10/10/2022

Oceano de luminescências (poesia de Renata Bomfim)

 

Renata Bomfim

Ah! o corpo e sua antiguidade.

Células, sangue, estruturas que se equilibram
Num balé misterioso.
Festa da vida.
É pavoroso descobrir
A fragilidade dessa fortaleza.

II
Penetraste entranhas úmidas,
dedilhaste as camadas do meu dentro
como se um livro fosse.
Reconheceste a história de tuas dores e agonias
nas frágeis páginas de mim.

III
O movimento é lento,
Num átimo meus braços se elevam e
Danço sozinha, no silêncio.
A coluna dobra vertingens,
Os pés deslizam
Tomados por uma emoção sem nome.

Apenas danço!

IV
Esse mesmo corpo conviveu com os dinossauros,
Viu a terra em tempo de belezuras indizíveis.

Será que o corpo que habito me pertence?
Tateio a face,
Os dedos deslizam.
Sinto o sabor da pele fina
da boca, o sugar torna-se religioso.

Os olhos se fecham,
Há brandura e selvageria
Nesse ente.

V
Desfrutaste a beleza dos primeiros dias,
Agora, sinta a beleza do fim.

VI
Canta para os meus seios,
Para as palmas das minhas mãos, ventre.
Canta que a vida é infinita,
Já o corpo,  poeticamente transita
Num oceano de luminescências.


(Renata Bomfim)

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito lindo, uma viagem sensível