03/06/2021

A escritora capixaba Renata Bomfim lançará na segunda quinzena de junho o livro de poemas O Coração da Medusa.



O Coração da Medusa é o mais recente livro da poeta brasileira Renata Bomfim, traduzido para o castelhano pelo poeta espanhol Pedro Sevylla de Juana.

Descrito como “um livro mágico” pelo poeta e crítico literário nicaraguense Francisco de Asís Fernández Arellano e como "um caminho de transformação para o leitor" pelo poeta português José Luis PeixotoO Coração da Medusa alberga mitos transgressores que buscam romper com o silêncio secular que ronda variados temas femininos.

A obra está organizada em três capítulos: "Canto iniciático, Queda e Ascenção" que constroem uma jornada de encantamento e estranheza para o leitor. Ele traz, ainda, a sessão "Outros poemas" onde a linguagem poética flerta com a prosa em exercícios de experimentação. Segundo o tradutor Pedro Sevylla de Juana, esse "es un libro profundamente brasileño” e que “abre caminos y los asienta a fuerza de transitar por ambos sentidos de direcciones diversas”.

O livro O Coração da Medusa foi contemplado pelo Edital da SECULT e conta com recursos do FUNCULTURA e apoio da Secretaria Estadual de Cultura do Governo do Espírito Santo. Essa obra é uma realização da Reserva Natural Reluz, uma RPPN criada e mantida pela autora em 2007 nas montanhas capixabas e toda a verba da venda da obra será revertida para os projetos de preservação e educação ambiental da Reserva. 

Sobre a autora: Renata Bomfim nasceu no ES, Brasil. É arteterapeuta, poeta e ambientalista. Doutora em Letras pela UFES, pesquisa a poesia iberoamericana com ênfase nas obras de Florbela Espanca (Portugal) e Rubén Darío (Nicarágua). Ex-presidente da Academia Feminina Espírito-Santense de Letras. Autora das obras Mina (2010), Arcano dezenove (2011) e Colóquio das árvores (2015). Fundadora da Revista Literária Letra e Fel e criadora da Reserva Natural Reluz.

Sobre o tradutor: Pedro Sevylla de Juana é académico correspondiente de la Academia Espírito-santense de Letras, y Premio Internacional Vargas Llosa de novela/romance. Publicitario, conferenciante, traductor, articulista, poeta, ensayista, crítico y narrador; ha publicado veintiocho libros, y colabora con diversas revistas de Europa y América, tanto en lengua española como portuguesa.


(Olhares críticos)

OS POEMAS DE O CORAÇÃO DA MEDUSA FORMAM UM CAMINHO QUE NOS TRANSFORMA.

Os poemas de O Coração da Medusa formam um caminho que nos transforma. Os versos, um a um, são experiências, requerem os sentidos para serem verdadeiramente entendidos. Como orações ou mantras, estes poemas contagiam-nos com o seu ritmo e expandem-nos. Tornamo-nos do tamanho deles, ganhamos a sua forma ou, talvez, sejam estes palavras que se tornam do nosso tamanho, que ganham a nossa forma. É difícil dizer, misturamo-nos com eles.

Este livro de Renata Bomfim é como um parque onde está sempre sol e onde podemos sempre regressar. Lá, na serenidade e na luz das suas palavras, no mundo que os seus símbolos sugerem, havemos de encontrar-nos a nós próprios.

José Luís Peixoto, Galveias, Portugal.


EL CORAZÓN DE MEDUSA DE RENATA BONFIMPor Francisco de Asís Fernández Arellano 

Renata Bomfim en su escritura  entrega al lector una voz poética entrañable y lúcida, tersa en la dulzura de su poetizar y profunda en la complejidad de su pensamiento. Una mujer conocedora de la vida concreta pero dueña de una poderosa imaginación poética que rompe-ataduras, convenciones, creencias y que le permite alcanzar un  raudo vuelo de sabiá laranjeira, para construir un nido en El corazón de Medusa.

El corazón de Medusa de Renata Bonfim es un libro mágico que funda una mitología poética particular, desafiante y bella. Es un reto para cualquier poeta contemporáneo, recrear el mito de la Medusa, enfrentar su peligrosa mirada e ir hasta su corazón ctónico para con una visión prístina, construir todo un complejo ritual con sus tres niveles litúrgicos: Canto iniciático, Caída y Ascensión.

Medusa fue una bella mujer que Zeus la percibió como personificación de la lujuria, razón patriarcal para que él cometiera su abusiva violación en el templo de Atenea, quien ante esta profanación la convirtió en  un monstruo que participa del ser una bella mujer de petrificadora mirada con cabellera de serpientes pero que protege a la femineidad.

El ritual de la recreación del mito de la Medusa, le permite a la hablante lírica,  con la protección de este mismo abominable ser, ir a ella sin escudo reflejante como Perseo y ver ahí donde se encuentran para nuestro horror la naturaleza y la cultura.

 Renata Bomfim, como poeta contemporánea, consciente de los retos que enfrenta el ser mujer en nuestros días, teje una mitología poética particular con un lenguaje de altos quilates. Un idiolecto poético dueño de profundidad filosófica, con insondable libertad creadora, con una dimensión epistémica remarcable, que a los lectores nos va a dejar una huella de fuerza ciclónica y al mismo tiempo, la ternura de una caricia en la piel.

La magia poderosa de la medusa coloca a la poesía de Renata Bomfim en este libro, sin las ataduras del tiempo-espacio. En El corazón de Medusa, Bomfim visita y recrea los mitos griegos, los hebreos, la anti- mitopoiesis contemporánea (se confiesa novia de Nicanor Parra), la mitagogia de la ideología patriarcal y uno que otro camino galáctico en el universo.

Sin riesgo alguno confieso que El corazón de Medusa, es un libro que anidará en nuestro corazón, por su bella propuesta estética y advierto la seguridad de la satisfacción poética en sus lectores.

Gracias querida Renata Bomfim.

Francisco de Asís Fernández Arellano

Desde tu Granada, Noviembre 2020.

16/04/2021

Não pronunciarei o nome dos odiosos (Renata Bomfim)

                          aos movimentos de resistência


Não pronunciarei o nome dos odiosos,
Nem hastearei tolas bandeiras.
As correntes do medo não prenderão
Mãos inquietas, não porão fim 
a caminhada de uma vida. 

Recorro à poesia como um cão 
Buscando abrigo, carinho, calor. 
Vasculho aqui e ali tentando 
Nutrir esperanças pelo vislumbre 
Do simples bater de asas 
De uma borboleta.

Recorro à poesia porque o meu coração
Está cheio de amor.
Porque quero ofertar amor.
Não sei como e nem o porquê, mas,
Amo sem limites nesse instante.


