21/10/2024

DISCURSO DE POSSE DA ESCRITORA RENATA BOMFIM NA AEL/ CADEIRA Nº 7


 

Excelentíssima Sra. Presidente da Academia Espírito-santense de Letras, Profa. Dra. Ester Abreu Vieira de Oliveira; Excelentíssimo Sr. Álvaro Silva, Secretário da Academia Espírito-santense de Letras; Excelentíssimo Prof. Dr. Francisco Aurélio Ribeiro, por quem tenho a alegria de ser apresentada nesta à AEL; Excelentíssima Senhora Dafne Bilich, filha da acadêmica Jeanne Bilich. Excelentíssimos senhores acadêmicos, Excelentíssimas senhoras acadêmicas. Senhoras e senhores, Boa noite!

 

Estou aqui porque recebi o voto de confiança dos meus pares. Obrigada aos confrades e confreiras que me agraciaram com a sua confiança, prometo dar o melhor de mim. Obrigada Professora Dra. Ester Abreu Vieira de Oliveira, amiga e mestra com quem tenho caminhado desde o doutorado na UFES, quando me orientou nos estudos sobre a poesia de Rubén Darío e, depois, na Academia Feminina Espírito-santense de Letras, quando realizamos a 6ª Feira Literária Capixaba (2018/UFES). Refletindo sobre o meu percurso no campo literário, não posso deixar de agradecer, também, a presença da professora, poeta e amiga florbeliana Maria Lúcia Dal Farra, que me acolheu no florbelianos grupo do CNPq, em 2006, e do qual participo até hoje.

Ao Luiz Alberto, eu agradeço o amor que tem me dedicado ao longo desses 30 anos — Hoje, para nós, é primavera meu amor, minha luz!

 Sinto-me honrada e feliz por assumir a cadeira de número 7 na AEL, antes ocupada por personalidades que contribuíram enormemente para com o desenvolvimento socio, político e cultural da nossa comunidade. A minha formação, marcadamente multidisciplinar, teve início no Centro de Artes da UFES. Descobri, com a Mestra Freda Cavalcanti Jardim, a magia do mosaico, arte conhecida como “a pintura eterna” e foi assim que iniciei a vida profissional, quebrando pedras, ‘mosaicando´, como costumávamos dizer no Centro de Artes, buscando o sublime escondido na matéria mais bruta: a pedra. Artista plástica, nessa época, eu não compreendia a dureza, sublimidade e potência da palavra no campo literário.

  A especialização em arteterapia, posteriormente, abriu caminho para as pesquisas sobre saúde mental, foi quando passei a acompanhar as luzes acesas pela Dra. Nise da Silveira, psiquiatra rebelde que, na década de 1940, mostrou ao mundo o potencial curativo da arte. Foi conjugando a mosaicista e a arteterapeuta que construí uma carreira discreta, mas duradoura, no campo da assistência psicossocial, e que um pouco mais tarde daria as mãos ao ativismo ambiental. Dou visibilidade ao caminho percorrido até agora, pois, mesmo  tendo sido bastante árduo e com muitos desafios, ele me trouxe até aqui e posso afirmar que fiz boas escolhas na vida.

 

Faz parte do rito, relembrar o caminho dos que vieram antes de nós. Falarei dos meus antecessores na cadeira nº 7, Patrono e acadêmicos(a) que cimentaram a estrada, dentro da AEL, que tomo como minha responsabilidade percorrer.

O Patrono da cadeira é o carioca José Fernandes da Costa Pereira Júnior, nascido em Campos, em 1833. Costa Pereira formou-se Bacharel em Direito e, aos 23 anos, passou a advogar. Personalidade relevante no cenário político nacional, em 1861 assumiu o cargo de presidente da Província do Espírito Santo, dedicando-se ao fomento da colonização italiana e alemã. Atuou, ainda, como Presidente, nas províncias do Ceará, de São Paulo e do Rio Grande do Sul. Foi Deputado pelo estado do ES, trabalhando também como Ministro do Império nas pastas da guerra, da agricultura, do comércio e de obras. O nome do Patrono foi imortalizado na praça localizada no coração da nossa capital, conhecida por todos como “Praça Costa Pereira”. Da janela desse belíssimo monumento arquitetônico e artístico que nos acolhe nessa noite memorável, que é o Centro Cultural Triplex Vermelho, podemos observar, além da referida praça, que é palco para manifestações populares e local de trabalho de muitas pessoas, o pulsar de uma parte singular da nossa história.

