O lexema “colóquio”, contido no
título deste livro de Renata Bomfim, significa “conversação”, ou “palestra
entre duas ou mais pessoas”. O adjunto adnominal “das” referido às “árvores”
parece restringir este diálogo apenas aos elementos da natureza. Contudo, esta
obra não se resume a isso, pois o título deste conjunto de versos aponta uma
inclinação poética inerente à autora ou até mesmo uma estratégia literária que,
conscientemente ou inconscientemente, vem indicar um tema fortemente marcado em
sua escrita: a ecologia – assunto contido em obras anteriormente publicadas por
Bomfim (Mina e Arcano Dezenove). Esta consciência ecológica desemboca em temas e
subtemas como, por exemplo, a origem do cosmo, do ser humano, da essência dos
elementos e da inspiração poética, daquilo que é místico, primevo e erótico.
Na
poética de Renata Bomfim, tudo conflui para um retorno às origens, através de
um canto de louvação, seja ele da terra mãe e da linguagem poética, seja ele
dos mistérios cósmicos. Há em Colóquio das
Árvores uma certa maturação em relação ao seu próprio labutar poético, bem
como uma gama maior de reflexões sobre o feminino, em comparação com as outras
obras publicadas pela autora.
Esta
obra, creio, se configura como uma leitura obrigatória àqueles que se sentem
inclinados para um tipo de poesia que procura, frequentemente, suscitar a
relação entre sujeito poético e natura, visto que aqui tudo o que se fala tem
intenção de tratar de um certo conjunto de forças que regem o universo, da
relação entre o reino vegetal e o animal com a função poética, buscando-se
hamonizar com tudo o que canta no intuito de “reencontrar na poesia/ O elo
perdido /Quer religar com firmeza /Tudo o que se rompeu” (Bífida),
constituindo-se, em muitos poemas, como uma exemplar amostra de um tipo de
ecopoesia.
Fabio Mario da
Silva
Pós-doutorando
da Universidade de São Paulo
Pesquisador do
CLEPUL- Univ. de Lisboa
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