Vix, RB

12/04/2021

IRMÃ CLEUSA CAROLINA RODY COELHO, EDUCADORA E MÁRTIR (Prof.ª Renata Bomfim)


A história de vida,¾ e de morte¾, da irmã Cleusa Carolina Rody Coelho (1933-1985) trouxe-me à memória a proposição de Walter Benjamim de que “cada época ao sonhar a seguinte, força-a a despertar”. Benjamim não sobreviveu ao tempo sombrio do nazismo, assim como irmã Cleusa Carolina, professora capixaba que optou pela vida religiosa, sucumbiu lutando pelos valores nos quais acreditava. O pensamento de Benjamim é um alerta sobre o perigo do esquecimento e a importância de se trazer à luz a memória dos oprimidos, pois, apenas assim poderá ser criada uma barreira contra a barbárie.

Vivemos um período de grande obscurantismo no Brasil, no qual a educação sofre graves ataques e, barbáries como a ditadura e o genocídio indígena, são minimizadas e, até mesmo, negadas. A história de irmã Cleusa Carolina explicita questões como a violência contra mulheres, pacifistas, ambientalistas e o genocídio dos povos originários, que remonta a colonização. Ao rememorarmos esse passado que se presentrifica de forma perversa, auscultamos a contrapelo da história, ecos da resistência e da luta dessas minorias, de humanistas e dos índios brasileiros, quiçá forçando um despertar coletivo para questões tão prementes.

Irmão Cleusa Carolina pediu dispensa do trabalho que realizava e, sem remuneração, mas determinada, foi viver entre os índios Apurinã, na Amazônia. Na sua última transferência para a cidade de Lábrea, em 1982, a freira capixaba uniu forças com aqueles que ela considerava serem os mais vulneráveis da sociedade, “os mais pobres e marginalizados”, apoiando as comunidades na luta pela demarcação, em um momento no qual os latifundiários invadiam e ocupavam as terras indígenas, muitas vezes com a conivência de autoridades locais. Representante do Conselho Missionário Indigenista, irmã Cleusa Carolina era professora de formação e a sua trajetória como missionária sempre esteve ligada à educação.

A história de vida dessa freira que dedicou 32 anos ao serviço missionário começa em Cachoeiro de Itapemirim, ES, no dia 12 de novembro de 1933. Aluna brilhante, ao final do curso de magistério, recebeu do Governo do Estado do Espírito Santo o prêmio de escolher em qual escola lecionaria, foi nesse momento que optou pela vida religiosa. Em 1952, na Comunidade de Ilha das Flores, no Rio de Janeiro, Cleusa Carolina adotou o hábito e tornou-se Sór Maria Ângelis.

Em 1954 quando foi enviada pela primeira vez para as Missões de Lábrea, iniciou a criação do Educandário Santa Rita, destinado às crianças carentes da cidade, onde trabalhou como professora primária. No ano de 1958, de volta ao ES, em Colatina, emitiu votos perpétuos de pobreza, obediência e castidade.  Mais tarde, irmã Cleusa Carolina decidiria não vestir mais o hábito religioso, usando apenas roupas simples recebidas como doação, ato motivado pelo desejo de diminuir diferenças e distâncias entre ela e as pessoas que atendia no trabalho fraternal.

Irmã Cleusa Carolina abraçou a sua vocação como educadora e o período que passou em Vitória, que se estendeu até 1973, dirigiu o Colégio Agostiniano e obteve Licenciatura Plena em Letras Anglo-germânicas, na UFES, dedicando-se, também, à formação de lideranças para criar Comunidades Eclesiais de Base. Foi nessa época irmã Cleusa Carolina voltou a adotar o nome de batismo. O trabalho missionário estendeu-se dos centros educacionais para presídios, lares de pessoas doentes e leprosário. No período que esteve em Manaus, a freira ia para as praças ao encontro dos meninos de ruas, levando para a sua casa alguns deles que corriam perigo de vida, passando assim a ser mal vista pela polícia, acusada de ser conivente com a desordem e protetora de infratores e marginais. O compromisso para com a justiça pode ser observada no trecho de uma carta enviada à outra freira, irmã Lourdes, em maio de 1978 que diz: “Temos que construir fraternidade, é necessário, mas a justiça tem que estar na base de toda a convivência humana”. Foi assim, colocando a justiça como um pilar da fraternidade que irmã Cleusa Carolina cumpriu a sua missão como integrante da irmandade das Missionárias Agostinianas Recoletas



. Irmã Cleusa manifestou, em carta, o desejo de desenvolver um trabalho de alfabetização para adultos com os povos ribeirinhos, a “pastoral das curvas”, dos Purus, preocupando-se, também, com “os irmãos espalhados pelas estradas”.

A participação ativa na causa indigenista fez com que a freira se tornasse querida entre os índios, mas por outro lado, incomodou aqueles que os perseguia. Irmã Cleusa Carolina foi assassinada no dia 26 de abril de 1985, o seu corpo foi encontrado dois dias depois, nu e escalpelado, com mais de cinquenta chumbos de arma de caça na cabeça e no tórax, várias costelas quebradas, braço direito decepado e a sua mão direita nunca foi encontrada. Os ossos do braço direito da irmã Cleusa Carolina estão depositados na Catedral Metropolitana de Vitória e, tramita hoje, no Vaticano, um processo para a sua beatificação.

O martírio da religiosa capixaba faz parte da história de violência que abrange os conflitos que envolvem terras indígenas e extrativismo e que ainda vitima muitos indígenas. Irmã Cleusa Carolina foi um exemplo de amor ao próximo e à educação, e foi honrando esse legado e buscando que a sua memória não caiam no esquecimento, que a Academia Feminina Espírito-santense de Letras (AFESL) tornou-a Patrona da cadeira de número 24, ocupada hoje pela escritora Beatriz Monjardim F. Santos Rabello.

Renata Bomfim

Poeta, ambientalista e presidente da AFESL

TEXTO ORIGINALMENTE PUBLICADO NO JORNAL DE LETRAS, RJ

NOVEMBRO DE 2020

LA ALQUIMIA DEL SER EN LUNA MOJADA, DE FRANCISCO DE ASÍS FERNÁNDEZ (prof.ª Dr.ª Renata Bomfim)

 

