27/04/2023

Um Poema de Marijo Kalixien / Asunción-Paraguay (traduzido por Francis Kurkievicz)

 

Marijo Kalíxien

Esbofeteado pela loucura...

Convulsões agitadas

batem à minha porta

com um medo maior da morte

 

Estou viva com o fardo

faminto pelo incorpóreo,

e um pânico sutil que respeito antes de dormir,

temendo o terror pelos meus mortos,

transformado em espanto eu me tornei

no meu próprio medo de entregar

minha chama de cristal

 

Se o cadáver se tornar um ventríloquo

manifestando através de mim,

ele vai usar minha boca para falar

e eu seus olhos para ver

 

Não tenho medo de me extinguir

nem estou sobrecarregada por suas palhaçadas

 

Sua noite insondável é

proporcional a minha força

 

Pego suas mãos, dou a ela um

Batizado beijo e nascemos juntas

 

Não me ensinem a temer o inferno!

Quando há um novo espaço

meu coração se ilumina,

meu dom é deixar de ser uma barreira,

Sou uma ponte para o paraíso que escolhi ser.

Purifico o olhar interno e tudo tem vida

 

Os mortos são esvaziados

aprendo com suas cinzas;

Ninguém quer saber

Que se pode morrer em vida!

 

Se a dor nutri, meu processo ao andar

É uma ferida nobre, é útil porque me nutre,

a dor tem uma certa nobreza

 

Curar o sepultado

é cair em buracos fundos

que vão trazer luz, luz forjada vulcão com carícias

derreto-me ao dar à luz ao meu peito em espelhos

Detonando meu coração, com os pedaços quebrados

reinvento um mosaico de asas

no meu corpo isso é tão transitório

como um infinito amor por você

 

A morte está sempre

mais próxima da vida

 

Eu sou a lucidez de uma alquebrada memória

pratico alquimia com seu veneno

meu antídoto é morrer todos os dias

procuro nascer mil vezes como solução

 

logro a força da gravidade para cima,

emano o parto de sonhos abortados

arrastados da linhagem, não mutilado, integro

 

revivo a tragédia de todos

os sábios para restaurar meu passado

 

Porque da alma, só pode

sangrar a luz mesmo que doa,

liberdade mesmo que me doa

embora me doa,

mesmo que me doa

 

Eu reajo a cada chamada

que excita as chamas das minhas asas

 

De uma fenda eu brilho

e digo: nasce-me novamente,

Aceito sem censura a morte das máscaras,

me levanto levemente,

Aprendo o dom de nascer depois de morrer

 

Somos todos sobreviventes

da morte de um de nossos personagens

e concebendo o parto em outra mais corajosa

até que finalmente cessem

todas as máscaras

ou que elas nos obedeçam.

 

Esta transição será um

grande alívio para minha alma

As sombras me ensinaram

a luz que possuo.

 

***

Abofeteada por la locura…

convulsos latidos trepidantes

tocan a mi puerta

con un miedo mayor a la muerte

 

Estoy viva con la carga

hambrienta de lo incorpóreo,

sutil pánico que respeto antes de dormir,

temiendo del terror por mis muertos,

mutando en espanto me convertí

en mi propio miedo para entregar

mi llama de cristal.

 

Si el cadáver se convierte en ventrílocuo

profesando a través de mí,

él usará mi boca para hablar

y yo sus ojos para ver

 

No me amedrento por extinguirme

ni de sus bufonadas me sobrecojo

 

Su insondable noche es

proporcional a mi fuerza

 

Le tomo las manos, le doy un

bautizado beso y nacemos juntas

 

¡No me enseñen a temer un infierno!

 

Cuando hay espacio nuevo

el corazón se me aligera,

mi don es dejar de ser barrera,

soy puente al paraíso que elija ser.

Purifico la mirada interna y todo tiene vida .

 

Los muertos se vacían,

aprendo de sus cenizas;

¡Nadie quiere saber

que puede morir en vida!

