Excelentíssima Sra. Presidente da Academia Espírito-santense de Letras,
Profa. Dra. Ester Abreu Vieira de Oliveira; Excelentíssimo Sr. Álvaro Silva, Secretário
da Academia Espírito-santense de Letras; Excelentíssimo Prof. Dr. Francisco
Aurélio Ribeiro, por quem tenho a alegria de ser apresentada nesta à AEL; Excelentíssima
Senhora Dafne Bilich, filha da acadêmica Jeanne Bilich. Excelentíssimos
senhores acadêmicos, Excelentíssimas senhoras acadêmicas. Senhoras e senhores, Boa
noite!
Estou aqui porque recebi o voto de
confiança dos meus pares. Obrigada aos confrades e confreiras que me agraciaram
com a sua confiança, prometo dar o melhor de mim. Obrigada Professora Dra.
Ester Abreu Vieira de Oliveira, amiga e mestra com quem tenho caminhado desde o
doutorado na UFES, quando me orientou nos estudos sobre a poesia de Rubén Darío
e, depois, na Academia Feminina Espírito-santense de Letras, quando realizamos
a 6ª Feira Literária Capixaba (2018/UFES). Refletindo sobre o meu percurso no
campo literário, não posso deixar de agradecer, também, a presença da
professora, poeta e amiga florbeliana Maria Lúcia Dal Farra, que me acolheu no florbelianos
grupo do CNPq, em 2006, e do qual participo até hoje.
Ao Luiz Alberto, eu
agradeço o amor que tem me dedicado ao longo desses 30 anos — Hoje, para nós, é
primavera meu amor, minha luz!
Sinto-me honrada e feliz por assumir a cadeira
de número 7 na AEL, antes ocupada por personalidades que contribuíram
enormemente para com o desenvolvimento socio, político e cultural da nossa
comunidade. A minha formação, marcadamente multidisciplinar, teve início no
Centro de Artes da UFES. Descobri, com a Mestra Freda Cavalcanti Jardim, a
magia do mosaico, arte conhecida como “a pintura eterna” e foi assim que iniciei
a vida profissional, quebrando pedras, ‘mosaicando´, como costumávamos dizer no
Centro de Artes, buscando o sublime escondido na matéria mais bruta: a pedra. Artista
plástica, nessa época, eu não compreendia a dureza, sublimidade e potência da
palavra no campo literário.
A
especialização em arteterapia, posteriormente, abriu caminho para as pesquisas sobre
saúde mental, foi quando passei a acompanhar as luzes acesas pela Dra. Nise da
Silveira, psiquiatra rebelde que, na década de 1940, mostrou ao mundo o
potencial curativo da arte. Foi conjugando a mosaicista e a arteterapeuta que
construí uma carreira discreta, mas duradoura, no campo da assistência
psicossocial, e que um pouco mais tarde daria as mãos ao ativismo ambiental. Dou
visibilidade ao caminho percorrido até agora, pois, mesmo tendo sido bastante árduo e com muitos desafios,
ele me trouxe até aqui e posso afirmar que fiz boas escolhas na vida.
Faz parte do rito,
relembrar o caminho dos que vieram antes de nós. Falarei dos meus antecessores na
cadeira nº 7, Patrono e acadêmicos(a) que cimentaram a estrada, dentro da AEL, que
tomo como minha responsabilidade percorrer.
O Patrono da cadeira é o carioca José Fernandes da Costa Pereira Júnior,
nascido em Campos, em 1833. Costa Pereira formou-se Bacharel em Direito e, aos
23 anos, passou a advogar. Personalidade relevante no cenário político
nacional, em 1861 assumiu o cargo de presidente da Província do Espírito Santo,
dedicando-se ao fomento da colonização italiana e alemã. Atuou, ainda, como
Presidente, nas províncias do Ceará, de São Paulo e do Rio Grande do Sul. Foi
Deputado pelo estado do ES, trabalhando também como Ministro do Império nas
pastas da guerra, da agricultura, do comércio e de obras. O nome do Patrono foi
imortalizado na praça localizada no coração da nossa capital, conhecida por
todos como “Praça Costa Pereira”. Da janela desse belíssimo monumento
arquitetônico e artístico que nos acolhe nessa noite memorável, que é o Centro
Cultural Triplex Vermelho, podemos observar, além da referida praça, que é
palco para manifestações populares e local de trabalho de muitas pessoas, o
pulsar de uma parte singular da nossa história.