La obra poética Luna Mojada (2015), edición bolingüe del escritor nicaragüense Francisco de Asís Fernández, desafía el lector para que se aventure. El libro, con treinta y ocho poemas, le da forma a una especie de Cosmogonía poética donde los valores femeninos, masculinos e instintos básicos se mezclan creando nuevos mundos. Inicio mi mirada a esa obra por la pintura en acrílico sobre tela del artista plástico colombiano Mario Londoño (1954), escogida como portada. En esa obra pictórica observamos una mujer acostada sobre un caballo. El cuero desnudo de la hembra se une al del imponente animal, de modo que no podemos diferenciar los hilos de su pelo de la cola del equino. No hay movimiento entre los elementos de la obra, apenas el silencio ruidoso del eco de las voces que necesitan ser escuchadas. La luna, suspendida, asiste al espectáculo de unión entre seres distintos y afines. Considérese al aviso al lector, entraremos en un mundo de sueños inédito, en él que nada es lo que parece ser, pero que, al mismo tiempo lo es a priori. Mundo arquetipo, nocturno, erótico, dual, preñado de ansiedades, abismos y alboradas. La luna, guardadora de los misterios femeninos de la creación, símbolo de la Gran Madre primordial, está húmeda, lista para el gozo y la procreación. Esa obra nos arremete a un lugar intersticial en el que coexisten el bien y el mal. En el poema de Rubén Darío “Coloquio de los Centauros”, el centauro Ástilo revela la profundidad del misterio poético. Él dice: “El enigma es el soplo que hace cantar la lira”. Así, como informó Ástilo, la enunciación del yo poético en Luna Mojada indica que ese no es un libro de revelaciones, antes, de misterios. Indica que hay un camino que sólo el lector puede recorrer en la intimidad de la lectura, senda iniciática que le permitirá vislumbrar nuevos sentidos y realidades, pues, sondear el verso es ser sondeado por él, es romper con todo, no tener la verdad como horizonte y tampoco el futuro como morada. Es así como el crítico Maurice Blanchot define el poema: “la realización total de la irrealidad (1)”. Deparémonos con el yo lírico expresando la llegada de un tiempo de alegría y gozo posible, apenas, a través del amor. El poema “¿Cómo era las auroras al principio del mundo?” despierta recuerdos de un pasado común y lleno de novedades: “cuando descubrimos el fuego/ y pintamos las cuevas de Altamira”. “Retrato del poeta”, poema que le sigue, indica el surgimiento del principio de la desarmonía, explicitando la existencia de una fisura: “una gotera infame en el techo de mi cabeza”. Pensamientos inundados, ya no hay como resguardar las “memorias, imágenes,/ manías, amores y rencores antiguos,/ que sostenían muchas paredes de papel y de sombras”. Hay también el despertar de una nueva fuerza destructiva y abisal en el cierne de la obra: “En mi cuerpo parece haberse liberado un animal”. Destaco aquí la soledad esencial que emana de la obra literaria. Como afirmó Blanchot (2010), el libro no es la obra, antes, un objeto hecho de palabras estériles. La obra comprende un evento en el cual las palabras se materializan en la intimidad de quien escribe y de quien lee. Así, la palabra tiene su inicio en la inquietud del yo poético. Los sueños fueron derrotados y el escenario es alucinante: “exquisita gota de locura”, los ojos de la mujer hacen recordar la aurora inaugural, “ojos más intensos que las noches del Lower East Side/ y las cataratas del Niágara”. En la duda entre el sueño y la realidad existe apenas una certeza: los ojos de esa mujer “Con tantos sueños derrotados”.

Es en el sueño que el yo poético puede recobrar la antigua unidad. Transportado por el “Ángel de la noche” a lugares espectaculares, vislumbra un “nuevo mundo” donde los seres de las aguas y del aire se juntaban. Ese lugar sin lágrimas y sin dolores no admite el corazón humano, sin embargo, en el poema subsiguiente, titulado “Hay un lugar en el mundo”, vemos la emergencia del nuevo equilibrio entre humanos y no humanos: la intimidad entre el yo poético y los animales revela “la más íntima amistad”, un vínculo de confianza. El yo, solitario, conversa con los pájaros, así se siente que apura sus sentidos y se hacen “más peligrosos que un tigre de Bengala”, por lo tanto, listos para “arrancar la virtud de la vida”.

Hay hambre y sed, necesidades primarias humanas que lanzan el yo en la senda del autoconocimiento, búsqueda que lleva a la epifanía. El yo poético se depara con la belleza de la vida marina y se agita con “el temblor de las estrellas”. Es en el sueño que el deseo de la unidad con el todo se realiza. El poema “Luna Mojada” ratifica el campo onírico como lugar de viabilidad de lo imposible, vivencia arquetípica, primordial, cuna que acoge y trasmuta el muerto, así como la semilla que dormita, preservándole el alma que, en determinado momento, “aflora y parte”. Cumplida esa etapa, el neófito está listo para seguir adelante. Las palabras se extinguieron, la muerte y la vida se extinguieron, resta el despertar y el descubrimiento, “este milagro”

El ermitaño solitario encuentra el equilibrio dinámico de la vida: “alimentaba su alma con el Don del silencio”, entretanto, por más que el yo se realice en el paraíso de la palabra, existe la tentación del encuentro con el otro: con ella, la mujer que preexiste, resiste, y se hace en inéditos. La hijas de Lót con su belleza y seducción, y la mujer que “era un cadáver antes de morir” revelan rostros del feminismo cuya potencia es capaz de corromper al hombre, hacer pedazos las reglas, desagradar a Dios y dar a luz a nuevos hombres, hijos de un pafre/abuelo sin máscaras. Es tiempo de preguntas. ¿A quién dirigírsela? A las estrellas.

El poema “Tamara lírio” expone los instintos, devela de la hembra devoradora, belleza que pisa el suelo sagrado sin ceremonias. El ritual erótico prosigue en “Arcana Fata”. En el centro del paraíso, entre los ríos “Tigris y Éufrates”, el yo poético prepara como ofrenda un “corazón de carbones ardendo”, enseña a hacerse nuevamente uno con la amada al ser devorado y por ella asimilado. Mientras tanto, la consumación antropofágica no fue posible, pues, el yo lírico no supo huis de sí mismo, fue (¿inocentemente?) engañado por sus sentidos.

El elemento fuego surge en el poema “Cloto, Láquesis y Àtropos”. En él, las hilanderas de la vida y de la muerte, señoras del Destino, viajan en un barco en llamas. Ellas chupan “la sustancia esencial” de un cuerpo, prefieren tener como víctimas a los vagabundos y los errantes solitarios. Las hermanas se miran en un pedazo de espejo hecho de mar: juego de imágenes, ilusiones y multiplicidad. El doble especular presente en ese poema reaparecerá en el “Yo también quise la dicha”, en el cual el yo lírico se ve remolcado por una sombre y busca liberarse: “Pero la bala de plata estalló en la cara”. Desfigurado, el yo ve frustrado su ideal de felicidad. ¿Qué hará el hombre con la belleza que abunda? ¿Qué hará Dios en su día de descanso? ¿Dónde estará la imagen real, frente a los escombros del rostro despedazado, de los reflejos y de los fragmentos? Observamos que el poeta emprende una crítica sobre el sentido de la vida, de la creación, de la objetividad de la belleza como metáfora del arte y de la poesía. ¿No sería la duda la quintaesencia de la creación? La Serpiente es la guardiana de ese paraíso de dudas. Perderse en la soledad ee un atributo del poeta, pero, hay un faro, una luz: los ojos de la amada. El poema, “El el íris de tus ojos”, dedicado a la esposa y compañera del poeta, Señora Gloria Gabuardi, vemos la temeridad del instante, el poema enseña que el paraíso no desaparece, cambia continuamente, incluso, concentrándose entero en los ojos y en la palma de, la mano de la mujer. En “Celebración de la Primavera”, las palabras de amor son direccionadas a la amada: “Con ella conocí la agonía de los ríos del desierto”. En “Los hijos de Caín” se establece el embate entre la práctica del bien y la alabanza de los pecados abundante de los “hijos de Caín”. Caín teme ser muerto por Abel y planea asesinarlo. El yo lírico pasa a cultivar obsesiones, se siente una serpiente inútil, sin principio y sin final. El ouroboros, símbolo representado por la serpiente que se devora a sí misma a partir de la propia cola, indica que el yo penetró en el tiempo de la eternidad, del sueño, en el lugar donde encuentra una princesa encantada que alerta sobre la (in)finitud de la vida: “Me fue quedando en todo lo que amé”. En el instante, el yo lírico quiere devorar “estrellas fugaces”, tiene hambre del infinito y comprende que “somos un grano de arena en medio de un desierto azul”, espacios vacíos contemplados por el universo. El yo lírico, “arrancado del silencio de la noche/ del oscuro cielo nocturno lleno de estrellas/  del caos celestial”, contempló la belleza que lo deseaba, necesitando de su mirada.

