08/11/2013

Contradições

Louvo a beleza que embriaga
meus olhos. Sigo de Porto para
Santiago de Compostela.
Casas de pedra cercadas 
pelo verde, pinheiros enfileirados,
hortas e plantações de uva
dão forma a um cenário
inquietante, mas, o meu espírito
se desloca, involuntariamente, 
para a aridez do sertão 
da minha terra, onde o homem
planta e nada brota
por falta de água.
-Ah! chuva santa, abençoada, 
porque não vens? chora o sertanejo
tangendo, dedos grossos, a viola.
Já no Sul a geada mata o gado,
e o sol não aquece o peito como deveria.
Nos matadouros os animais 
vivem a miséria da morte mais cruel
(vitimas de um holocausto)
Não quero pensar nessa humanidade
que perdeu o rumo, quero ter esperanças,
mesmo que este estandarte puído 
seja reerguido via tinta e papel.

RB

01/11/2013

A leitora

A mulher lê um livro no metrô,
Olhos fixos nas letras,
A mente vagueia sei lá por onde.
O livro, de capa dura,
Tem as folhas amareladas pelo tempo,
E possui, também, muitas marcações.

Busco na face da leitora as feições
Que respondem á pergunta:
Será este um livro de Horas?
Ou de filosofia?
Será a história de Tristão e Isolda,
De Édipo, a Odisseia, a Ilíada,
Ou mais um vampiro á espreita?

A mulher retira os olhos da página
E esboça um pequeno sorriso,
tenho quase certeza, está lendo
os sonetos de Florbela!

Lisboa, 01-11-2013

Apenas as flores

Apenas as flores podem
Entender o desengano,
A tristeza e a dor
Que habita o meu peito,
E essa luz que brilha,
(intermitente)
Em lugar que desconheço.
Sou como a minha terra:
Vales e montanhas dialogando
Num sem fim...
As areias da praia nunca provaram
O abraço frio do rio Jucu, e nem
Nunca escutaram o sussurro melancólico
Dos pinheiros do Reluz,
Eu os escuto sempre! mas,
Apenas as  flores conhecem
Os segredos guardados por mim,
Elas compreendem as sutilezas
Do alto e do baixo, e sabem
Porque morro e porque vivo assim.

RB, Lisboa, 01-11-2013

31/10/2013

Os olhos da Medusa

Os olhos da Medusa
não são maus, mas,
De desejo sobre a coisa 
Admirada, querida.
Tentativa desesperada de 
Deter a ação corrosiva do tempo, 
Perpetuar a beleza.
As serpentes bailam desvairadas
sobre a cabeça. São as cordas
da lira desafinada dessa Musa 
Desterrada, estranha e triste,
Que só quer uma coisa na vida:
Ser amada.

Lisboa, 31-10-2013
RB

A beleza pode ser mortal


Para José Augusto Carvalho

A beleza pode ser mortal!
Vê a Rosa:
Vermelha e incômoda.
Ela te olha assustada,
É como se a correnteza, louca,
Quisesse arrastá-la para o mar.

É uma Rosa, apenas uma Rosa.
Desatinada e com os dias contados.
Pétala por pétala vivendo o drama
De guardar o perfume mais desejável.

A beleza é um castigo!
Ninguém pode ser a Rosa,
Além dela mesma. É por isso que
A colocamos em um vaso sobre a mesa,
Nos deleitamos ao vê-la morrer,
E nem percebemos que
Morremos junto com ela.

RB

El Rostro y mi retrato (Pedro Sevylla de Juana)

Vi el rostro que intento retratar,
por vez primera
cuando el rostro sonreía.
Eran las once y media o quizás
unos minutos antes, porque suelo
adelantarme en las citas.

Apareció su sonrisa
abriéndose
desperezándose
como recién levantada
del sueño más profundo,
dispuesta a tomar un café de la variedad
conilon
por supuesto, espiritosantense:
o melhor fruto da Terra.

Sus ojos, Ah! sus ojos
sus ojos se informaban de la marcha de los
acontecimientos:
mi llegada entre otros.
Azules sin serlo
grises sin serlo
hubiera querido unos ojos marrones
pero así es el rostro y así hay que tomarlo.