Nada como uma
mulher para narra a histórias de outras mulheres e essa tem sido uma das
missões da minha vida. Nos conta Maria Stela de Novaes, na obra A mulher na
História do Espírito Santo, que o centro de Vitória “tinha suas doceiras de
tabuleiro na cabeça, tipos queridos populares que vendiam, além das cocadas,
quindins, papos d’anjo, arroz doce e bolinhos”, muitos desses quitutes eram destinados
às alunas da Escola do Carmo. Stelinha, como carinhosamente era chamada a
historiadora, conta também que existia, aqui no Centro, uma tal “Pitonisa” conhecida
como Vitória-Bibi”, que “preparava o arroz do Sacramento, que era vendido às
quintas-feiras, e que tinha poderes sobrenaturais contra feitiços.
Essa história
reflete o caráter imaginativo dos(as) cidadãos e cidadãs vitorienses, além de mostrar
o quanto o nosso território é fértil para a fabulação. Certamente havia doces
sendo vendido na portaria do Teatro Melpômene (1896), atual Centro Cultural
Triplex Vermelho. Esse monumento foi a primeira edificação a receber luz
elétrica em Vitória. Após um incêndio, o teatro foi desmontado e suas colunas
metálicas utilizadas por André Carloni na construção do Teatro Carlos Gomes, anos
depois, o espaço se tornou o Hotel Imperador. Atualmente é um Centro Cultural aberto
à comunidade e que oferece arte, música, teatro, literatura e muito ativismo
social e político.
Volto a falar da
cadeira nº 7, destacando quem foi o seu primeiro ocupante. Aristeu Borges de
Aguiar foi que escolheu Costa Pereira como Patrono. Possivelmente, motivado
pelo fato deste também ser jurista e político. Borges de Aguiar é natural de
Vitória e nasceu em 1892. O acadêmico foi Promotor Público, Procurador Geral do
Estado, Diretor da Imprensa Oficial e Secretário da Presidência do Governo
Florentino Avidos. Em 1928, foi eleito Presidente do Estado do Espírito Santo e
veio a falecer em 1951, aos 59 anos.
O sucessor de Borges
de Aguiar foi Placidino Passos que, assim como o Patrono e o seu
predecessor, foi advogado. Passos nasceu em 1892 e foi Bacharel em
Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Espírito Santo, atuando
como professor e dirigiu o Departamento de Educação da Secretaria de Educação e
Cultura do Espírito Santo. Foi membro do IHGES e Deputado Estadual entre os
anos de 1947 e 1951, produzindo textos literários e históricos para a imprensa
local. Placidino Passos faleceu em 1984 e foi sucedido pelo mineiro Homero
Mafra.
Nascido em 1823
e natural de Itanhandú, Mafra foi Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito
do Rio de Janeiro e trabalhou como advogado, fazendo carreira como Magistrado
no ES. Atuou como Juiz de Direito em diversas comarcas e, em 1974, ascendeu ao
cargo de Desembargador, destacando-se como um magistrado íntegro e humanista. Assim
como Placidino, que foi Secretário de Educação e Cultura, Mafra uniu o amor
pela escrita ao Direito, atuando como Professor de Literatura e de Direito
Civil, além de trabalhar como jornalista nos Diários Associados.
Valdir Vitral
foi o quarto ocupante da cadeira nº 7. Nascido em 1926, no município de Alegre,
Vitral foi juiz de Direito e, assim como seu antecessor, foi professor de
Jeanne Bilich, jornalista e escritora que o sucederia na AEL. Jeanne descreve
Vitral como “querido Mestre, precioso e confiável amigo”, alguém com quem ela
afirma ter estabelecido “laços de convívio amigável, que transcenderam a
hierarquia que norteia as relações entre professor e aluno”. Uma “Alma sensível
e nostálgica!”, que encontrou na literatura uma “via libertária” que lhe
permitiu “fazer uso das asas da liberdade, associada à transparência anímica,
para desvelar o seu íntimo “eu”: sentimentos, emoções, solidão, esperanças e
penares”. Valdir Vitral produziu uma obra jurídica profícua, além de textos
literários como “Antologia da Saudade” e “Vitrais”, livro autobiográfico, de
1997. Ao fazer o mesmo exercício que faço agora, ⎽⎽ passar em revista a contribuição
dos seus antecessores ⎽⎽ Jeanne Bilich se lembrou de haver (re)encontrado seu
professor e amigo, Valdir Vitral, já nonagésimo, reunido com familiares
num restaurante em Vitória. Destacou que, os olhos do seu mestre,
“incendiaram-se e luziram intensamente” ao vê-la, reativando no seu coração a
“Recordação imorredoura”, “explícita e agridoce” da saudade.