Observamos que después de la jornada épica de descubrirse a sí mismo a partir del otro, de la alteridad (mujer, animal y elementos celestiales y terrenales), y también siendo visto, el yo poético entona un canto laudatorio a la mujer. No es por un acaso que el poeta dedica los versos a su progenitora, la Señora Rosita Arellano. “Letanías para nuestra señora, la Virgen de la Rosa” cierra el libro de poemas, que es un ruego, una oración por la vida: “Rosa azul que representas milagros y nuevas posibilidades de la vida/ Rosa roja que representas el amor y la pasión”. Así como las Parcas, señoras del Destino y el ouroboros presentes en la obra indican que el poema es una antonimia, instaura lo paradojo, pues, de la misma manera que la vida posee un comienzo y encuentra su final (por la muerte), simbólicamente la serpiente es aplastada por la mujer que hace que ese mismo ser renazca como Otro, trayendo dentro de sí todos los que lo antecedieron: la humanidad entera.

 

A ALQUIMIA DO SER EM LUNA MOJADA, DE FRANCISCO DE ASÍS FERNÁNDEZ

Por Renata Bomfim 

A obra poética Luna Mojada (2015), edição bilíngue do escritor nicaraguense Francisco de Asís Fernández desafia o leitor para que se aventure. O livro com trinta e oito poemas da forma a uma espécie de Cosmogonia poética onde valores femininos, masculinos e instintos básicos se misturam formando novos mundos. Inicio o olhar para essa obra pela pintura em acrílica sobre tela do artista plástico colombiano Mario Lodoño (1954), escolhida como capa. Nessa obra pictórica observamos uma mulher deitada sobre um cavalo. O corpo nu da fêmea se une ao do imponente animal, de forma que não podemos diferenciar os fios dos seus cabelos dos da cauda do equino. Não há movimento entre os elementos da obra, apenas o silêncio ruidoso de ecos de vozes que necessitam ser escutadas. A lua, suspensa, assiste ao espetáculo de união entre os seres distintos e afins. Considere-se o leitor avisado, entraremos em um mundo de sonhos inédito, onde nada é o que parece ser, mas que, ao mesmo tempo é à priori. Mundo arquetípico, noturno, erótico, dual, prenhe de ansiedades, abismos e alvoradas. A lua, guardadora dos mistérios femininos da criação, símbolo da Grande Mãe primordial, está úmida, pronta para o gozo e para a procriação. Essa obra nos arremessa para um lugar intersticial onde o bem e o mal coexistem. No poema de Rubén Darío “Colóquio de los Centauros”, o centauro Ástilo revela a profundidade do mistério poético, ele diz: “El enigma es el soplo que hace cantar la lira”. Assim, como informou Ástilo, a enunciação do eu poético em Luna Mojada indica que esse não é um livro de revelações, antes, de mistérios. Indica que há um caminho que apenas o leitor pode perfazer na intimidade da leitura, senda iniciática que lhe possibilitará vislumbrar novos sentidos e realidades, pois, sondar o verso é ser sondado por ele, é romper com tudo, não ter a verdade como horizonte e nem o futuro por morada. É assim que o crítico Maurice Blanchot define o poema: “a realização total da irrealidade[1]”. Deparamo-nos com o eu lírico expressando a chegada de um tempo de alegria e regozijo possível, apenas, por meio do amor. O poema “¿Cómo eran las auroras al pricipio del mondo?” desperta lembranças de um passado comum e cheio de novidades: “cuando descubrimos el fuego/ y pintamos las cuevas de Altamira”. “Retrato del poeta”, poema que o sucede, indica o surgimento do princípio da desarmonia, explicitando a existência  de uma fissura: “una gotera infame en el techo de mi cabeza”. Pensamentos inundados, já não há como se resguardar as “memorias, imagines,/ manías, amores e rencores antiguos,/ que sostenían muchas paredes de papel e de sombras”.  Há também o despertamento de uma nova força, destrutiva e abissal no cerne da obra: “En mi cuerpo parece que se solto um animal”. Destaco aqui a solidão essencial que emana da obra literária. Como afirmou Blanchot (2010), o livro não é a obra, antes, é um objeto feito de palavras estéreis. A obra compreende um evento no qual as palavras se concretizam na intimidade de quem escrever e de quem lê. Assim, a jornada tem início com a inquietação do eu poético. Os sonhos foram derrotados e o cenário é alucinante: “exquisita gota de locura”, os olhos da mulher fazem lembrar a aurora inaugural, “ojos más intensos que las noches del Lower East Side/ y las cataratas del Niágara”. Na dúvida entre o sonho e a realidade existe apenas uma certeza: os olhos dessa mulher “Com tantos soños derrotados”.  

É durante o sonho que eu poético pode recobrar a antiga unidade. Transportado pelo “Angel de la noche” para lugares espetaculares, vislumbra um “nuevo mundo” onde os seres das águas e do ar se juntavam. Esse lugar sem lágrimas e sem dores não comporta o coração humano, entretanto, no poema subsequente, intitulado “Hay um lugar em el mundo”, vemos a emergência de novo equilíbrio entre humanos e não humanos:  a intimidade entre eu poético e os animais revela, “la más intima amistad”, um vínculo de confiança. O eu, solitário, conversa com os pássaros, assim ele sente que seus sentidos são apurados e se tornam “más peligrosos que um tigre de Bengala” e, portanto, prontos para “arrancar la virtude de la vida”.

A busca pela reconciliação entre os opostos e pelo apaziguamento do que há de feroz no humano, põe em cena a morte que, assim como a vida, habita o campo do sagrado. É a morte que “arranca los pedazos de memoria” e pressupõe uma quebra da relação com o mundo ordinário, cotidiano, introduzindo na obra um jogo textual sobre o qual não se tem controle. O eu poético enxerga os esquecimentos e as muitas vidas presentes na morte.

