidamente feliz”. Ela faleceu no dia 13 de fevereiro de 1974, de embolia pulmonar. Deixou um texto endereçado aos seus amigos, que diz: "[...] Eu parti feliz: me esperavam os braços do meu pai e a ternura de minha mãe que tão pouco tive... Diga aos que me amaram que eles me fizeram feliz. O seu amor justificou o meu amor e a ternura dos meus gestos, quando eu esperava por eles com as minhas mãos estendidas. É assim que eu os espero, nas esquinas dos astros, em alguma nuvenzinha azul...

Carmélia recebeu várias homenagens. Num gesto de reconhecimento, em 1986, ela foi eleita Patrona de uma cadeira na Academia Feminina Espírito-Santense de Letras. O Governo do Estado do Espírito Santo inaugurou o Centro Cultural Carmélia Maria de Souza, com o objetivo de se tornar um pólo de incentivo à atividade cultural. O bairro República, possui uma rua com o seu nome.

Principal referência: 
(SOUZA, Carmélia Maria de. Vento Sul. Vitória: Conselho Editorial da Gráfica Espírito Santo, 2002).


18/04/2023

A pirâmide de Gizele (Obra infantojuvenil. Autor: Remisson Aniceto. Ilustrador: Douglas Reinaldo)



Com 44 páginas ricamente ilustradas pelo Douglas Reinaldo, já se encontra na Amazon o eBook Kindle e em breve estará disponível para compra no formato impresso na editora e também com o autor.


𝐒𝐈𝐍𝐎𝐏𝐒𝐄

A vida sem imaginação não tem sentido e o sonho é o trampolim para a realização de muitos dos nossos desejos. Neste pequeno livro, a menininha Gizele, que todas as noites adormece ouvindo as belas histórias contadas pelo seu pai, sonha com a construção da sua casinha de bonecas no quintal, até que, um dia, ela encontra lá a sua casinha no formato de uma linda pirâmide de pedras pretas e azuis, as suas cores preferidas.

Leiam os textos abaixo sobre a proposta do livro A pirâmide de Gizele, de Remisson Aniceto, nascido em Nova Era, na região do Médio Piracicaba de Minas Gerais. Com ilustrações de Douglas Reinaldo, o livro foi publicado pela Arribaçã, editora da cidade de Cajazeiras, no sertão paraibano.

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𝐀 𝐃𝐈𝐕𝐄𝐑𝐒𝐈𝐃𝐀𝐃𝐄 𝐍𝐎𝐒 𝐄𝐍𝐑𝐈𝐐𝐔𝐄𝐂𝐄 𝐄 𝐀 𝐈𝐍𝐂𝐋𝐔𝐒Ã𝐎 𝐍𝐎𝐒 𝐇𝐔𝐌𝐀𝐍𝐈𝐙𝐀

Todos nós somos capazes de mostrar a empatia, a afinidade, a sintonia, a conexão para entrar no mundo de outra pessoa, fazendo-a sentir que a entendemos e que temos fortes laços em comum, trazendo de volta ou criando uma relação de respeito, de entendimento e de compreensão. Fazendo um exercício de cidadania que deixa a pessoa com quem estamos conversando mais aberta e receptiva, interagindo, compartilhando suas dúvidas, seus medos, quebrando assim aquele muro de resistência que faz tanta gente sentir-se isolada. E não é preciso concordar necessariamente com tudo o que a pessoa fala ou pensa, mas escutar, ouvir e entender, mostrando receptividade e demonstrando naturalmente sinais de semelhança e de genuíno interesse pela opinião e pelos pensamentos da outra pessoa. Doar o que temos de bom e aceitar o que não temos e que nos faz falta nos deixa mais ricos e mais humanos.

Um abraço com o carinho do
Remisson Aniceto
#Amazon

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𝐋𝐀 𝐕𝐎𝐋𝐔𝐍𝐓𝐀𝐃 𝐕𝐄𝐍𝐂𝐄 𝐀 𝐋𝐀𝐒 𝐃𝐈𝐅𝐈𝐂𝐔𝐋𝐓𝐀𝐃𝐄𝐒
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La voluntad vence a las dificultades, Remisson, y hace tiempo has dado a luz obras tan interesantes. Como ejemplo de mi afirmación aparecerá A pirâmide de Gisele, que me gustaría recibir por internet si te fuera posible enviarlo en color. Lo digo porque el correo con Brasil, ida o vuelta, funciona con mucho retraso. Muy atrayente la ilustración de la portada, con la niña Gizele dibujada en primer plano.
Podemos esperar un nuevo éxito para este libro, mi amigo.
Un abrazo.
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Pedro Sevylla de Juana, escritor espanhol com trinta livros publicados, publicitário, conferencista, tradutor, articulista, poeta, ensaísta, crítico e narrador, membro correspondente da Academia Espírito-santense de Letras desde 2016.

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"𝐒𝐎𝐍𝐇𝐎 𝐐𝐔𝐄 𝐒𝐄 𝐒𝐎𝐍𝐇𝐀 𝐉𝐔𝐍𝐓𝐎 É 𝐑𝐄𝐀𝐋𝐈𝐃𝐀𝐃𝐄"
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Raul Seixas bem que disse.
Quão grande pode ser o sonho de uma criança?
As crianças são subestimadas: costumam dizer por aí que coisa que criança pensa é bobagem.
Mas o que é viver o dia a dia senão sonhar com o próximo passo? Sonhar com uma cama confortável, com uma boa refeição, uma boa parceria? A vida é feita de sonhos.
Quando os pais da Gizele sonham junto do sonho dela, ele se realiza.
A pirâmide de Gizele, de Remisson Aniceto, revela a potência do afeto, da escuta e das histórias na vida de uma criança.

Monique Luz, Educadora da Rede Municipal de São Paulo.

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𝐔𝐌𝐀 𝐕𝐈𝐀𝐆𝐄𝐌 𝐈𝐍𝐓𝐄𝐑𝐀𝐓𝐈𝐕𝐀 𝐄 𝐀𝐌𝐎𝐑𝐎𝐒𝐀

A pirâmide de Gisele é apenas um pretexto para evidenciar questões ignoradas pela sociedade ou por quem não tem na família ou até desconhece o que é o albinismo. A abordagem feita pelo autor nos leva a uma viagem interativa e amorosa, partindo do seio familiar, fazendo um rapport ao passado histórico, permitindo à personagem Gizele desfrutar uma experiência surrealista com vários personagens.

Alice Saran, Educadora e Artista Plástica nascida na cidade de Casa Branca-SP.