Nada como uma mulher para narra a histórias de outras mulheres e essa tem sido uma das missões da minha vida. Nos conta Maria Stela de Novaes, na obra A mulher na História do Espírito Santo, que o centro de Vitória “tinha suas doceiras de tabuleiro na cabeça, tipos queridos populares que vendiam, além das cocadas, quindins, papos d’anjo, arroz doce e bolinhos”, muitos desses quitutes eram destinados às alunas da Escola do Carmo. Stelinha, como carinhosamente era chamada a historiadora, conta também que existia, aqui no Centro, uma tal “Pitonisa” conhecida como Vitória-Bibi”, que “preparava o arroz do Sacramento, que era vendido às quintas-feiras, e que tinha poderes sobrenaturais contra feitiços.

Essa história reflete o caráter imaginativo dos(as) cidadãos e cidadãs vitorienses, além de mostrar o quanto o nosso território é fértil para a fabulação. Certamente havia doces sendo vendido na portaria do Teatro Melpômene (1896), atual Centro Cultural Triplex Vermelho. Esse monumento foi a primeira edificação a receber luz elétrica em Vitória. Após um incêndio, o teatro foi desmontado e suas colunas metálicas utilizadas por André Carloni na construção do Teatro Carlos Gomes, anos depois, o espaço se tornou o Hotel Imperador. Atualmente é um Centro Cultural aberto à comunidade e que oferece arte, música, teatro, literatura e muito ativismo social e político.

Volto a falar da cadeira nº 7, destacando quem foi o seu primeiro ocupante. Aristeu Borges de Aguiar foi que escolheu Costa Pereira como Patrono. Possivelmente, motivado pelo fato deste também ser jurista e político. Borges de Aguiar é natural de Vitória e nasceu em 1892. O acadêmico foi Promotor Público, Procurador Geral do Estado, Diretor da Imprensa Oficial e Secretário da Presidência do Governo Florentino Avidos. Em 1928, foi eleito Presidente do Estado do Espírito Santo e veio a falecer em 1951, aos 59 anos.

O sucessor de Borges de Aguiar foi Placidino Passos que, assim como o Patrono e o seu predecessor, foi advogado. Passos nasceu em 1892 e foi Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Espírito Santo, atuando como professor e dirigiu o Departamento de Educação da Secretaria de Educação e Cultura do Espírito Santo. Foi membro do IHGES e Deputado Estadual entre os anos de 1947 e 1951, produzindo textos literários e históricos para a imprensa local. Placidino Passos faleceu em 1984 e foi sucedido pelo mineiro Homero Mafra.

Nascido em 1823 e natural de Itanhandú, Mafra foi Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro e trabalhou como advogado, fazendo carreira como Magistrado no ES. Atuou como Juiz de Direito em diversas comarcas e, em 1974, ascendeu ao cargo de Desembargador, destacando-se como um magistrado íntegro e humanista. Assim como Placidino, que foi Secretário de Educação e Cultura, Mafra uniu o amor pela escrita ao Direito, atuando como Professor de Literatura e de Direito Civil, além de trabalhar como jornalista nos Diários Associados. 

Valdir Vitral foi o quarto ocupante da cadeira nº 7. Nascido em 1926, no município de Alegre, Vitral foi juiz de Direito e, assim como seu antecessor, foi professor de Jeanne Bilich, jornalista e escritora que o sucederia na AEL. Jeanne descreve Vitral como “querido Mestre, precioso e confiável amigo”, alguém com quem ela afirma ter estabelecido “laços de convívio amigável, que transcenderam a hierarquia que norteia as relações entre professor e aluno”. Uma “Alma sensível e nostálgica!”, que encontrou na literatura uma “via libertária” que lhe permitiu “fazer uso das asas da liberdade, associada à transparência anímica, para desvelar o seu íntimo “eu”: sentimentos, emoções, solidão, esperanças e penares”. Valdir Vitral produziu uma obra jurídica profícua, além de textos literários como “Antologia da Saudade” e “Vitrais”, livro autobiográfico, de 1997. Ao fazer o mesmo exercício que faço agora, ⎽⎽ passar em revista a contribuição dos seus antecessores ⎽⎽ Jeanne Bilich se lembrou de haver (re)encontrado seu professor e amigo, Valdir Vitral, já nonagésimo, reunido com familiares num restaurante em Vitória. Destacou que, os olhos do seu mestre, “incendiaram-se e luziram intensamente” ao vê-la, reativando no seu coração a “Recordação imorredoura”, “explícita e agridoce” da saudade.        