Há fome e sede, necessidades primárias humanas que arremessam o eu na senda do autoconhecimento, busca que leva à epifania.  O eu poético se depara com a beleza da vida marinha e se agita com “el temblor de las estrelas”. É no sonho que o desejo de unidade com o todo se realiza. O poema “Luna Mojada” ratifica o campo onírico como lugar de viabilidade do impossível, vivencia arquetípica, primordial, berço que acolhe e transmuta o morto, assim como a semente que dormita, preserva-lhe a alma que, em dado momento, “aflora e parte”. Cumprida essa etapa, o neófito está pronto para seguir em frente. As palavras se extinguiram, a morte e a vida se extinguiram, resta o despertar e o descobrimento, “este milagro”.

O ermitão solitário encontrou o equilíbrio dinâmico na vida: “alimentaba su alma con el Don del silencio”, entretanto, por mais que o eu se realize no paraíso da palavra, existe a tentação do encontro com o outro: com ela, a mulher que preexiste, resiste, e se performa em inéditos. As filhas de Lót com sua beleza e sedução, e a mulher que “era ya um cadáver antes de morir” revelam faces do feminino cuja potência é capaz de corromper o homem, estilhaçar as regras, desagradar a Deus e dar a luz a novos homens, filhos de um pai/avô sem máscaras. É tempo de perguntas, a quem endereça-las? Às estrelas.

O poema “Tamara lírio” expõe os instintos, desvela o poder da fêmea devoradora, beleza que pisa o solo sagrado sem cerimônias. O ritual erótico prossegue em “Arcana Fata”. No centro do paraíso, entre os rios “Tigris y el Éufrates”, o eu poético prepara como oferenda um “corazón em carbones ardendo”, ele anseia tornar-se novamente um com a amada ao ser devorado e por ela assimilado. Entretanto, a consumação antropofágica não foi possível, pois, o eu lírico não soube fugir de si mesmo, ele foi (inocentemente?) enganado pelos sentidos.

O elemento fogo surge no poema “Cloto, Láquesis y Àtropos”. Nele, as fiandeiras da vida e da morte, senhoras do Destino, viajam em um barco em chamas. Elas sugam “la sustância essencial” de um corpo, preferem ter como vítimas os vagabundos e os errantes solitários. As irmãs se miram em um caco de espelho feito de mar: jogo de imagens, ilusões e multiplicidade.  O duplo especular presente nesse poema reaparecerá no “Yo también quise la dicha”, no qual o eu lírico se vê atrelado a uma sombra e busca libertar-se: “Pero la bala de plata estallo en la cara”. Desfigurado, o eu vê gorado o seu ideal de felicidade. O que fará o homem com a beleza que sobeja? Que fará Deus no seu dia de descanso? Onde estará a imagem real, frente aos escombros da face estilhaçada, dos reflexos e dos fragmentos? Observamos que o poeta empreende uma crítica sobre o sentido da vida, da criação, da objetividade da beleza como metáfora da arte e da poesia. Não seria a dúvida a quintessência da criação? A Serpente é a guardiã desse paraíso de duvidas. O perder-se na solidão é apanágio do poeta, mas, há um farol, uma luz: os olhos da amada. O poema “En el íris de tus ojos”, dedicado à esposa e companheira do poeta, Sra. Gloria Gabuardi, vemos a temeridade do instante, esse poema ensina que o paraíso não desaparece, ele muda continuamente, inclusive, podendo concentra-se inteiro nos olhos e na palma da mão da mulher. Em “Celebración de la Primavera”, as palavras de amor são direcionadas à amada: “Con ella conoscí la agonia de los ríos del desierto”. Em “Los hijos de Caín” instaura-se o embate entre a prática do bem e a louvação dos pecados abundantes dos “hijos de Caín”. Cain teme ser morto por Abel e planeja assassiná-lo. O eu lírico passa a cultivar obsessões, sente-se uma serpentes inútil, sem principio e sem fim. O ouroboros, símbolo representado pela serpente que devora a si mesma a partir da própria cauda, indica que o eu penetrou o tempo da eternidade, do sonho, nesse lugar ele encontra uma princesa encantada que lhe alerta sobre a (in)finitude da vida: “Me fue quedando em todo lo que amé”. No instante, o eu lírico quer devorar “estrelas fugaces”, ele tem fome de infinito e compreende que “somos un grano de arena en medio de un desierto azul”, espaços vazios contemplados pelo universo. O eu lírico, “arrancado del silencio de la noche/ del oscuro cielo nocturno lleno de estrelas/ del caos celestial”, contemplou a beleza a deseja-lo, necessitando de sua mirada.

 Observamos que após a jornada épica de descobrir a si mesmo a partir do outro da alteridade (mulher, animal e elementos celestes e terreais), e também sendo visto, o eu poético entoa um canto laudatório à mulher, não é por acaso que o poeta dedica os versos à sua genitora, a Sra. Rosita Arellano. “Letanias para nustra señora la Virgen de la Rosa” encerra o livro de poemas, ele é um rogo, uma oração pela vida: “Rosa azul que representas milagros y nuevas possibilidades de la vida/ Rosa roja que representas el amor y la pasión”. Assim como as Parcas, senhoras do Destino e o ouroboros presentes na obra indicam que, o poema é uma antonímia, ele instaura o paradoxo, pois, da mesma maneira que a vida possui um começo e encontra o seu fim (pela morte), simbolicamente a serpente é pisada pela mulher que faz com que, esse mesmo ser renasça como Outro, trazendo dentro de si todos os que o antecederam: a humanidade inteira.


Renata Bomfim nació el año 1972 en la Isla de Vitória, capital del Estado de Espírito Santo (Brasil). 
Es profesora universitaria, maestra y doctora en Literatura Comparada, investiga la literatura Iberoamericana con énfasis en las obras de Florbela Espanca y Rubén Darío. Es miembro del Instituto Histórico y Geográfico de Espírito Santo (IHGES) y Presidenta de la Academia Feminina Espírito-Santense de Letras (AFESL). Autora y promotora desde 2007 de la revista Literaria Letra e fel (www.letraefel.com). Publicó los libros: Mina (2010), Arcano dezenove (2012), Colóquio das árvores (2015) y O Coração da Medusa (2018- no prelo) bilingüe en português y castellano. Activista cultural y ambientalista, es Gestora y propietaria de la Reserva Natural Reluz (www.reluz.com), donde preserva la flora y la fauna de la Mata Atlántica, siendo, también, Directora Técnica de la Asociación Capixaba de Propietarios de Reservas Particulares del Patrimonio Natural (ACPN).


[1] BLANCHOT, Maurice. O espaço literário. Rio de Janeiro: Rocco, 2011. (p. 40).

Mulheres e Política no Espírito Santo: o pioneirismo de Judith Leão Castello Ribeiro (Prof.ª Dr.ª Renata Bomfim)

 

Judith Leão Castello Ribeiro

Falar acerca da força e da coragem das mulheres espírito-santense é algo que nos comove, mas também nos desconforta, pois, infelizmente é uma história ainda pouco conhecida pela sociedade capixaba e marcada pelo silenciamento. A pesquisadora Maria Stella de Novaes, personalidade importantíssima da historiografia do Espírito Santo e autora da obra A mulher na História do Espírito Santo (História e folclore), escrita entre 1957 e 1959, chamou a atenção para essa “omissão de referências às mulheres”. Dona Stelinha, como carinhosamente era chamada, denunciou que esse silêncio sobre a produção intelectual feminina e suas ações de resistência remontam os registros da colonização. Segundo registros, o donatário Vasco Fernandes Coutinho, quando veio tomar posse da Capitania no dia 23 de maio de 1535, não trouxe mulheres na sua comitiva e a epistolografia dos padres Jesuítas atesta que os portugueses se casavam com as índias. 