Sus ojos iluminaban el entorno cercano
y, tal vez, el remoto
pasillos opuestos de su laberinto,
imposibles escaleras que remontaban
hacia abajo y descendían remontando.

Sus ojos,
miríadas de kilómetros entre ellos
kilómetros y kilómetros ellos,
estética apreciada desde distancias siderales;
sus ojos indicaban que la sonrisa
incierta y misteriosa
quería lavarse la cara
agua de cascada elevándose:
-el amor es una catarata rampante,
escribí un día-
y así lo confirmó la piel tersa
cuando o pote da beleza eterna iba
embelleciendo
los poros y las células
de ese rostro
cuyo esplendor incendiaba la mañana deslumbrante.

Iluminado el laberinto apareció la llanura de la frente
radiante de reflexiones emocionales
de búsquedas en cientos
de recuerdos y proyectos enlazándose,
en miles de espólios postmorten
existentes y, aún, inexistentes:
palabra y amargura, tósigo y antidotario
hidromiel,
néctar
y ambrosía.

Iluminado el laberinto se iluminaron
los labios
carnosos, carnales
invitando al beso ávido
anhelante.
Los labios -que mis besos desearon
besar- formaban sonrisa
fundida en crisol de tierra fértil
destilada en el alambique de los tiempos
gesto y mohín entre inexperto y lúbrico
alborada del primer instante
de una Creación imperfecta,
de imperfección imperfectiva.

Iluminados los labios se iluminó
la palabra:
pétalos de rosa mecidos por el viento céfiro
polen adherido al largo pico del colibrí capixaba
a la lengua bífida de la serpiente cascabel,
Fiat mágico que todo lo dibuja,
mosaico de letras uniéndose y desplegándose
vitrales filtrando el arcoíris de la pasión humana
rocío de la saliva rociando el liquen
hijo de hongos y algas unicelulares
nieto inicial de la evolución innovadora.

Llegó el rostro enmarcado por los cabellos
cuando el rayo primigenio iluminó el espacio todo
desde las espigas de avena de Valdegayán en Valdepero
hasta la Mata Atlántica de Reluz.
No había nada más en la infinidad.
Admiro la cortina de los cabellos innúmeros
que la mano al desgaire imagina bandera
tenues, cálidos, acogedores
-quisieron mi nariz y mi boca ararlos,
surcarlos, navegarlos-
tierra de promisión limitando el rostro,
inacabado e inacabable.
Deseo recorrer, lengua húmeda,
el desierto-oasis inmenso de la frente
y las cavidades apasionadas de los oídos
lóbulos vivos sensibilísimos;
internarme en la profundidad de la boca
que alcanzaba el centro ígneo
y los impulsos cordiales,
realidad disímil de lo pensado
que va ajustándose día a día a su patrón
equilibrándose.

ES, sí ES, nació. Creció ser vivo, vivificante,
aminoácido esencial, protozoo
danza acuática de cilios y pestañas
aletas, alas
piernas destinadas a la armonía de los giros
de las piruetas en el aire inmóvil y agitado
mar y cielo rompiéndose en arterias
en sangre alada deseosa de fundar colonias
ninfas, faunos y atletas incansables
que corran y recorran la inmensidad repoblándola.

ES, sí ES,-palparían las yemas de mis dedos
milímetro a milímetro, ese rostro integro-
solitario en los abismos
nacido y crecido de su propia energía
pero no hay nadie ni nada más en el Universo
porque ese rostro ocupa el espacio infinito
y el tiempo eterno
porque ese rostro es
EL imaginado ROSTRO DEL UNIVERSO.


PSdeJ, en la mañana del día11 de octubre 2013


29/10/2013

"Melancolia" (poemas de Renata Bomfim)

I.
Eu preciso dizer
Antes que os pássaros
Se calem.

II.
Perdoa-me por pensar em morte,
Quando a vida urge ao nosso redor.
Por despertar o fantasma da finitude,
Enquanto ainda estamos embriagados
Pelo gozo.
Perdoa por essa escuridão intraduzível
Que habita o meu peito:
Poço sem fundo,
Labirinto de Minotauros anões.
Perdoa-me por ser poeta,
E por não ser uma apenas.
Por este nó na tua garganta,
Esfinge a te devorar.
Perdoa-me...