Jeanne Bilich foi a primeira mulher a ocupar a cadeira 7, ela foi eleita para ingressar na AEL no dia 10 de junho de 2013. Não tive a alegria de conviver com Jeanne Bilich, via-a na televisão, presença marcante, uma figura que não passava despercebida, seja pela criticidade, ou pela exuberância dos cabelos volumosos e cacheados, voz forte, sorriso aberto e jeito particular com que se comunicava com o povo capixaba. Entretanto, um dia, tive a oportunidade de passar com ela preciosos minutos dialogando sobre livros, filmes e gatos. Eu havia ido ao shopping procurar um filme e lá estava ela, imbuída da mesma missão, passamos a conversar e a identificação foi imediata. Ela me indicou alguns clássicos como “E o vento levou”, de 1940. Dos filmes passamos aos livros e dos livros, aos gatos, ela me contou sobre o seu Nietzche e eu lhe mostrei fotos do meu príncipe felino, Elvis. Recentemente descobri mais uma paixão em comum com Jeanne, a ARTE DA MAGIA. Jeanne chamava a sua casa de “A casa da Bruxa” e eu, na década de 1990, fui a bruxa mor de um grupo de mulheres denominado “Confraria das Bruxas”, nosso estandarte era uma vassoura rústica feita com o mato mágico de Itarana, que acabou sendo devorado por um demônio chamado cupim. Foi essa mesma vassoura que me acompanhou quando fui tomar posse na Academia Feminina Espírito-santense de Letras, e que causou muita confusão, repúdio e horror em algumas acadêmicas. Enfim, fiz a minha performance e lembro sempre desse episódio com satisfação, riso e sem arrependimentos. Escolhi o dia de hoje para tomar posse na AEL não foi à toa, é o Dia Nacional Contra Discriminação Racial. Sou afrodescendente e consta na minha certidão de nascimento: parda. Sou uma mulher negra, bisneta de uma mulher cujos pais foram escravizados.  A biza Otilia nasceu no dia da promulgação da Lei Áurea. Me engrandece e alegra tomar posse na AEL sucedendo outra mulher, algo inédito na instituição.

Tomar assento na cadeira nº7, em um dos endereços mais tradicionais da capital, a Rua Sete de Setembro, que faz entroncamento com a rua 13 de Maio, em um dos prédios mais belos e históricos do Estado, o Tríplex Vermelho, espaço de luta e resistência progressista, é uma felicidade que parece magia.


Houve quem não aceitou que eu tomasse posse nesse lugar e não veio me prestigiar, tudo bem. Há quem não aceita que eu seja uma poeta ativista política, tudo bem também. Forças retrógradas se movimentaram para que eu não fosse eleita, mas eu fui eleita e estou aqui, firme! Me digam não deve haver alguma magia envolvida nisso tudo? O confrade Álvaro Silva me mostrou imagens da casa de Jeanne linda de viver! Viajei na decoração, havia uma bruxinha de roupa roxa altivamente postada à frente da imagem de um cavaleiro do Barroco, enquanto, reunidas próximas, outras feiticeiras formavam uma confraria bem ao estilo “Abracadabra”, filme de Anne Fletcher. De frente para uma réplica da Pietá de Michelangelo, um sofá de veludo azul como que flutuando sobre um tapete, também azul, com flores brancas; no centro da sala, uma mesinha octogonal de madeira repleta de pequenos objetos. Na parede, logo adiante, saltavam aos olhos as imagens renascentistas de Adão e Eva, pintadas por Albrecht Dürer, devidamente emolduradas de forma individual e separadas por outras imagens e objetos. Eva, ao lado do interfone, tinha o olhar voltado para o Adão de Rodin, figura musculosa, posicionada mais abaixo, na mesma parede. Observei, ainda, a presença amorosa das dos gatos Nietzsche e Baudelaire em fotografias. Espelhos, chapéus, plantas, cristais, incensos, relógios antigos, LPs, CDs, DVDs, bibelôs, e muitos livros criavam uma espécie de bricolagem, sim, a casa parecia uma galeria de arte. É certo que Jeanne Bilich transferiu para a sua escrita essa forma “encantada” de ver o mundo. A biografia da jornalista e cronista foi registrada no livro Prisioneira da liberdade: Jeanne Bilich: vida e obra, organizada por Francisco Aurélio Ribeiro, com notas críticas de Álvaro José Silva e estudo crítico de minha autoria. Esse livro, lançado em dezembro de 2022, conta ainda com textos comoventes, escritos por Dafne Bilich e Mirian Bilich, filha e irmã de Jeanne.