As mulheres indígenas das tribos que habitavam o Espírito Santo na época da colonização exerciam autoridade na tribo, tanto que nos chegam relatos como o da esposa do índio Maracaiaguaçu (Gato grande), batizada como Branca Coutinho, em homenagem à mãe do donatário, e da viúva de Guajaraba (Cabelo de Cão), que guiou o seu povo na descida do Sertão para a aldeia dos Reis Magos. As índias foram as primeiras mães dos cidadãos nascidos na terra recém-batizada e o papel fundamental e marcante da mulher indígena na indústria caseira e na arte manual, deu forma a uma das tradições mais destacadas do ES, ¾ a tradição da panela e das paneleiras¾. Não ficou de fora do relato de Dona Stelinha a importância histórica de Luísa Grimaldi, que governou o Espírito Santo com êxito entre os anos de 1589 e 1593.

A literatura produzida por mulheres no Espírito Santo tem preenchido muitas lacunas deixadas pela história, exemplo disso é a obra A Capitoa, da escritora barrense Bernadette Lyra, que fala da coragem dessa mulher que foi uma das primeiras da comandar um estado brasileiro no século XVI. Outra personalidade feminina de grande relevo para o Brasil é Maria Ortiz, heroína capixaba filha de espanhóis que defendeu a Catania da invasão holandesa, em 1625. Em um artigo intitulado “Cadê a Maria Ortiz?”, Francisco Aurélio Ribeiro relata que visitou a exposição “Brasil feminino”, no Rio de Janeiro, e pode ver entre as personalidades cronologicamente destacadas, Dora Vivacqua, mais conhecida como Luz Del Fuego; a cantora Nara Leão e a escritora Marly de Oliveira, mas, aponta para a ausência de referência a Maria Ortiz que é, inclusive, alguns séculos anterior a revolucionária Maria Quitéria e a Ana Néri, pioneira da enfermagem no Brasil. Dona Stelinha destacou que os séculos passaram e “humildes e ignoradas, alheias, mesmo aos resultados sociais e econômicos dos seus esforços”, as mulheres capixabas chegaram ao século XVIII ainda condicionadas por conceitos patriarcais religiosos, sociais e legais que as caracterizavam como inferiores ao homem: “fadas incógnitas que salvaguardavam as bases da sociedade”, as capixabas eram consideradas “máquina de trabalho doméstico”.

A mulher oitocentista teve a sua liberdade fortemente cerceada e as jovens eram criadas e educadas para o casamento, mas, a escolarização foi essencial para que esse cenário começasse a mudar. Em 1827, Dom Pedro I outorgou a lei que criou escolas nas vilas e cidades mais populosas do império, entretanto, as escolas para meninas seriam permitidas apenas se aprovadas pelo conselho, e caso fossem aprovadas, a elas não se ensinaria aritmética e nem geometria, apenas as quatro operações básicas, ficando o programa restrito às prendas da economia doméstica. Essa realidade estendeu-se até meados do século XIX, quando as mulheres começaram a conquistar espaços sociais fora de casa e as senhoras do Espírito Santo se organizavam em torno de novos interesses, como o jornal de moda parisiense A Estação. Em Vitória e Vila Velha as rendas, parte do aprendizado de trabalhos manuais das moças, eram famosas.

No Espírito Santo, a primeira escola pública primária para meninas, foi fundada em Vitória, em 1835, mas ficou dez anos sem funcionar por falta de professora, até que em 1845 a primeira professora foi contratada, o seu nome é Maria Carolina Ibrense. A escolarização feminina associada à emergência de ações coletivas abriu horizontes para as mulheres no século XX. Maria Stela de Novaes afirmou que o século XIX poderia ser chamado de “O século das mulheres”. A partir de então as mulheres passaram a ser professoras e diretoras de escolas primárias e normais, bem como escritoras, mas, o direito ao voto e a elegibilidade ainda lhe eram negados. Nesse sentido, podemos perceber a relevância da vida e da obra de Judith Leão Castello Ribeiro, professora, escritora e primeira deputada estadual no Espírito Santo. Judith Leão Castello Ribeiro nasceu na Serra, no dia 31-08-1898, seu pai João Dalmácio Castello e sua mãe Maria Grata Leão Castello, primaram pela educação dos filhos e da fizeram questão que a filha também estudasse. Judith Leão se insere no contexto de luta e resistência das primeiras sufragistas capixabas. Vale recordar a importância do feminismo emergente na luta pelos direitos das mulheres e que a exclusão dessas da categoria de cidadãs, na constituição inglesa de 1791, levou a escritora Mary Wollstonecraft a escrever Reivindicação dos direitos da mulher e essa obra, que denunciava a opressão no tempo do iluminismo, ecoou no Brasil e, insuflado por Nísia Floresta com o seu Direito das mulheres e injustiça dos homens, de 1832, floresceu o movimento feminista brasileiro. Berta Lutz, na década de 1920, liderou a criação da FEDERAÇÃO BRASILEIRA PELO PROGRESSO FEMININO e esse feminismo de primeira hora, que tinha como foco a melhoria das condições da mulher na sociedade e a conquista do direito ao voto feminino, só alcançou o pleito em 1932. Segundo Maria Stella de Novaes, o movimento feminista capixaba delineou-se paralelamente ao movimento nacional, liderados pela Sra. Silvia Meireles da Silva Santos, em Vitória. Nessa época, a organização das mulheres em entidades organizadas fomentou importantes debates políticos e, em vários estados da federação, o feminismo se fortaleceu. No Espírito Santo não foi diferente, as intelectuais capixabas já chamavam a atenção pela atuação destacada no cenário cultural local, mesmo assim, alguns espaços ainda lhe eram negados, e um desses espaços era o político.

O interesse de Judith pela política possui raízes profundas, pois, nascida em uma família tradicional da Serra, o seu bisavô, Manoel Cardoso Castello, avô dos educadores Kosciuszko e Aristóbulo Barbosa Leão, foi vereador na época que a localidade era conhecida como freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Serra, antes de ser elevada à condição de Vila, em 1822. Ela foi, também, casada com Talma Rodrigues Ribeiro, que foi prefeito da Serra entre 1945 e 1946 e que a apoiava incondicionalmente.   