 

Si el dolor alimenta, mi proceso al andar

es una herida noble, es útil porque me nutre

el dolor tiene cierta nobleza

 

Sanar lo sepultado

es caer en los huecos profundos

que van a traer luz, luz hecha volcán con caricias

se me derrita por dar parto el pecho en espejos

 

Detonando mi corazón, con los pedazos rotos

reinvento un mosaico de alas

en mi cuerpo que es tan transitorio

con un amor infinito por ti

 

La muerte siempre está

más cerca de la vida

 

Soy la lucidez de una partida memoria

practico la alquimia con su veneno

mi antídoto es morir cada día

yo busco nacer mil veces como salida

 

Obtengo la fuerza de gravedad para arriba,

emano el parto desde abortados sueños

arrastrados de la estirpe, no mutilo, integro

 

Revivo la tragedia de todos

los sabios para restaurar mi pasado

 

Porque del alma solo puede

sangrarme luz aunque me duela,

libertad aunque me duela

aunque me duelas,

aunque me duelan.

 

Reacciono a todo llamado

que excite las llamas de mis alas.

 

Desde una grieta resplandezco,

y digo: Nace – me de nuevo otra vez,

acepto sin reproche el fallecimiento de máscaras,

me elevo ligera,

aprendo el don de nacer después de morir.

 

Somos todos sobrevivientes

en la muerte de un personaje nuestro

concibiendo el parto en otro más valiente

hasta que terminen por fin

todas las máscaras

o nos obedezcan.

 

Esta transición será un

gran alivio para mi alma

Las sombras me enseñaron

la luz que poseo.

 

*

Marijo Kalixien ... (Maria José Cañete Muñoz) Asunción, Paraguay – 1988. Designer e artista multidisciplinar. Premiada em 1º lugar Onu Tatakua Women nos círculoscriativos 2018, ilustradora no projeto Violentadas em Quarentena, pesquisa vencedora na categoria Digital Media Award do One World Media da Onewm e Google NewsInt para o jornal La Nación e o meio de comunicação Distintas Latitudes (México 2021), ilustradora no projeto: "você sabe como é representada se um dia aparecer morta" selecionada pelo 1º congresso

internacional sobre comunicação de gênero e violência (Espanha 2021). Ilustradora da visibilidade de poetisas paraguaias com o projeto: Escritoras Paraguayas, para o jornal La Nación (2021). Ilustradora para campanhas de visibilidade feminina no projeto "Mulheres Inspiradoras" para Nivea, agência Lupe (2020). Ilustrador e book designer com o projeto " Ymaguaré" para a fundação Moises Bertoni promovendo a importância da água (2021). Colaborou em diferentes iniciativas de promoção das artes e da cultura em Assunção, como cantora performática, também realizou exposição de fotografias performáticas com o tema “a auto exploração do corpo feminino” no centro cultural La Serafina (2019). Atualmente é diretora da MarijoKalxienart onde sua sensibilidade às mudanças é gerada pela realização de projetos para diferentes entidades sem fins lucrativos.

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Francis Kurkievicz é poeta, escritor e professor, natural de Paranaguá/PR. Residiu por 20 anos em Curitiba/PR onde estudou FILOSOFIA – UFPR/2002, com especialização em Yoga – UNIBEM/2010 e MBA em Produção de RTVC, UTP/2011. Foi um dos 36 pré-selecionados ao Prêmio SESC de Literatura de 2015 na categoria Conto. Publicou, em dezembro de 2020, pela Editora Patuá, o livro de poemas B869.1 k96. Têm poemas publicados nas Revistas Acrobata, Hiedra, Mallarmatgens, Arara, Estrofe e no site escritas.org – traduções na Revista Zunái, Escamandro, Letra & Fel – artigos no Jornal Memai. Em 2022 teve seus poemas publicados nas duas maiores antologias mundiais de poesia: World Poetry Tree, organizado por Adel Khosan – Dubai/EA, e Living Anthology of Writers of the World, organizado por Margarita Al – Russia; também teve seu poema CHILDHOOD IN BHARAT publicado em MA: Antologia de Poemas em Memória da Poeta bengali Kazi Masuda Saleh, feito realizado pelo poeta de Bangladesh Abu Zubier Mohammed Mirtillah, Editor e organizado. Em Vitória desde fevereiro de 2012, ministrando oficinas de Dramaturgia, Haikai e Meditação.

Um comentário:

Anônimo disse...

parabéns POETA, belos, loucos e densos VERSOS >Lobo Bruxo.