 

Jeanne Figueiredo Bilich nasceu no Rio de Janeiro, em 1948. Filha de Miroslavo Bilich, um engenheiro químico, poliglota, refugiado da Croácia e de Jocondina Figueiredo Bilich, professora e filha de uma tradicional família mineira. O casal teve mais dois filhos, Mirko e Mirian. Foi a morte precoce do pai, aos 51 anos, que levou a menina Jeanne a aportar em terras capixabas, aos 12 anos, para estudar como interna no tradicional Colégio do Carmo, onde sua tia-freira, a irmã Maria Luiza de Figueiredo, lecionava.

Para Jeanne essa foi uma “experiência dolorosa”, pois, segundo a escritora, “além da perda da liberdade pessoal”, “oxigênio tenazmente perseguido por seu pai”, e que o levou a “cruzar o Atlântico”, ela ficou alijada do convívio familiar e de tudo o que lhe “alimentava o espírito”: “jornais, rádio e televisão”, “cinema”. Esse foi o seu “tempo do vinagre” e fez com que a liberdade se tornasse a sua “estrela guia e soberana”. Foi em 1964, que Jeanne afirma ter reconquistado a “liberdade perdida”, mas os anos eram difíceis e a pátria se via mergulhada nos "asfixiantes anos de chumbo, ar de cianureto imposto pela ditadura militar”. Após cursar o segundo grau no Colégio Estadual do Espírito Santo, Jeanne conheceu, na Biblioteca do SESC, na praça Misael Pena, o seu “amigo, irmão, companheiro e confidente Amylton de Almeida”, com quem viveu “De e para os livros”, numa amizade que durou três décadas. Posteriormente, Jeanne fez graduação em Direito, na UNESC, em Colatina, e mestrado em História Social das Relações Políticas, na UFES, quando defendeu a dissertação intitulada “As múltiplas Trincheiras de Amylton de Almeida: o cinema como mundo, a arte como universo”, publicada em 2005.

Jeanne Bilich chegou a advogar, mas a sua paixão foi o jornalismo, e por seu pioneirismo ela é conhecida como a “Dama” do jornalismo capixaba. Jeanne foi a primeira apresentadora do Telejornal da Rede Gazeta, em 1976, atuando ainda como redatora, radialista e assessora de comunicação. No campo literário lançou dois livros de crônicas, Zeitgeist – O Espírito do Tempo (2009) e Viajantes da nave Tempo (2013). A acadêmica possui uma profícua produção de textos em sites, além de ensaios e participação em coletâneas. Suceder essa personalidade marcante como a sexta ocupante da cadeira nº 7 é um desafio.

Não possuo a formação em Direito como meus antecessores, mas comungo com eles de uma imensa SEDE DE JUSTIÇA que moldou a minha história e que pode ser observada explicitamente na minha trajetória ou nas entrelinhas do que escrevo.

O amigo José Augusto de Carvalho,  professor, escritor e crítico literário,  prefaciou o meu livro Arcano Dezenove e disse que viu nele “versos que se constituem em pensamentos de elevado sabor, em que se mesclam o social, o político e o lírico”; o professor Luiz Eustáquio Soares destacou, no prefácio de Mina, que a minha escrita é, também “afetiva” e de “enfrentamento ao mal que nos embarga a todos, e antes de tudo às alteridades”; a professora Ana Luiza Vilela, ao prefaciar o Colóquio das árvore, observou uma “vocação irreprimivelmente feminina”; já para o seu conterrâneo, o escritor português José Luiz Peixoto “os (meus) versos, um a um, são experiências, requerem os sentidos para serem verdadeiramente entendidos”. Desde a pitoresca Granada, na Nicarágua, o poeta Francisco de Asís Fernandes Arellano enxergou a Renata Bomfim como uma “poeta contemporânea, consciente de los retos que enfrenta el ser mujer em nuestros dias”, e que “teje uma mitología poética particular con um linguaje de altos quilates”. Pouco, ou quase nada sei dizer sobre a minha escrita, deixo aos críticos as análise e julgamentos. Assim, é por meio da crítica e do olhar e do sentimento dos leitores, que consigo enxergar o que escrevo.