Judith foi uma defensora ardorosa dos direitos políticos das mulheres, mas, o ambiente conservador da época exigiu uma sensibilização das capixabas para a luta política. Maria Stella de Novaes expõe as dificuldades das mulheres que ousavam desafiar a ordem patriarcal adentrando espaços públicos, relata que ela mesma sofreu para ingressar como catedrática no corpo doente do Ginásio do Espírito Santo e na escola normal do Estado, e que “as escritoras e as poetisas amargaram” da mesma forma, “bebendo o cálice da crítica ferina e da oposição implacável”. Em 1933 um grupo de senhoras vitorienses fundou a FEDERAÇÃO ESPÍRITO-SANTENSE PELO PROGRESSO FEMININO, buscando incentivar o alistamento de mulheres e, sem compromisso partidário, a CRUZADA CÍVICA DO ALISTAMENTO, cuja presidente foi Silvia Meireles da Silva Santos, vice-presidente, Judith Castello Leão Ribeiro, e tesoureira Maria Stella de Novaes. Judith Leão já era professora desde o ano anterior, quando tinha sido aprovada, em concurso público, e ingressado como docente no Grupo Escolar Gomes Cardim. Segundo João Luiz Castello, sobrinho de Judith, são vários os exemplos de que Judith mostrava interesse em trabalhar em prol do coletivo, tanto que desejando estimular o aprimoramento cultural de seus alunos fundou o Museu Pedagógico (1930-1946), na Escola Normal Pedro II, e iniciou  o jornal “Folha escolar”, de circulação interna na mesma instituição. A arte e a cultura sempre foram considerados, por Judith Leão, um instrumento de transformação social, de forma que, enquanto professora, estabeleceu um tempo para os seus alunos terem iniciação literária e musical. Foi como professora que Judith, em 1934, candidatou-se a deputada estadual pela primeira vez, mas como não estava filiada a nenhum partido, acabou não se elegendo. Judith Leão optou por disputar sem legenda por apoiar o Movimento Revolucionário Constitucionalista de São Paulo, de 1932, e por discordar da política estadual em vigor na época. A sessão capixaba da Federação contribuiu para com o movimento no Rio de Janeiro, te esse esforço coletivo fez com que, em 1936, o direito ao voto fosse mantido sem restrições na Constituição Federal.

A movimentação feminista vitoriense repercutiu no interior do estado e uma delegação da UNIÃO CÍVICA FEMININA, de Cachoeiro de Itapemirim, em 1936, enviou uma delegada para participar do Congresso Nacional Feminino. O “esforço titânico”, ¾ como diria Maria Stella de Novaes ¾, de Judith Leão e de muitas outras mulheres capixabas, entre elas Guilly Furtado Bandeira, Ilza Etienne Dessaune, Maria Antonieta Tatagiba, Lidia Besouchet, Virgínia Tamanini, Yponéia de Oliveira, Zeni Santo e Haydée Nicolussi, precisa ser conhecido pela sociedade, precisa ganhar destaque na historiografia. Um grupo de mulheres uniu forças com Judith Leão para a fundação da ACADEMIA FEMININA ESPÍRITO-SANTENSE DE LETRAS (AFESL), no dia 18 de julho de 1949. Francisco Aurélio Riberio, dedicado pesquisador da vida e da obra das escritoras capixabas, nos faz saber que apenas muito recentemente as mulheres foram aceitas nas academias de Letras, e destaca a extemporaneidade e o pioneirismo da capixaba Guilly Furtado Bandeira que, em 1913, ingressou como acadêmica na Academia de Letras do Pará. A escritora é, também, a primeira capixaba a publicar um livro, em 1913, Esmaltes e Camafeus.

A acadêmica da AFESL Ailse Therezinha Cypreste Romanelli salienta que era “um despautério”, na década de quarenta, uma mulher como Judith cumprir quatro  legislaturas como deputada e, ainda, tentar entrar para a Academia Espírito-santense de letras e não ser aceita. Judith se candidatou para uma cadeira da Academia Espírito-santense de Letras (AEL), mas “as academias eram exclusivamente masculinas”, então num movimento de afirmação feminista, Judith, fundou a Academia Feminina Espírito-santense de Letras (AFESL) e foi a sua primeira patrona. Participaram dessa primeira diretoria Arlette Cypreste de Cypreste, como vice-presidente, Zeni Santos e Iamara Soneghetti como secretárias e Virgínia Tamanini como bibliotecária, a elas se juntaram Ida Vervloet Finamore, Hilda Prado e outras escritoras e musicistas, o que fez com que a instituição fosse se firmando no cenário cultural capixaba.

Nos seus setenta anos de existência, a AFESL vem lutando para ser um espaço de livre produção para as intelectuais no Espírito Santo, desde os seus primórdios quando Annette de Castro Mattos, em 1950, organizou a “Vitrine literária”, primeiro registro das escritoras espírito-santenses, passando pelo programa “Mulher e perfume”, dirigido por Arlete Cyprete de Cypreste, na Rádio Capixaba, e que deu voz a muitas escritoras e artistas; a escritora Zeny Santos, que fundou a “Casa do capixaba”, o apoio dado pela AFESL ao Instituto Braile na sua criação, a criação do “Lar da Menina”, por Beatriz Nobre de Almeida e tantas outras ações das intelectuais capixabas.

É preciso criar espaços para que as mulheres do passado e do presente possam ter visibilidade, é fato. Graças ao esforço e a luta dessas pioneiras, as mulheres capixabas brilham hoje nos mais variados âmbitos da sociedade, no parlamento, nas academias, mas, ainda há muito pelo que lutar contra o preconceito de gênero e a violência. A representatividade das mulheres no espaço político ainda é pequena e o debate sobre questões importantes como a (des)igualdade e a cidadania das mulheres, especialmente das mulheres negras, devem ganhar o cotidiano.

Abraçar o legado deixados por essas mulheres excepcionais é necessário, especialmente em um momento histórico como o atual, no qual o Brasil vive um obscurantismo com relação às questões de gênero, exemplo disso é que o tema vem sendo subtraído das metas da educação nacional, acreditamos que resgatar a história de luta e conquistas de mulheres como Judith Leão Castello Ribeiro inspira os cidadãos e as cidadãs a militarem em prol da educação e pelo direito à livre expressão.

 Minibiografia

Renata Bomfim é mestre e doutora em letras pela Universidade Federal do Espírito Santo. Professora, escritora e ativista ambiental é gestora e proprietária da Reserva Natural Reluz, RPPN localizada em Marechal Floriano. Presidente da Academia Feminina Espírito-santense de Letras, ocupando a cadeira de nº 16; Membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do ES e Diretora técnica da Associação Capixaba do Patrimônio Natural (ACPN). Representou o Brasil em Festivais de poesia no exterior e presidiu a 6ª Feira Literária Capixaba, em maio de 2019. Possui artigos e ensaios publicados, é autora da Revista Literária Letra e fel (www.letraefel.com) e dos livros de poemas Mina (2010); Arcano dezenove (2012), Colóquio das árvores (2015) e O Coração da Medusa (no prelo). 

04/04/2021

Ciclo de Diálogos Reluz: Meio Ambiente e Educação (com as presenças do Prof.º Dr.º Francisco Aurélio Ribeiro e da Prof.ª Dr.ª Karina de Resende-Fohringer.