III.
Quando estou feliz
Da vida,
Logo fico triste.
Ah, consciência!
A felicidade não existe,
É pura ficção.

IV.
Passei por Portugal,
Espanha e África
Como uma borboleta...
Posei aqui, ali,
Bebi néctares, 
(anonimamente)
Mas, estou satisfeita!
Trouxe para a poesia
Aromas e pólen.

V.
Não quero falar de mim,
Quero esquecer que existo,
Quero esquecer de falar,
Não quero falar esqueci.

VI.
Sou um herói derrotado,
A caricatura de Dom Quixote,
Uma farsa!
Os castelos que defendo são de areia,
São feitos de palavras os meus combates,
O espólio da minha derrota:
A dignidade!
O castigo a mim infligido:
Banimento para os campos
Da realidade.

VII.
Não posso estar aqui,
Não permitem.
Não posso sentar á mesa e
Nem rir da piada ridícula.
Não posso levantar a cabeça
Nem antes e nem depois.

Vivo o interstício da noite fria.

VIII.
Silêncio,
Deixa eu ouvir
O som da noite,
Ser o orvalho da flor
Ressequida.
O tempo logo trará o sol
Na carruagem de ouro,
E com ele o momento
Propício para a tua voz.

IX.
Ah! Se eu pudesse me desfazer,
Ser este nada que ocupa o universo,
Essa coisa sem nome, endereço,
Sem haveres...
Eu seria um lampejo de devir.

X.
Meus olhos vêem o que
Nenhum outro vê.
Escuto os sussurros do silêncio,
Tateio o infinito.

O escuro abissal é meu espelho.

XI.
O meu homem
Escuta versos,
Põe fé na minha filosofia,
Traz café na cama e
Afaga os meus cabelos.
O meu homem diz:
Bom dia!
Mas, se irrita quando
Falo de morte...
Ele cuida do meu gato
Rega a laranjeira.
E para mudar o tempo
Faz amor com todas
As mulheres que eu sou.


XII.
Os campos de Évora
Parecem salões de baile,
Onde as oliveiras rodopiam
Leves e brejeiras
Ao som do vento.


28/10/2013

De volta a Évora, Portugal


Amigos, hoje voltei a Évora para dar prosseguimento as pesquisas no Universidade de Évora. Subi pelo jardim público, fui saldar Florbela Espanca. No jardim público de Évora está instalado o busto em homenagem à grande poetisa calipolense. Évora é linda! não me canso de visitar a cidade que sempre se mostra diferente aos meus olhos. O templo que vocês veem na foto é romano e dedicado a deusa Diana. 
Um abraço 
Renata Bomfim

27/10/2013

Fugacité


Ah! fleur de mon dessein,
Lumineuse volonté,
À chaque nuit je tisse um manteau 
D’étoiles
Tandis que le monde songe.

La soif et la faim me font 
Chercher des nouvelles parages.
Mon lieu n’est nulle part ailleurs
J’ai vu des boutons d’or dans le jardin, mais

Pas tous n’auront le courage d’éclore.
Je me suis toute éclose!
J' ai éprouvé sur le corps le soleil, la pluie:
J’ai aimanté la subjectivité.

J’ai tenu le vent dans les mains et 
J’ai chevauché le plus vite possible.
Du haut toutes les montagnes sont bleues.
Le soleil reluira, toujours, et 
La terre extrudera en liqueurs,
Indépendamment de toi et de moi.
Ne rêve pas d’ être plus que l’air 
Qui visite brièvement tes poumons et,
Bientôt, émigre vers le sang.

Mon coeur inquiet,
Pullule déraisonnable,
En attendant le certain moment de devenir 
Quelque chose d’ autre,
Singulièrement,
Pleine de vie.
autora: Renata Bomfim. tradução para o francês: Madu

25/10/2013

A arte de Joana d'Arc Forte

Olá amigos internautas,
compartilho com vocês as belas imagens produzidas por Joana d'Arc Fortes, pintora naife mineira, capixaba de coração. Espero que apreciem a criatividade desta mulher batalhadora.Tanto a narrativa, quanto a narração levam a assinatura dessa amiga de vocês.
Abraços
RB


As obras de Joana d'Arc Fortes podem ser apreciadas 
no Escritório de Arte Dayse Resende, em Jardim Camburi,
Vitória/ES.