É uma realização saber que foram as palavras que me trouxeram até aqui as palavras e os leitores.  Escrever para mim é uma responsabilidade, é um privilégio poder tocar a alma alheia e me irmanar com os seres do planeta, espíritos encarnados e desencarnados. O crítico literário francês Maurice Blanchot afirmou que “o domínio de um escritor é obra de outra mão”, ou seja, o autor jamais lê a sua obra, para ele essa é um segredo, e esse noli me legere faz surgir, onde não existe ainda senão um livro, uma potência, “força de afirmação insistente, rude e pungente” que nasce a partir do jogo de sentido das palavras.

A literatura e a arte dão cor e sentido a minha vida. Posso afirmar que, na condição de bisneta de Dona Otília, ocupar uma cadeira na AEL, também é assumir o compromisso de não silenciar frente a nenhum tipo de opressão, e de persistir na luta por uma sociedade justa, sustentável e igualitária. O filósofo Gaston Bachelar me classificaria como “uma sonhadora inflamada”, pois, assim como a chama de uma vela, sou sensível ao drama da pequena luz. 


Show de Aline Maria


Há treze anos, quando ingressei como acadêmica na Academia Feminina Espírito-santense de Letras, afirmei no meu discurso de posse que “O reconhecimento público de uma mulher como escritora é uma vitória para todas as mulheres”, nesse encontro agradeci e celebrei as “conquistas alcançadas pelas mulheres que me antecederam, e a oportunidade de fazer o bom uso da palavra para denunciar a violência que ainda oprime e mata milhares de mulheres. É fato que “o discurso feminino ainda incomoda e ameaça, mas é certo que avançamos e, ainda mais certo de que não iremos desanimar até que o diálogo com nossos pares seja possível, até que celebremos “a superação da dicotomia que transformou todos nós em ilhas”. Não chego a AEL coroada apenas com flores, mas recebi muitas flores, e sou imensamente grata aos confrades e confreiras que me recebem com amor, na verdade o amor é a única coisa que me interessa nesse momento. A escrita, mais especificamente a poesia, tem sido para mim um instrumento privilegiado de sobrevivência e de ação no mundo. Sou grata à literatura por ter me proporcionado muitos dos momentos mais marcantes da minha vida e por me oportunizado aprender, viajar, pesquisar, participar de festivais, saraus, publicar e, o mais importante, parafraseando Jeanne Bilich, “amealhar um tesouro, amigos diletos, paredes revestidas de livros”, muitos gatos, entre eles o Pequeno Krishna, recém-chegado, e o leitor, parte indissolúvel de uma obra. 

Em 2007, quando criei a Reserva Natural Reluz, em Marechal Floriano, eu sabia que a minha vida nunca mais seria a mesma, e eu estava certa, a luta para defender o meio ambiente é inglória, mas vale cada gesto, cada ato, cada poema. É por isso que finalizo esta comunicação complementando as minhas palavras com um gesto simbólico. Nesse dia no qual se comemora, também, o Dia Mundial da Floresta, presenteio as pessoas que vieram ao Triplex VERMELHO, me prestigiar, com mudas de Pau-Brasil, cada uma delas identificada com o nome de um(a) patrono(a) da Academia Espírito-santense de Letras. A minha militância como criadora e gestora de uma reserva ambiental e fundadora de um instituto ambiental caminha junto com a literatura, a arte e alberga o meu desejo de ver as florestas do planeta restauradas, em especial, a Mata Atlântica, e esse sonho não se tornará realidade sem a adesão de pessoas que, assim como eu, respeitam a vida: ESSA É A MINHA POLÍTICA!

 

Vitória, 03 de julho de 2022.

Renata Bomfim






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