 Amigos(as), esperamos vocês no Novo Ciclo de Diálogos do Instituto Ambiental Reluz com o tema "Meio Ambiente e Educação". Dias 19/04 às 20h e 26/04 às 13h no instagram

@institutoambientalreluz

Nossos convidados são essas pessoas queridas, de reconhecida contribuição nesses campos e membros do Instituto Ambiental Reluz, o Prof.º Dr.º Francisco Aurélio Ribeiro, que falará sobre "A importância do livro e da leitura na formação cidadã e ecológica", em comemoração ao Dia Nacional do Livro Infantil e a Prof.ª Dr.ª Karina de Resende-Fohringer, que trará uma experiência rica realizada nas suas turmas de português para filhos de brasileiros e portugueses, na Áustria". Terei a alegria de mediar esses diálogos.

Segue o currículo de ambos:
O Prof.º Dr.º Francisco Aurélio Ribeiro é Possui mais de 30 anos de experiência na área de Ensino e Pesquisa. Esta significativa experiência docente provém de sua atuação como professor em diversas Instituições de Ensino, públicas e privadas, com âmbito de atuação no Ensino Fundamental, Médio e Superior (Graduação e Pós-Graduação). Desenvolveu diversos trabalhos de pesquisa na área de literatura, possuindo mais de 40 livros publicados (gêneros infantil, crônica, conto e pesquisa) e vários artigos de sua autoria, participando com suas crônicas de colunas semanais no jornal A Gazeta. Foi Secretário de Cultura da UFES no período de 1992 a 1995, sendo responsável também pela coordenação de cursos em nível de Especialização e Pós-Graduação. Conduziu vários congressos como conferencista e apresentador de comunicação no Brasil e Exterior. Pertence ao Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo e à Academia Espírito-santense de Letras, da qual foi presidente em três mandatos. É um defensor do Meio Ambiente e hoje responde como Diretor Secretário do Instituto Ambiental Reluz, dedicando-se à produção de livros infantis com temáticas que privilegiam a ideia de uma relação de harmonia e respeito para com os seres e a natureza.

A Prof.ª Dr.ª Karina de Rezende-Fohringer é doutora em Letras (com ênfase em Estudos Literários - UFES - 2015). Mestre em Letras (com ênfase em Estudos Literários - UFES- 2008). Pós-graduada (Especialização) em Teoria Psicanalítica e Práticas Educacionais (UNIG- 2007), graduada em Letras (UFES- 1991) e em Direito (UVV- 1991). Coordenou (de 01/2009 a 07/2010) o Curso de Letras da Faculdade Saberes (ES), tendo também atuado como professora nessa mesma IES. Trabalhou como professora da Prefeitura Municipal de Vitória, de 1994 a 2011. Em dezembro de 2008, foi empossada membro titular da cadeira n 8 da Academia Feminina Espírito-Santense de Letras (AFESL). Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo (IHGES). Professora convidada dos Cursos de Especialização Lato Sensu em: Linguagens: língua e literatura (Faculdade Saberes) e Educação (FABRA). Bolsista FAPES. Bolsa Sanduíche na Universidade de Santiago de Compostela (USC)- Espanha (Bolsa CAPES), de 27 de agosto a 30 de dezembro de 2013. De 2017 a 02/2020, atuou como Professora de Português na Universidade de Viena (Zentrum für Translationswissenschaft). Desde 2017, é professora de Português como Língua de Herança em Bildungsdirektion für Niederösterreich em St. Pölten e em Mödling na Áustria. Karina é uma defensora do Meio Ambiente e hoje responde como Conselheira fiscal do Instituto Ambiental Reluz.

02/04/2021

A escritora e jornalista Brendda Neves lança o seu primeiro livro de poemas Versos Inversos.

O livro Versos Inversos, da jornalista e poeta capixaba Brendda Neves, convida os leitores a brincarem com seus versos inversos, reversos, avessos e travessos do seu mundo interior onde eles se reconhecem e ganham voz. É um livro de poemas repleto de versinhos de amor. 

No formato A5, com 85 páginas, foi escrito durante um período de oito anos. (...) “Estes versos parecem não ter sentido são inversos ao que eu gostaria de revelar’’(...). Trecho do poema “Versos inversos”, que dá o título ao livro, editado de forma independente na plataforma do Clube de Autores, está em pré-venda nos sites da editora, Amazon, Livraria Cultura e no Google play. Pode ser encontrado nos formatos físico e digital (ePub e PDF). 

Brendda Neves instiga os leitores a navegarem em sua própria subjetividade, a reconhecerem nos versos os seus significados e também os seus efeitos inversos aos se identificarem nos poemas. Se você, leitor, ama poesia e suas múltiplas significações e interpretações o livro Versos Inversos vai de encontro ao que procura num poema. 


Dois poemas da obra Versos Inversos:

Versos inversos

Todos os versos de amor já foram escritos

As mais belas canções todos conhecem

Falta-me desvendar o que não foi dito

Encontrar as palavras que aquecem

Estes versos parecem não ter sentido

São inversos ao que eu gostaria de revelar

Falta-me coragem para lhe entregar

Tudo o que há ainda para ser dito

Único é o momento do reencontro

Revelar a paixão de minhas fantasias

Quando me perco em teus braços é que eu me encontro

Únicos são os versos que lhe faço

Um amor.... Uma vida apenas

Não é suficiente para cantar a arte de amar

Há versos ainda inacabados

Canções e sonetos a serem rabiscados


Florbela  

Por ser livre ela tem a alma florida

E por ser flor ela atrai borboletas

O que a faz florescer é o amor

No seu coração vibram todas as cores

Teu corpo é um jardim que precisa ser regado com carinho

Quando está triste caem pétalas dos seus olhos

Como a rosa ela tem espinho e pode ferir quem ela ama


Brendda dos Santos Neves Gotelip é poeta, natural de Linhares - ES, 25/01/1979. Bacharel em Comunicação Social - Jornalista, Faesa (1999-2003). Imortal de Letras pela Academia Internacional de Literatura Brasileira - AILB (n° 212). Membro da Associação Capixaba de Escritores - ACE. Ex-membro da Academia Jovem Espírito-santense de Letras - AJEL (cad. 28), cujo patrono foi Carlos Nicoletti Madeira. Editou, de forma independente, seu primeiro livro ‘Versos Inversos’. Possui reconhecimento de mérito por destacada participação do I Encontro Virtual Internacional “Dia Mundial da Palavra 2020”, Fraternidade Literária Rosa Blanca; destaque cultural 2020 do canal Foca na Cultura. Escreve soneto, quadra, tanka, tautograma, haicai e poetrix. Fez seu primeiro conto aos nove anos de idade e sua primeira poesia aos 15 - para participar de um concurso de poesias - na Escola Técnica Federal do Espírito Santo, unidade de Colatina/ES.

Contatos: 

Celular/WhatsApp: (27) 9 8805-9591 

E-mail: brenddaneves@gmail.com 

Instagram literário: @coraverblue 

Facebook: brenddaneves


Entrevista com Brendda Neves no Programa Sim para a Literatura.