de Renata Bomfim
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23/01/2025

A Alma sofre, o coração sente, a arte transmuta: as dores de Gustav Mahler (Renata Bomfim)


Gustav Maher

Gustav Mahler foi um dos maiores compositor do período romântico. Ele era filho de pais judeus e viveu em uma província tcheco-austríaca. Aos seis anos, o seu talento musical foi notado e seus pais não pouparam esforços para que ele estudasse no conservatório de música. A família tinha uma condição financeira estável, seu pai possuía um negócio de bebidas, entretanto, mesmo provendo a família, era um homem bruto e de temperamento irascível e o que fez com que o menino crescesse em um lar muito conflituoso.

Desde a infância Gustav teve que conviver, juntamente com sua mãe, com a violência e os acessos de ira de seu pai. Essa vivência marcou a sua vida e o seu estado de ânimo passou flutuar, oscilando entre períodos de euforia e melancolia.

É certo que a arte nada tem de patológica, mas se observarmos a vida de Gustav Mahler e de pintores, cantores, compositores, escritores, entre outros, veremos que as vivências dolorosos impregnam suas expressões e se deixam entrever nos interstícios de suas criações. 

A obra e as declarações do artista revelam a sua luta contra crises maníaco-depressivas desencadeadas por essas e outras vivências dolorosas. 

A intensidade da obra do artista e trechos que, fora do convencional de sua época, foram descritos como sombrios, revelam a sua capacidade de transformar em sinfonia os sentimentos e afetos que fez ele ser a pessoa que foi. 

As dores e os sofrimentos não admiráveis, são eventos que não se escolhe, muitas vezes inevitáveis e aos quais a pessoa precisa responder de alguma maneira. Há quem fuja, quem enfrente, quem sucumba, mas é certo que ninguém sai incólume a essas vivências. É admirável que exista um Van Gogh, uma Frida Khalo, um Bispo do Rosário e tantos outros seres humanos que nos mostram o processo alquímico da dor transformada em arte. É admirável, também, a pessoa anônima que, dentro de suas possibilidades, luta para estar bem e para construir um ser e estar no mundo mais saudável e equilibrado. 

Volto a dizer que a arte não é patológica, mas ela tem a capacidade de fazer a dor se transformar em alguma outra coisa. 

No caso de Gustav Mahler, a profunda crise existencial as vezes lhe dava instabilidade e ele ao ser eleito, aos 28 anos, Titular da Ópera Real de Budapeste, não conseguiu continuar no cargo. A vida adulta do artista também não foi fácil, ele perdeu seus pais e suas irmão no período de um ano, alguns anos depois, seu irmão cometeria suicídio. Ele casou-se com uma mulher chamada Alma e teve suas filhas, uma delas morreu de febre escarlatina. O espectro da morte rondou toda a vida de Gustav e ele produziu obras como "Canções para meninos mortos" (Kindertotenlieder). Ele se viu ridicularizado nos jornais, vaiado e desprezado pelo público, mas encontrou conforto na vida doméstica, ao lado da amada esposa Alma.

Passado o período depressivo ele trabalhava freneticamente, se fechado em seu mundo particular de dor e solidão. Em um desses episódios, sua esposa insistiu que ele buscasse ajuda, foi quando o artista escreveu um telegrama para Sigmund Freud. O encontro entre o compositor e o psicanalista aconteceu em 1910 durante as férias de Freud na Holanda. Eles se reuniram umas três ou quatro vezes segundo os biógrafos, e esses encontros marcaram a vida de Gustav positivamente, tanto que ele agradecido a Alma, dedicou a ela a sua décima sinfonia: "Viver por ti, morrer por ti, Almschi!".

Gustav Mahler ia completar 51 anos quando faleceu de problemas cardíacos, em Viena. 

Renata Bomfim

Vitória, 23/01/2025


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