Jeanne Bilich foi a primeira mulher a ocupar a
cadeira 7, ela foi eleita para ingressar na AEL no dia 10 de junho de 2013. Não
tive a alegria de conviver com Jeanne Bilich, via-a na televisão, presença
marcante, uma figura que não passava despercebida, seja pela criticidade, ou
pela exuberância dos cabelos volumosos e cacheados, voz forte, sorriso aberto e
jeito particular com que se comunicava com o povo capixaba. Entretanto, um dia,
tive a oportunidade de passar com ela preciosos minutos dialogando sobre
livros, filmes e gatos. Eu havia ido ao shopping procurar um filme e lá estava
ela, imbuída da mesma missão, passamos a conversar e a identificação foi
imediata. Ela me indicou alguns clássicos como “E o vento levou”, de 1940. Dos
filmes passamos aos livros e dos livros, aos gatos, ela me contou sobre o seu
Nietzche e eu lhe mostrei fotos do meu príncipe felino, Elvis. Recentemente
descobri mais uma paixão em comum com Jeanne, a ARTE DA MAGIA. Jeanne chamava a
sua casa de “A casa da Bruxa” e eu, na década de 1990, fui a bruxa mor de um
grupo de mulheres denominado “Confraria das Bruxas”, nosso estandarte era uma
vassoura rústica feita com o mato mágico de Itarana, que acabou sendo devorado
por um demônio chamado cupim. Foi essa mesma vassoura que me acompanhou quando
fui tomar posse na Academia Feminina Espírito-santense de Letras, e que causou muita
confusão, repúdio e horror em algumas acadêmicas. Enfim, fiz a minha
performance e lembro sempre desse episódio com satisfação, riso e sem arrependimentos.
Escolhi o dia de hoje para tomar posse na AEL não foi à toa, é o Dia
Nacional Contra Discriminação Racial. Sou afrodescendente e consta na minha
certidão de nascimento: parda. Sou uma mulher negra, bisneta de uma mulher cujos
pais foram escravizados. A biza Otilia
nasceu no dia da promulgação da Lei Áurea. Me engrandece e alegra tomar posse na
AEL sucedendo outra mulher, algo inédito na instituição.
Tomar assento na cadeira nº7, em
um dos endereços mais tradicionais da capital, a Rua Sete de Setembro, que faz
entroncamento com a rua 13 de Maio, em um dos prédios mais belos e históricos
do Estado, o Tríplex Vermelho, espaço de luta e resistência progressista, é uma
felicidade que parece magia.
Houve quem não aceitou que eu
tomasse posse nesse lugar e não veio me prestigiar, tudo bem. Há quem não
aceita que eu seja uma poeta ativista política, tudo bem também. Forças
retrógradas se movimentaram para que eu não fosse eleita, mas eu fui eleita e
estou aqui, firme! Me digam não deve haver alguma magia envolvida nisso tudo? O
confrade Álvaro Silva me mostrou imagens da casa de Jeanne — linda de viver! Viajei na
decoração, havia uma bruxinha de roupa roxa altivamente postada à frente da
imagem de um cavaleiro do Barroco, enquanto, reunidas próximas, outras
feiticeiras formavam uma confraria bem ao estilo “Abracadabra”, filme de Anne
Fletcher. De frente para uma réplica da Pietá de Michelangelo, um sofá de
veludo azul como que flutuando sobre um tapete, também azul, com flores brancas;
no centro da sala, uma mesinha octogonal de madeira repleta de pequenos
objetos. Na parede, logo adiante, saltavam aos olhos as imagens renascentistas
de Adão e Eva, pintadas por Albrecht Dürer, devidamente emolduradas de forma
individual e separadas por outras imagens e objetos. Eva, ao lado do interfone,
tinha o olhar voltado para o Adão de Rodin, figura musculosa, posicionada mais
abaixo, na mesma parede. Observei, ainda, a presença amorosa das dos gatos
Nietzsche e Baudelaire em fotografias. Espelhos, chapéus, plantas, cristais,
incensos, relógios antigos, LPs, CDs, DVDs, bibelôs, e muitos livros criavam
uma espécie de bricolagem, sim, a casa parecia uma galeria de arte. É certo que
Jeanne Bilich transferiu para a sua escrita essa forma “encantada” de ver o
mundo. A biografia da jornalista e cronista foi registrada no livro Prisioneira
da liberdade: Jeanne Bilich: vida e obra, organizada por Francisco Aurélio
Ribeiro, com notas críticas de Álvaro José Silva e estudo crítico de minha
autoria. Esse livro, lançado em dezembro de 2022, conta ainda com textos
comoventes, escritos por Dafne Bilich e Mirian Bilich, filha e irmã de Jeanne.
