“Amo o canto do Tzentzontle, pássaro de quatrocentas vozes,
amo a cor do jade e o enervante perfume das flores, mas amo mais
a meu irmão, o homem.” (Fragmento de poesia pré-colombiana
 composta por Acolmiztli-Nezahualcóyotl, Rei de Texcoco).
Caim era jovem e costumava passear
pela vasta terra. O paraíso, 
mesmo perdido, não se encerrara.
O jovem ousava, como Eva, queria saber,  
descobrir, desvendar, conhecer...
Seu irmão não vira, também, a exuberância
do antes, nem da terra e dos seus frutos queria saber.
Abel desdobrava-se em atenções, para dar ao Absoluto
a oferenda perfeita,  sangue inocente de animal.
Caim não se importava, mas acidentalmente mata
o mais amado, o filho preferido de Adão e de Deus.
Ele correu desesperado ao ver o sangue do irmão
colorindo a terra virgem.  Abel caíra sobre a  faca 
enquanto brincavam perto do rio. Caim foi chamado de
assassino, e seu pai, prenhe de fraqueza
culpou Eva, que suportou  mais esta injúria, qual  fortaleza.
A costela envelhecida de Adão não gerava mais vida, 
mal sustentando a  palavra esquecida e a carne preguiçosa.
Caim recebeu da Grande Mãe o apoio e implorou perdão, 
Abel havia morrido acidentralmente, ele também sofria, 
pois perdera o seu único irmão e com ele a fé, a paz e a alegria. 
A pecadora mor o acolheu, enquanto o covarde inexpressivo, 
em prantos, o amaldiçoava e exigia que partisse para nunca mais voltar.
Caim aceitou a pena do destino, recebeu a marca do ódio, 
e desde então vagaria, a ermo.Por onde  passava era reconhecido, 
amado e odiado, buscou abrigo no tempo, descansando na errância
acostumou-se ao desprezo daqueles que, iguais, lhe invejavam a diferença.
Antes de morrer decidiu voltar, tinha então setecentos anos.
O  lar lhe era estranho, ou seria ele a se estranhar?
Lembrou-se que havia conhecido a alegria e a desgraça naquele lugar.
Fechou um ciclo, fechou os olhos e sussurrou baixinho: Obrigado! 
A terra ouvindo a oração, abriu devagar os braços
e disse: - Filho, vem! deita e descansa.Caim obedeceu, 
se deitou onde um dia tombara o Abel,
lembrou-se do irmão com amor e saudades, olhou o céu, 
sentiu a brisa e, desde então, passou a sonhar coisas de criança.
bai renata bomfim
 
 
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