Jeanne Figueiredo Bilich nasceu no
Rio de Janeiro, em 1948. Filha de Miroslavo Bilich, um engenheiro químico,
poliglota, refugiado da Croácia e de Jocondina Figueiredo Bilich, professora e
filha de uma tradicional família mineira. O casal teve mais dois filhos, Mirko
e Mirian. Foi a morte precoce do pai, aos 51 anos, que levou a menina Jeanne a
aportar em terras capixabas, aos 12 anos, para estudar como interna no
tradicional Colégio do Carmo, onde sua tia-freira, a irmã Maria Luiza de
Figueiredo, lecionava.
Para Jeanne essa foi uma
“experiência dolorosa”, pois, segundo a escritora, “além da perda da liberdade
pessoal”, “oxigênio tenazmente perseguido por seu pai”, e que o levou a “cruzar
o Atlântico”, ela ficou alijada do convívio familiar e de tudo o que lhe
“alimentava o espírito”: “jornais, rádio e televisão”, “cinema”. Esse foi o seu
“tempo do vinagre” e fez com que a liberdade se tornasse a sua “estrela guia e
soberana”. Foi em 1964, que Jeanne afirma ter reconquistado a “liberdade
perdida”, mas os anos eram difíceis e a pátria se via mergulhada nos
"asfixiantes anos de chumbo, ar de cianureto imposto pela ditadura
militar”. Após cursar o segundo grau no Colégio Estadual do Espírito Santo,
Jeanne conheceu, na Biblioteca do SESC, na praça Misael Pena, o seu “amigo,
irmão, companheiro e confidente Amylton de Almeida”, com quem viveu “De e para
os livros”, numa amizade que durou três décadas. Posteriormente, Jeanne fez
graduação em Direito, na UNESC, em Colatina, e mestrado em História Social das
Relações Políticas, na UFES, quando defendeu a dissertação intitulada “As
múltiplas Trincheiras de Amylton de Almeida: o cinema como mundo, a arte como
universo”, publicada em 2005.
Jeanne Bilich chegou a advogar,
mas a sua paixão foi o jornalismo, e por seu pioneirismo ela é conhecida como a
“Dama” do jornalismo capixaba. Jeanne foi a primeira apresentadora do
Telejornal da Rede Gazeta, em 1976, atuando ainda como redatora, radialista e
assessora de comunicação. No campo literário lançou dois livros de crônicas, Zeitgeist
– O Espírito do Tempo (2009) e Viajantes da nave Tempo (2013). A
acadêmica possui uma profícua produção de textos em sites, além de ensaios
e participação em coletâneas. Suceder essa personalidade marcante como a
sexta ocupante da cadeira nº 7 é um desafio.
Não possuo a formação em Direito
como meus antecessores, mas comungo com eles de uma imensa SEDE DE JUSTIÇA que moldou a minha história e que pode ser observada
explicitamente na minha trajetória ou nas entrelinhas do que escrevo.
O amigo José Augusto de Carvalho, professor, escritor e crítico literário, prefaciou o meu livro Arcano Dezenove e
disse que viu nele “versos que se constituem em pensamentos de elevado sabor,
em que se mesclam o social, o político e o lírico”; o professor Luiz Eustáquio
Soares destacou, no prefácio de Mina,
que a minha escrita é, também “afetiva” e de “enfrentamento ao mal que nos
embarga a todos, e antes de tudo às alteridades”; a professora Ana Luiza
Vilela, ao prefaciar o Colóquio das árvore, observou uma “vocação
irreprimivelmente feminina”; já para o seu conterrâneo, o escritor português
José Luiz Peixoto “os (meus) versos, um a um, são experiências, requerem os
sentidos para serem verdadeiramente entendidos”. Desde a pitoresca Granada, na
Nicarágua, o poeta Francisco de Asís Fernandes Arellano enxergou a Renata
Bomfim como uma “poeta contemporânea, consciente de los retos que enfrenta el
ser mujer em nuestros dias”, e que “teje uma mitología poética particular con
um linguaje de altos quilates”. Pouco, ou quase nada sei dizer sobre a minha
escrita, deixo aos críticos as análise e julgamentos. Assim, é por meio da
crítica e do olhar e do sentimento dos leitores, que consigo enxergar o que
escrevo.
É uma realização saber que foram
as palavras que me trouxeram até aqui — as palavras e os leitores. Escrever para mim é uma responsabilidade, é um
privilégio poder tocar a alma alheia e me irmanar com os seres do planeta, espíritos
encarnados e desencarnados. O crítico literário francês Maurice Blanchot afirmou
que “o domínio de um escritor é obra de outra mão”, ou seja, o autor jamais lê
a sua obra, para ele essa é um segredo, e esse noli me legere faz surgir, onde
não existe ainda senão um livro, uma potência, “força de afirmação insistente,
rude e pungente” que nasce a partir do jogo de sentido das palavras.
A literatura e a arte dão cor e
sentido a minha vida. Posso afirmar que, na condição de bisneta de Dona Otília,
ocupar uma cadeira na AEL, também é assumir o compromisso de não silenciar
frente a nenhum tipo de opressão, e de persistir na luta por uma sociedade justa,
sustentável e igualitária. O filósofo Gaston Bachelar me classificaria como “uma
sonhadora inflamada”, pois, assim como a chama de uma vela, sou sensível ao
drama da pequena luz.
Show de Aline Maria
Há treze anos, quando ingressei
como acadêmica na Academia Feminina Espírito-santense de Letras, afirmei no meu
discurso de posse que “O reconhecimento público de uma mulher como escritora é
uma vitória para todas as mulheres”, nesse encontro agradeci e celebrei as
“conquistas alcançadas pelas mulheres que me antecederam, e a oportunidade de
fazer o bom uso da palavra para denunciar a violência que ainda oprime e mata
milhares de mulheres. É fato que “o discurso feminino ainda incomoda e ameaça,
mas é certo que avançamos e, ainda mais certo de que não iremos desanimar até que
o diálogo com nossos pares seja possível, até que celebremos “a superação da
dicotomia que transformou todos nós em ilhas”. Não chego a AEL coroada apenas com
flores, mas recebi muitas flores, e sou imensamente grata aos confrades e
confreiras que me recebem com amor, na verdade o amor é a única coisa que me
interessa nesse momento. A escrita, mais especificamente a poesia, tem sido
para mim um instrumento privilegiado de sobrevivência e de ação no mundo. Sou
grata à literatura por ter me proporcionado muitos dos momentos mais marcantes
da minha vida e por me oportunizado aprender, viajar, pesquisar, participar de
festivais, saraus, publicar e, o mais importante, parafraseando Jeanne
Bilich, “amealhar um tesouro, amigos diletos, paredes revestidas de
livros”, muitos gatos, entre eles o Pequeno Krishna, recém-chegado, e o leitor,
parte indissolúvel de uma obra.
Em 2007, quando criei a Reserva
Natural Reluz, em Marechal Floriano, eu sabia que a minha vida nunca mais seria
a mesma, e eu estava certa, a luta para defender o meio ambiente é inglória,
mas vale cada gesto, cada ato, cada poema. É por isso que finalizo esta
comunicação complementando as minhas palavras com um gesto simbólico. Nesse dia
no qual se comemora, também, o Dia Mundial da Floresta, presenteio as
pessoas que vieram ao Triplex VERMELHO, me prestigiar, com mudas de Pau-Brasil,
cada uma delas identificada com o nome de um(a) patrono(a) da Academia
Espírito-santense de Letras. A minha militância como criadora e gestora de uma
reserva ambiental e fundadora de um instituto ambiental caminha junto com a
literatura, a arte e alberga o meu desejo de ver as florestas do planeta
restauradas, em especial, a Mata Atlântica, e esse sonho não se tornará
realidade sem a adesão de pessoas que, assim como eu, respeitam a vida: ESSA É A MINHA POLÍTICA!
Vitória,
03 de julho de 2022.
Renata Bomfim
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